Peão: O problema dos transgénicos não é ecológico, nem de saúde pública, é económico

02-07-2011
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Para concluir o post sobre transgénicos que escrevi há tempos, deixo aqui uma citação, da autoria de José Feijó. José Feijó, para além de um dos melhores professores que tive, é neste momento um dos mais bem sucedidos investigadores em Biologia Vegetal em Portugal, e tem vindo a público várias vezes no debate sobre os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Esta citação consta de uma carta ao director, enviada ao director do jornal Público, há uns tempitos largos, e publicada naquele jornal."Saúdo por fim o seu editorial de J. Manuel Fernandes, que reputo de sensato e lúcido. Algumas pequenas correcções: as variedades trangénicas JÁ PASSAM POR TESTES DRACONIANOS para serem aprovados. Este é aliás um argumento circular já que, onde a priori se vê vantagem para o consumidor, foi um método usado e abusado pelos lobbies das multinacionais para arredarem deste mercado todo o tipo de "start-ups" e pequenas companhias. Este tipo de tecnologia é uma verdadeira apologia do "small is beautifull": vários laboratórios nacionais com menos de 10 pessoas produziram já variedades de plantas transgénicas. Apesar de terem a ver com espécies que nos dizem culturalmente respeito (oliveira, amendoeira, castanheiro, videira, etc.) e resolverem problemas concretos, nenhuma delas verá (provavelmente) algum dia os circuitos comerciais, já que as exigências de testes e verificações são incomportáveis para todos quantos estejam fora das grandes multinacionais. Desta forma, um controlo de qualidade draconiano, que poderá ser visto como um benefício, tem-se traduzida as mais das vezes no esmagamento de iniciativas de adaptação e melhoramento local, que sistematicamente leva a que apenas variedades de elevado lucro sejam lançadas no mercado. E o mais curioso é que grande parte destes testes e verificações não têm qualquer justificação em face dos riscos (por enquanto mínimos) das plantas transgénicas."Ou seja, quando temos os governos pressionados por uma opinião pública que não está devidamente informada, mas que é bombardeada com desinformação temos a receita para o desastre. Por uma lado a pressão da opinião pública leva a que os governos imponham um controlo rigoroso sobre os OGMs, por outro impede que esses mesmo governos dêem, por exemplo, incentivos - subsídios, porque não? - a pequenas "start-ups" que podem fazer um bom uso da tecnologia das OGM (bom uso leia-se: serviço público). Assim os governos intervêm em força onde devem intervir com moderação e não intervêm de todo onde devem intervir para incentivar. As grandes multinacionais agradecem.No post anterior comparei os OGMs às Farmacêuticas que processam os países do "terceiro mundo" por produzirem genéricos. Os dois fenómenos parecem-me ter bastantes paralelos: O mercado é livre e autoregula-se segundo o dogma neo-liberal, conquanto o monopólio esteja salvaguardado por uma patente.


Para concluir o post sobre transgénicos que escrevi há tempos, deixo aqui uma citação, da autoria de José Feijó. José Feijó, para além de um dos melhores professores que tive, é neste momento um dos mais bem sucedidos investigadores em Biologia Vegetal em Portugal, e tem vindo a público várias vezes no debate sobre os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Esta citação consta de uma carta ao director, enviada ao director do jornal Público, há uns tempitos largos, e publicada naquele jornal."Saúdo por fim o seu editorial de J. Manuel Fernandes, que reputo de sensato e lúcido. Algumas pequenas correcções: as variedades trangénicas JÁ PASSAM POR TESTES DRACONIANOS para serem aprovados. Este é aliás um argumento circular já que, onde a priori se vê vantagem para o consumidor, foi um método usado e abusado pelos lobbies das multinacionais para arredarem deste mercado todo o tipo de "start-ups" e pequenas companhias. Este tipo de tecnologia é uma verdadeira apologia do "small is beautifull": vários laboratórios nacionais com menos de 10 pessoas produziram já variedades de plantas transgénicas. Apesar de terem a ver com espécies que nos dizem culturalmente respeito (oliveira, amendoeira, castanheiro, videira, etc.) e resolverem problemas concretos, nenhuma delas verá (provavelmente) algum dia os circuitos comerciais, já que as exigências de testes e verificações são incomportáveis para todos quantos estejam fora das grandes multinacionais. Desta forma, um controlo de qualidade draconiano, que poderá ser visto como um benefício, tem-se traduzida as mais das vezes no esmagamento de iniciativas de adaptação e melhoramento local, que sistematicamente leva a que apenas variedades de elevado lucro sejam lançadas no mercado. E o mais curioso é que grande parte destes testes e verificações não têm qualquer justificação em face dos riscos (por enquanto mínimos) das plantas transgénicas."Ou seja, quando temos os governos pressionados por uma opinião pública que não está devidamente informada, mas que é bombardeada com desinformação temos a receita para o desastre. Por uma lado a pressão da opinião pública leva a que os governos imponham um controlo rigoroso sobre os OGMs, por outro impede que esses mesmo governos dêem, por exemplo, incentivos - subsídios, porque não? - a pequenas "start-ups" que podem fazer um bom uso da tecnologia das OGM (bom uso leia-se: serviço público). Assim os governos intervêm em força onde devem intervir com moderação e não intervêm de todo onde devem intervir para incentivar. As grandes multinacionais agradecem.No post anterior comparei os OGMs às Farmacêuticas que processam os países do "terceiro mundo" por produzirem genéricos. Os dois fenómenos parecem-me ter bastantes paralelos: O mercado é livre e autoregula-se segundo o dogma neo-liberal, conquanto o monopólio esteja salvaguardado por uma patente.

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