Les Canards libertaîres: 1ª Conferência de Jovens Estudantes, intervenção de Ana Bárbara

30-06-2011
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Eu queria falar-vos sobre o entrismo, porque algumas das discussões que temos nesta conferência só se percebem se conhecermos o que é o entrismo e porque é que ele tem a lógica que tem.O entrismo é uma organização pequena que sabe que nunca será grande se não entrar dentro de uma organização grande para tentar construir-se a si própria à custa da outra organização. É a ideia de que pequenas seitas devem fazer de partidos de massa barrigas de aluguer para sobreviverem e, quando juntarem muita gente, poderão sair e tornar-se autónomos. É uma política de confusão, porque implica estar dentro de um partido com o qual, em geral, não se concorda. Porque implica ser membro de um partido mas ter como objectivo construir uma organização que combate esse partido.É o oposto do espírito com que nasceu o Bloco. O Bloco fundou-se em torno de uma coerência. Não achamos que devíamos estar dentro do PS para combater o PS. Não achamos que devíamos ser um grupo dentro do PCP para lhes arrancar os militantes. Não: somos um partido com um programa próprio, no qual acreditamos e pelo qual nos batemos de cara lavada. Não estamos dentro de outros partidos porque só estaremos num partido em que acreditemos.O entrismo é uma estratégia de correntes dentro do trotskismo. Os entristas defendiam que, nos países em que os estalinistas reinavam absolutos, os trotskistas deveriam juntar-se a partidos comunistas e militar dentro deles, objectivando influenciarem-nos e conduzirem-nos à esquerda que queriam. Estavam dentro dos PCs para tentar conduzi-los à linha certa. Como sabemos, tem dado um enorme resultado, já se vê.Noutros casos, quando os partidos social-democratas eram os grandes partidos de massas de trabalhadores, os entristas defendiam que deveria militar-se no PS para o destruir: havia uma corrente em Portugal que até defendia isso, e teve gente a militar no PS (a Militant). Com os resultados fabulosos que se conhecem. No entanto, entendiam, ingenuamente, que esta táctica lhes permitiria manter uma contacto quotidiano com milhares de trabalhadores, ganhando o seu direito a participar na luta e na discussão sobre os objectivos do movimento, ao mesmo tempo que lhes dava a oportunidade indispensável de provar os seus ideais.O problema é que o entrismo é uma prática desprezível e totalmente inconsequente.Primeiro, uma pessoa entra num partido com o qual não concorda e que acha reformista, coisa que já de si é horrível (eu nunca o faria). Milita nesse partido que acha que é reformista e traidor (e devo dizer que me parece óbvio que o Bloco não é um deles, e afirmá-lo é ingénuo, mas que encerra indubitavelmente o maior avanço à esquerda), sujeita-se a tudo para entrar nesse partido: as astúcias e as capitulações são não somente admitidas como necessárias. Parasitismo cego, sem escrúpulos, profissional, ousaria dizer. E depois, todas as opiniões políticas são definidas a partir de como fazer uma polarização com a direcção desse partido para trazer gente do partido à corrente, ao grupo, cuja identidade é ser contra a direcção do partido, que é sempre, claro, traidora e a um passo da capitulação. Hoje o argumento pode ser um, amanhã pode ser outro. Tanto faz. Para o Ruptura, por exemplo, o Bloco capitulou quando defendeu as 36 horas de trabalho. Uma grande traição porque devia defender 35. Mas mantiveram-se no Bloco e passados dias já nem se lembravam disso. O Bloco depois capitulou porque não quis transformar a campanha do aborto numa campanha contra o Sócrates. Mas depois ganhamos o referendo e já nem se ouviu falar disso. O Bloco capitulou definitivamente porque não quis fazer um Governo com o Manuel Alegre a primeiro-ministro e com o PC, mas passadas duas semanas, o Alegre já era um “carrasco dos trabalhadores”. Tanto faz. A única coisa que conta é arranjar uma coisa qualquer para os outros capitularem, mesmo que depois isso não interesse nada.As organizações entristas não têm uma estratégia própria. Pode ser o que seja, o que em cada momento permitir traçar uma linha definitiva entre eles, revolucionários, e os outros, reformistas. Mas essa linha varia ao sabor das decisões com as quais se pretende polemizar. E a variação é a única coisa que é definitiva.Os entristas não têm uma linha política, uma direcção para o país, uma ideia de um caminho. Saltitam conforme lhes dá jeito com argumentos sempre dramáticos de que é hoje e aqui que se traça a linha entre os puros e os traidores.No essencial, essa é a prática do Ruptura – e por isso é sempre tudo tão dramático, sempre à beira do momento final, mas percebe-se que amanhã será outra coisa qualquer.