NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: Vamos lá então analisar os resultados…

21-01-2012
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Intróito: apenas sobre Portugal. Nos restantes países europeus, podemos decerto vislumbrar algumas afinidades (alta taxa de abstenção, subida dos extremos, consolidação dos partidos de centro-direita, por contraste com os de centro-esquerda, etc.), mas, depois, analisando à lupa, cada caso é um caso....1. O primeiro facto a salientar é, obviamente, a taxa de abstenção: 62.95%. Ou seja, quase dois terços do eleitorado não votou. Isso, por si só, distorce os resultados reais de cada partido. Como o Eurico já aqui assinalou:Partido // Votos Relativos // Votos ReaisPPD/PSD // 31,68 // 13,63PS // 26,58 // 11,43BE // 10,73 // 4,61CDU // 10,66 // 4,58CDS-PP // 8,37 // 3,6Outros // 11,98 // 5,152. O “partido” dos abstencionistas é, contudo, pior do que um albergue espanhol. Cabe lá tudo. E, por isso, como o Casimiro aqui bem assinalou, daqui não se pode retirar nada de muito sólido...3. Os que votaram em branco cresceram bastante: de 87.702 em 2004 para 164.829 agora. Dava para eleger, com grande folga, um deputado. Para mais, somando os nulos: 71.135. A questão é que quem votou em branco fê-lo por razões diversas, ainda que, será razoável dizê-lo, não tão diversas quanto aqueles que se abstiveram. Pelo menos, manifestaram vontade de participar: o que, face aos abstencionistas, já não é pouco, ou é um pouco mais do que nada…4. Quanto aos partidos do sistema:a) O PS perdeu por causa do desgaste do Governo (o facto do cabeça de lista ter tido uma campanha desastrada não terá sido, a meu ver, muito relevante; até com um "Obama" teria perdido...)b) O PSD beneficiou do efeito de alternância e da boa campanha que fez (em particular, do cabeça de lista)c) O BE continua a crescer e continuará a fazê-lo até entrar no Governo: depois, começará a decepção (com as consequentes cisões), como aconteceu em Lisboa…d) O PCP resiste bem (teve uma boa campanha, com uma boa cabeça de lista), mas não tem margem de progressão…e) Idem para o CDS (mudando apenas: com um bom cabeça de lista).5. Quanto aos outros, à excepção do PPM (dadas as cisões internas), todos subiram: PCTP-MRPP (+5 mil votos); MPT (+ 10 mil votos); PH (+ 4 mil votos); PNR (+ 5 mil votos). Até o POUS: quase mais mil votos! Saliente-se, aqui, a subida do MPT (Movimento Partido da Terra), o único que fez uma real campanha europeia, contestando o Tratado de Lisboa.6. Quantos os “novos”: o MMS (Movimento Mérito e Sociedade) teve mais de 20 mil votos, mas isso não lhe servirá de nada: o que faz impressão, dado o muito dinheiro que gastaram na campanha (pura e simplesmente, não têm base social). O MEP (Movimento Esperança Portugal) é outra história: teve mais de 50 mil votos. Nas legislativas, dará para eleger pelo menos um deputado. O que não surpreende, dada a base de apoio que tiveram à partida: é gente que veio dos movimentos pró-vida, com ligações à Igreja e a outras “espiritualidades”. E a Laurinda Alves, até pela sua experiência na "Revista X", conseguiu agregar muita dessa gente…7. Posto tudo isto, 2 notas finais:a) em termos de paradigma, não houve uma real alternativa nestas eleições aos federalistas (todos os partidos do sistema, à excepção do PCP do CDS, que, apesar de tudo, ainda foram defendendo uma perspectiva mais “soberanista”, ainda que de forma inconsequente). Os que contestaram mais abertamente a União Europeia (à esquerda, PCTP-MRPP e POUS, e à direita, MPT e PNR), não apresentaram nenhum paradigma alternativo – nomeadamente, o de uma maior aposta no espaço lusófono (como o MIL defendeu, no Comunicado emitido a respeito destas Eleições). Ora, sem real alternativa, é natural que o federalismo continue, por inércia, a ganhar…b) penso que há espaço para se lançar um novo movimento político, mas não devemos entrar em aventuras; é preciso consolidar bem primeiro uma base de apoio. Em política, como na vida, não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Isso é bem mais importante do que o dinheiro: ver o que aconteceu ao MMS e, por contraste, ao MEP…


