Saúde SA: Avaliação dos CA dos HH EPE

22-01-2012
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Como alguns saberão, e este blogue divulgou, o anterior Governo nomeou uma Comissão, de que fiz parte, para estudar e propor um modelo de avaliação dos CA dos HH EPE. Dado que esta é uma temática recorrentemente abordada no Saudesa, com conceitos e ideias nem sempre coincidentes, será útil trazer aqui algumas precisões para dar maior rigor e melhorar a compreensão de eventuais abordagens subsequentes.1- Governação clínica, governação e gestão de EPEsA governação clínica visa assegurar qualidade e segurança nos actos e cuidados prestados ao doente, garantindo a melhoria de padrões e de resultados da prática clínica e uma efectiva prestação de contas em todo o hospital. Assim: a) A qualidade deixa de ser responsabilidade unicamente de clínicos e a gestão é responsabilizada pela qualidade da prestação (boa/má) e pelos resultados na saúde e qualidade de vida; b) A governação clínica está integrada na governação do hospital. Refira-se que em Portugal o conselho de administração (CA) corresponde à gestão de topo dos EPEs, com os poderes executivos previstos na lei, não existindo um CEO (e sua equipa de gestão) nem um BOD, como noutros países.2- Avaliar hospitais é diferente de avaliar gestores.O contrato-programa estabelece direitos e deveres entre o representante do SNS (comprador/financiador) e o hospital, para a produção de determinados serviços em certas condições e em quantidade, qualidade, tempo de resposta e a preços predefinidos. Portanto é fixado para o hospital e inclui apenas a produção do SNS. O contrato de gestão é estabelecido entre o accionista (MS/MF) e a gestão de topo do hospital (CA), fixando o enquadramento da actividade da gestão, os seus objectivos, forma de avaliação e consequências – logo entre o accionista e os gestores, para toda a actividade do hospital.Os objectivos fixados à gestão não são os mesmos do hospital, embora estejam inter-relacionados. A gestão deve avaliar-se essencialmente pelos resultados conseguidos, mas não podemos esquecer (exemplos das diferenças):- Alguns resultados obtidos do hospital não se devem à actuação da gestão, mas à da gestão anterior ou a outros factores; alguns resultados da gestão (bons, maus) produzem efeitos no hospital apenas em anos subsequentes;- Pede-se à gestão que concretize determinados objectivos e metas para o ano (inclui acções e projectos específicos, não apenas performance do hospital) mas também…- … que desenhe e, após aprovação, concretize a estratégia que vai determinar a performance futura do hospital – a qualidade e o grau de cumprimento da estratégia devem ser avaliados (são muito importantes);- Para além dos resultados que a gestão conseguiu, interessa, (digo eu, interessa muito), a forma como os conseguiu – por ex., em legalidade, actuação ética, responsabilidade social e ambiental, grau de colaboração para a melhoria do SNS, com que custos de produção;- O hospital pode ter medição em termos absolutos e (superada que esteja alguma possível subjectividade do modelo) com objectividade. Ao contrário a gestão deve ter avaliação relativa (triplamente) – face aos objectivos que lhe foram fixados, face a pares em situação comparável, face às oportunidades que a estratégia evidenciava – e haverá sempre alguma subjectividade (quer-se a mínima);- A avaliação do hospital fica marcada pela resposta aos stakeholders principais mas a da gestão pode, embora não deva, cingir-se à resposta ao accionista – por ex., além da qualidade, a satisfação dos doentes e o desenvolvimento dos profissionais são essenciais;- Conforme os objectivos visados (ex., melhoria, retribuição) a avaliação da gestão ponderará diferentemente os resultados do ano, a concretização da estratégia e a forma como actuou;- A avaliação é uma construção de gestão e tem sempre uma componente de juízo (subjectivo), daí a importância da auscultação e consensualização dos principais visados;- Um modelo é uma construção que equilibra os objectivos principais, indica os critérios e estabelece uma relação com padrões e metas - não se confunde com colecção de indicadores reunidos sem critério técnico-científico e com visão meramente financeira, ainda que disfarçado com indicadores de “qualidade” (ex. anterior Tableau de bord);- A consideração de vários stakeholders e a complexidade do hospital justificam um nº maior de objectivos e indicadores para avaliar a gestão. Podem utilizar-se indicadores compostos, mas estes não estão isentos de pontos fracos e problemas como a teoria unanimemente reconhece.As questões anteriormente referidas, nos pontos 1 e 2, foram analisadas e resolvidas no modelo de avaliação da performance dos CA dos hospitais EPE, com excepção da auscultação ampla que estava (apenas) pensada e desenhada, mas reservada para fase posterior.Finalmente quero reconhecer o enorme privilégio que tive por ter trabalhado com membros da Comissão de elevadíssima qualidade pessoal e grande gabarito intelectual como os médicos Prof. Fernando Araújo e Dr. Filipe Basto ou os administradores, Dr. Meneses Correia e Dr.ª M. Mota Pinto, bem como com inúmeros peritos e profissionais com larga experiência de gestão de hospitais.A Dias Alves Etiquetas: HH avaliação