É essa lógica entrista que a Ruptura/FER, da qual a maioria dos subscritores da moção B é membro, faz dentro do Bloco de Esquerda. Por isso entende o Bloco como uma mera barriga de aluguer – uma “mediação táctica”, nas palavras da Internacional do Ruptura. Estão aqui de passagem, para crescerem.O Bloco nasceu, contudo, do espírito oposto: várias organizações a juntarem-se para fazer um novo partido, o Bloco, a maior conquista da luta social dos últimos dez anos em Portugal. Para o Ruptura, pelo contrário, o seu Partido é o Ruptura, não é o Bloco.Nós recusamos esta visão. Para nós, o Bloco não é nenhuma mediação táctica. O Bloco é a nossa estratégia e a nossa organização. Os jovens do Bloco não são o espaço onde um outro partido pode crescer. Os jovens são o Bloco e o Bloco é o nosso partido. E esta é uma das grandes diferenças entre a moção A e a moção B.O Bloco é uma força socialista para a luta dos trabalhadores, para a luta anti-capitalista e para a luta contra as opressões. O Bloco não é uma agremiação reformista das classes médias. O Ruptura diz do Bloco o mesmo que o PCP diz do Bloco. O Ruptura pensa do Bloco o que o PCP pensa do Bloco. As teses da LIT dizem que o Bloco é "um remake pouco original das velhas e reaccionárias utopias do reformismo europeu". (Teses congresso LIT)Nós nunca estaremos num partido que seja um remake de utopias reaccionárias e reformistas. Somos revolucionários. Como tal, se estamos no Bloco é porque achamos que ele é um instrumento da luta socialista. Temos princípios. Por isso, ao contrário do Ruptura, não estaremos nunca numa organização que consideremos reformista e reaccionária.Essa é a nossa diferença com o entrismo. Um movimento entrista não acredita no partido que parasita. Um movimento entrista jamais luta pelo bem do partido que parasita. Um movimento entrista serve-se do partido que parasita, objectifica-o, tenta descredibilizá-lo, tirar-lhe a militância, tirar-lhe a força, sendo cego em razão e ingénuo em objectivos. Por esse motivo, correntes como o Ruptura não objectivam o engrandecimento do Bloco de Esquerda, não objectivam a melhoria do Bloco de Esquerda, não objectivam o bem do Bloco de Esquerda.A militância entrista é má para as pessoas, porque forma militantes que têm de fazer discursos duplos, que têm de estar sempre a dramatizar posições e a inventar polarização. A militância entrista deforma porque não junta as pessoas em torno de uma ideia política, de uma direcção para o país, mas em torno de permanentes demarcações da estratégia dos outros.Isso deforma a militância no Bloco. O Bloco não deve ser um meio, uma forma de o Ruptura crescer, um objecto que deve ser usado. Eu recuso-me a esse papel e a construir um partido para isso.Eu, como os restantes 101 delegados pela moção A, como as pessoas das plataformas independentes e como milhares de pessoas por esse país fora, creio no Bloco, sou do Bloco, o Bloco é o partido em que quero estar. Sei que este Bloco não é social-democrata, que este Bloco encerra uma multiplicidade de visões e opiniões necessárias a uma luta forte e concisa e sei como é o Bloco que mais afronta o Governo e as suas políticas. Sei que este Bloco quer crescer por ele e trazer a revolução ao país. Sei que é este Bloco a alternativa às políticas direitistas. É o este Bloco – socialista e sempre socialista – a voz bem timbrada de homens e mulheres que vêem os seus direitos negados, que têm más condições de vida, que são explorados por políticas neoliberais que se têm espraiado pelo país. É a voz das minorias cujos direitos têm sido negados e a voz de todos aqueles que buscam uma alternativa à esquerda.


