Albergue Espanhol

18-04-2015
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Nem um ano de reforma José Aguiar

José Aguiar 12.04.10 O processo de substituição de Nascimento Rodrigues como Provedor de Justiça foi conturbado e politicamente mal conduzido pela generalidade dos partidos com assento parlamentar. Nos seus processos de influência na grande máquina do Estado, os partidos, no nosso actual Estado de Direito Democrático, também devem olhar para os titulares dos cargos públicos na sua dimensão humana, e não meramente instrumental e de controlo (não esquecer que o Provedor tem uma inerência no Conselho de Estado). Nascimento Rodrigues – debilitado na sua condição física, já decorrido um ano após o limite do segundo mandato – foi privado, ainda que já bastante doente, de um ano de merecido descanso. Numa altura em que os prémios milionários dos gestores públicos, e outros tantos casos mediáticos, mantêm acesa a discussão da absoluta necessidade da ética na política e nos negócios públicos, é útil recordar este exemplo simples de um político que serviu – sem se servir – até ao fim, até perto do limite das suas forças. Foi-se o homem (requiescat in pace), mas ao menos que fique o exemplo para memória futura. Tags:

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tristeza

Passador-Geral da República José Aguiar

José Aguiar 27.02.10 Bruáás que circulam à boca pequena, no chiqueiro por detrás do buraco da fechadura, dão a entender que circulam por aí documentos, digitalizados em formato pdf, aparente e alegadamente provenientes do Gabinete do Procurador-Geral da República. Os mesmos bruáás juram a pés juntos, e sem figas, que parte desta imagem é um print screen de um desses documentos. É totalmente falso que assim seja. Repudia-se, pois, de forma veemente, que esta imagem seja retirada de um desses documentos e considera-se uma ignomínia da mais baixa extracção moral que se pondere, sequer, pensar isso. boa sorte para ler as letras miudinhas Tags:

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Emoções básicas (7) Luís Naves

Luís Naves 21.02.10 O fim da revolução

Muitos comentadores não esconderam a sua tristeza em relação aos resultados das presidenciais ucranianas, que deram a vitória ao pró-russo Viktor Ianukovitch. O presidente eleito é o mesmo que vencera em 2004, em eleições irregulares que originaram um movimento político conhecido por “revolução laranja”. Na altura, houve uma terceira volta e Ianukovitch perdeu. Desta vez, a sua rival reformista, Iulia Timochenko, ainda ensaiou um protesto, mas entretanto já admitiu a derrota. O veredicto popular foi assim confirmado em eleições democráticas, o que não impediu a contraditória tese “do fim da revolução”. Por exemplo, o conhecido autor americano Francis Fukuyama escrevia em The Spectator que este era um sinal do recuo das democracias. É um artigo que vale a pena ler. Oligarquias

Tenho dúvidas sobre a interpretação de Fukuyama, que mistura países diferentes e, acima de tudo, parece não ver que esta “democracia” ucraniana nunca existiu fora do papel. Um sistema minado pela corrupção dificilmente se pode considerar democrático; e as diferenças sociais de que fala o autor não foram consequência da introdução da economia de mercado, mas pelo contrário, da ascensão de uma classe empresarial (incluindo Timochenko) com extensas ligações ao antigo regime. Estas pessoas apropriaram-se de bens públicos, em privatizações fictícias, comandadas por grupos de poder, oligarquias. A Ucrânia tem duas complicações adicionais: um vasto número de emigrantes na Europa Ocidental e divisões étnico-linguísticas que deram neste resultado: vejam o mapa assustador, que se repete em cada nova eleição; basicamente, o país está dividido em dois. A amarelo, as regiões onde ganhou a reformista Timochenko; a azul, as vitórias de Ianukovitch.

