Milhões com tostões, a história repete-se

05-01-2012
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Lovers & Lollypops. A editora/produtora que organiza o festival Milhões de Festa está "em crise" desde que nasceu, em 2005. Pouca coisa mudará no próximo ano (apesar do "link" a Guimarães): a forma de estar da Lovers & Lollypops "sempre foi "low-cost"".

Joaquim Durães vai começar o ano a contar tostões para a quinta edição do Milhões de Festa (Barcelos, 27 a 29 de Julho), o festival-fétiche da nação indie que este ano subiu de nível ao atingir as 3.500 pessoas/dia, mas isso é "business as usual" na Lovers & Lollypops, a editora que Durães (o "Fua") criou em 2005, recém-chegado de um período Erasmus em Barcelona. Neste pequeno escritório da Baixa do Porto onde não cabem muito mais do que duas pessoas, 2012 não será o apocalipse, apenas mais um ano poupadinho, como os anteriores. "A nossa forma de estar sempre foi muito "low-cost". Já devemos estar em crise há seis anos, desde que começámos a trabalhar", diz Fua.

Se, por causa da falta de drama com que olha para o próximo ano, Joaquim faz figura de optimista, é porque não estamos a ver bem as coisas: numa micro-estrutura como a Lovers & Lollypops (três pessoas, apenas uma a tempo inteiro), a única forma de contenção de custos possível é deixar de almoçar na cantina (3,50 euros) e passar a comer em casa. E ainda assim, grandes planos para 2012: um Milhões de Festa "com o cartaz mais equilibrado de sempre" (Fua quer à força toda atirar nomes para cima da mesa, mas há contratos que ainda são só verbais), um plano de edições ambiciosíssimo (Alto, Botswana, Memória de Peixe, Throes + The Shine, Fat Freddy, Jorge Coelho, Riding Pânico e, cereja no topo do bolo, o vinil duplo de Black Bombaim, em preparação há um ano, com os convidados Steve MacKay, dos Stooges, e Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta), a transferência mensal da residência "Isto Não É Uma Festa Indie" do Plano B, no Porto, para o Lounge, em Lisboa (primeira sessão a 27 de Janeiro), a inclusão de uma série de bandas da editora (Black Bombaim, Aspen, Glockenwise e Long Way to Alaska) numa bolsa de incentivos à internacionalização promovida por Braga Capital Europeia da Juventude e uma bem-vinda mudança temporária para Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, anunciada à hora de fecho deste suplemento. "A ideia", explica, "é que por um ano Guimarães seja a sede da Lovers: vamos concentrar lá concertos e lançamentos".

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Não se trata, que isto fique claro, de um resgate financeiro, mas de "um balão de oxigénio": "Estamos um bocado saturados do Porto, e um ano fora daqui vai permitir-nos voltar com mais vontade". Fartos do Porto, isto é, fartos de concertos no vermelho: "Decidimos refrear os ânimos: nunca tivemos muitas pessoas, mas isso não é de agora. Mais de 50 por cento dos concertos que organizámos deram prejuízo. Não temos público para cobrir as despesas". Fua tem um remédio santo: desinvestir nos concertos (até porque a perda de poder de compra, uma variável incontrolável, pode agravar o problema), investir todos os tostões no Milhões, até porque, em ano de recessão, três dias num festival (ainda por cima em Barcelos, onde a comida e a bebida, para quem chega de Lisboa ou do Porto, parecem "ao preço da chuva") podem ser as férias possíveis para muito boa gente. Mesmo assim, admite, está preocupado: mais do que o ano de todas as crises, 2012 parece anunciar-se como "o ano de todos os festivais". Sem dramas, Fua encara a organização do Milhões de Festa no ano em que o gigante Primavera Sound chega ao Porto "mais como um desafio do que como um problema" ("Fico ainda com mais vontade de estruturar uma programação que seja completamente diferente da dos outros festivais"). Com o contrato com a Câmara Municipal a vigorar até 2013 (em Barcelos os vereadores tratam por tu nomes como Toro Y Moi e The Fall), a quinta edição do festival não está em risco (embora até ao fim ainda possa ter de haver "um apertar do cinto") e o plano até é conseguir evitar os desperdícios de principiante - o céu dos patrocínios, que até aqui nunca puderam entrar nas equações da Lovers & Lollypops ("mas não é que a porta esteja fechada..."), é o limite. E o IVA, também não mete medo? "Quase de certeza que não iremos subir o valor das entradas. A única coisa que poderemos ponderar é separar o IVA do preço do bilhete, para sermos mais transparentes".

