NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: A propósito de Guerra Junqueiro...

25-01-2012
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.Caros Amigos:Sendo diariamente bombardeado pelas propagandas políticas ao caciquismo e a propósito de Guerra Junqueiro, assim como da sua actualidade, partilho Convosco uma parte da obra «Pátria». Perdoe-me a obra e o autor a selecção do texto, mas é minha intenção deixar ao Mestre a exteriorização de tudo o que me vai na Alma, pois, muito melhor que eu, poderá explicar o que sinto. Resta-me aguardar que todos entrem definitivamente na sala de jantar e a fechem a sete chaves, de forma a que não sejamos obrigados a ter de os ouvir a comer de boca aberta...Um Abraço,José Carlos Mendes_________________________“Um povoimbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)Uma burguesiacívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira e da falsificação, da violência e do roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)Um poder legislativoesfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda de uma lotaria (...)Dois partidossem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”Guerra Junqueiro - in “Pátria”


.Caros Amigos:Sendo diariamente bombardeado pelas propagandas políticas ao caciquismo e a propósito de Guerra Junqueiro, assim como da sua actualidade, partilho Convosco uma parte da obra «Pátria». Perdoe-me a obra e o autor a selecção do texto, mas é minha intenção deixar ao Mestre a exteriorização de tudo o que me vai na Alma, pois, muito melhor que eu, poderá explicar o que sinto. Resta-me aguardar que todos entrem definitivamente na sala de jantar e a fechem a sete chaves, de forma a que não sejamos obrigados a ter de os ouvir a comer de boca aberta...Um Abraço,José Carlos Mendes_________________________“Um povoimbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)Uma burguesiacívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira e da falsificação, da violência e do roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)Um poder legislativoesfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda de uma lotaria (...)Dois partidossem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”Guerra Junqueiro - in “Pátria”

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