Eu queria falar-vos sobre o entrismo, porque algumas das discussões que temos nesta conferência só se percebem se conhecermos o que é o entrismo e porque é que ele tem a lógica que tem.O entrismo é uma organização pequena que sabe que nunca será grande se não entrar dentro de uma organização grande para tentar construir-se a si própria à custa da outra organização. É a ideia de que pequenas seitas devem fazer de partidos de massa barrigas de aluguer para sobreviverem e, quando juntarem muita gente, poderão sair e tornar-se autónomos. É uma política de confusão, porque implica estar dentro de um partido com o qual, em geral, não se concorda. Porque implica ser membro de um partido mas ter como objectivo construir uma organização que combate esse partido.É o oposto do espírito com que nasceu o Bloco. O Bloco fundou-se em torno de uma coerência. Não achamos que devíamos estar dentro do PS para combater o PS. Não achamos que devíamos ser um grupo dentro do PCP para lhes arrancar os militantes. Não: somos um partido com um programa próprio, no qual acreditamos e pelo qual nos batemos de cara lavada. Não estamos dentro de outros partidos porque só estaremos num partido em que acreditemos.O entrismo é uma estratégia de correntes dentro do trotskismo. Os entristas defendiam que, nos países em que os estalinistas reinavam absolutos, os trotskistas deveriam juntar-se a partidos comunistas e militar dentro deles, objectivando influenciarem-nos e conduzirem-nos à esquerda que queriam. Estavam dentro dos PCs para tentar conduzi-los à linha certa. Como sabemos, tem dado um enorme resultado, já se vê.Noutros casos, quando os partidos social-democratas eram os grandes partidos de massas de trabalhadores, os entristas defendiam que deveria militar-se no PS para o destruir: havia uma corrente em Portugal que até defendia isso, e teve gente a militar no PS (a Militant). Com os resultados fabulosos que se conhecem. No entanto, entendiam, ingenuamente, que esta táctica lhes permitiria manter uma contacto quotidiano com milhares de trabalhadores, ganhando o seu direito a participar na luta e na discussão sobre os objectivos do movimento, ao mesmo tempo que lhes dava a oportunidade indispensável de provar os seus ideais.O problema é que o entrismo é uma prática desprezível e totalmente inconsequente.Primeiro, uma pessoa entra num partido com o qual não concorda e que acha reformista, coisa que já de si é horrível (eu nunca o faria). Milita nesse partido que acha que é reformista e traidor (e devo dizer que me parece óbvio que o Bloco não é um deles, e afirmá-lo é ingénuo, mas que encerra indubitavelmente o maior avanço à esquerda), sujeita-se a tudo para entrar nesse partido: as astúcias e as capitulações são não somente admitidas como necessárias. Parasitismo cego, sem escrúpulos, profissional, ousaria dizer. E depois, todas as opiniões políticas são definidas a partir de como fazer uma polarização com a direcção desse partido para trazer gente do partido à corrente, ao grupo, cuja identidade é ser contra a direcção do partido, que é sempre, claro, traidora e a um passo da capitulação. Hoje o argumento pode ser um, amanhã pode ser outro. Tanto faz. Para o Ruptura, por exemplo, o Bloco capitulou quando defendeu as 36 horas de trabalho. Uma grande traição porque devia defender 35. Mas mantiveram-se no Bloco e passados dias já nem se lembravam disso. O Bloco depois capitulou porque não quis transformar a campanha do aborto numa campanha contra o Sócrates. Mas depois ganhamos o referendo e já nem se ouviu falar disso. O Bloco capitulou definitivamente porque não quis fazer um Governo com o Manuel Alegre a primeiro-ministro e com o PC, mas passadas duas semanas, o Alegre já era um “carrasco dos trabalhadores”. Tanto faz. A única coisa que conta é arranjar uma coisa qualquer para os outros capitularem, mesmo que depois isso não interesse nada.As organizações entristas não têm uma estratégia própria. Pode ser o que seja, o que em cada momento permitir traçar uma linha definitiva entre eles, revolucionários, e os outros, reformistas. Mas essa linha varia ao sabor das decisões com as quais se pretende polemizar. E a variação é a única coisa que é definitiva.Os entristas não têm uma linha política, uma direcção para o país, uma ideia de um caminho. Saltitam conforme lhes dá jeito com argumentos sempre dramáticos de que é hoje e aqui que se traça a linha entre os puros e os traidores.No essencial, essa é a prática do Ruptura – e por isso é sempre tudo tão dramático, sempre à beira do momento final, mas percebe-se que amanhã será outra coisa qualquer.