Les Canards libertaîres: Conferência de David Throsby

01-07-2011
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Este texto é da autoria de Joana MayerSeminário integrado no Ciclo de Conferências “Artistas e Profissionais da Cultura: Carreiras e Mercados de Trabalho” O teórico australiano David Throsby esteve ontem no ISCTE para um seminário no âmbito do ciclo de Conferências “Artistas e Profissionais da Cultura: Carreiras e Mercados de Trabalho”, promovidas pelo Dinâmia em conjunto com o ICS (David Throsby é um dos teóricos que mais tem reflectido sobre as especificidades da relação entre a economia e a cultura nas suas várias dimensões pragmáticas. O seu trabalho de investigação tem contemplado questões como a importância dos artistas na economia, a economia de intervenção pública nos mercados artísticos, o desenvolvimento cultural, a política cultural e a sustentabilidade dos processos culturais). Neste seminário Throsby apresentou uma comunicação onde pretende questionar simultaneamente: a) se existe um nível de rendimento mínimo apontado pelos artistas que determina o investimento de tempo em actividades criativas; e b) quais as variáveis que contribuem para a estipulação deste rendimento mínimo, e se estas influenciam os artistas a optarem por actividades menos criativas mas mais lucrativas. Estas questões surgem na sequência das observações apresentadas por Throsby no artigo “Preferred Work Patterns of Creative Artists”, publicado no Journal of Economics and Finance (2007). Neste artigo, Throsby conclui que o modelo económico de trabalho para os artistas é diferente do modelo convencional de oferta de trabalho. O modelo económico da oferta de trabalho considera um mercado onde se transacciona trabalho, i.e. onde há uma oferta e uma procura de mão-de-obra, e, este modelo explica ou ajuda a explicar a forma como os fornecedores de trabalho se comportam no mercado. Assim, quando consideramos o trabalho artístico observamos que não existe uma diferença expressiva entre o tempo investido em “trabalho criativo” e aquele que estes gostariam de investir em tempo de lazer. Ou seja, por oposição ao trabalhador comum, que investe o seu tempo a trabalhar - em função de uma expectativa de rendimento - , e que consequentemente compromete assim o tempo que gostava de investir em lazer, para o artista não existe um desfasamento tão expressivo entre o tempo que dedica ao trabalho criativo e aquele que gostaria de dedicar a fazer outras coisas. Esta diferença pressupõe então que os artistas gostavam de poder investir mais tempo no trabalho criativo, mas que a proporção da expectativa de rendimentos não acompanha esta curva ascendente. Daqui se conclui que os constrangimentos associados ao retorno do trabalho criativo obriga os artistas a tomarem opções que comprometem o tempo de que dispõem para investir nas suas actividades criativas - arranjando um emprego não-criativo ou optando por um emprego criativo mas de carácter secundário (dar aulas de música, por exemplo). Deste modo, a referência de um rendimento mínimo apontado pelos artistas permite concluir do limiar abaixo do qual o tempo despendido em actividades criativas se torna uma quase impossibilidade. Quanto ao valor do rendimento mínimo apontado este estabelece-se principalmente com base no rendimento auferido pelos artistas à data do inquérito. As outras variáveis que podem fazer oscilar este valor prendem-se fundamentalmente com o estado civil e com o número de filhos (ainda que variáveis como a idade sejam também de considerar). Estas conclusões são interessantes fundamentalmente por dois motivos: por um lado porque permitem voltar a desfazer o mito do artista romântico cuja pobreza é o motor do espírito criativo; e, por outro lado, porque fornecem dados interessantes sobre valores concretos e variáveis que condicionam o trabalho artístico, implicando consequentemente uma reflexão ao nível das políticas culturais sobre os financiamentos e a regulação (ou não) dos mercados.


Este texto é da autoria de Joana MayerSeminário integrado no Ciclo de Conferências “Artistas e Profissionais da Cultura: Carreiras e Mercados de Trabalho” O teórico australiano David Throsby esteve ontem no ISCTE para um seminário no âmbito do ciclo de Conferências “Artistas e Profissionais da Cultura: Carreiras e Mercados de Trabalho”, promovidas pelo Dinâmia em conjunto com o ICS (David Throsby é um dos teóricos que mais tem reflectido sobre as especificidades da relação entre a economia e a cultura nas suas várias dimensões pragmáticas. O seu trabalho de investigação tem contemplado questões como a importância dos artistas na economia, a economia de intervenção pública nos mercados artísticos, o desenvolvimento cultural, a política cultural e a sustentabilidade dos processos culturais). Neste seminário Throsby apresentou uma comunicação onde pretende questionar simultaneamente: a) se existe um nível de rendimento mínimo apontado pelos artistas que determina o investimento de tempo em actividades criativas; e b) quais as variáveis que contribuem para a estipulação deste rendimento mínimo, e se estas influenciam os artistas a optarem por actividades menos criativas mas mais lucrativas. Estas questões surgem na sequência das observações apresentadas por Throsby no artigo “Preferred Work Patterns of Creative Artists”, publicado no Journal of Economics and Finance (2007). Neste artigo, Throsby conclui que o modelo económico de trabalho para os artistas é diferente do modelo convencional de oferta de trabalho. O modelo económico da oferta de trabalho considera um mercado onde se transacciona trabalho, i.e. onde há uma oferta e uma procura de mão-de-obra, e, este modelo explica ou ajuda a explicar a forma como os fornecedores de trabalho se comportam no mercado. Assim, quando consideramos o trabalho artístico observamos que não existe uma diferença expressiva entre o tempo investido em “trabalho criativo” e aquele que estes gostariam de investir em tempo de lazer. Ou seja, por oposição ao trabalhador comum, que investe o seu tempo a trabalhar - em função de uma expectativa de rendimento - , e que consequentemente compromete assim o tempo que gostava de investir em lazer, para o artista não existe um desfasamento tão expressivo entre o tempo que dedica ao trabalho criativo e aquele que gostaria de dedicar a fazer outras coisas. Esta diferença pressupõe então que os artistas gostavam de poder investir mais tempo no trabalho criativo, mas que a proporção da expectativa de rendimentos não acompanha esta curva ascendente. Daqui se conclui que os constrangimentos associados ao retorno do trabalho criativo obriga os artistas a tomarem opções que comprometem o tempo de que dispõem para investir nas suas actividades criativas - arranjando um emprego não-criativo ou optando por um emprego criativo mas de carácter secundário (dar aulas de música, por exemplo). Deste modo, a referência de um rendimento mínimo apontado pelos artistas permite concluir do limiar abaixo do qual o tempo despendido em actividades criativas se torna uma quase impossibilidade. Quanto ao valor do rendimento mínimo apontado este estabelece-se principalmente com base no rendimento auferido pelos artistas à data do inquérito. As outras variáveis que podem fazer oscilar este valor prendem-se fundamentalmente com o estado civil e com o número de filhos (ainda que variáveis como a idade sejam também de considerar). Estas conclusões são interessantes fundamentalmente por dois motivos: por um lado porque permitem voltar a desfazer o mito do artista romântico cuja pobreza é o motor do espírito criativo; e, por outro lado, porque fornecem dados interessantes sobre valores concretos e variáveis que condicionam o trabalho artístico, implicando consequentemente uma reflexão ao nível das políticas culturais sobre os financiamentos e a regulação (ou não) dos mercados.

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