A Ucrânia é hoje mais democrática do que seria sem a revolução laranja, sendo provável que haja redução dessas liberdades no futuro próximo, por exemplo, mais controlo na imprensa. Mas muitos comentadores, ao meterem tudo no mesmo saco, perdem a noção de que a transição dos países socialistas do leste seria sempre mais lenta do que Fukuyama admitiu em 1989, com a sua famosa tese do fim da história.

A região da antiga Cortina de Ferro atravessa ainda um período a que podemos chamar de pós-comunismo, caracterizada pela reciclagem dos antigos partidos comunistas (que geralmente mudaram de nome), pela introdução do capitalismo e rápida adesão europeia. Os antigos membros do aparelho viraram a casaca e adaptaram-se aos novos tempos. Não era possível afastar toda a gente dos seus cargos; havia milhares de pessoas que tinham colaborado com o regime comunista ou que, no mínimo, tinham fechado os olhos e vivido a sua vida. Estes regimes não eram uma ditadura de uma pequena minoria, mas sistemas políticos complexos, cujas instituições não podiam desaparecer de um dia para o outro. Pós-comunismo

Há eleições livres e descontentamento, mas existe outro padrão: o pós-comunismo está a acabar na Polónia e na Hungria, em breve na República Checa. Estes três são os países mais avançados na transição, pois eram também os mais ocidentalizados em 1989. Todos eles tinham anteriores experiências democráticas, forte identidade nacional, elites muito ocidentalizadas. Na Polónia, o partido reciclado esteve no poder e acabou cilindrado nas urnas e o mesmo deverá suceder aos socialistas húngaros dentro de dois meses: há mais de um ano que as sondagens dão dois terços do eleitorado aos conservadores e a grande incógnita será o comportamento de um partido da extrema-direita, que apareceu do nada e de forma estranha.

A ascensão de gerações políticas que nada têm a ver com o passado será um processo lento e difícil; um verdadeiro conflito de gerações. A democratização também avançará na Rússia ou na Ucrânia, mas o processo será mais lento. A Rússia foi humilhada durante a experiência de capitalismo selvagem que fragmentou o seu império; a Ucrânia procura ainda construir a sua identidade.

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Nem um ano de reforma José Aguiar

José Aguiar 12.04.10 O processo de substituição de Nascimento Rodrigues como Provedor de Justiça foi conturbado e politicamente mal conduzido pela generalidade dos partidos com assento parlamentar. Nos seus processos de influência na grande máquina do Estado, os partidos, no nosso actual Estado de Direito Democrático, também devem olhar para os titulares dos cargos públicos na sua dimensão humana, e não meramente instrumental e de controlo (não esquecer que o Provedor tem uma inerência no Conselho de Estado). Nascimento Rodrigues – debilitado na sua condição física, já decorrido um ano após o limite do segundo mandato – foi privado, ainda que já bastante doente, de um ano de merecido descanso. Numa altura em que os prémios milionários dos gestores públicos, e outros tantos casos mediáticos, mantêm acesa a discussão da absoluta necessidade da ética na política e nos negócios públicos, é útil recordar este exemplo simples de um político que serviu – sem se servir – até ao fim, até perto do limite das suas forças. Foi-se o homem (requiescat in pace), mas ao menos que fique o exemplo para memória futura. Tags:

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Passador-Geral da República José Aguiar

José Aguiar 27.02.10 Bruáás que circulam à boca pequena, no chiqueiro por detrás do buraco da fechadura, dão a entender que circulam por aí documentos, digitalizados em formato pdf, aparente e alegadamente provenientes do Gabinete do Procurador-Geral da República. Os mesmos bruáás juram a pés juntos, e sem figas, que parte desta imagem é um print screen de um desses documentos. É totalmente falso que assim seja. Repudia-se, pois, de forma veemente, que esta imagem seja retirada de um desses documentos e considera-se uma ignomínia da mais baixa extracção moral que se pondere, sequer, pensar isso. boa sorte para ler as letras miudinhas Tags:

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Emoções básicas (7) Luís Naves

