Deixo-vos o textinho que preparei para a abertura da Conferência da UDP. Desculpem não estar muito legivel mas ainda não atino com a formatação desta coisa. Foram necessárias várias tentativas para conseguir postar isto tudo... Espero que a leitura agrade. Na última Conferência Nacional a UDP lançou um “Novo Impulso.” Tratava-se no fundo de derrubar para sempre as barreiras que nos afastavam a nós comunistas da confrontação entre a vida real e a teoria revolucionária. Renovação do marxismo foi o repto lançado.Ler Mais...Um "novo Impulso" para "Armar a UDP para os combates futuros". Talvez sem a capacidade de prever que o futuro era já hoje, lançámo-nos na tarefa que a vida nos impunha, prosseguir a com actualização do marxismo e, seguindo o exemplo de Lenine no seu tempo, alicerçados no caminho que trazemos desde 92/93, apresentar a esta Conferência uma análise critica das teses que têm constituído factores orientadores da nossa acção, - o novo proletariado, o imperialismo global, o partido, novo modelo de estado socialista. Em suma o fruto de um debate colectivo a que esta conferência é chamada a dar novos contributos, num caminho sempre inacabado.Nunca velhos manuais deram respostas a problemas novos. Não porque estivessem errados ou completamente equivocados, mas porque os seus autores não foram confrontados com a velocidade vertiginosa das transformações sociais e económicas a que assistimos hoje. A globalização surgiu entretanto como o grande factor de alteração do sistema capitalista. Porque a estruturação das relações de trabalho se transformou, porque a transnacionalização da economia é uma realidade indesmentível, porque o próprio modo de produção sofreu uma profunda metamorfose, um atraso ao nível da construção de alternativas socialistas adequadas a estas novas questões teria graves consequências na luta contra a exploração.Neste aspecto podemos até dizer que os teóricos ao serviço da burguesia foram mais expeditos. Sem hesitações, souberam usar da criatividade e inventividade para encontrar novas formas de exploração sempre que o capitalismo dava sinais de fraqueza sistémica e estrutural. Proclamando o progresso social e o desenvolvimento económico que a prazo beneficiaria a todos, inventaram o neoliberalismo quando o capital soltou o seu primeiro ai na década de 70.Inventaram a terceira via quando a social-democracia agonizante quis encontrar um disfarce para a implementação das políticas neoliberais e para a privatização dos serviços públicos. Há que reconhecer que o capital sempre soube encontrar subterfúgios para a sobrevivência da sua essência predadora.Na proletarização geral encontrou o capital a sua saída para a nova modelação do mundo do trabalho. O trabalho flexível e temporário, o trabalho mal pago, novas formas de exploração para novos proletários que não mais se caracterizam pela sua homogeneidade nem pela execução de funções braçais na cadeia de valor. Intelectuais, jovens bem preparados, trabalhadores que exercem tarefas diversas na produção duma mercadoria final que nem sempre é física e palpável, trabalhadores e trabalhadoras que muitas vezes contribuem com a sua mais-valia para o enriquecimento de um, dois ou mais patrões em simultâneo. Novas relações de trabalho e modos de produção introduzidos num discurso flexi-socialista que nunca a chega a ter sequer um vislumbre de socialismo, mas que, pelo contrário, cria o fenómeno absurdo do empobrecimento a níveis indecorosos da classe trabalhadora e cria obstáculos à luta colectiva, e à organização dos trabalhadores em defesa dos seus direitos laborais. Um discurso e um modelo que ao enaltecer as virtudes da competitividade e da meritocracia, lança trabalhadores contra trabalhadores atrapalhando a tomada de consciência de classe si (quanto mais para si) e a luta de classes.Nunca o capital foi tão longe na barbárie contra as massas proletárias. Perante a perspectiva de meter ao bolso os seus 300% de lucro, é a mais pura verdade: o capital enlouquece. Enlouquece tanto que mesmo impondo um código de precariedade, quer dizer, de trabalho, que é um atentado aos direitos dos trabalhadores, necessita muitas vezes de fugir à sua própria lei para aumentar a margem de lucro. É desta insanidade, e só dela, que saem os famosos produtos financeiros estruturados, porque só a ânsia da acumulação desenfreada pode montar uma economia de casino sem regras nem leis e chamar-lhe sistema financeiro. Tudo isto, enquanto os governos ao serviço do capital permitem uma nova fase de acumulação capitalista, provavelmente a mais ousada de todas,– a privatização dos serviços públicos. Atacando o último resquício do Estado Social, o capital sabe que vai encontrar uma fonte inesgotável de lucro, porque as necessidade básicas das pessoas não dependem de modas nem acabam nunca.Neste caminho, bastos teóricos e eminentes teorizadores do fim da história, abriram alas. Entre eles, Anthony Giddens resume de forma magnífica o