Carvalho da Silva à presidência!

12-04-2015
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Não sou daquelas pessoas que só aceitam como candidatos a cargos políticos alguém com quem concordem a mais de 95%, em tudo o que diz.

Muito menos quando se trata de eleições uninominais, como as que temos para Presidente da República.

Aí, é necessário que um candidato seja plausivelmente capaz de agregar, em torno da sua mensagem e figura, forças políticas e (cada vez mais) cidadãos comuns como nós.

A não ser que se queira, apenas, marcar posição de uma qualquer pureza ideológica ou de uma qualquer particularíssima visão da sociedade, independentemente de esperados resultados marginais naquilo que é, afinal, uma eleição.

E em que, sendo-o, a ideia é eleger alguém ou, pelo menos, discutir essa vitória e, de caminho, marcar a agenda do debate público com aquilo que se considere mais importante e essencial.

De cada vez, a questão é mais complicada à esquerda, sempre mais dada, historicamente, a enfatizar as suas diferenças, mesmo antes de o maior partido dessa área ter abraçado, como uma inevitabilidade mas de sobrolho franzido, políticas e práticas mais liberalistas do que as de muitos conservadores.

Um pouco por tudo isto, não me impressionava quase nada, há uns 2 ou 3 meses atrás, vir a votar numa figura de que pouco esperava, mas que expressava uma simpática cultura de esquerda e não levantava particulares anti-corpos sociais, como Manuel Alegre.

Acontece que muita coisa ocorreu desde então.

E também que ouvi hoje, logo de manhã, Manuel Carvalho da Silva na SIC.

Já o tinha ouvido dizer coisas semelhantes ao que agora ouvi.

E suponho que dirigentes dos partidos mais à esquerda as tentem também dizer – ou, pelo menos, concordem com elas.

Mas a verdade é que, se o tentam, não o conseguem fazer de forma eficaz. Como é verdade que, sempre que os tenho ouvido, costumam lançar pedaços desconexos de uma avaliação da realidade, dos problemas e dos caminhos que, se pode ser que exista enquanto um todo coerente, não chega a quem os ouve. Fica o slogan e a opinião casuística.

Hoje de manhã, Carvalho da Silva transmitiu, como se de apenas uma mera questão de bom senso se tratasse, a visão global de uma alternativa socialmente justa à situação actual.

Sempre ancorada em questões e exemplos concretos, mas sem se limitar a eles ou, muito menos, a slogans, a receitas keynesianas, à mera posição defensista dos direitos dos trabalhadores, ou a isolacionismos serôdios.

E desmontando, de forma acessível e sistemática, os irracionais ou injustos pressupostos que formatam, como se de evidências ou inevitabilidades se tratasse, as novas histerias orçamentais e “reajustadoras”. E os absurdos que sustentam esta possibilidade de tornar os estados e a União Europeia reféns dos especuladores financeiros.

Não me surpreende essa capacidade de falar, de forma sintética, acessível e integrada, do global e do local, de justiça social básica e de constrangimentos externos, de opções políticas nacionais, europeias e dos mercados financeiros, de falácias económicas e de necessidades sociais.

É um homem que, para desempenhar o melhor possível as suas responsabilidades sindicais, teve que projectar o olhar para lá do mero defensismo e da lógica das fronteiras nacionais, apostando na reflexão crítica glocal, pondo a análise à frente do jargão e partindo dos seus valores sociais.

Mas tive hoje de manhã a completa certeza de que, em Maio de 2010, já não nos chegam (não apenas a mim, ou à tal de “esquerda”, mas aos nossos concidadãos que não engordam à conta da crise) candidatos com uma simpática cultura de esquerda e um saudável desagrado pelas desigualdades sociais.

Já não nos chegam figuras que, afinal, partilhem os pressupostos falaciosos que, a nível financeiro e económico, regem as “respostas à crise”, ou que nem partilhem nem deixem de partilhar, porque nem sequer pensam nisso.

É necessário, nas presidenciais, que alguém diga o que precisa de ser dito – e que Carvalho da Silva hoje disse.

Não para que, simplesmente, se ouça.

Mas para que, ao ouvir-se, se quebrem os consensos sobre supostas inevitabilidades e sobre regras do jogo que só existem porque os estados e as instituições internacionais as deixaram instalar e deixam vigorar. Em grande medida, precisamente, porque partem dos mesmos pressupostos falaciosos dos senhores da crise e dos mercados financeiros; outros, porque não param para pensar e para aprender com o que se passa à sua volta.

Não é qualquer pessoa que o possa dizer ou, sobretudo, criar esse efeito.

Não é qualquer pessoa, tão pouco, que possa, com o seu prestígio trans-partidário e a sua mensagem, enfrentar Cavaco Silva com plausibilidade de sucesso, apesar dos tiros no pé que este vai dando.

O candidato que mobilize a esquerda, para lá das fronteiras partidárias ou de quem nelas não se reconheça, não tem que sair de uma franja do PS.

Mais que isso, não o conseguirá fazer, hoje, com pensamento e discurso de ontem.

É por tudo isso que digo

«Carvalho da Silva à presidência!»

E é por tudo isso que desejo que ele me ouça, que muitas mais pessoas o digam, e que os dirigentes partidários nos venham a ouvir.

