Louçã e Sócrates

09-07-2011
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É interessante a quantidade de posts publicados no Simplex a defender que Sócrates venceu Louçã. É do domínio da crença: se repetirem cem mil vezes que é o sol que gira à volta da terra, então o sol girará à volta da terra. Não quero com isto dizer que Louçã ganhou a Sócrates. Trata-se de um tipo de consideração que, por si só, não me preocupa. Portas terá ganho a Jerónimo e daí não resulta que conceda razão a Portas. Até porque estamos a falar de campeonatos diferentes: Louçã, como Jerónimo, não joga aqui a batalha da sua vida, mas sim uma batalha de uma guerra que acredita ser mais longa, ao passo que Sócrates joga desde já tudo: concorre para ser governo e para ter uma maioria absoluta. Para Louçã, como para Jerónimo, o “ganho” de um debate não se deve medir apenas a curto prazo; nem a questão do poder de governo se coloca hoje mesmo. O que me interessa constatar, aliás, é a transformação dos pontos da agenda económica agora debatida. Há um ano atrás aquele que dissesse que as eleições legislativas teriam nas nacionalizações um dos tópicos de maior divergência seria considerado um louco. A questão nem se colocava. Há um ano atrás, quanto muito, discutir-se-ia os limites das privatizações. Hoje discutimos os limites das nacionalizações e o primeiro-ministro vê-se na circunstância de ler e debater com afinco – mesmo que seja para discordar e para fazê-lo de forma pouco séria – o programa de um partido que o próprio primeiro-ministro considera como radical, extremista e fanático. Independentemente de quem ganhou ou perdeu o debate, para mim o mais significativo é que sejam os tópicos do discurso económico do PCP e do BE que agora centram as divergências. Regressando, enfim, aos apoiantes de Sócrates: entre os vários posts do Simplex, raro é o que não se resume ao comentário escrito com o entusiasmo e a agressividade dos crentes. Existe, no entanto, alguém, como Eduardo Graça, que se dá ao trabalho de argumentar mais sobriamente. E como resultado da sua argumentação resolve ir repescar na sua gaveta um panfleto do MES, onde se escrevia: “O socialismo é a associação livre de produtores livres e iguais, a sociedade em que aos produtores e apenas a eles caiba decidir o que se produz, como se produz e para que se produz”. Hoje, o Eduardo Graça já não acredita no que o panfleto diz e usa-o contra Louçã. Mas amanhã nada garante que assim continue a ser e que o Eduardo não regresso à s ideias da sua juventude. Até porque o primeiro passo já foi dado: tirar o socialismo da gaveta e colocá-lo no horizonte das possibilidades, mesmo que para negá-lo. Numa coisa, creio, todos os socialistas – mesmo os que foram da JSD, como Sócrates, que apagou esse momento do seu percurso biográfico, no que me parece ter sido um lapso de memória evitável - poderão desde já começar por concordar: a sociedade em que os produtores não são livres nem iguais, não decidem o que se produz, como se produz e para que se produz, esta sociedade, é uma realidade mas esta realidade é insuportável. A não ser, é claro, para aqueles que não vêem problema algum no esquema de divisão do trabalho segundo o qual uns comem as uvas e os outros retiram as graínhas.

ps – curiso ver Sócrates recusar a redução do governo à sua pessoa. Para quem tem um site Sócrates2009 e diz que a escolha a fazer no dia 27 é entre ele e Ferreira Leite, não está mal.

É interessante a quantidade de posts publicados no Simplex a defender que Sócrates venceu Louçã. É do domínio da crença: se repetirem cem mil vezes que é o sol que gira à volta da terra, então o sol girará à volta da terra. Não quero com isto dizer que Louçã ganhou a Sócrates. Trata-se de um tipo de consideração que, por si só, não me preocupa. Portas terá ganho a Jerónimo e daí não resulta que conceda razão a Portas. Até porque estamos a falar de campeonatos diferentes: Louçã, como Jerónimo, não joga aqui a batalha da sua vida, mas sim uma batalha de uma guerra que acredita ser mais longa, ao passo que Sócrates joga desde já tudo: concorre para ser governo e para ter uma maioria absoluta. Para Louçã, como para Jerónimo, o “ganho” de um debate não se deve medir apenas a curto prazo; nem a questão do poder de governo se coloca hoje mesmo. O que me interessa constatar, aliás, é a transformação dos pontos da agenda económica agora debatida. Há um ano atrás aquele que dissesse que as eleições legislativas teriam nas nacionalizações um dos tópicos de maior divergência seria considerado um louco. A questão nem se colocava. Há um ano atrás, quanto muito, discutir-se-ia os limites das privatizações. Hoje discutimos os limites das nacionalizações e o primeiro-ministro vê-se na circunstância de ler e debater com afinco – mesmo que seja para discordar e para fazê-lo de forma pouco séria – o programa de um partido que o próprio primeiro-ministro considera como radical, extremista e fanático. Independentemente de quem ganhou ou perdeu o debate, para mim o mais significativo é que sejam os tópicos do discurso económico do PCP e do BE que agora centram as divergências. Regressando, enfim, aos apoiantes de Sócrates: entre os vários posts do Simplex, raro é o que não se resume ao comentário escrito com o entusiasmo e a agressividade dos crentes. Existe, no entanto, alguém, como Eduardo Graça, que se dá ao trabalho de argumentar mais sobriamente. E como resultado da sua argumentação resolve ir repescar na sua gaveta um panfleto do MES, onde se escrevia: “O socialismo é a associação livre de produtores livres e iguais, a sociedade em que aos produtores e apenas a eles caiba decidir o que se produz, como se produz e para que se produz”. Hoje, o Eduardo Graça já não acredita no que o panfleto diz e usa-o contra Louçã. Mas amanhã nada garante que assim continue a ser e que o Eduardo não regresso à s ideias da sua juventude. Até porque o primeiro passo já foi dado: tirar o socialismo da gaveta e colocá-lo no horizonte das possibilidades, mesmo que para negá-lo. Numa coisa, creio, todos os socialistas – mesmo os que foram da JSD, como Sócrates, que apagou esse momento do seu percurso biográfico, no que me parece ter sido um lapso de memória evitável - poderão desde já começar por concordar: a sociedade em que os produtores não são livres nem iguais, não decidem o que se produz, como se produz e para que se produz, esta sociedade, é uma realidade mas esta realidade é insuportável. A não ser, é claro, para aqueles que não vêem problema algum no esquema de divisão do trabalho segundo o qual uns comem as uvas e os outros retiram as graínhas.

ps – curiso ver Sócrates recusar a redução do governo à sua pessoa. Para quem tem um site Sócrates2009 e diz que a escolha a fazer no dia 27 é entre ele e Ferreira Leite, não está mal.

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