novo paradigma, quando afirma que já não existe lugar na sociedade contemporânea para ideologias, para esquerda e direita ou para a luta de classes, esse tempo terminou com a derrocada do bloco soviético e a falência do modelo do socialismo real. Perante esta tão providente e clara evidencia, afirma o senhor, que estupidez alguém ser de esquerda nos dias de hoje! E pergunta, fará sentido sequer qualquer proposta à esquerda? A sociedade de hoje, diz ele, atingiu já um nível de progresso económico suficiente para que as pessoas deixem de lado as reivindicações materialistas e se assumam apenas na defesa dos direitos relacionados com o que ele chama opções de vida ou qualidade de vida. Constrói-se assim nas sociedades actuais uma estrutura mental muito permeável ao individualismo e, por si só, negadora da existência da luta de classes como alavanca da história.É o chamado pós materialismo, cujas causas são oportunistamente aproveitadas pela burguesia numa tentativa de desviar as atenções das lutas realmente transformadoras.O problema para todos estes autores de inspiração neo-liberal, o pesadelo, chega quando o modelo que eles proclamavam cientificamente infalível… falha.Com esta crise, a primeira de dimensões verdadeiramente globais, o neoliberalismo sofreu um golpe profundo, arrastando consigo o social liberalismo. Neste profundo desastre, cedo se apressou o capital a deitar mão de soluções que há poucos meses rotulava de atrasadas e coveiras do mundo moderno.E cedo tenta fazer passes de mágica e tirar da cartola novos salvadores como Barak Obama, mantendo, no entanto, a corrida às armas e à guerra.Esta brecha aberta no coração do neoliberalismo só pode ser alargada por propostas que, à esquerda, se constituam alternativas viáveis e responsáveis ao delírio do capital. É uma fissura que poderá levar ao fortalecimento da esquerda e do movimento social, capazes de impulsionarem a construção de uma maioria social que reclame pela transformação do sistema que nos explora.A denúncia dos responsáveis e do próprio sistema terá de vir aliada a uma proposta socialista consistente! Neste momento do processo histórico afigura-se-nos favorável à construção e difusão desta proposta. A desorientação dos ideólogos do capital abre um espaço de disputa ideológica no qual terão de se confrontar visões e projectos. Era esta luta que nos assumíamos dispostos a travar quando nos propusemos armar a teoria revolucionária para os combates do futuro.Cabe agora desenvolver as teses socialistas, aprofundar o debate para os novos problemas que se levantam. Porque a problemas nunca antes colocados só a imaginação de um pensamento novo bem alicerçado na teoria marxista poderá servir. E esta conferência tem como tarefa maior avançar as pistas para essas respostas. Sabemos reconhecer que elas só podem ser eficientes se formos capazes de levar a contestação ao palco da ofensiva, através de alianças europeístas de esquerda. Sabemos que elas só poderão vir aliadas a uma profunda convicção democrática e respeito pelos direitos individuais. Sabemos que a uma sociedade impregnada e permeável aos individualismos pós-materialistas não se poderá responder com uma simples dicotomia entre o colectivo e o indivíduo, mas que temos de elevar os horizontes da nossa luta, integrando como nossas as causas consideradas pós materialistas e trazendo para o campo da luta de classes um proletariado de contornos novos. As massas serão ganhas para a mobilização social pelo impulso e liberdade que dermos aos movimentos sociais para que, connosco, assumam a liderança da contestação e da reivindicação social. As serão ganhas pela inventividade dos nossos métodos de comunicação e pela clareza das nossas propostas.Camaradas, nem mesmo os pós-materialistas podem fugir à evidência das condições materiais adversas que a crise mundial está a levantar: desemprego, precariedade, sub-emprego, pobreza, não opções de vida de reivindicação individual, são condições palpáveis para o reacender da luta de classes. Resta saber se a esquerda revolucionária está à altura de dar à minha geração a resposta que não soube dar à geração anterior, se está pronta para abandonar os dogmas do passado e reinventar as respostas adequadas a uma sociedade de estrutura complexa, heterogénea, composta por massas mais informadas e atentas.Não tenhamos duvidas de que o capital tentará reformar-se, que fará um novo esforço de mutação, mas nós sabemos que qualquer quarta via, qualquer pós-neoliberalismo que venha por aí não vai voltar atrás e por em xeque a cegueira da acumulação capitalista. Nós sabemos, e eles sabem, que nenhuma social-democracia pode voltar atrás no caminho das privatizações dos bens públicos e da precarização geral. O senhor Giddens pergunta-nos se vale a pena alguma proposta de esquerda nos dias de hoje. Pois nós respondemos que não existe nem poderá existir nenhuma saída para esta crise que não seja de esquerda.
