NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: Saída do deserto

21-01-2012
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Imagem copiada daquiMalika Mokeddem é uma força da natureza.Nasceu na Argélia e cresceu por entre as convulsões da independência nos anos sessenta. Oriunda dos povos nómadas do deserto, seus olhos argutos na tez escura perscrutam o mundo em volta, olhando além da dunas. Desde a infância, histórias dos homens das areias – Les Hommes qui Marchent é um dos seus livros mais fascinantes – misturam-se no carinho e protecção da avó Zohra, esta tornada sedentária pelo casamento, eterna inadaptada às leis que coarctam a sua liberdade, alteram a sua percepção de espaço e de tempo.Ouvido atento à contadora de histórias, foi a leitura depois que lhe preencheu as horas sem sono, lhe abriu os horizontes que haveria de conquistar com perseverança e denodo, com a força de alma necessária para ultrapassar a sua condição de mulher e muçulmana.Paralelamente à sua formação na área da medicina, num percurso lento e doloroso, de esforço ciclópico, dedicou-se à escrita, denunciando a escravidão da mulher, a subserviência, a submissão ao outro sexo, a anulação como pessoa, a sua redução à função única de procriar, açaimada por uma religião falocrática.A sua escrita é poderosa, objectiva, contundente. Mas eivada de uma sensibilidade latente, ternura, revolta, humildade. A sabedoria do deserto, as estrelas povoando a noite, o calor crescendo nas areias escaldantes, as nuvens de gafanhotos, a falta de chuva, também a neve, a luz do entardecer, as tribos de nómadas que passam, tudo aparece em pinceladas, sensações de uma vivência diferente e única.Malika Mokeddem continua a escrever, denunciando a injustiça dos homens.É actualmente médica urologista em Montpellier.


Imagem copiada daquiMalika Mokeddem é uma força da natureza.Nasceu na Argélia e cresceu por entre as convulsões da independência nos anos sessenta. Oriunda dos povos nómadas do deserto, seus olhos argutos na tez escura perscrutam o mundo em volta, olhando além da dunas. Desde a infância, histórias dos homens das areias – Les Hommes qui Marchent é um dos seus livros mais fascinantes – misturam-se no carinho e protecção da avó Zohra, esta tornada sedentária pelo casamento, eterna inadaptada às leis que coarctam a sua liberdade, alteram a sua percepção de espaço e de tempo.Ouvido atento à contadora de histórias, foi a leitura depois que lhe preencheu as horas sem sono, lhe abriu os horizontes que haveria de conquistar com perseverança e denodo, com a força de alma necessária para ultrapassar a sua condição de mulher e muçulmana.Paralelamente à sua formação na área da medicina, num percurso lento e doloroso, de esforço ciclópico, dedicou-se à escrita, denunciando a escravidão da mulher, a subserviência, a submissão ao outro sexo, a anulação como pessoa, a sua redução à função única de procriar, açaimada por uma religião falocrática.A sua escrita é poderosa, objectiva, contundente. Mas eivada de uma sensibilidade latente, ternura, revolta, humildade. A sabedoria do deserto, as estrelas povoando a noite, o calor crescendo nas areias escaldantes, as nuvens de gafanhotos, a falta de chuva, também a neve, a luz do entardecer, as tribos de nómadas que passam, tudo aparece em pinceladas, sensações de uma vivência diferente e única.Malika Mokeddem continua a escrever, denunciando a injustiça dos homens.É actualmente médica urologista em Montpellier.

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