Passos declara-se inocente, PS pede "striptease às contas"

26-09-2014
marcar artigo

Passos declara-se inocente, PS pede "striptease às contas"

Márcia Galrão

marcia.galrao@economico.pt

12:23

Passos vinha preparado. O caso Tecnoforma era o único assunto que importava aos deputados neste debate quinzenal. A oposição vinha munida de perguntas e pedidos de esclarecimento e nem um depoimento inicial do primeiro-ministro de mais de 15 minutos bastou para silenciar as dúvidas.

O primeiro-ministro garantiu que "nunca enquanto deputado" em exclusividade recebeu "qualquer valor da Tecnoforma". Que pode, sim, " ter apresentado despesas de representação, de almoços, deslocações, quer a Bruxelas, quer a Cabo Verde, quer dentro do território nacional", mas que nunca se tratou de uma remuneração fixa, eram "reembolsos". Também garantiu que, mesmo tendo havido um ex-administrador da Tecnoforma que tenha dito que a ONG Centro Português para a Cooperação - com que Passos colaborou nesse período - era um "facilitador de negócios", ele nunca fez "lobby" por essa empresa.

À medida que Passos foi esclarecendo os factos, as bancadas da maioria foram relaxando e aplaudindo, depois de dias sob o fantasma de demissão do primeiro-ministro, que chegou a admitir retirar "consequências políticas" do caso. Um ponto que Heloísa Apolónia, dos Verdes, trouxe ao debate, que pediu a razão para essa declaração se o primeiro-ministro estava tranquilo da sua conduta: "É normal que quando nos apontam factos que podem ter ocorrido há 16 anos, quem responda tenha cautela", explicou Passos à líder parlamentar dos Verdes.

A oposição não se calou. Queria mais esclarecimentos, nomeadamente "quanto foram essas despesas de representação", como insistiu Catarina Martins, do Bloco. Para isso, António José Seguro, do PS, quer que Passos autorize o levantamento do seu "sigilo bancário". Mas o primeiro-ministro não admite que lhe "vasculhem as contas" e fala até num "striptease" às contas bancárias no Parlamento ao qual não irá ceder. Pode, diz Passos, enviar essa informação à Procuradoria-Geral da República se tal for considerado necessário. Mas Seguro deixou a ameaça: o PS pode usar todos os instrumentos constitucionais para "apurar toda a verdade". Só não deixou claro se isso significa juntar-se ao Bloco de Esquerda num pedido de abertura de inquérito parlamentar ao caso Tecnoforma.

Passos diz que é uma "mistificação" todo este caso. "Não possuo outro património se não o que está declarado e não me pertence na totalidade, na medida em que tenho empréstimos", "não disponho de poupanças" e "com certeza não atingem limites das poupanças que devem ser declarados". E o primeiro-ministro diz que não tem "riqueza acumulada" e não tem, "em nome de filhas, primos ou outra família," qualquer outro tipo de bens, declaração que levantou grandes aplausos das bancadas da maioria.

Também o regime de exclusividade que Passos tinha entre 1995 e 1999 foi alvo de discussão, bem como o subsídio de reintegração que pediu depois e a subvenção vitalícia que Passos repetiu, por três vezes, não ter solicitado apesar de ter direito a ela. Neste último ponto, a oposição entende que não é assim, que Passos não podia ter pedido e daí não o ter feito.

No final, PSD e CDS reiteraram "toda a confiança no primeiro-ministro". Luís Montenegro, líder parlamentar da bancada laranja, nota a "idoneidade" de Passos e acusou a oposição de usar "insinuações" para "cavalgar a onda mediática". Mas a maioria está disponível para continuar a esclarecer o regime de Passos na Assembleia na Comissão de Ética.

Com um assunto tão quente, todos os outros temas se tornaram laterais e ninguém se preocupou muito em falar sobre despesa pública, fiscalidade verde, salário mínimo, caos na Justiça ou na Saúde. Alguns apontamentos, nada mais.

