O Comité Internacional da Marcha Mundial das Mulheres reuniu-se, nos dias 4, 5,6 e 7 de Outubro, em Portugal, na sede da AJPaz, para discutir as linhas de acção para os próximos cinco anos, no sentido de implementar o Plano Estratégico até 2010, aprovado mundialmente no Perú, e debater temas como “violências contra as mulheres” e “Paz e dismilitarização”. Neste encontro estiveram presentes 25 mulheres provenientes de 9 paises representativos de todas as regiões do mundo: Itália, Portugal, Paquistão, Mali, África do Sul, Brasil, México, Peru e Canadá.É nesta perspectiva da centralidade, horizontalidade e interdependência / complementaridade de todas as lutas feministas, e com base na crença de que junt@s podemos construir um outro mundo, mais paritário e justo, que a MMM trabalha. Na MMM, a partir da base, procura-se com Justiça, Liberdade, Paz, Solidariedade e Igualdade construir alternativas ao vigente sistema hegemónico e opressor. Porque num contexto de globalização da pobreza, da exploração, das guerras, do rascismo, da opressão e das discriminações, as alternativas e resistências também precisam ser plurais e tranversais.“In its struggle for the elimination of poverty and violence against women, the World March of Women illustrates the resolve of citizens of the world to build a peaceful world, free of exploitation and oppression, a world in which people enjoy full human rights, social justice, democracy and gender equality; in which women’s work, both productive and reproductive, and their contribution to society are properly recognized; in which cultural diversity and pluralism are respected; and a world in which the environment is protected.(…) In short, we believe that together we can and must build another world” (Declaração de Valores da Marcha Mundial das Mulheres adoptada em 2003, Nova Deli, India)Porque é que vale ainda (e cada vez mais) a pena falar de feminismo? Por que é que se torna urgente e absolutamente necessário lutar pelos direitos das mulheres?Em primeiro lugar porque os problemas que afectam as mulheres têm um carácter transversal e estão muitas vezes invisíveis, cobertos/camuflados por lutas consideradas “maiores”: o desemprego, a guerra, a precariedade, etc.. Não nos podemos esquecer no entanto que, em regra geral, são precisamente as mulheres as maiores vitimas da guerra, da pobreza e da exclusão social. São também as mulheres quem mais sofre com este processo de globalização neoliberal, que se apoia nos sistemas capitalista e patriarcal para invisibilizar o trabalho realizado pelas mesmas, empurrando-as para a precariedade e para a acumulação de múltiplas discriminações. São vitimas de guerra, camponesas, imigrantes, lésbicas, trabalhadoras precárias e para além disto são mulheres, sendo discriminadas por isso mesmo, oprimidas dentro dos seus próprios grupos. Senão vejamos:· As mulheres constituem 70% da população mais empobrecida do mundo.· Mulheres e crianças detêm menos de 1% da riqueza mundial; garantem 70% das horas trabalhadas e recebem apenas 10% dos rendimentos;· Apenas um terço do trabalho realizado por mulheres a nivel mundial é remunerado;· Dois terços dos 300 milhões de crianças que não tem acesso a educação são raparigas;· Cerca de 20 a 50% das mulheres no mundo são, a diferentes níveis, vitimas de violência doméstica;· Durante a Guerra de independência de 1972 no Bangladesh foram violadas entre 250,000 a 400,000 mulheres. Entre Abril de 1994 e Abril de 1995 estimam-se que tenham sido violadas entre 15,700 a 250,000 mulheres no Ruanda.Não caiamos, no entanto, na tentação de pensar que estas são lutas que não nos pertencem, que solidariamente damos a cara por outras mulheres mas que não sentimos nem sentiremos na pele nenhum destes “problemas” porque estão lá longe, onde a pobreza é banal e as guerras, tal como os atentados à integridade humana, inevitáveis.Mesmo aquelas de nós que nunca foram vitimas de violência fisica foram-no, por certo, de violência psicológica, por parte do pai (que autoriza o filho mas não a filha), do empregador (que assedia, e/ou demite em caso de gravidez), da publicidade ( que nos expõe e transforma em objectos sexuais apenas com um intuito – vender) e mesmo da sociedade como um todo, que persiste em fazer-nos obdientes, submissas, magras, doces e, se possivel, passivas! Porque isso torna tudo o resto bem mais fácil..Em segundo lugar porque a Europa se apercebeu agora e tardiamente que o seu sistema de protecção social assente nos pressupostos da existência de uma sociedade patriarcal, onde o homem desempenha o papel de “breadwinner” da família, usufruindo de um emprego estável e seguro está em processo de decadência e que para resolver este problema terá, necessariamente, que recorrer à reserva de mão de obra feminina, qualificada na maior parte das vezes, mas “sub-utilizada”.A questão que urge colocar agora é em que condições é que a Europa se propõe a promover a integração das mulheres no mercado de trabalho?Através da implementação de politicas integradas de educação, formação e promoção da paridade ou “atirando” estas para a precariedade, para trabalhos temporários, instáveis e para part-times mal remunerados, que representam para as mulheres novos riscos de exploração e sobrecarga, mais uma vez, invisível, gratuita e não-reconhecida?