Não sou daquelas pessoas que só aceitam como candidatos a cargos políticos alguém com quem concordem a mais de 95%, em tudo o que diz.

Muito menos quando se trata de eleições uninominais, como as que temos para Presidente da República.

Aí, é necessário que um candidato seja plausivelmente capaz de agregar, em torno da sua mensagem e figura, forças políticas e (cada vez mais) cidadãos comuns como nós.

A não ser que se queira, apenas, marcar posição de uma qualquer pureza ideológica ou de uma qualquer particularíssima visão da sociedade, independentemente de esperados resultados marginais naquilo que é, afinal, uma eleição.

E em que, sendo-o, a ideia é eleger alguém ou, pelo menos, discutir essa vitória e, de caminho, marcar a agenda do debate público com aquilo que se considere mais importante e essencial.

De cada vez, a questão é mais complicada à esquerda, sempre mais dada, historicamente, a enfatizar as suas diferenças, mesmo antes de o maior partido dessa área ter abraçado, como uma inevitabilidade mas de sobrolho franzido, políticas e práticas mais liberalistas do que as de muitos conservadores.

Um pouco por tudo isto, não me impressionava quase nada, há uns 2 ou 3 meses atrás, vir a votar numa figura de que pouco esperava, mas que expressava uma simpática cultura de esquerda e não levantava particulares anti-corpos sociais, como Manuel Alegre.

Acontece que muita coisa ocorreu desde então.

E também que ouvi hoje, logo de manhã, Manuel Carvalho da Silva na SIC.

Já o tinha ouvido dizer coisas semelhantes ao que agora ouvi.

E suponho que dirigentes dos partidos mais à esquerda as tentem também dizer – ou, pelo menos, concordem com elas.

Mas a verdade é que, se o tentam, não o conseguem fazer de forma eficaz. Como é verdade que, sempre que os tenho ouvido, costumam lançar pedaços desconexos de uma avaliação da realidade, dos problemas e dos caminhos que, se pode ser que exista enquanto um todo coerente, não chega a quem os ouve. Fica o slogan e a opinião casuística.

Hoje de manhã, Carvalho da Silva transmitiu, como se de apenas uma mera questão de bom senso se tratasse, a visão global de uma alternativa socialmente justa à situação actual.

Sempre ancorada em questões e exemplos concretos, mas sem se limitar a eles ou, muito menos, a slogans, a receitas keynesianas, à mera posição defensista dos direitos dos trabalhadores, ou a isolacionismos serôdios.

E desmontando, de forma acessível e sistemática, os irracionais ou injustos pressupostos que formatam, como se de evidências ou inevitabilidades se tratasse, as novas histerias orçamentais e “reajustadoras”. E os absurdos que sustentam esta possibilidade de tornar os estados e a União Europeia reféns dos especuladores financeiros.

Não me surpreende essa capacidade de falar, de forma sintética, acessível e integrada, do global e do local, de justiça social básica e de constrangimentos externos, de opções políticas nacionais, europeias e dos mercados financeiros, de falácias económicas e de necessidades sociais.

É um homem que, para desempenhar o melhor possível as suas responsabilidades sindicais, teve que projectar o olhar para lá do mero defensismo e da lógica das fronteiras nacionais, apostando na reflexão crítica glocal, pondo a análise à frente do jargão e partindo dos seus valores sociais.

Mas tive hoje de manhã a completa certeza de que, em Maio de 2010, já não nos chegam (não apenas a mim, ou à tal de “esquerda”, mas aos nossos concidadãos que não engordam à conta da crise) candidatos com uma simpática cultura de esquerda e um saudável desagrado pelas desigualdades sociais.

Já não nos chegam figuras que, afinal, partilhem os pressupostos falaciosos que, a nível financeiro e económico, regem as “respostas à crise”, ou que nem partilhem nem deixem de partilhar, porque nem sequer pensam nisso.

É necessário, nas presidenciais, que alguém diga o que precisa de ser dito – e que Carvalho da Silva hoje disse.

Não para que, simplesmente, se ouça.

Mas para que, ao ouvir-se, se quebrem os consensos sobre supostas inevitabilidades e sobre regras do jogo que só existem porque os estados e as instituições internacionais as deixaram instalar e deixam vigorar. Em grande medida, precisamente, porque partem dos mesmos pressupostos falaciosos dos senhores da crise e dos mercados financeiros; outros, porque não param para pensar e para aprender com o que se passa à sua volta.

Não é qualquer pessoa que o possa dizer ou, sobretudo, criar esse efeito.

Não é qualquer pessoa, tão pouco, que possa, com o seu prestígio trans-partidário e a sua mensagem, enfrentar Cavaco Silva com plausibilidade de sucesso, apesar dos tiros no pé que este vai dando.

O candidato que mobilize a esquerda, para lá das fronteiras partidárias ou de quem nelas não se reconheça, não tem que sair de uma franja do PS.

Mais que isso, não o conseguirá fazer, hoje, com pensamento e discurso de ontem.

É por tudo isso que digo

«Carvalho da Silva à presidência!»

E é por tudo isso que desejo que ele me ouça, que muitas mais pessoas o digam, e que os dirigentes partidários nos venham a ouvir.

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