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Deixo-vos o textinho que preparei para a abertura da Conferência da UDP. Desculpem não estar muito legivel mas ainda não atino com a formatação desta coisa. Foram necessárias várias tentativas para conseguir postar isto tudo... Espero que a leitura agrade. Na última Conferência Nacional a UDP lançou um “Novo Impulso.” Tratava-se no fundo de derrubar para sempre as barreiras que nos afastavam a nós comunistas da confrontação entre a vida real e a teoria revolucionária. Renovação do marxismo foi o repto lançado.Ler Mais...Um "novo Impulso" para "Armar a UDP para os combates futuros". Talvez sem a capacidade de prever que o futuro era já hoje, lançámo-nos na tarefa que a vida nos impunha, prosseguir a com actualização do marxismo e, seguindo o exemplo de Lenine no seu tempo, alicerçados no caminho que trazemos desde 92/93, apresentar a esta Conferência uma análise critica das teses que têm constituído factores orientadores da nossa acção, - o novo proletariado, o imperialismo global, o partido, novo modelo de estado socialista. Em suma o fruto de um debate colectivo a que esta conferência é chamada a dar novos contributos, num caminho sempre inacabado.Nunca velhos manuais deram respostas a problemas novos. Não porque estivessem errados ou completamente equivocados, mas porque os seus autores não foram confrontados com a velocidade vertiginosa das transformações sociais e económicas a que assistimos hoje. A globalização surgiu entretanto como o grande factor de alteração do sistema capitalista. Porque a estruturação das relações de trabalho se transformou, porque a transnacionalização da economia é uma realidade indesmentível, porque o próprio modo de produção sofreu uma profunda metamorfose, um atraso ao nível da construção de alternativas socialistas adequadas a estas novas questões teria graves consequências na luta contra a exploração.Neste aspecto podemos até dizer que os teóricos ao serviço da burguesia foram mais expeditos. Sem hesitações, souberam usar da criatividade e inventividade para encontrar novas formas de exploração sempre que o capitalismo dava sinais de fraqueza sistémica e estrutural. Proclamando o progresso social e o desenvolvimento económico que a prazo beneficiaria a todos, inventaram o neoliberalismo quando o capital soltou o seu primeiro ai na década de 70.Inventaram a terceira via quando a social-democracia agonizante quis encontrar um disfarce para a implementação das políticas neoliberais e para a privatização dos serviços públicos. Há que reconhecer que o capital sempre soube encontrar subterfúgios para a sobrevivência da sua essência predadora.Na proletarização geral encontrou o capital a sua saída para a nova modelação do mundo do trabalho. O trabalho flexível e temporário, o trabalho mal pago, novas formas de exploração para novos proletários que não mais se caracterizam pela sua homogeneidade nem pela execução de funções braçais na cadeia de valor. Intelectuais, jovens bem preparados, trabalhadores que exercem tarefas diversas na produção duma mercadoria final que nem sempre é física e palpável, trabalhadores e trabalhadoras que muitas vezes contribuem com a sua mais-valia para o enriquecimento de um, dois ou mais patrões em simultâneo. Novas relações de trabalho e modos de produção introduzidos num discurso flexi-socialista que nunca a chega a ter sequer um vislumbre de socialismo, mas que, pelo contrário, cria o fenómeno absurdo do empobrecimento a níveis indecorosos da classe trabalhadora e cria obstáculos à luta colectiva, e à organização dos trabalhadores em defesa dos seus direitos laborais. Um discurso e um modelo que ao enaltecer as virtudes da competitividade e da meritocracia, lança trabalhadores contra trabalhadores atrapalhando a tomada de consciência de classe si (quanto mais para si) e a luta de classes.Nunca o capital foi tão longe na barbárie contra as massas proletárias. Perante a perspectiva de meter ao bolso os seus 300% de lucro, é a mais pura verdade: o capital enlouquece. Enlouquece tanto que mesmo impondo um código de precariedade, quer dizer, de trabalho, que é um atentado aos direitos dos trabalhadores, necessita muitas vezes de fugir à sua própria lei para aumentar a margem de lucro. É desta insanidade, e só dela, que saem os famosos produtos financeiros estruturados, porque só a ânsia da acumulação desenfreada pode montar uma economia de casino sem regras nem leis e chamar-lhe sistema financeiro. Tudo isto, enquanto os governos ao serviço do capital permitem uma nova fase de acumulação capitalista, provavelmente a mais ousada de todas,– a privatização dos serviços públicos. Atacando o último resquício do Estado Social, o capital sabe que vai encontrar uma fonte inesgotável de lucro, porque as necessidade básicas das pessoas não dependem de modas nem acabam nunca.Neste caminho, bastos teóricos e eminentes teorizadores do fim da história, abriram alas. Entre eles, Anthony Giddens