Cavaco e Sócrates

12-10-2015
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A intervenção do Presidente e a justa resposta do PS evidenciam uma tensão assinalável. O Presidente apareceu nervoso, desconfiado, agressivo. Tudo o contrário da serenidade e da isenção que se exige a um PR.

O país atravessa um momento político complexo. As eleições legislativas determinaram um parlamento onde vai ser difícil formar maiorias. Todos sabemos que é mais difícil governar sem maioria absoluta, mas também sabemos que é possível um governo de maioria relativa concluir a legislatura. E o país precisa que isso aconteça. Precisa disso, para que à instabilidade económica e social mundiais, a que se soma a incapacidade política da Europa, não seja acrescentada ainda a instabilidade política nacional, que diminua a capacidade do governo para liderar a nossa recuperação.

A composição do próximo parlamento obriga, por isso, a uma responsabilidade acrescida de todos os partidos e órgãos de soberania - Presidente da República, Assembleia da República e Governo. Desta vez, a responsabilidade não cabe apenas ao partido que vai formar Governo. Cabe a todos!

Depois dos sinais de abertura e de vontade de diálogo com os restantes partidos dados pelo Primeiro-Ministro, esperava-se que estes respondessem na mesma moeda. Ainda não o fizeram. E os sinais emitidos por alguns são preocupantes, pois continuam com uma arrogância e um radicalismo como se estivessem ainda em campanha eleitoral e não tivesse havido, entretanto, uma escolha popular.

Por outro lado, temos de reconhecer que o Presidente da República não esteve bem nos últimos meses, sobretudo no chamado caso das escutas. Não esteve bem, quando com o seu silêncio permitiu que o PS e o Governo fossem envolvidos e prejudicados. Não esteve bem, quando com o afastamento de um colaborador prejudicou o PSD. Não esteve bem, quando falou ao país para prestar esclarecimentos sobre o assunto e todos percebemos que afinal não se passou mesmo nada.

O Presidente da República foi objectivamente envolvido numa tempestade causada por pessoas da sua confiança e alimentada pela direcção do seu partido. Seja qual for a origem desta funesta novela, o Presidente tem urgentemente de se libertar dela. E com a intervenção de terça-feira passada não o fez. Muito pelo contrário!

A intervenção do Presidente e a justa resposta do Partido Socialista evidenciaram uma tensão assinalável entre o PS e Belém. O Presidente apareceu nervoso, desconfiado, agressivo. Misturou estados de alma e interpretações pessoais com relações institucionais e políticas. Tudo o contrário da serenidade e da isenção que se deve exigir a um Presidente da República.

Resta-nos então o Primeiro-Ministro. Só José Sócrates, que se tem mantido de forma prudente à margem de toda esta triste trapalhada, reúne condições para repor a serenidade no relacionamento entre o Governo e o Presidente da Republica. Não devemos amarrar Cavaco a este erro, que só pode ser corrigido com a ajuda do Primeiro-Ministro, assumindo este, responsavelmente, a sua vontade de estabilidade e diálogo, pois isso é o que os portugueses exigem.

Marcos Perestrello

A intervenção do Presidente e a justa resposta do PS evidenciam uma tensão assinalável. O Presidente apareceu nervoso, desconfiado, agressivo. Tudo o contrário da serenidade e da isenção que se exige a um PR.

O país atravessa um momento político complexo. As eleições legislativas determinaram um parlamento onde vai ser difícil formar maiorias. Todos sabemos que é mais difícil governar sem maioria absoluta, mas também sabemos que é possível um governo de maioria relativa concluir a legislatura. E o país precisa que isso aconteça. Precisa disso, para que à instabilidade económica e social mundiais, a que se soma a incapacidade política da Europa, não seja acrescentada ainda a instabilidade política nacional, que diminua a capacidade do governo para liderar a nossa recuperação.

A composição do próximo parlamento obriga, por isso, a uma responsabilidade acrescida de todos os partidos e órgãos de soberania - Presidente da República, Assembleia da República e Governo. Desta vez, a responsabilidade não cabe apenas ao partido que vai formar Governo. Cabe a todos!

Depois dos sinais de abertura e de vontade de diálogo com os restantes partidos dados pelo Primeiro-Ministro, esperava-se que estes respondessem na mesma moeda. Ainda não o fizeram. E os sinais emitidos por alguns são preocupantes, pois continuam com uma arrogância e um radicalismo como se estivessem ainda em campanha eleitoral e não tivesse havido, entretanto, uma escolha popular.

Por outro lado, temos de reconhecer que o Presidente da República não esteve bem nos últimos meses, sobretudo no chamado caso das escutas. Não esteve bem, quando com o seu silêncio permitiu que o PS e o Governo fossem envolvidos e prejudicados. Não esteve bem, quando com o afastamento de um colaborador prejudicou o PSD. Não esteve bem, quando falou ao país para prestar esclarecimentos sobre o assunto e todos percebemos que afinal não se passou mesmo nada.

O Presidente da República foi objectivamente envolvido numa tempestade causada por pessoas da sua confiança e alimentada pela direcção do seu partido. Seja qual for a origem desta funesta novela, o Presidente tem urgentemente de se libertar dela. E com a intervenção de terça-feira passada não o fez. Muito pelo contrário!

A intervenção do Presidente e a justa resposta do Partido Socialista evidenciaram uma tensão assinalável entre o PS e Belém. O Presidente apareceu nervoso, desconfiado, agressivo. Misturou estados de alma e interpretações pessoais com relações institucionais e políticas. Tudo o contrário da serenidade e da isenção que se deve exigir a um Presidente da República.

Resta-nos então o Primeiro-Ministro. Só José Sócrates, que se tem mantido de forma prudente à margem de toda esta triste trapalhada, reúne condições para repor a serenidade no relacionamento entre o Governo e o Presidente da Republica. Não devemos amarrar Cavaco a este erro, que só pode ser corrigido com a ajuda do Primeiro-Ministro, assumindo este, responsavelmente, a sua vontade de estabilidade e diálogo, pois isso é o que os portugueses exigem.

Marcos Perestrello

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