“Gestores do BES sabiam pelo menos de uma parte da verdade”

29-12-2014
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“Gestores do BES sabiam pelo menos de uma parte da verdade”

Tiago Freire

00:05

"Temos todos uma noção daquilo que se passou no BES que não teríamos se não houvesse um inquérito", diz.

Para Mariana Mortágua a comissão de inquérito ao BES "já valeu a pena". A deputada do Bloco de Esquerda defende que "as pessoas têm de saber o que se passa nesta família para quem olharam com reverência nos últimos anos". Admitindo a enorme complexidade do processo, muito superior ao do BPN, Mariana Mortágua não acredita na tese de que ninguém sabia de nada no BES.

Que balanço faz destas primeiras audições da comissão de inquérito?

Neste caso, não conseguimos ter uma única audição que nos permita perceber tudo o que se passou. É o confronto das várias versões que vão chegando à comissão, muitas vezes nem partem das figuras mais importantes, que conseguimos extrair a história toda. É importante explicar que, para já, o papel desta comissão inquérito não é julgar ninguém. É fazer uma avaliação política e se houver factos relevantes entregá-los ao Ministério Público, para que este possa julgar. Temos todos uma noção daquilo que se passou no BES que não teríamos se não houvesse um inquérito.

Esta comissão está menos partidarizada?

Também acho que se tem conseguido evitar a excessiva partidarização nas conclusões e até na actuação. Vamos ver se isto se mantém até ao fim.

Merece-lhe credibilidade a tese de que os ninguém sabia nada e só Ricardo Salgado sabia tudo? Então para que serviam tantos administradores?

Se eu acredito quando todos esses administradores chegam à Assembleia e não tiveram culpa de nada e foram todos surpreendidos? Não. Nem Ricardo Salgado, nem José Maria Ricciardi, nem Àlvaro Sobrinho. Todos eles sabiam de uma parte pelo menos da verdade. Se acredito que Ricardo Salgado era o agente principal, quem tomava decisões, que contava verdades parciais a várias pessoas? Acredito. Mas também acredito que isto foi muito conveniente para muita gente, durante muito tempo. Acredito que nem todos soubessem de tudo, mas também acredito que não lhe interessava saber e isso é, no mínimo, incompetência ou negligência.

O que mais a surpreendeu daquilo que foi ouvindo?

Já nem sei se alguma coisa me surpreende neste caso.

Pode até ter sido a postura de alguma das pessoas que lá esteve.

Sim, as coisas que mais me surpreenderam, por um lado, é a complexidade desta teia, percebemos que as coisas estão todas interligadas. Não é como o BPN, é muito mais complexo. Por outro lado, a atitude de administradores que vão à comissão de inquérito dizer "não é nada comigo! Essa atitude surpreende-me, a atitude de não haver um mea culpa por qualquer coisa.

O que era importante dizer no final da comissão de inquérito para que possa considerar que foi um sucesso e que valeu a pena?

Já acho que valeu a pena. Ninguém deve ser julgado por coisas que não fez, todos têm direito à presunção de inocência, isto é um assunto sério, mas as pessoas têm de saber o que se passa e que esta família para quem olharam com reverência nos últimos anos... Não podemos, nem devemos acabar a comissão de inquérito sem ter medidas muito concretas que ataquem os problemas que identificámos e que garantam que isto não se repete vindo de onde vier.

“Gestores do BES sabiam pelo menos de uma parte da verdade”

Tiago Freire

00:05

"Temos todos uma noção daquilo que se passou no BES que não teríamos se não houvesse um inquérito", diz.

Para Mariana Mortágua a comissão de inquérito ao BES "já valeu a pena". A deputada do Bloco de Esquerda defende que "as pessoas têm de saber o que se passa nesta família para quem olharam com reverência nos últimos anos". Admitindo a enorme complexidade do processo, muito superior ao do BPN, Mariana Mortágua não acredita na tese de que ninguém sabia de nada no BES.

Que balanço faz destas primeiras audições da comissão de inquérito?

Neste caso, não conseguimos ter uma única audição que nos permita perceber tudo o que se passou. É o confronto das várias versões que vão chegando à comissão, muitas vezes nem partem das figuras mais importantes, que conseguimos extrair a história toda. É importante explicar que, para já, o papel desta comissão inquérito não é julgar ninguém. É fazer uma avaliação política e se houver factos relevantes entregá-los ao Ministério Público, para que este possa julgar. Temos todos uma noção daquilo que se passou no BES que não teríamos se não houvesse um inquérito.

Esta comissão está menos partidarizada?

Também acho que se tem conseguido evitar a excessiva partidarização nas conclusões e até na actuação. Vamos ver se isto se mantém até ao fim.

Merece-lhe credibilidade a tese de que os ninguém sabia nada e só Ricardo Salgado sabia tudo? Então para que serviam tantos administradores?

Se eu acredito quando todos esses administradores chegam à Assembleia e não tiveram culpa de nada e foram todos surpreendidos? Não. Nem Ricardo Salgado, nem José Maria Ricciardi, nem Àlvaro Sobrinho. Todos eles sabiam de uma parte pelo menos da verdade. Se acredito que Ricardo Salgado era o agente principal, quem tomava decisões, que contava verdades parciais a várias pessoas? Acredito. Mas também acredito que isto foi muito conveniente para muita gente, durante muito tempo. Acredito que nem todos soubessem de tudo, mas também acredito que não lhe interessava saber e isso é, no mínimo, incompetência ou negligência.

O que mais a surpreendeu daquilo que foi ouvindo?

Já nem sei se alguma coisa me surpreende neste caso.

Pode até ter sido a postura de alguma das pessoas que lá esteve.

Sim, as coisas que mais me surpreenderam, por um lado, é a complexidade desta teia, percebemos que as coisas estão todas interligadas. Não é como o BPN, é muito mais complexo. Por outro lado, a atitude de administradores que vão à comissão de inquérito dizer "não é nada comigo! Essa atitude surpreende-me, a atitude de não haver um mea culpa por qualquer coisa.

O que era importante dizer no final da comissão de inquérito para que possa considerar que foi um sucesso e que valeu a pena?

Já acho que valeu a pena. Ninguém deve ser julgado por coisas que não fez, todos têm direito à presunção de inocência, isto é um assunto sério, mas as pessoas têm de saber o que se passa e que esta família para quem olharam com reverência nos últimos anos... Não podemos, nem devemos acabar a comissão de inquérito sem ter medidas muito concretas que ataquem os problemas que identificámos e que garantam que isto não se repete vindo de onde vier.

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