O país do Burro: O PSD e a Síndrome dos seis meses

24-01-2012
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«Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia. Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se. E até não sei se, a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia. Agora, em democracia, efectivamente não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar, porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos.»Isto foi o que disse Manuela Ferreira Leite e é bastante diferente da versão da justificação de ontem de Marques Guedes, reproduzida pelo jornalista da SIC Notícias na introdução da peça do video acima. Não se descortina qualquer ironia no “e até não sei se, a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia”. Tal como não se vislumbra mais ninguém do que Manuela Ferreira Leite no ”E até não sei”, a manifestação de uma dúvida pessoal de alguém que propõe dois cenários em que faz depender da presença ou da ausência de democracia o sucesso de qualquer reforma.A dúvida reside apenas em se MFL o fez conscientemente, para conquistar um eleitorado adepto de soluções autocráticas, mostrando-lhe que conhece, domina e admite o seu modelo preferido, ou se o fez inconscientemente, fruto da pressão de ter que dizer qualquer coisinha para aliviar o silêncio que começou a pesar-lhe nos ombros. Seja lá como for, em ambos os casos se torna evidente que Manuela Ferreira Leite não serve para liderar um Governo e que o PSD continua a sofrer da síndrome dos seis meses. Com Luís Filipe Meneses, recorde-se, a aposta radical era a de “em meia dúzia de meses, liberalizar a legislação laboral (...) e desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem e que oprime as pessoas.” Com Manuela Ferreira Leite a proposta é a de, em meia dúzia de meses, “liberalizar” a Constituição da República Portuguesa e desmantelar o enorme peso que a democracia tem e oprime as reformas de quem ambiciona concentrar o querer, o poder e o mandar. Nada de grave se os sintomas forem bem diagnosticados. Esta síndrome intolerável cura-se com uma dieta de votos.


«Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia. Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se. E até não sei se, a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia. Agora, em democracia, efectivamente não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar, porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos.»Isto foi o que disse Manuela Ferreira Leite e é bastante diferente da versão da justificação de ontem de Marques Guedes, reproduzida pelo jornalista da SIC Notícias na introdução da peça do video acima. Não se descortina qualquer ironia no “e até não sei se, a certa altura, não é bom haver seis meses sem democracia”. Tal como não se vislumbra mais ninguém do que Manuela Ferreira Leite no ”E até não sei”, a manifestação de uma dúvida pessoal de alguém que propõe dois cenários em que faz depender da presença ou da ausência de democracia o sucesso de qualquer reforma.A dúvida reside apenas em se MFL o fez conscientemente, para conquistar um eleitorado adepto de soluções autocráticas, mostrando-lhe que conhece, domina e admite o seu modelo preferido, ou se o fez inconscientemente, fruto da pressão de ter que dizer qualquer coisinha para aliviar o silêncio que começou a pesar-lhe nos ombros. Seja lá como for, em ambos os casos se torna evidente que Manuela Ferreira Leite não serve para liderar um Governo e que o PSD continua a sofrer da síndrome dos seis meses. Com Luís Filipe Meneses, recorde-se, a aposta radical era a de “em meia dúzia de meses, liberalizar a legislação laboral (...) e desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem e que oprime as pessoas.” Com Manuela Ferreira Leite a proposta é a de, em meia dúzia de meses, “liberalizar” a Constituição da República Portuguesa e desmantelar o enorme peso que a democracia tem e oprime as reformas de quem ambiciona concentrar o querer, o poder e o mandar. Nada de grave se os sintomas forem bem diagnosticados. Esta síndrome intolerável cura-se com uma dieta de votos.

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