Como alguns saberão, e este blogue divulgou, o anterior Governo nomeou uma Comissão, de que fiz parte, para estudar e propor um modelo de avaliação dos CA dos HH EPE. Dado que esta é uma temática recorrentemente abordada no Saudesa, com conceitos e ideias nem sempre coincidentes, será útil trazer aqui algumas precisões para dar maior rigor e melhorar a compreensão de eventuais abordagens subsequentes.1- Governação clínica, governação e gestão de EPEsA governação clínica visa assegurar qualidade e segurança nos actos e cuidados prestados ao doente, garantindo a melhoria de padrões e de resultados da prática clínica e uma efectiva prestação de contas em todo o hospital. Assim: a) A qualidade deixa de ser responsabilidade unicamente de clínicos e a gestão é responsabilizada pela qualidade da prestação (boa/má) e pelos resultados na saúde e qualidade de vida; b) A governação clínica está integrada na governação do hospital. Refira-se que em Portugal o conselho de administração (CA) corresponde à gestão de topo dos EPEs, com os poderes executivos previstos na lei, não existindo um CEO (e sua equipa de gestão) nem um BOD, como noutros países.2- Avaliar hospitais é diferente de avaliar gestores.O contrato-programa estabelece direitos e deveres entre o representante do SNS (comprador/financiador) e o hospital, para a produção de determinados serviços em certas condições e em quantidade, qualidade, tempo de resposta e a preços predefinidos. Portanto é fixado para o hospital e inclui apenas a produção do SNS. O contrato de gestão é estabelecido entre o accionista (MS/MF) e a gestão de topo do hospital (CA), fixando o enquadramento da actividade da gestão, os seus objectivos, forma de avaliação e consequências – logo entre o accionista e os gestores, para toda a actividade do hospital.Os objectivos fixados à gestão não são os mesmos do hospital, embora estejam inter-relacionados. A gestão deve avaliar-se essencialmente pelos resultados conseguidos, mas não podemos esquecer (exemplos das diferenças):- Alguns resultados obtidos do hospital não se devem à actuação da gestão, mas à da gestão anterior ou a outros factores; alguns resultados da gestão (bons, maus) produzem efeitos no hospital apenas em anos subsequentes;- Pede-se à gestão que concretize determinados objectivos e metas para o ano (inclui acções e projectos específicos, não apenas performance do hospital) mas também…- … que desenhe e, após aprovação, concretize a estratégia que vai determinar a performance futura do hospital – a qualidade e o grau de cumprimento da estratégia devem ser avaliados (são muito importantes);- Para além dos resultados que a gestão conseguiu, interessa, (digo eu, interessa muito), a forma como os conseguiu – por ex., em legalidade, actuação ética, responsabilidade social e ambiental, grau de colaboração para a melhoria do SNS, com que custos de produção;- O hospital pode ter medição em termos absolutos e (superada que esteja alguma possível subjectividade do modelo) com objectividade. Ao contrário a gestão deve ter avaliação relativa (triplamente) – face aos objectivos que lhe foram fixados, face a pares em situação comparável, face às oportunidades que a estratégia evidenciava – e haverá sempre alguma subjectividade (quer-se a mínima);- A avaliação do hospital fica marcada pela resposta aos stakeholders principais mas a da gestão pode, embora não deva, cingir-se à resposta ao accionista – por ex., além da qualidade, a satisfação dos doentes e o desenvolvimento dos profissionais são essenciais;- Conforme os objectivos visados (ex., melhoria, retribuição) a avaliação da gestão ponderará diferentemente os resultados do ano, a concretização da estratégia e a forma como actuou;- A avaliação é uma construção de gestão e tem sempre uma componente de juízo (subjectivo), daí a importância da auscultação e consensualização dos principais visados;- Um modelo é uma construção que equilibra os objectivos principais, indica os critérios e estabelece uma relação com padrões e metas - não se confunde com colecção de indicadores reunidos sem critério técnico-científico e com visão meramente financeira, ainda que disfarçado com indicadores de “qualidade” (ex. anterior Tableau de bord);- A consideração de vários stakeholders e a complexidade do hospital justificam um nº maior de objectivos e indicadores para avaliar a gestão. Podem utilizar-se indicadores compostos, mas estes não estão isentos de pontos fracos e problemas como a teoria unanimemente reconhece.As questões anteriormente referidas, nos pontos 1 e 2, foram analisadas e resolvidas no modelo de avaliação da performance dos CA dos hospitais EPE, com excepção da auscultação ampla que estava (apenas) pensada e desenhada, mas reservada para fase posterior.Finalmente quero reconhecer o enorme privilégio que tive por ter trabalhado com membros da Comissão de elevadíssima qualidade pessoal e grande gabarito intelectual como os médicos Prof. Fernando Araújo e Dr. Filipe Basto ou os administradores, Dr. Meneses Correia e Dr.ª M. Mota Pinto, bem como com inúmeros peritos e profissionais com larga experiência de gestão de hospitais.A Dias Alves Etiquetas: HH avaliação

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