NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: O Nirvana (ensaio psicopatológico dum dogma) de Manuel Laranjeira e as relações do Budismo com a Cultura Portuguesa

24-01-2012
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Duarte Drumond BragaCentro de EstudosComparatistas/CLEPUL,Universidade de LisboaREVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – Ano VI, 2007 / n. 11 – 145-152MANUEL LARANJEIRA, no seu ensaio O Nirvana: (interpretação psicopatológica dum dogma), saído a lume no periódico O Porto Médico (1905-1906), propõe a seguinte tese: o Nirvana é um estado mental de cariz patológico. Sendo uma leitura assumidamente naturalista, de cariz médico e psicopatológico, recusa qualquer orientação metafísica, desprezando a metafísica budista por “verbalismo” sem conteúdo.1 Nesta análise etiológica do autor de Comigo, o Nirvana não é mais do que a “expressão nosográfica dum estado hipnótico (catalepsia? letargia? Sonambulismo inactivo – ou antes êxtase sonambúlico?)”2 que, surpreendentemente, é depois “elevado à suma categoria de dogma.”3 Ou seja, uma espécie de torpor mental que, principiado na mente do próprio Buda Sakiamuni, fertilizada pelo “solo doentio” da Índia – na expressão de Laranjeira –, se estende a uma comunidade de seguidores tal como uma doença: a “doença da santidade” (título da sua tese de doutoramento), sedando-a no estupor nirvânico4, e progressivamente ganhando contornos de religião autónoma. Tudo começa por uma hipnose auto-induzida, que Laranjeira vê como também sendo a base do êxtase do místico cristão. É esta a tese central do texto, igualmente formulada, e de forma lapidar, em A Doença da Santidade:E, muitos séculos antes de Charcot apresentar à Academia das Ciências de Paris a revelação desse curioso estado “com caracteres somáticos fixos, não simuláveis”, já nas florestas indianas o iogui sabia obtê-lo, e um monge, que, diz a lenda, trocara a vida faustosa de príncipe pela penitência rude, áspera, do ascetismo, andava a prega-lo como sendo o meio único de conseguir a “libertação da dor”. O Nirvana, através dos tempos e das gerações, que lhe chamaram, ora beatitude, ora acalmia da alma, ora comunhão com a divindade, ora matrimónio espiritual com Deus, ora liquefacção da alma no divino esposo, aflorou em pleno século XIX, e a ciência médica chamou-lhe hipnose.5 Continue a ler: http://cienciareligioes.ulusofona.pt/pdf11/1duarte_braga.pdf


Duarte Drumond BragaCentro de EstudosComparatistas/CLEPUL,Universidade de LisboaREVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – Ano VI, 2007 / n. 11 – 145-152MANUEL LARANJEIRA, no seu ensaio O Nirvana: (interpretação psicopatológica dum dogma), saído a lume no periódico O Porto Médico (1905-1906), propõe a seguinte tese: o Nirvana é um estado mental de cariz patológico. Sendo uma leitura assumidamente naturalista, de cariz médico e psicopatológico, recusa qualquer orientação metafísica, desprezando a metafísica budista por “verbalismo” sem conteúdo.1 Nesta análise etiológica do autor de Comigo, o Nirvana não é mais do que a “expressão nosográfica dum estado hipnótico (catalepsia? letargia? Sonambulismo inactivo – ou antes êxtase sonambúlico?)”2 que, surpreendentemente, é depois “elevado à suma categoria de dogma.”3 Ou seja, uma espécie de torpor mental que, principiado na mente do próprio Buda Sakiamuni, fertilizada pelo “solo doentio” da Índia – na expressão de Laranjeira –, se estende a uma comunidade de seguidores tal como uma doença: a “doença da santidade” (título da sua tese de doutoramento), sedando-a no estupor nirvânico4, e progressivamente ganhando contornos de religião autónoma. Tudo começa por uma hipnose auto-induzida, que Laranjeira vê como também sendo a base do êxtase do místico cristão. É esta a tese central do texto, igualmente formulada, e de forma lapidar, em A Doença da Santidade:E, muitos séculos antes de Charcot apresentar à Academia das Ciências de Paris a revelação desse curioso estado “com caracteres somáticos fixos, não simuláveis”, já nas florestas indianas o iogui sabia obtê-lo, e um monge, que, diz a lenda, trocara a vida faustosa de príncipe pela penitência rude, áspera, do ascetismo, andava a prega-lo como sendo o meio único de conseguir a “libertação da dor”. O Nirvana, através dos tempos e das gerações, que lhe chamaram, ora beatitude, ora acalmia da alma, ora comunhão com a divindade, ora matrimónio espiritual com Deus, ora liquefacção da alma no divino esposo, aflorou em pleno século XIX, e a ciência médica chamou-lhe hipnose.5 Continue a ler: http://cienciareligioes.ulusofona.pt/pdf11/1duarte_braga.pdf

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