Albergue Espanhol

18-05-2015
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Fernando Moreira de Sá

Fernando Moreira de Sá 23.07.10

Escrevo estas linhas chicoteado por uma "brisa" vinda do Marão. O termómetro marca 10º graus. E pensar que ontem apanhei um escaldão neste mesmo alpendre. O tempo está como a bolsa, incerto. Ou como a crise, pela hora da morte.

Mesmo assim, um grilo consegue cantar enquanto ao longe os cães ladram, mesmo não passando nenhuma caravana. Depois de vários dias a contemplar as estrelas e a conseguir ver os contornos nocturnos da Serra de Sendim hoje apenas consigo verificar que a aldeia de Sendim está a crescer. Quer dizer, pelo menos em número de luzinhas na escuridão. Sinais de um progresso que enriquece a empresa de Mexia.

Lá longe, o sino da Igreja de Riodades comunica-nos que são 22h ao som do 13 de Maio. Modernices. A invasão das eólicas continua em marcha, qual manif da CGTP, marcando a paisagem nocturna com piscadelas vermelhas. No alto de Sendim já se marcam novos quadrados de terra remexida, ameaçadores, em linha recta com estas bandas. Dizem-me que são os pontos das novas torres de alta tensão que serão pasto para eólicas a nascer na zona. Só espero que não me passem por cima da cabeça.

Sinto as costas geladas e rogo pragas ao maço de Marlboro que me obriga a semelhante desdita. Mas escrever sem nicotina não consigo. Uma rã ou um sapo – não, Jonas, não vou falar mal do teu – que citadino como eu não distingue, junta-se à cantoria da noite gélida. O grilo, o sapo ou rã, os cães e um conjunto de sinfonias animais que não sei nem quem são, nem quantos são (e nem quero imaginar se estão perto de mim) acompanham-me. Isso e o ressonar da minha cadela, o animal mais preguiçoso que conheço.

Mais duas passas no Marlboro e um gole de escocês e desisto. Já nem sinto os dedos com tanto frio.

Vale Penela, Junho 2010

Fernando Moreira de Sá

Fernando Moreira de Sá 23.07.10

Escrevo estas linhas chicoteado por uma "brisa" vinda do Marão. O termómetro marca 10º graus. E pensar que ontem apanhei um escaldão neste mesmo alpendre. O tempo está como a bolsa, incerto. Ou como a crise, pela hora da morte.

Mesmo assim, um grilo consegue cantar enquanto ao longe os cães ladram, mesmo não passando nenhuma caravana. Depois de vários dias a contemplar as estrelas e a conseguir ver os contornos nocturnos da Serra de Sendim hoje apenas consigo verificar que a aldeia de Sendim está a crescer. Quer dizer, pelo menos em número de luzinhas na escuridão. Sinais de um progresso que enriquece a empresa de Mexia.

Lá longe, o sino da Igreja de Riodades comunica-nos que são 22h ao som do 13 de Maio. Modernices. A invasão das eólicas continua em marcha, qual manif da CGTP, marcando a paisagem nocturna com piscadelas vermelhas. No alto de Sendim já se marcam novos quadrados de terra remexida, ameaçadores, em linha recta com estas bandas. Dizem-me que são os pontos das novas torres de alta tensão que serão pasto para eólicas a nascer na zona. Só espero que não me passem por cima da cabeça.

Sinto as costas geladas e rogo pragas ao maço de Marlboro que me obriga a semelhante desdita. Mas escrever sem nicotina não consigo. Uma rã ou um sapo – não, Jonas, não vou falar mal do teu – que citadino como eu não distingue, junta-se à cantoria da noite gélida. O grilo, o sapo ou rã, os cães e um conjunto de sinfonias animais que não sei nem quem são, nem quantos são (e nem quero imaginar se estão perto de mim) acompanham-me. Isso e o ressonar da minha cadela, o animal mais preguiçoso que conheço.

Mais duas passas no Marlboro e um gole de escocês e desisto. Já nem sinto os dedos com tanto frio.

Vale Penela, Junho 2010

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