Esquerda Republicana: Timor: a culpa não será do MFA?

24-01-2012
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Ao contrário do que acontece inevitavelmente quando há uma revolta da guarda pretoriana num país africano onde as elites falem português, na actual crise timorense ainda nenhum dos tribunos da direita se lembrou de procurar a raiz dos problemas nas acções longínquas do MFA. Devo dizer que este estado de coisas me deixa atónito. Normalmente, já se teriam escrito quilos de papel de jornal e megabytes electrónicos a culpar o MFA por mais esta crise, já se teria aproveitado para decretar pela milionésima vez que a descolonização foi um «erro criminoso», e renhonhó, e renhonhó...Foi portanto com grande alvoroço que li os primeiros parágrafos do artigo de opinião de Maria José Nogueira Pinto no Diário de Notícias de hoje: a conversa ressabiada do costume sobre a descolonização, a bondade «paternalista» do colonialismo português, «Lisboa tinha todas as culpas no cartório» timorense, etc. Mas, quando esperava que ela concluísse que os culpados pela revolta de Reinado foram Salgueiro Maia e Melo Antunes, eis que se percebe que não o pode fazer: o CDS esteve envolvido no processo independentista de 1999, logo não se pode colocar «de fora» (em rigor, também não o pode fazer relativamente ao que se passou em 1975, mas por aquelas bandas o rigor cede à emoção...). Mesmo assim, lá vem no fim a lembrança de que devemos sentir «complexos de culpa» pelo «papel vergonhoso dos (ir)responsáveis de há 30 anos». E vem a conclusão, incrível, de que devemos deixar cair Alkatiri porque os australianos não gostam dele. Segundo a senhora, «somos "ocidentais"», logo devemos seguir sempre atrás da potência anglo-saxónica mais próxima. (O identitarismo «civilizacionista» dá nisto...)


Ao contrário do que acontece inevitavelmente quando há uma revolta da guarda pretoriana num país africano onde as elites falem português, na actual crise timorense ainda nenhum dos tribunos da direita se lembrou de procurar a raiz dos problemas nas acções longínquas do MFA. Devo dizer que este estado de coisas me deixa atónito. Normalmente, já se teriam escrito quilos de papel de jornal e megabytes electrónicos a culpar o MFA por mais esta crise, já se teria aproveitado para decretar pela milionésima vez que a descolonização foi um «erro criminoso», e renhonhó, e renhonhó...Foi portanto com grande alvoroço que li os primeiros parágrafos do artigo de opinião de Maria José Nogueira Pinto no Diário de Notícias de hoje: a conversa ressabiada do costume sobre a descolonização, a bondade «paternalista» do colonialismo português, «Lisboa tinha todas as culpas no cartório» timorense, etc. Mas, quando esperava que ela concluísse que os culpados pela revolta de Reinado foram Salgueiro Maia e Melo Antunes, eis que se percebe que não o pode fazer: o CDS esteve envolvido no processo independentista de 1999, logo não se pode colocar «de fora» (em rigor, também não o pode fazer relativamente ao que se passou em 1975, mas por aquelas bandas o rigor cede à emoção...). Mesmo assim, lá vem no fim a lembrança de que devemos sentir «complexos de culpa» pelo «papel vergonhoso dos (ir)responsáveis de há 30 anos». E vem a conclusão, incrível, de que devemos deixar cair Alkatiri porque os australianos não gostam dele. Segundo a senhora, «somos "ocidentais"», logo devemos seguir sempre atrás da potência anglo-saxónica mais próxima. (O identitarismo «civilizacionista» dá nisto...)

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