É preciso que a Europa não se esqueça que o acesso por parte das mulheres (principalmente aquelas em situação de maternidade) a trabalhos mais bem remunerados de acordo com as suas qualificações, a esquemas de suporte que lhes permitam conciliar a vida familiar com a vida profissional e também a existência de medidas que promovam uma participação equalitária dos homens nas tarefas domésticas, irão influenciar de forma determinante as características das famílias onde estas mulheres se inserem, constituindo assim um instrumento de prevenção e combate à pobreza e exclusão social.Em terceiro lugar, e por último, porque este investimento no empowerment das mulheres enquanto estratégia de combate à pobreza faz ainda mais sentido em paises pobres, onde os problemas sociais são mais agudos, as mulheres mais discriminadas e oprimidas a nível politico, economico e social, mas também as principais educadoras, trabalhadoras e construtoras de teias e relações sociais sobre as quais as sociedades acentam.Penso que estes são motivos mais que suficientes para fazer de temas como os direitos da mulheres, paridade e feminismo uma prioridade nas nossas agendas de luta politica e social.Relembro que esta é uma causa de tod@s nós, mulheres e homens do Norte e do Sul, e desafio os interessad@s a juntarem-se e a apoiar o movimento da Marcha Mundial das Mulheres que luta por um outro mundo, melhor, que é possivel!Fontes Estatisticas: É possivel encontrar as fontes dos dados apresentados no site da Marcha Mundial das Mulheres, publicações – “2000 - Sexism and Globalization, 2000 Good Reasons to March”.Para mais informações: www.worldmarchofwomen.org / www.ajpaz.org.pt
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O Comité Internacional da Marcha Mundial das Mulheres reuniu-se, nos dias 4, 5,6 e 7 de Outubro, em Portugal, na sede da AJPaz, para discutir as linhas de acção para os próximos cinco anos, no sentido de implementar o Plano Estratégico até 2010, aprovado mundialmente no Perú, e debater temas como “violências contra as mulheres” e “Paz e dismilitarização”. Neste encontro estiveram presentes 25 mulheres provenientes de 9 paises representativos de todas as regiões do mundo: Itália, Portugal, Paquistão, Mali, África do Sul, Brasil, México, Peru e Canadá.É nesta perspectiva da centralidade, horizontalidade e interdependência / complementaridade de todas as lutas feministas, e com base na crença de que junt@s podemos construir um outro mundo, mais paritário e justo, que a MMM trabalha. Na MMM, a partir da base, procura-se com Justiça, Liberdade, Paz, Solidariedade e Igualdade construir alternativas ao vigente sistema hegemónico e opressor. Porque num contexto de globalização da pobreza, da exploração, das guerras, do rascismo, da opressão e das discriminações, as alternativas e resistências também precisam ser plurais e tranversais.“In its struggle for the elimination of poverty and violence against women, the World March of Women illustrates the resolve of citizens of the world to build a peaceful world, free of exploitation and oppression, a world in which people enjoy full human rights, social justice, democracy and gender equality; in which women’s work, both productive and reproductive, and their contribution to society are properly recognized; in which cultural diversity and pluralism are respected; and a world in which the environment is protected.(…) In short, we believe that together we can and must build another world” (Declaração de Valores da Marcha Mundial das Mulheres adoptada em 2003, Nova Deli, India)Porque é que vale ainda (e cada vez mais) a pena falar de feminismo? Por que é que se torna urgente e absolutamente necessário lutar pelos direitos das mulheres?Em primeiro lugar porque os problemas que afectam as mulheres têm um carácter transversal e estão muitas vezes invisíveis, cobertos/camuflados por lutas consideradas “maiores”: o desemprego, a guerra, a precariedade, etc.. Não nos podemos esquecer no entanto que, em regra geral, são precisamente as mulheres as maiores vitimas da guerra, da pobreza e da exclusão social. São também as mulheres quem mais sofre com este processo de globalização neoliberal, que se apoia nos sistemas capitalista e patriarcal para invisibilizar o trabalho realizado pelas mesmas, empurrando-as para a precariedade e para a acumulação de múltiplas discriminações. São vitimas de guerra, camponesas, imigrantes, lésbicas, trabalhadoras precárias e para além disto são mulheres, sendo discriminadas por isso mesmo, oprimidas dentro dos seus próprios grupos. Senão vejamos:· As mulheres constituem 70% da população mais empobrecida do mundo.