Intróito: apenas sobre Portugal. Nos restantes países europeus, podemos decerto vislumbrar algumas afinidades (alta taxa de abstenção, subida dos extremos, consolidação dos partidos de centro-direita, por contraste com os de centro-esquerda, etc.), mas, depois, analisando à lupa, cada caso é um caso....1. O primeiro facto a salientar é, obviamente, a taxa de abstenção: 62.95%. Ou seja, quase dois terços do eleitorado não votou. Isso, por si só, distorce os resultados reais de cada partido. Como o Eurico já aqui assinalou:Partido // Votos Relativos // Votos ReaisPPD/PSD // 31,68 // 13,63PS // 26,58 // 11,43BE // 10,73 // 4,61CDU // 10,66 // 4,58CDS-PP // 8,37 // 3,6Outros // 11,98 // 5,152. O “partido” dos abstencionistas é, contudo, pior do que um albergue espanhol. Cabe lá tudo. E, por isso, como o Casimiro aqui bem assinalou, daqui não se pode retirar nada de muito sólido...3. Os que votaram em branco cresceram bastante: de 87.702 em 2004 para 164.829 agora. Dava para eleger, com grande folga, um deputado. Para mais, somando os nulos: 71.135. A questão é que quem votou em branco fê-lo por razões diversas, ainda que, será razoável dizê-lo, não tão diversas quanto aqueles que se abstiveram. Pelo menos, manifestaram vontade de participar: o que, face aos abstencionistas, já não é pouco, ou é um pouco mais do que nada…4. Quanto aos partidos do sistema:a) O PS perdeu por causa do desgaste do Governo (o facto do cabeça de lista ter tido uma campanha desastrada não terá sido, a meu ver, muito relevante; até com um "Obama" teria perdido...)b) O PSD beneficiou do efeito de alternância e da boa campanha que fez (em particular, do cabeça de lista)c) O BE continua a crescer e continuará a fazê-lo até entrar no Governo: depois, começará a decepção (com as consequentes cisões), como aconteceu em Lisboa…d) O PCP resiste bem (teve uma boa campanha, com uma boa cabeça de lista), mas não tem margem de progressão…e) Idem para o CDS (mudando apenas: com um bom cabeça de lista).5. Quanto aos outros, à excepção do PPM (dadas as cisões internas), todos subiram: PCTP-MRPP (+5 mil votos); MPT (+ 10 mil votos); PH (+ 4 mil votos); PNR (+ 5 mil votos). Até o POUS: quase mais mil votos! Saliente-se, aqui, a subida do MPT (Movimento Partido da Terra), o único que fez uma real campanha europeia, contestando o Tratado de Lisboa.6. Quantos os “novos”: o MMS (Movimento Mérito e Sociedade) teve mais de 20 mil votos, mas isso não lhe servirá de nada: o que faz impressão, dado o muito dinheiro que gastaram na campanha (pura e simplesmente, não têm base social). O MEP (Movimento Esperança Portugal) é outra história: teve mais de 50 mil votos. Nas legislativas, dará para eleger pelo menos um deputado. O que não surpreende, dada a base de apoio que tiveram à partida: é gente que veio dos movimentos pró-vida, com ligações à Igreja e a outras “espiritualidades”. E a Laurinda Alves, até pela sua experiência na "Revista X", conseguiu agregar muita dessa gente…7. Posto tudo isto, 2 notas finais:a) em termos de paradigma, não houve uma real alternativa nestas eleições aos federalistas (todos os partidos do sistema, à excepção do PCP do CDS, que, apesar de tudo, ainda foram defendendo uma perspectiva mais “soberanista”, ainda que de forma inconsequente). Os que contestaram mais abertamente a União Europeia (à esquerda, PCTP-MRPP e POUS, e à direita, MPT e PNR), não apresentaram nenhum paradigma alternativo – nomeadamente, o de uma maior aposta no espaço lusófono (como o MIL defendeu, no Comunicado emitido a respeito destas Eleições). Ora, sem real alternativa, é natural que o federalismo continue, por inércia, a ganhar…b) penso que há espaço para se lançar um novo movimento político, mas não devemos entrar em aventuras; é preciso consolidar bem primeiro uma base de apoio. Em política, como na vida, não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Isso é bem mais importante do que o dinheiro: ver o que aconteceu ao MMS e, por contraste, ao MEP…

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