Contra-revoluções in vitro

18-10-2013
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Habemus governum. Não, parece que agora deixamos de ter. Tivemus governum. Negociar na praça pública envolve argumentos e emoções que, às vezes, produzem efeitos indesejados.

A classe política, aqui e em muitos outros lugares, não goza da credibilidade suficiente para a desperdiçar em cenas indesejáveis que, seja quais forem os motivos que as inspiram, contribuem para o seu desprestígio. E nas últimas semanas temos vivido demasiadas revoluções e contra-revoluções que começam por provocar perplexidade e acabam por engendrar um desconcerto e indignação que sufocam o País.

No contexto social actual, a gestação de problemas in vitro deveria ser fortemente punida. Mas sem problemas não há soluções possíveis e, se o potencial "resolvedor" achar que está na altura de baralhar e distribuir as cartas de novo, nada melhor que criar um desafio que, anteontem, era inexistente. E o calculismo político é uma ciência suficientemente exacta para, quase sempre, produzir os efeitos desejados. A única surpresa é a que fica na nossa cara quando nos é vendido o processo todo como uma sequência espontânea. Mas, infelizmente, a sociedade a que os políticos servem já não dispõe de elasticidade emocional nem económica para rir de todas estas graçolas. Pôr sal na ferida duns cidadãos tão fortemente castigados por infindáveis crises económicas, políticas e sociais não parece ser uma prática aconselhável para qualquer regime que pretenda ser sustentável.

Estas situações fazem-me lembrar um exercício mental conhecido como história contrafactual ou história alternativa, que consiste em tentar imaginar o curso da história se os momentos cruciais tivessem tido um desfecho diferente do real como, por exemplo, se os Nazis tivessem ganho a guerra. Às vezes são uma fonte de literatura fantástica e de ficção científica. Durante as últimas semanas temos vivido de forma condensada tantos movimentos em sentidos opostos que não teria sido preciso imaginar alternativas porque muitas delas acabaram por suceder sequencialmente.

Curiosamente, estas revoluções e contra-revoluções iniciaram-se à volta do Dia da Independência Americana, o que acrescenta simbolismo ao tratar-se duma coligação governativa. Escrevo estas linhas antes do catorze de Julho e não sei se haverá também coincidências com a Tomada da Bastilha, o que não me surpreenderia com tanto cinismo ilustrado e abuso dos modernos richelieus.

Xavier Rodríguez Martín, Gestor

Habemus governum. Não, parece que agora deixamos de ter. Tivemus governum. Negociar na praça pública envolve argumentos e emoções que, às vezes, produzem efeitos indesejados.

A classe política, aqui e em muitos outros lugares, não goza da credibilidade suficiente para a desperdiçar em cenas indesejáveis que, seja quais forem os motivos que as inspiram, contribuem para o seu desprestígio. E nas últimas semanas temos vivido demasiadas revoluções e contra-revoluções que começam por provocar perplexidade e acabam por engendrar um desconcerto e indignação que sufocam o País.

No contexto social actual, a gestação de problemas in vitro deveria ser fortemente punida. Mas sem problemas não há soluções possíveis e, se o potencial "resolvedor" achar que está na altura de baralhar e distribuir as cartas de novo, nada melhor que criar um desafio que, anteontem, era inexistente. E o calculismo político é uma ciência suficientemente exacta para, quase sempre, produzir os efeitos desejados. A única surpresa é a que fica na nossa cara quando nos é vendido o processo todo como uma sequência espontânea. Mas, infelizmente, a sociedade a que os políticos servem já não dispõe de elasticidade emocional nem económica para rir de todas estas graçolas. Pôr sal na ferida duns cidadãos tão fortemente castigados por infindáveis crises económicas, políticas e sociais não parece ser uma prática aconselhável para qualquer regime que pretenda ser sustentável.

Estas situações fazem-me lembrar um exercício mental conhecido como história contrafactual ou história alternativa, que consiste em tentar imaginar o curso da história se os momentos cruciais tivessem tido um desfecho diferente do real como, por exemplo, se os Nazis tivessem ganho a guerra. Às vezes são uma fonte de literatura fantástica e de ficção científica. Durante as últimas semanas temos vivido de forma condensada tantos movimentos em sentidos opostos que não teria sido preciso imaginar alternativas porque muitas delas acabaram por suceder sequencialmente.

Curiosamente, estas revoluções e contra-revoluções iniciaram-se à volta do Dia da Independência Americana, o que acrescenta simbolismo ao tratar-se duma coligação governativa. Escrevo estas linhas antes do catorze de Julho e não sei se haverá também coincidências com a Tomada da Bastilha, o que não me surpreenderia com tanto cinismo ilustrado e abuso dos modernos richelieus.

Xavier Rodríguez Martín, Gestor

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