Maria de Belém, a candidata que se impôs ao PS na corrida presidencial

13-10-2015
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Aos 66 anos, feitos no passado dia 28 de Julho, Maria de Belém Roseira, nascida no Porto, é, para já, a candidata à presidência da República mais próxima do PS e a mais recente presença no já muito alargado conjunto de portugueses que entende ser razoável concorrer ao mais alto lugar do país (são 15, segundo a última contagem, provisória).

Militante do partido desde há décadas, não se mostrou capaz, apesar disso, de fazer calar a guerrilha interna entre a ala esquerda e a ala direita dos socialistas - bem viva desde 4 de Outubro passado. A primeira considera-a um erro de ‘casting' - há que recordar o que dela escreveu Alfredo Barroso quando se ventilou pela primeira vez a hipótese de a amiga de Guterres avançar para a candidatura - e a segunda está à espera para ver (contam-se pelos dedos os apoios já explícitos).

Um ministério e meio

Ministra por duas vezes, sempre com António Guterres, Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina entrou na carreira pública ainda Marcelo Caetano estava convencido que tinha mão no país. Sucedeu em 1973 - um ano depois de ter concluído o curso de Direito na Universidade de Coimbra, no tempo das lutas estudantis do final dos anos 60, nas quais não se quis destacar. Ingressou na Direcção Geral da Providência, um organismo da responsabilidade do Ministério do Trabalho.

Nesta área, Portugal estava quase tão atrasado como a Prússia antes de Bismark, personalidade que admira - apesar de o ‘autor' do império alemão só ter querido saber de Segurança Social quando isso lhe interessou politicamente.

A sua carreira acabaria por ficar marcada por essa escolha: a Segurança Social e a providência foram sempre a sua referência, o que fica atestado pela enorme quantidade de cargos que desempenhou nessas áreas, desde a fundação da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima até à vice-provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1988-1992), passando pelo IPO, entre variadíssimas outras funções.

Foi esta apetência que levou a antiga primeira-ministra Maria de Lurdes Pintasilgo (entre Agosto de 1979 e Janeiro de 1980) a chamá-la para funções nas áreas sociais.

Foi por esses dias responsável por diversos diplomas - alguns deles mantiveram-se no activo até à chegada de Bagão Félix à pasta da Segurança Social e do Trabalho, em Abril de 2002 - pelo que a sua subida a ministra da Saúde no primeiro Governo de António Guterres (1995/1999) não surpreendeu ninguém. Nem mesmo Luísa Melo, na altura mulher de Guterres (desaparecida em Janeiro de 1998), que terá sido fundamental para que aceitasse o cargo.

Coisa bem diferente sucedeu no segundo Executivo de Guterres, iniciado em Outubro de 1999, e que acabaria abruptamente em Abril de 2002. Maria de Belém transitou do Ministério da Saúde para ministra para a Igualdade - uma pasta que a oposição cilindrou desde o primeiro momento. Mas o percurso de Maria de Belém acabaria bem antes do de Guterres: o Ministério não sobreviveu a Setembro de 2000. Só fez meia temporada, sempre envolta em alguma polémica.

Com José Sócrates, Maria de Belém perdeu a condição de ‘ministeriável', mas regressaria aos holofotes mediáticos em 2009, como líder da Comissão de Inquérito Parlamentar ao Banco Português de Negócios (BPN), que tantas dores de cabeça deu ao então primeiro-ministro, ao seu ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e ao seu camarada Vítor Constâncio, na altura governador do Banco de Portugal. Foi líder parlamentar do PS e presidente do partido entre Setembro de 2011 - recorde-se que foi um dos nomes que apoiou a candidatura de António José Seguro a secretário-geral dos socialistas, contra Francisco Assis - e Novembro de 2014, quando foi substituída pelo açoriano Carlos César.