resume de forma magnífica o novo paradigma, quando afirma que já não existe lugar na sociedade contemporânea para ideologias, para esquerda e direita ou para a luta de classes, esse tempo terminou com a derrocada do bloco soviético e a falência do modelo do socialismo real. Perante esta tão providente e clara evidencia, afirma o senhor, que estupidez alguém ser de esquerda nos dias de hoje! E pergunta, fará sentido sequer qualquer proposta à esquerda? A sociedade de hoje, diz ele, atingiu já um nível de progresso económico suficiente para que as pessoas deixem de lado as reivindicações materialistas e se assumam apenas na defesa dos direitos relacionados com o que ele chama opções de vida ou qualidade de vida. Constrói-se assim nas sociedades actuais uma estrutura mental muito permeável ao individualismo e, por si só, negadora da existência da luta de classes como alavanca da história.É o chamado pós materialismo, cujas causas são oportunistamente aproveitadas pela burguesia numa tentativa de desviar as atenções das lutas realmente transformadoras.O problema para todos estes autores de inspiração neo-liberal, o pesadelo, chega quando o modelo que eles proclamavam cientificamente infalível… falha.Com esta crise, a primeira de dimensões verdadeiramente globais, o neoliberalismo sofreu um golpe profundo, arrastando consigo o social liberalismo. Neste profundo desastre, cedo se apressou o capital a deitar mão de soluções que há poucos meses rotulava de atrasadas e coveiras do mundo moderno.E cedo tenta fazer passes de mágica e tirar da cartola novos salvadores como Barak Obama, mantendo, no entanto, a corrida às armas e à guerra.Esta brecha aberta no coração do neoliberalismo só pode ser alargada por propostas que, à esquerda, se constituam alternativas viáveis e responsáveis ao delírio do capital. É uma fissura que poderá levar ao fortalecimento da esquerda e do movimento social, capazes de impulsionarem a construção de uma maioria social que reclame pela transformação do sistema que nos explora.A denúncia dos responsáveis e do próprio sistema terá de vir aliada a uma proposta socialista consistente! Neste momento do processo histórico afigura-se-nos favorável à construção e difusão desta proposta. A desorientação dos ideólogos do capital abre um espaço de disputa ideológica no qual terão de se confrontar visões e projectos. Era esta luta que nos assumíamos dispostos a travar quando nos propusemos armar a teoria revolucionária para os combates do futuro.Cabe agora desenvolver as teses socialistas, aprofundar o debate para os novos problemas que se levantam. Porque a problemas nunca antes colocados só a imaginação de um pensamento novo bem alicerçado na teoria marxista poderá servir. E esta conferência tem como tarefa maior avançar as pistas para essas respostas. Sabemos reconhecer que elas só podem ser eficientes se formos capazes de levar a contestação ao palco da ofensiva, através de alianças europeístas de esquerda. Sabemos que elas só poderão vir aliadas a uma profunda convicção democrática e respeito pelos direitos individuais. Sabemos que a uma sociedade impregnada e permeável aos individualismos pós-materialistas não se poderá responder com uma simples dicotomia entre o colectivo e o indivíduo, mas que temos de elevar os horizontes da nossa luta, integrando como nossas as causas consideradas pós materialistas e trazendo para o campo da luta de classes um proletariado de contornos novos. As massas serão ganhas para a mobilização social pelo impulso e liberdade que dermos aos movimentos sociais para que, connosco, assumam a liderança da contestação e da reivindicação social. As serão ganhas pela inventividade dos nossos métodos de comunicação e pela clareza das nossas propostas.Camaradas, nem mesmo os pós-materialistas podem fugir à evidência das condições materiais adversas que a crise mundial está a levantar: desemprego, precariedade, sub-emprego, pobreza, não opções de vida de reivindicação individual, são condições palpáveis para o reacender da luta de classes. Resta saber se a esquerda revolucionária está à altura de dar à minha geração a resposta que não soube dar à geração anterior, se está pronta para abandonar os dogmas do passado e reinventar as respostas adequadas a uma sociedade de estrutura complexa, heterogénea, composta por massas mais informadas e atentas.Não tenhamos duvidas de que o capital tentará reformar-se, que fará um novo esforço de mutação, mas nós sabemos que qualquer quarta via, qualquer pós-neoliberalismo que venha por aí não vai voltar atrás e por em xeque a cegueira da acumulação capitalista. Nós sabemos, e eles sabem, que nenhuma social-democracia pode voltar atrás no caminho das privatizações dos bens públicos e da precarização geral. O senhor Giddens pergunta-nos se vale a pena alguma proposta de esquerda nos dias de hoje. Pois nós respondemos que não existe nem poderá existir nenhuma saída para esta crise que não seja de esquerda.