· Mulheres e crianças detêm menos de 1% da riqueza mundial; garantem 70% das horas trabalhadas e recebem apenas 10% dos rendimentos;· Apenas um terço do trabalho realizado por mulheres a nivel mundial é remunerado;· Dois terços dos 300 milhões de crianças que não tem acesso a educação são raparigas;· Cerca de 20 a 50% das mulheres no mundo são, a diferentes níveis, vitimas de violência doméstica;· Durante a Guerra de independência de 1972 no Bangladesh foram violadas entre 250,000 a 400,000 mulheres. Entre Abril de 1994 e Abril de 1995 estimam-se que tenham sido violadas entre 15,700 a 250,000 mulheres no Ruanda.Não caiamos, no entanto, na tentação de pensar que estas são lutas que não nos pertencem, que solidariamente damos a cara por outras mulheres mas que não sentimos nem sentiremos na pele nenhum destes “problemas” porque estão lá longe, onde a pobreza é banal e as guerras, tal como os atentados à integridade humana, inevitáveis.Mesmo aquelas de nós que nunca foram vitimas de violência fisica foram-no, por certo, de violência psicológica, por parte do pai (que autoriza o filho mas não a filha), do empregador (que assedia, e/ou demite em caso de gravidez), da publicidade ( que nos expõe e transforma em objectos sexuais apenas com um intuito – vender) e mesmo da sociedade como um todo, que persiste em fazer-nos obdientes, submissas, magras, doces e, se possivel, passivas! Porque isso torna tudo o resto bem mais fácil..Em segundo lugar porque a Europa se apercebeu agora e tardiamente que o seu sistema de protecção social assente nos pressupostos da existência de uma sociedade patriarcal, onde o homem desempenha o papel de “breadwinner” da família, usufruindo de um emprego estável e seguro está em processo de decadência e que para resolver este problema terá, necessariamente, que recorrer à reserva de mão de obra feminina, qualificada na maior parte das vezes, mas “sub-utilizada”.A questão que urge colocar agora é em que condições é que a Europa se propõe a promover a integração das mulheres no mercado de trabalho?Através da implementação de politicas integradas de educação, formação e promoção da paridade ou “atirando” estas para a precariedade, para trabalhos temporários, instáveis e para part-times mal remunerados, que representam para as mulheres novos riscos de exploração e sobrecarga, mais uma vez, invisível, gratuita e não-reconhecida?É preciso que a Europa não se esqueça que o acesso por parte das mulheres (principalmente aquelas em situação de maternidade) a trabalhos mais bem remunerados de acordo com as suas qualificações, a esquemas de suporte que lhes permitam conciliar a vida familiar com a vida profissional e também a existência de medidas que promovam uma participação equalitária dos homens nas tarefas domésticas, irão influenciar de forma determinante as características das famílias onde estas mulheres se inserem, constituindo assim um instrumento de prevenção e combate à pobreza e exclusão social.Em terceiro lugar, e por último, porque este investimento no empowerment das mulheres enquanto estratégia de combate à pobreza faz ainda mais sentido em paises pobres, onde os problemas sociais são mais agudos, as mulheres mais discriminadas e oprimidas a nível politico, economico e social, mas também as principais educadoras, trabalhadoras e construtoras de teias e relações sociais sobre as quais as sociedades acentam.Penso que estes são motivos mais que suficientes para fazer de temas como os direitos da mulheres, paridade e feminismo uma prioridade nas nossas agendas de luta politica e social.Relembro que esta é uma causa de tod@s nós, mulheres e homens do Norte e do Sul, e desafio os interessad@s a juntarem-se e a apoiar o movimento da Marcha Mundial das Mulheres que luta por um outro mundo, melhor, que é possivel!Fontes Estatisticas: É possivel encontrar as fontes dos dados apresentados no site da Marcha Mundial das Mulheres, publicações – “2000 - Sexism and Globalization, 2000 Good Reasons to March”.Para mais informações: www.worldmarchofwomen.org / www.ajpaz.org.pt