Antes disso, ainda em 2006, Maria de Belém não se livraria de outra polémica que na altura fez correr muita tinta: era presidente da Comissão Parlamentar de Saúde quando aceitou acumular com uma consultoria junto do grupo Espírito Santo Saúde - que na altura tinha projectos de expansão de grande envergadura e se posicionava como uma das maiores empresas privadas do sector. Maria de Belém sempre afirmou não descortinar qualquer incompatibilidade entre as duas funções, mas o rol de críticas não a deixaram sossegada.

Belém contra Nóvoa

Com o PS a tender para não apoiar explicitamente qualquer candidato, pelo menos à primeira volta, os socialistas estão divididos entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, um independente que se quer manter precisamente independente. A socialista conta, para já, com poucos apoios ‘sonantes': Francisco Assis, Manuel Alegre, Jorge Coelho e Ferro Rodrigues estão entre eles - mas ao lado de Nóvoa estão Mário Soares e Jorge Sampaio (a quem se junta outro ex-Presidente, Ramalho Eanes).

Maria de Belém tem, de qualquer modo, uma vantagem: a candidatura de Sampaio da Nóvoa teve muito pouco impacto junto da população - que, grosso modo, nunca ouviu falar do académico. E isso está bem patente nas sondagens que já foram feitas sobre matéria de presidenciais: Maria de Belém surge invariavelmente à frente de Sampaio da Nóvoa - o que a terá levado a ‘pescar' apoios no campo ‘natural' do adversário: precisamente a academia.

De qualquer modo, Maria de Belém tem mais a perder que Sampaio da Nóvoa se o Partido Socialista insistir em não dar indicação de voto aos seus militantes: poderá ser algo visto como uma espécie de falta de confiança do partido onde milita - pelo menos pelos seus adversários, que não deixarão de salientar esse facto. Como dizia alguém, se não se pode ser candidato oficial, mais vale ser independente que oficioso.

Contudo, a própria disse ao Económico que "é uma boa decisão não haver apoio partidário à primeira volta".

O facto de ser mulher também não é despiciendo: o país é sensível à questão do género, e uma mulher, só por isso, marca a diferença. E é muito baixinha: um dia, numa entrevista, perguntaram-lhe se não gostaria de ser mais alta. "Com certeza que gostava", respondeu. Mas não ia ser a mesma coisa.

Aos 66 anos, feitos no passado dia 28 de Julho, Maria de Belém Roseira, nascida no Porto, é, para já, a candidata à presidência da República mais próxima do PS e a mais recente presença no já muito alargado conjunto de portugueses que entende ser razoável concorrer ao mais alto lugar do país (são 15, segundo a última contagem, provisória).

Militante do partido desde há décadas, não se mostrou capaz, apesar disso, de fazer calar a guerrilha interna entre a ala esquerda e a ala direita dos socialistas - bem viva desde 4 de Outubro passado. A primeira considera-a um erro de ‘casting' - há que recordar o que dela escreveu Alfredo Barroso quando se ventilou pela primeira vez a hipótese de a amiga de Guterres avançar para a candidatura - e a segunda está à espera para ver (contam-se pelos dedos os apoios já explícitos).

Um ministério e meio

Ministra por duas vezes, sempre com António Guterres, Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina entrou na carreira pública ainda Marcelo Caetano estava convencido que tinha mão no país. Sucedeu em 1973 - um ano depois de ter concluído o curso de Direito na Universidade de Coimbra, no tempo das lutas estudantis do final dos anos 60, nas quais não se quis destacar. Ingressou na Direcção Geral da Providência, um organismo da responsabilidade do Ministério do Trabalho.

Nesta área, Portugal estava quase tão atrasado como a Prússia antes de Bismark, personalidade que admira - apesar de o ‘autor' do império alemão só ter querido saber de Segurança Social quando isso lhe interessou politicamente.

A sua carreira acabaria por ficar marcada por essa escolha: a Segurança Social e a providência foram sempre a sua referência, o que fica atestado pela enorme quantidade de cargos que desempenhou nessas áreas, desde a fundação da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima até à vice-provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1988-1992), passando pelo IPO, entre variadíssimas outras funções.

Foi esta apetência que levou a antiga primeira-ministra Maria de Lurdes Pintasilgo (entre Agosto de 1979 e Janeiro de 1980) a chamá-la para funções nas áreas sociais.