Lovers & Lollypops. A editora/produtora que organiza o festival Milhões de Festa está "em crise" desde que nasceu, em 2005. Pouca coisa mudará no próximo ano (apesar do "link" a Guimarães): a forma de estar da Lovers & Lollypops "sempre foi "low-cost"".

Joaquim Durães vai começar o ano a contar tostões para a quinta edição do Milhões de Festa (Barcelos, 27 a 29 de Julho), o festival-fétiche da nação indie que este ano subiu de nível ao atingir as 3.500 pessoas/dia, mas isso é "business as usual" na Lovers & Lollypops, a editora que Durães (o "Fua") criou em 2005, recém-chegado de um período Erasmus em Barcelona. Neste pequeno escritório da Baixa do Porto onde não cabem muito mais do que duas pessoas, 2012 não será o apocalipse, apenas mais um ano poupadinho, como os anteriores. "A nossa forma de estar sempre foi muito "low-cost". Já devemos estar em crise há seis anos, desde que começámos a trabalhar", diz Fua.

Se, por causa da falta de drama com que olha para o próximo ano, Joaquim faz figura de optimista, é porque não estamos a ver bem as coisas: numa micro-estrutura como a Lovers & Lollypops (três pessoas, apenas uma a tempo inteiro), a única forma de contenção de custos possível é deixar de almoçar na cantina (3,50 euros) e passar a comer em casa. E ainda assim, grandes planos para 2012: um Milhões de Festa "com o cartaz mais equilibrado de sempre" (Fua quer à força toda atirar nomes para cima da mesa, mas há contratos que ainda são só verbais), um plano de edições ambiciosíssimo (Alto, Botswana, Memória de Peixe, Throes + The Shine, Fat Freddy, Jorge Coelho, Riding Pânico e, cereja no topo do bolo, o vinil duplo de Black Bombaim, em preparação há um ano, com os convidados Steve MacKay, dos Stooges, e Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta), a transferência mensal da residência "Isto Não É Uma Festa Indie" do Plano B, no Porto, para o Lounge, em Lisboa (primeira sessão a 27 de Janeiro), a inclusão de uma série de bandas da editora (Black Bombaim, Aspen, Glockenwise e Long Way to Alaska) numa bolsa de incentivos à internacionalização promovida por Braga Capital Europeia da Juventude e uma bem-vinda mudança temporária para Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012, anunciada à hora de fecho deste suplemento. "A ideia", explica, "é que por um ano Guimarães seja a sede da Lovers: vamos concentrar lá concertos e lançamentos".

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Não se trata, que isto fique claro, de um resgate financeiro, mas de "um balão de oxigénio": "Estamos um bocado saturados do Porto, e um ano fora daqui vai permitir-nos voltar com mais vontade". Fartos do Porto, isto é, fartos de concertos no vermelho: "Decidimos refrear os ânimos: nunca tivemos muitas pessoas, mas isso não é de agora. Mais de 50 por cento dos concertos que organizámos deram prejuízo. Não temos público para cobrir as despesas". Fua tem um remédio santo: desinvestir nos concertos (até porque a perda de poder de compra, uma variável incontrolável, pode agravar o problema), investir todos os tostões no Milhões, até porque, em ano de recessão, três dias num festival (ainda por cima em Barcelos, onde a comida e a bebida, para quem chega de Lisboa ou do Porto, parecem "ao preço da chuva") podem ser as férias possíveis para muito boa gente. Mesmo assim, admite, está preocupado: mais do que o ano de todas as crises, 2012 parece anunciar-se como "o ano de todos os festivais". Sem dramas, Fua encara a organização do Milhões de Festa no ano em que o gigante Primavera Sound chega ao Porto "mais como um desafio do que como um problema" ("Fico ainda com mais vontade de estruturar uma programação que seja completamente diferente da dos outros festivais"). Com o contrato com a Câmara Municipal a vigorar até 2013 (em Barcelos os vereadores tratam por tu nomes como Toro Y Moi e The Fall), a quinta edição do festival não está em risco (embora até ao fim ainda possa ter de haver "um apertar do cinto") e o plano até é conseguir evitar os desperdícios de principiante - o céu dos patrocínios, que até aqui nunca puderam entrar nas equações da Lovers & Lollypops ("mas não é que a porta esteja fechada..."), é o limite. E o IVA, também não mete medo? "Quase de certeza que não iremos subir o valor das entradas. A única coisa que poderemos ponderar é separar o IVA do preço do bilhete, para sermos mais transparentes".

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