É essa lógica entrista que a Ruptura/FER, da qual a maioria dos subscritores da moção B é membro, faz dentro do Bloco de Esquerda. Por isso entende o Bloco como uma mera barriga de aluguer – uma “mediação táctica”, nas palavras da Internacional do Ruptura. Estão aqui de passagem, para crescerem.O Bloco nasceu, contudo, do espírito oposto: várias organizações a juntarem-se para fazer um novo partido, o Bloco, a maior conquista da luta social dos últimos dez anos em Portugal. Para o Ruptura, pelo contrário, o seu Partido é o Ruptura, não é o Bloco.Nós recusamos esta visão. Para nós, o Bloco não é nenhuma mediação táctica. O Bloco é a nossa estratégia e a nossa organização. Os jovens do Bloco não são o espaço onde um outro partido pode crescer. Os jovens são o Bloco e o Bloco é o nosso partido. E esta é uma das grandes diferenças entre a moção A e a moção B.O Bloco é uma força socialista para a luta dos trabalhadores, para a luta anti-capitalista e para a luta contra as opressões. O Bloco não é uma agremiação reformista das classes médias. O Ruptura diz do Bloco o mesmo que o PCP diz do Bloco. O Ruptura pensa do Bloco o que o PCP pensa do Bloco. As teses da LIT dizem que o Bloco é "um remake pouco original das velhas e reaccionárias utopias do reformismo europeu". (Teses congresso LIT)Nós nunca estaremos num partido que seja um remake de utopias reaccionárias e reformistas. Somos revolucionários. Como tal, se estamos no Bloco é porque achamos que ele é um instrumento da luta socialista. Temos princípios. Por isso, ao contrário do Ruptura, não estaremos nunca numa organização que consideremos reformista e reaccionária.Essa é a nossa diferença com o entrismo. Um movimento entrista não acredita no partido que parasita. Um movimento entrista jamais luta pelo bem do partido que parasita. Um movimento entrista serve-se do partido que parasita, objectifica-o, tenta descredibilizá-lo, tirar-lhe a militância, tirar-lhe a força, sendo cego em razão e ingénuo em objectivos. Por esse motivo, correntes como o Ruptura não objectivam o engrandecimento do Bloco de Esquerda, não objectivam a melhoria do Bloco de Esquerda, não objectivam o bem do Bloco de Esquerda.A militância entrista é má para as pessoas, porque forma militantes que têm de fazer discursos duplos, que têm de estar sempre a dramatizar posições e a inventar polarização. A militância entrista deforma porque não junta as pessoas em torno de uma ideia política, de uma direcção para o país, mas em torno de permanentes demarcações da estratégia dos outros.Isso deforma a militância no Bloco. O Bloco não deve ser um meio, uma forma de o Ruptura crescer, um objecto que deve ser usado. Eu recuso-me a esse papel e a construir um partido para isso.Eu, como os restantes 101 delegados pela moção A, como as pessoas das plataformas independentes e como milhares de pessoas por esse país fora, creio no Bloco, sou do Bloco, o Bloco é o partido em que quero estar. Sei que este Bloco não é social-democrata, que este Bloco encerra uma multiplicidade de visões e opiniões necessárias a uma luta forte e concisa e sei como é o Bloco que mais afronta o Governo e as suas políticas. Sei que este Bloco quer crescer por ele e trazer a revolução ao país. Sei que é este Bloco a alternativa às políticas direitistas. É o este Bloco – socialista e sempre socialista – a voz bem timbrada de homens e mulheres que vêem os seus direitos negados, que têm más condições de vida, que são explorados por políticas neoliberais que se têm espraiado pelo país. É a voz das minorias cujos direitos têm sido negados e a voz de todos aqueles que buscam uma alternativa à esquerda.

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