o café dos loucos

24-01-2012
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COMO ME TRANSFORMEI EM CÃOÉ ainda assim completamente insuportável!Estou rabugento como tudo.A minha rabugice não é conforme poderia ser a vossa:apanharia qual um cão o rosto de testa lisada luae cobrindo-a de latidos.Deve ser dos nervos…Vou sair,dar uma volta.Mas na rua ninguém consegue acalmar-me.Uma mulher grita-me qualquer coisa a propósito de uma boa tarde.Há que responder:eu conheço-a.Quero fazê-lo,mas sintoque é impossível à maneira dos homens.Que escândalo!Estarei a dormir?Apalpo-me:sou tal como era,o rosto a que estou habituado.Toco no lábio,por baixo despontaum canino.Escondo rapidamente a cara, como para me assoar,corri para casa dobrando o passo.Contorno prudente a esquadra mas de repente um grito ensurdecedor:«Ó da guarda!Ele tem uma cauda!»Passei a mão e fiquei hirto!Isto era mais claroque todos os caninos,na minha pressa furiosa não tinha reparadoque sob o casacouma enorme cauda tinha estendido o seu lequee abanava atrás de mim,uma enorme cauda de cão.Que irá acontecer?Um pôs-se a berrar, amotinando a multidão,ao segundo juntou-se um terceiro, depois um quarto.Derrubaram uma pobre velhaque benzendo-se gritou qualquer coisa a propósito do diabo.E quando, a cara eriçada pelas vassouras de enormes bigodesa multidão se aproximou,imensa,maldosa,eu pus-me a quatro patase ladrei:Au! Au! Au!Vladimir Maiakovski, in "33 Poesias" quasi, 2008trad. Adolfo Luxúria Canibal


COMO ME TRANSFORMEI EM CÃOÉ ainda assim completamente insuportável!Estou rabugento como tudo.A minha rabugice não é conforme poderia ser a vossa:apanharia qual um cão o rosto de testa lisada luae cobrindo-a de latidos.Deve ser dos nervos…Vou sair,dar uma volta.Mas na rua ninguém consegue acalmar-me.Uma mulher grita-me qualquer coisa a propósito de uma boa tarde.Há que responder:eu conheço-a.Quero fazê-lo,mas sintoque é impossível à maneira dos homens.Que escândalo!Estarei a dormir?Apalpo-me:sou tal como era,o rosto a que estou habituado.Toco no lábio,por baixo despontaum canino.Escondo rapidamente a cara, como para me assoar,corri para casa dobrando o passo.Contorno prudente a esquadra mas de repente um grito ensurdecedor:«Ó da guarda!Ele tem uma cauda!»Passei a mão e fiquei hirto!Isto era mais claroque todos os caninos,na minha pressa furiosa não tinha reparadoque sob o casacouma enorme cauda tinha estendido o seu lequee abanava atrás de mim,uma enorme cauda de cão.Que irá acontecer?Um pôs-se a berrar, amotinando a multidão,ao segundo juntou-se um terceiro, depois um quarto.Derrubaram uma pobre velhaque benzendo-se gritou qualquer coisa a propósito do diabo.E quando, a cara eriçada pelas vassouras de enormes bigodesa multidão se aproximou,imensa,maldosa,eu pus-me a quatro patase ladrei:Au! Au! Au!Vladimir Maiakovski, in "33 Poesias" quasi, 2008trad. Adolfo Luxúria Canibal

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