Passos declara-se inocente, PS pede "striptease às contas"

Márcia Galrão

marcia.galrao@economico.pt

12:23

Passos vinha preparado. O caso Tecnoforma era o único assunto que importava aos deputados neste debate quinzenal. A oposição vinha munida de perguntas e pedidos de esclarecimento e nem um depoimento inicial do primeiro-ministro de mais de 15 minutos bastou para silenciar as dúvidas.

O primeiro-ministro garantiu que "nunca enquanto deputado" em exclusividade recebeu "qualquer valor da Tecnoforma". Que pode, sim, " ter apresentado despesas de representação, de almoços, deslocações, quer a Bruxelas, quer a Cabo Verde, quer dentro do território nacional", mas que nunca se tratou de uma remuneração fixa, eram "reembolsos". Também garantiu que, mesmo tendo havido um ex-administrador da Tecnoforma que tenha dito que a ONG Centro Português para a Cooperação - com que Passos colaborou nesse período - era um "facilitador de negócios", ele nunca fez "lobby" por essa empresa.

À medida que Passos foi esclarecendo os factos, as bancadas da maioria foram relaxando e aplaudindo, depois de dias sob o fantasma de demissão do primeiro-ministro, que chegou a admitir retirar "consequências políticas" do caso. Um ponto que Heloísa Apolónia, dos Verdes, trouxe ao debate, que pediu a razão para essa declaração se o primeiro-ministro estava tranquilo da sua conduta: "É normal que quando nos apontam factos que podem ter ocorrido há 16 anos, quem responda tenha cautela", explicou Passos à líder parlamentar dos Verdes.

A oposição não se calou. Queria mais esclarecimentos, nomeadamente "quanto foram essas despesas de representação", como insistiu Catarina Martins, do Bloco. Para isso, António José Seguro, do PS, quer que Passos autorize o levantamento do seu "sigilo bancário". Mas o primeiro-ministro não admite que lhe "vasculhem as contas" e fala até num "striptease" às contas bancárias no Parlamento ao qual não irá ceder. Pode, diz Passos, enviar essa informação à Procuradoria-Geral da República se tal for considerado necessário. Mas Seguro deixou a ameaça: o PS pode usar todos os instrumentos constitucionais para "apurar toda a verdade". Só não deixou claro se isso significa juntar-se ao Bloco de Esquerda num pedido de abertura de inquérito parlamentar ao caso Tecnoforma.

Passos diz que é uma "mistificação" todo este caso. "Não possuo outro património se não o que está declarado e não me pertence na totalidade, na medida em que tenho empréstimos", "não disponho de poupanças" e "com certeza não atingem limites das poupanças que devem ser declarados". E o primeiro-ministro diz que não tem "riqueza acumulada" e não tem, "em nome de filhas, primos ou outra família," qualquer outro tipo de bens, declaração que levantou grandes aplausos das bancadas da maioria.

Também o regime de exclusividade que Passos tinha entre 1995 e 1999 foi alvo de discussão, bem como o subsídio de reintegração que pediu depois e a subvenção vitalícia que Passos repetiu, por três vezes, não ter solicitado apesar de ter direito a ela. Neste último ponto, a oposição entende que não é assim, que Passos não podia ter pedido e daí não o ter feito.

No final, PSD e CDS reiteraram "toda a confiança no primeiro-ministro". Luís Montenegro, líder parlamentar da bancada laranja, nota a "idoneidade" de Passos e acusou a oposição de usar "insinuações" para "cavalgar a onda mediática". Mas a maioria está disponível para continuar a esclarecer o regime de Passos na Assembleia na Comissão de Ética.

Com um assunto tão quente, todos os outros temas se tornaram laterais e ninguém se preocupou muito em falar sobre despesa pública, fiscalidade verde, salário mínimo, caos na Justiça ou na Saúde. Alguns apontamentos, nada mais.

marcar artigo