NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: OS D’«A ÁGUIA» – ANTÓNIO PATRÍCIO

24-01-2012
marcar artigo


SAUDADE DO TEU CORPOTenho saudades do teu corpo: ouvistecorrer-te toda a carne e toda a almao meu desejo – como um anjo tristeque enlaça nuvens pela noite calma?…Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)sempre comigo: deita-se ao meu lado,dizendo e redizendo que não mentesquando me escreves: «vem, meu todo amado…»É o teu corpo em sombra esta saudade…Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:a luz do seu olhar é escuridade…Fecho os olhos ao sol p'ra estar contigo.É de noite este corpo que me assombra…Vês?! A saudade é um escultor antigo.António Patrício.In «A Águia», Nº 10, 1ª série, Porto, 1911A baía de Hong Kong (1939), Ferreira de Castro & Elena Muriel, in A Volta ao Mundo, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1939PEQUENA NOTA BIOGRÁFICAANTÓNIO PATRÍCIO nasceu na cidade do Porto a 7 de Março de 1878 e faleceu em Macau a 4 de Junho de 1930. Na cidade invicta cursou três anos de Matemática, tendo depois frequentado a Escola Naval em Lisboa, mas acabou por regressar ao Porto, onde concluiu licenciatura na Escola Médica em 1908. A conselho de Guerra Junqueiro, seu grande amigo, acaba por optar pela carreira diplomática, que exerce até à morte, muito prestigiando Portugal, com o seu zelo, fidelidade, inteligência, educação e cultura. Representou Portugal em Cantão, Manaus, Brema (onde ficou em prisão domiciliária três anos durante a I Grande Guerra), Atenas, Istambul, Caracas, Londres, tendo ainda desempenhado missão secreta na Corunha, relacionada com as incursões monárquicas de Paiva Couceiro, que ameaçavam a jovem República. Chegou a Ministro Plenipotenciário e, ao deslocar-se para Pequim, sua última nomeação, em 1930, faleceu a caminho do seu destino, durante a sua estadia em Macau.Homem cordato, não o podemos igualar ao «embaraço» chamado Fernando Pessoa, mas é também uma singularidade, pela sua poética liberta dos códigos do Romantismo tardio comuns no panorama dos colaboradores d’«A Águia»: reinventa as técnicas do Simbolismo numa fala pessoal, bem como, ao longo da sua obra, incorpora diversas influência modernas, pelo contacto com a cultura europeia de vanguarda, e atmosferas icónicas e paisagísticas de várias paragens, do Norte da Europa ao Brasil e à Ásia, deambulação existencial que lhe foi proporcionada pela sua carreira de diplomata. O gosto pelo Decadentismo, pelo Ultra-romantismo e pelos processos narrativos e poéticos do Gótico literário do século XVIII são recorrentes na sua obra, fundidos numa contemporaneidade repleta de símbolos da morte, do amor e da melancolia. Um dos grandes poetas e dramaturgos Portugueses do século XX, injustamente quase esquecido.OBRAPoesia: Oceano (1905), – postumamente – Poesias (1942), Poesias Completas (1980).Teatro: O Fim (1909), Pedro, o Cru (1913), Dinis e Isabel (1919), D. João e a Máscara (1924).Ficção: Serão Inquieto, contos (1910).Colaboração dispersa: «A Águia», «Atlântida», «Límia», «Gente Lusa» e outros. ..Klatuu Niktos


SAUDADE DO TEU CORPOTenho saudades do teu corpo: ouvistecorrer-te toda a carne e toda a almao meu desejo – como um anjo tristeque enlaça nuvens pela noite calma?…Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)sempre comigo: deita-se ao meu lado,dizendo e redizendo que não mentesquando me escreves: «vem, meu todo amado…»É o teu corpo em sombra esta saudade…Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:a luz do seu olhar é escuridade…Fecho os olhos ao sol p'ra estar contigo.É de noite este corpo que me assombra…Vês?! A saudade é um escultor antigo.António Patrício.In «A Águia», Nº 10, 1ª série, Porto, 1911A baía de Hong Kong (1939), Ferreira de Castro & Elena Muriel, in A Volta ao Mundo, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1939PEQUENA NOTA BIOGRÁFICAANTÓNIO PATRÍCIO nasceu na cidade do Porto a 7 de Março de 1878 e faleceu em Macau a 4 de Junho de 1930. Na cidade invicta cursou três anos de Matemática, tendo depois frequentado a Escola Naval em Lisboa, mas acabou por regressar ao Porto, onde concluiu licenciatura na Escola Médica em 1908. A conselho de Guerra Junqueiro, seu grande amigo, acaba por optar pela carreira diplomática, que exerce até à morte, muito prestigiando Portugal, com o seu zelo, fidelidade, inteligência, educação e cultura. Representou Portugal em Cantão, Manaus, Brema (onde ficou em prisão domiciliária três anos durante a I Grande Guerra), Atenas, Istambul, Caracas, Londres, tendo ainda desempenhado missão secreta na Corunha, relacionada com as incursões monárquicas de Paiva Couceiro, que ameaçavam a jovem República. Chegou a Ministro Plenipotenciário e, ao deslocar-se para Pequim, sua última nomeação, em 1930, faleceu a caminho do seu destino, durante a sua estadia em Macau.Homem cordato, não o podemos igualar ao «embaraço» chamado Fernando Pessoa, mas é também uma singularidade, pela sua poética liberta dos códigos do Romantismo tardio comuns no panorama dos colaboradores d’«A Águia»: reinventa as técnicas do Simbolismo numa fala pessoal, bem como, ao longo da sua obra, incorpora diversas influência modernas, pelo contacto com a cultura europeia de vanguarda, e atmosferas icónicas e paisagísticas de várias paragens, do Norte da Europa ao Brasil e à Ásia, deambulação existencial que lhe foi proporcionada pela sua carreira de diplomata. O gosto pelo Decadentismo, pelo Ultra-romantismo e pelos processos narrativos e poéticos do Gótico literário do século XVIII são recorrentes na sua obra, fundidos numa contemporaneidade repleta de símbolos da morte, do amor e da melancolia. Um dos grandes poetas e dramaturgos Portugueses do século XX, injustamente quase esquecido.OBRAPoesia: Oceano (1905), – postumamente – Poesias (1942), Poesias Completas (1980).Teatro: O Fim (1909), Pedro, o Cru (1913), Dinis e Isabel (1919), D. João e a Máscara (1924).Ficção: Serão Inquieto, contos (1910).Colaboração dispersa: «A Águia», «Atlântida», «Límia», «Gente Lusa» e outros. ..Klatuu Niktos

marcar artigo