Les Canards libertaîres: requiem luandense

30-06-2011
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Escandaloso, o caso Graça Campos. O jornalista e director de uma das poucas publicações que faz oposição ao governo de Eduardo dos Santos viu-se julgado por injúria e difamação, para com o actual Provedor de Justiça, e ex-ministro da Justiça, por ter divulgado, em 2004, uma história de corrupção dentro do executivo.Mais, condenado, de facto. 8 meses, sem pena suspensa, e 250 mil dólares, para o bolso do dito Paulo Tjipilica. Gravíssimo, porque nos recorda o processo, e os 40 dias que, em 1999, o também jornalista Rafael Marques, passou na cadeia. E perigoso porque, pelos vistos, a coisa está a tornar-se quase prática comum. Basta lembrar as recentes notícias das ameaças feitas a pessoal de ong’s por terem feito a denúncia da falcatrua por detrás das demolições de casas no bairro de Gika. Foram acusados por um dirigente do MPLA de serem politiqueiros e de incentivarem à anarquia e à desobediência, e explicitamente quase que convidados a sair do país. Escandaloso. Ainda por cima há esse tal problema das eleições, prometidas, mas ainda sem agendamento concreto, as legislativas de 2008 e as presidenciais de 2009, já são miragem há tanto tempo que, criteriosamente, ninguém acredita bem nelas.Um país que se quer desenvolvido não se pode dar ao luxo de procurar constranger a liberdade de expressão. Ver Angola como um país enredado na teia viciosa do subdesenvolvimento é errado. É errado porque, no actual contexto, é como se tivesse o fundamental para se desenrascar. Porque não estamos a falar de um país com falta de recursos e capital financeiro. Ao invés, abundam petrodollars. E as expectativas são da abertura de cerca de mais 100 poços de exploração de petróleo até 2012. Não se pode dizer que falte dinheiro ao estado. Falta às populações. Quando não têm nada ainda é como o outro, quando podem ter tanto é criminoso. Um país que se quer libertar do jugo da pobreza sabe que tem de redistribuir aquilo que tem pelos seus pobres, e que tem de investir aquilo que tem na formação e na capacitação dos seus. Formar quadros, capacitar dirigentes. Como diria Sérgio conceder insígnias para que os jovens angolanos possam, eles próprios, pensar e gizar estratégias de reabilitação daquela economia e sociedade.Mas não, os barões do MPLA e da UNITA, enquanto enchem os bolsos, entregam de bandeja o seu potencial à China. Veja-se a notícia do Courrier Internacional que relata a concessão das obras rodoviárias à China, que se dá ao desplante de levar juntamente com o seu dito investimento a sua própria mão-de-obra, dito investimento porque o PIB angolano até pode estar em crescendo mas a ver vamos por quanto andará o que do lucro das empresas chinesas fica de facto por Angola.Quando se argumenta que a salvação do povo angolano é a ajuda dos países ricos e da comunidade internacional, diz-se mal. Os contributos do Norte, como o de Portugal, têm, naturalmente, a sua utilidade, mas o fundamental é mesmo a ideia de que a emancipação real tem de ser endógena. Libertá-los da dívida, não querer privatizar os seus recursos energéticos, deixar de vê-los enquanto o velho mercado consumidor dos seus bens industriais e tecnológicos, abrir espaços nos seus mercados internos para as produções que de lá vêm, seria a melhor das ajudas. Usar a Cimeira EU-África para discutir isto, em vez de mais do mesmo, seria um enorme passo em frente. Seria, por exemplo, deixar de lado a conivência com o banditismo e com o impudor daqueles que, enquanto vão ocupando os palácios decisórios de Luanda, vão mandando prender jornalistas que lhes fazem frente.


Escandaloso, o caso Graça Campos. O jornalista e director de uma das poucas publicações que faz oposição ao governo de Eduardo dos Santos viu-se julgado por injúria e difamação, para com o actual Provedor de Justiça, e ex-ministro da Justiça, por ter divulgado, em 2004, uma história de corrupção dentro do executivo.Mais, condenado, de facto. 8 meses, sem pena suspensa, e 250 mil dólares, para o bolso do dito Paulo Tjipilica. Gravíssimo, porque nos recorda o processo, e os 40 dias que, em 1999, o também jornalista Rafael Marques, passou na cadeia. E perigoso porque, pelos vistos, a coisa está a tornar-se quase prática comum. Basta lembrar as recentes notícias das ameaças feitas a pessoal de ong’s por terem feito a denúncia da falcatrua por detrás das demolições de casas no bairro de Gika. Foram acusados por um dirigente do MPLA de serem politiqueiros e de incentivarem à anarquia e à desobediência, e explicitamente quase que convidados a sair do país. Escandaloso. Ainda por cima há esse tal problema das eleições, prometidas, mas ainda sem agendamento concreto, as legislativas de 2008 e as presidenciais de 2009, já são miragem há tanto tempo que, criteriosamente, ninguém acredita bem nelas.Um país que se quer desenvolvido não se pode dar ao luxo de procurar constranger a liberdade de expressão. Ver Angola como um país enredado na teia viciosa do subdesenvolvimento é errado. É errado porque, no actual contexto, é como se tivesse o fundamental para se desenrascar. Porque não estamos a falar de um país com falta de recursos e capital financeiro. Ao invés, abundam petrodollars. E as expectativas são da abertura de cerca de mais 100 poços de exploração de petróleo até 2012. Não se pode dizer que falte dinheiro ao estado. Falta às populações. Quando não têm nada ainda é como o outro, quando podem ter tanto é criminoso. Um país que se quer libertar do jugo da pobreza sabe que tem de redistribuir aquilo que tem pelos seus pobres, e que tem de investir aquilo que tem na formação e na capacitação dos seus. Formar quadros, capacitar dirigentes. Como diria Sérgio conceder insígnias para que os jovens angolanos possam, eles próprios, pensar e gizar estratégias de reabilitação daquela economia e sociedade.Mas não, os barões do MPLA e da UNITA, enquanto enchem os bolsos, entregam de bandeja o seu potencial à China. Veja-se a notícia do Courrier Internacional que relata a concessão das obras rodoviárias à China, que se dá ao desplante de levar juntamente com o seu dito investimento a sua própria mão-de-obra, dito investimento porque o PIB angolano até pode estar em crescendo mas a ver vamos por quanto andará o que do lucro das empresas chinesas fica de facto por Angola.Quando se argumenta que a salvação do povo angolano é a ajuda dos países ricos e da comunidade internacional, diz-se mal. Os contributos do Norte, como o de Portugal, têm, naturalmente, a sua utilidade, mas o fundamental é mesmo a ideia de que a emancipação real tem de ser endógena. Libertá-los da dívida, não querer privatizar os seus recursos energéticos, deixar de vê-los enquanto o velho mercado consumidor dos seus bens industriais e tecnológicos, abrir espaços nos seus mercados internos para as produções que de lá vêm, seria a melhor das ajudas. Usar a Cimeira EU-África para discutir isto, em vez de mais do mesmo, seria um enorme passo em frente. Seria, por exemplo, deixar de lado a conivência com o banditismo e com o impudor daqueles que, enquanto vão ocupando os palácios decisórios de Luanda, vão mandando prender jornalistas que lhes fazem frente.

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