Foi por esses dias responsável por diversos diplomas - alguns deles mantiveram-se no activo até à chegada de Bagão Félix à pasta da Segurança Social e do Trabalho, em Abril de 2002 - pelo que a sua subida a ministra da Saúde no primeiro Governo de António Guterres (1995/1999) não surpreendeu ninguém. Nem mesmo Luísa Melo, na altura mulher de Guterres (desaparecida em Janeiro de 1998), que terá sido fundamental para que aceitasse o cargo.

Coisa bem diferente sucedeu no segundo Executivo de Guterres, iniciado em Outubro de 1999, e que acabaria abruptamente em Abril de 2002. Maria de Belém transitou do Ministério da Saúde para ministra para a Igualdade - uma pasta que a oposição cilindrou desde o primeiro momento. Mas o percurso de Maria de Belém acabaria bem antes do de Guterres: o Ministério não sobreviveu a Setembro de 2000. Só fez meia temporada, sempre envolta em alguma polémica.

Com José Sócrates, Maria de Belém perdeu a condição de ‘ministeriável', mas regressaria aos holofotes mediáticos em 2009, como líder da Comissão de Inquérito Parlamentar ao Banco Português de Negócios (BPN), que tantas dores de cabeça deu ao então primeiro-ministro, ao seu ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e ao seu camarada Vítor Constâncio, na altura governador do Banco de Portugal. Foi líder parlamentar do PS e presidente do partido entre Setembro de 2011 - recorde-se que foi um dos nomes que apoiou a candidatura de António José Seguro a secretário-geral dos socialistas, contra Francisco Assis - e Novembro de 2014, quando foi substituída pelo açoriano Carlos César.

Antes disso, ainda em 2006, Maria de Belém não se livraria de outra polémica que na altura fez correr muita tinta: era presidente da Comissão Parlamentar de Saúde quando aceitou acumular com uma consultoria junto do grupo Espírito Santo Saúde - que na altura tinha projectos de expansão de grande envergadura e se posicionava como uma das maiores empresas privadas do sector. Maria de Belém sempre afirmou não descortinar qualquer incompatibilidade entre as duas funções, mas o rol de críticas não a deixaram sossegada.

Belém contra Nóvoa

Com o PS a tender para não apoiar explicitamente qualquer candidato, pelo menos à primeira volta, os socialistas estão divididos entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, um independente que se quer manter precisamente independente. A socialista conta, para já, com poucos apoios ‘sonantes': Francisco Assis, Manuel Alegre, Jorge Coelho e Ferro Rodrigues estão entre eles - mas ao lado de Nóvoa estão Mário Soares e Jorge Sampaio (a quem se junta outro ex-Presidente, Ramalho Eanes).

Maria de Belém tem, de qualquer modo, uma vantagem: a candidatura de Sampaio da Nóvoa teve muito pouco impacto junto da população - que, grosso modo, nunca ouviu falar do académico. E isso está bem patente nas sondagens que já foram feitas sobre matéria de presidenciais: Maria de Belém surge invariavelmente à frente de Sampaio da Nóvoa - o que a terá levado a ‘pescar' apoios no campo ‘natural' do adversário: precisamente a academia.

De qualquer modo, Maria de Belém tem mais a perder que Sampaio da Nóvoa se o Partido Socialista insistir em não dar indicação de voto aos seus militantes: poderá ser algo visto como uma espécie de falta de confiança do partido onde milita - pelo menos pelos seus adversários, que não deixarão de salientar esse facto. Como dizia alguém, se não se pode ser candidato oficial, mais vale ser independente que oficioso.

Contudo, a própria disse ao Económico que "é uma boa decisão não haver apoio partidário à primeira volta".

O facto de ser mulher também não é despiciendo: o país é sensível à questão do género, e uma mulher, só por isso, marca a diferença. E é muito baixinha: um dia, numa entrevista, perguntaram-lhe se não gostaria de ser mais alta. "Com certeza que gostava", respondeu. Mas não ia ser a mesma coisa.

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