Assertivo

20-01-2012
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OS PARTIDOS E EU
Não tenho filiação partidária, nem sequer uma simpatia especial por este ou aquele partido. Nunca poderia ser do PSD ou do PP – como será fácil de compreender a quem leia os meus textos –, porque estes partidos são a negação de todos os valores em que acredito. Eu acredito que a ética deve estar à frente das considerações partidárias, acredito no papel do Estado na redistribuição da riqueza e acredito na solidariedade. Aqueles partidos têm a amoralidade da política, o liberalismo puro e o mérito individual como postulados.
O que me define, por exclusão, como uma pessoa de esquerda – embora eu ache que a dicotomia esquerda-direita, embora útil, não faz muito sentido nos dias de hoje. Encaixar-me-ei nos partidos ditos de esquerda?
O PCP, por muito respeito que me mereça, é um partido anquilosado, estático e dogmático. Admiro a sua capacidade de mobilização, mas já não posso dizer o mesmo da influência subterrânea que exerce sobre os movimentos de natureza social (nomeadamente os movimentos sindicais e associativos).
O Bloco de Esquerda é-me mais simpático que o PCP, mas tem tiques totalitários perturbadores, como a crença no monopólio da verdade de que enfermam os seus dirigentes.
Resta o PS, o partido «de poder» da esquerda. Votei muitas vezes nele, tal como votei em Jorge Sampaio – facto do qual me arrependerei amargamente até ao fim dos meus dias. Mas o meu voto nunca foi um voto útil: foi sempre um voto no mal menor. Até surgir Ferro Rodrigues. Com este senti que poderia – embora não o tenha feito – filiar-me e militar no PS sem sentir que traía os meus princípios, ideais e convicções. Agora que Ferro Rodrigues saiu, surgiram os políticos (na acepção mais pejorativa possível do termo) na disputa do cargo de secretário geral. José Lamego, António Vitorino, José Sócrates e João Soares. Nenhum deles tem muito em que eu me reveja, e dois deles – Soares, e sobretudo Lamego – parecem-me particularmente execráveis. Ficarei sempre com a impressão de que todos eles aguardaram pacientemente que F. Rodrigues batesse com a porta, e que todos eles aplaudiram, num silêncio cúmplice, as tentativas torpes de prejudicar a imagem e a reputação de Ferro. Agora que este saiu, e com uma disputa da liderança que lembra uma matilha de hienas digladiando-se pelo melhor pedaço, não há muita coisa que me identifique com o PS. O facto de Jorge Sampaio, Fátima Felgueiras, Fernando Gomes, Nuno Cardoso, Orlando Gaspar, Narciso Miranda, Manuel Seabra, José Lamego e João Soares serem militantes ou eleitos do PS torna o meu distanciamento menos custoso, claro...
Por estes motivos, vou manter a minha independência por mais alguns anos. Não vou optar por não votar, porque recuso demitir-me da minha cidadania e não quero consagrar a indiferença e a passividade como orientadores da minha intervenção social. Mas há algo que me parece inelutável: o meu desprezo pela classe política aumenta a cada dia que passa. O modelo democrático está caduco, e os partidos tornaram-se agências de interesses. Para que não pensem que estou a exagerar ao proferir esta última frase, meditem nisto: para além do PSD e do PP, as primeiras manifestações de regozijo pela traição e cobardia de Sampaio vieram das confederações patronais – a AEP e a AIP. Não é significativo?

OS PARTIDOS E EU
Não tenho filiação partidária, nem sequer uma simpatia especial por este ou aquele partido. Nunca poderia ser do PSD ou do PP – como será fácil de compreender a quem leia os meus textos –, porque estes partidos são a negação de todos os valores em que acredito. Eu acredito que a ética deve estar à frente das considerações partidárias, acredito no papel do Estado na redistribuição da riqueza e acredito na solidariedade. Aqueles partidos têm a amoralidade da política, o liberalismo puro e o mérito individual como postulados.
O que me define, por exclusão, como uma pessoa de esquerda – embora eu ache que a dicotomia esquerda-direita, embora útil, não faz muito sentido nos dias de hoje. Encaixar-me-ei nos partidos ditos de esquerda?
O PCP, por muito respeito que me mereça, é um partido anquilosado, estático e dogmático. Admiro a sua capacidade de mobilização, mas já não posso dizer o mesmo da influência subterrânea que exerce sobre os movimentos de natureza social (nomeadamente os movimentos sindicais e associativos).
O Bloco de Esquerda é-me mais simpático que o PCP, mas tem tiques totalitários perturbadores, como a crença no monopólio da verdade de que enfermam os seus dirigentes.
Resta o PS, o partido «de poder» da esquerda. Votei muitas vezes nele, tal como votei em Jorge Sampaio – facto do qual me arrependerei amargamente até ao fim dos meus dias. Mas o meu voto nunca foi um voto útil: foi sempre um voto no mal menor. Até surgir Ferro Rodrigues. Com este senti que poderia – embora não o tenha feito – filiar-me e militar no PS sem sentir que traía os meus princípios, ideais e convicções. Agora que Ferro Rodrigues saiu, surgiram os políticos (na acepção mais pejorativa possível do termo) na disputa do cargo de secretário geral. José Lamego, António Vitorino, José Sócrates e João Soares. Nenhum deles tem muito em que eu me reveja, e dois deles – Soares, e sobretudo Lamego – parecem-me particularmente execráveis. Ficarei sempre com a impressão de que todos eles aguardaram pacientemente que F. Rodrigues batesse com a porta, e que todos eles aplaudiram, num silêncio cúmplice, as tentativas torpes de prejudicar a imagem e a reputação de Ferro. Agora que este saiu, e com uma disputa da liderança que lembra uma matilha de hienas digladiando-se pelo melhor pedaço, não há muita coisa que me identifique com o PS. O facto de Jorge Sampaio, Fátima Felgueiras, Fernando Gomes, Nuno Cardoso, Orlando Gaspar, Narciso Miranda, Manuel Seabra, José Lamego e João Soares serem militantes ou eleitos do PS torna o meu distanciamento menos custoso, claro...
Por estes motivos, vou manter a minha independência por mais alguns anos. Não vou optar por não votar, porque recuso demitir-me da minha cidadania e não quero consagrar a indiferença e a passividade como orientadores da minha intervenção social. Mas há algo que me parece inelutável: o meu desprezo pela classe política aumenta a cada dia que passa. O modelo democrático está caduco, e os partidos tornaram-se agências de interesses. Para que não pensem que estou a exagerar ao proferir esta última frase, meditem nisto: para além do PSD e do PP, as primeiras manifestações de regozijo pela traição e cobardia de Sampaio vieram das confederações patronais – a AEP e a AIP. Não é significativo?

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