Luís Naves 21.02.10 O fim da revolução

Muitos comentadores não esconderam a sua tristeza em relação aos resultados das presidenciais ucranianas, que deram a vitória ao pró-russo Viktor Ianukovitch. O presidente eleito é o mesmo que vencera em 2004, em eleições irregulares que originaram um movimento político conhecido por “revolução laranja”. Na altura, houve uma terceira volta e Ianukovitch perdeu. Desta vez, a sua rival reformista, Iulia Timochenko, ainda ensaiou um protesto, mas entretanto já admitiu a derrota. O veredicto popular foi assim confirmado em eleições democráticas, o que não impediu a contraditória tese “do fim da revolução”. Por exemplo, o conhecido autor americano Francis Fukuyama escrevia em The Spectator que este era um sinal do recuo das democracias. É um artigo que vale a pena ler. Oligarquias

Tenho dúvidas sobre a interpretação de Fukuyama, que mistura países diferentes e, acima de tudo, parece não ver que esta “democracia” ucraniana nunca existiu fora do papel. Um sistema minado pela corrupção dificilmente se pode considerar democrático; e as diferenças sociais de que fala o autor não foram consequência da introdução da economia de mercado, mas pelo contrário, da ascensão de uma classe empresarial (incluindo Timochenko) com extensas ligações ao antigo regime. Estas pessoas apropriaram-se de bens públicos, em privatizações fictícias, comandadas por grupos de poder, oligarquias. A Ucrânia tem duas complicações adicionais: um vasto número de emigrantes na Europa Ocidental e divisões étnico-linguísticas que deram neste resultado: vejam o mapa assustador, que se repete em cada nova eleição; basicamente, o país está dividido em dois. A amarelo, as regiões onde ganhou a reformista Timochenko; a azul, as vitórias de Ianukovitch.

A Ucrânia é hoje mais democrática do que seria sem a revolução laranja, sendo provável que haja redução dessas liberdades no futuro próximo, por exemplo, mais controlo na imprensa. Mas muitos comentadores, ao meterem tudo no mesmo saco, perdem a noção de que a transição dos países socialistas do leste seria sempre mais lenta do que Fukuyama admitiu em 1989, com a sua famosa tese do fim da história.

A região da antiga Cortina de Ferro atravessa ainda um período a que podemos chamar de pós-comunismo, caracterizada pela reciclagem dos antigos partidos comunistas (que geralmente mudaram de nome), pela introdução do capitalismo e rápida adesão europeia. Os antigos membros do aparelho viraram a casaca e adaptaram-se aos novos tempos. Não era possível afastar toda a gente dos seus cargos; havia milhares de pessoas que tinham colaborado com o regime comunista ou que, no mínimo, tinham fechado os olhos e vivido a sua vida. Estes regimes não eram uma ditadura de uma pequena minoria, mas sistemas políticos complexos, cujas instituições não podiam desaparecer de um dia para o outro. Pós-comunismo

Há eleições livres e descontentamento, mas existe outro padrão: o pós-comunismo está a acabar na Polónia e na Hungria, em breve na República Checa. Estes três são os países mais avançados na transição, pois eram também os mais ocidentalizados em 1989. Todos eles tinham anteriores experiências democráticas, forte identidade nacional, elites muito ocidentalizadas. Na Polónia, o partido reciclado esteve no poder e acabou cilindrado nas urnas e o mesmo deverá suceder aos socialistas húngaros dentro de dois meses: há mais de um ano que as sondagens dão dois terços do eleitorado aos conservadores e a grande incógnita será o comportamento de um partido da extrema-direita, que apareceu do nada e de forma estranha.

A ascensão de gerações políticas que nada têm a ver com o passado será um processo lento e difícil; um verdadeiro conflito de gerações. A democratização também avançará na Rússia ou na Ucrânia, mas o processo será mais lento. A Rússia foi humilhada durante a experiência de capitalismo selvagem que fragmentou o seu império; a Ucrânia procura ainda construir a sua identidade.

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