O país do Burro: Estéticas privadas

27-01-2012
marcar artigo


"Há clínicas que estão a despachar situações de cirurgia plástica de estética pura à custa do erário público", declarou o presidente do Colégio de Cirurgia Plástica da Ordem dos Médicos (OM) em entrevista à agência Lusa."É imoral que isto aconteça num país onde, por exemplo, há uma comparticipação limitada de medicamentos essenciais. Se o SNS respondesse às outras necessidades, seria então óptimo que respondesse também às necessidades da cirurgia estética", comentou o especialista.Não posso estar mais de acordo. Há todo um leque de prioridades a seguir. O ideal seria que o sistema assegurasse todas elas, desde as mais até às menos prioritárias , como algumas cirurgias estéticas. Mas aí vamos bater no cerne de toda a questão, o regime de incompatibilidades que não existe e que permite que, muitas ou poucas vezes, algumas, nem isso se sabe, o cirurgião que no Estado não consegue aliviar a lista de espera seja o mesmo que opera no privado. O Estado paga as mesmas duas vezes a um médico que recebe as mesmas duas vezes e às vezes mais (a parte paga pelo utente), em que uma dessas partes corresponde a um incentivo para que não opere no SNS. Nestas condições, estranho, mesmo estranho, seria que o sistema funcionasse e que não houvesse listas de espera. Mais ainda que a factualidade de ser um problema conhecido de todos que, apesar disso, permanece intocável quer porque queima ministros, quer purque fere a estética privada da coisa. Isto, pelo menos, tem uma explicação com alguma lógica. A da sobrevivência política, a da falta de coragem dos sucessivos governantes, não a da salvaguarda do interesse público.


"Há clínicas que estão a despachar situações de cirurgia plástica de estética pura à custa do erário público", declarou o presidente do Colégio de Cirurgia Plástica da Ordem dos Médicos (OM) em entrevista à agência Lusa."É imoral que isto aconteça num país onde, por exemplo, há uma comparticipação limitada de medicamentos essenciais. Se o SNS respondesse às outras necessidades, seria então óptimo que respondesse também às necessidades da cirurgia estética", comentou o especialista.Não posso estar mais de acordo. Há todo um leque de prioridades a seguir. O ideal seria que o sistema assegurasse todas elas, desde as mais até às menos prioritárias , como algumas cirurgias estéticas. Mas aí vamos bater no cerne de toda a questão, o regime de incompatibilidades que não existe e que permite que, muitas ou poucas vezes, algumas, nem isso se sabe, o cirurgião que no Estado não consegue aliviar a lista de espera seja o mesmo que opera no privado. O Estado paga as mesmas duas vezes a um médico que recebe as mesmas duas vezes e às vezes mais (a parte paga pelo utente), em que uma dessas partes corresponde a um incentivo para que não opere no SNS. Nestas condições, estranho, mesmo estranho, seria que o sistema funcionasse e que não houvesse listas de espera. Mais ainda que a factualidade de ser um problema conhecido de todos que, apesar disso, permanece intocável quer porque queima ministros, quer purque fere a estética privada da coisa. Isto, pelo menos, tem uma explicação com alguma lógica. A da sobrevivência política, a da falta de coragem dos sucessivos governantes, não a da salvaguarda do interesse público.

marcar artigo