Porque é que nos beijamos na boca?

08-10-2015
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Um casal apaixonado. Um beijo nos lábios. Uma atitude natural. Certo? Errado, dizem três antropólogos: segundo o estudo que publicaram na revista American Anthropologist, beijar os lábios da pessoa amada não é um comportamento universal nem sequer intrínseco ao comportamento humano.

Verdade que é mais comum nas sociedades mais complexas e industrializadas, mas é uma demonstração de amor presente em apenas 46% das 168 culturas estudadas em todos os continentes. Essa história de colocar duas bocas em contacto por amor é mais comum no Médio Oriente, na Ásia e na Europa, mas nem tanto na América central e do sul.

Então de onde vem esse hábito que alguns povos desenvolveram para demonstrar carinho por terceiros? Em 1872, Darwin deu uma explicação: disse o evolucionasta que no início das civilizações, ninguém beijava os lábios dos outros. Para expressar amor, friccionavam-se partes do corpo, como braços, peito, barriga, mãos ou o rosto. Mas nunca os lábios. Só que, a certa altura, esses comportamentos evoluíram e toda a gente abandonou o beijo esquimó para se entregar ao beijo na boca.

Para alguns cientistas e psicólogos, beijar na boca é uma forma mais eficaz de testar a compatibilidade entre dois seres que se podem cruzar para reprodução. Por outras palavras, beijar alguém nos lábios ajuda a entender se aquela é a pessoa certa para ser o pai ou mãe dos seus filhos. De alguma forma, um beijo dá pistas sobre a compatibilidade genética com terceiros e evita erros de percurso.

Mas para outros homens da ciência, os beijos na boca não fazem parte da equação da evolução humana: são apenas um comportamento previsto pela cultura em que as pessoas se inserem. As crianças veem os adultos a beijar-se na boca, percebem que é algo normal e hão de repeti-lo em circunstâncias semelhantes. E não têm sequer relação com a qualidade na reprodução: o antropólogo Donald Marshall falou de uma povoação do Pacífico onde os homens têm em média 21 orgasmos por semana e não dão um único beijo.

De resto, os beijos na boca não são usados em mais metade das culturas mundiais. Mas se expandirmos a definição de “beijo”, a história é diferente. Ao Guardian, a antropóloga Helen Fischer afirma que “em todo o lado se podem ver pessoas que beliscam, mordem, sugam, sopram e esfregam a pessoa amada para demonstrar sentimentos”. Lábios, isso é que não.

A origem do beijo na boca como o ocidente o conhece ainda não foi descoberta, mas os primeiros relatos são da Índia: no Sânscrito – alguns dos documentos mais antigos do hinduísmo – podem ler-se casos de pessoas que “bebiam a mistura dos lábios”.

De qualquer modo, o ato de beijar – mesmo que sem tensão sexual – não é algo estranho na natureza, realça o site Anthropology: os pássaros beijam-se para transferir comida de um bico para o outro, os chimpanzés beijam-se para acabar com uma discussão e muitos animais beijam as crias para demonstrar carinho. Apesar de ser uma forma de expressar sentimentos que parece acompanhar a evolução animal, nem todos os seres humanos beijam: 10% da população mundial não beija de forma nenhuma.

A química do beijo é o segredo para a tendência que temos para repetir a experiência. O io9 explica que os lábios estão repletos de terminações nervosas muito sensíveis, por isso a resposta que o cérebro dá perante um beijo é tão prazerosa: os neurónios enviam respostas químicas para todo o corpo, provocando a aceleração do coração, rubor na pele e aumento da temperatura corporal. Mas os beijos encerram pormenores algo perturbadores: num beijo são transferidas 250 bactérias através da saliva alheia, que permanece na sua boca durante três dias. Nada romântico!

Texto editado por David Dinis

Um casal apaixonado. Um beijo nos lábios. Uma atitude natural. Certo? Errado, dizem três antropólogos: segundo o estudo que publicaram na revista American Anthropologist, beijar os lábios da pessoa amada não é um comportamento universal nem sequer intrínseco ao comportamento humano.

Verdade que é mais comum nas sociedades mais complexas e industrializadas, mas é uma demonstração de amor presente em apenas 46% das 168 culturas estudadas em todos os continentes. Essa história de colocar duas bocas em contacto por amor é mais comum no Médio Oriente, na Ásia e na Europa, mas nem tanto na América central e do sul.

Então de onde vem esse hábito que alguns povos desenvolveram para demonstrar carinho por terceiros? Em 1872, Darwin deu uma explicação: disse o evolucionasta que no início das civilizações, ninguém beijava os lábios dos outros. Para expressar amor, friccionavam-se partes do corpo, como braços, peito, barriga, mãos ou o rosto. Mas nunca os lábios. Só que, a certa altura, esses comportamentos evoluíram e toda a gente abandonou o beijo esquimó para se entregar ao beijo na boca.

Para alguns cientistas e psicólogos, beijar na boca é uma forma mais eficaz de testar a compatibilidade entre dois seres que se podem cruzar para reprodução. Por outras palavras, beijar alguém nos lábios ajuda a entender se aquela é a pessoa certa para ser o pai ou mãe dos seus filhos. De alguma forma, um beijo dá pistas sobre a compatibilidade genética com terceiros e evita erros de percurso.

Mas para outros homens da ciência, os beijos na boca não fazem parte da equação da evolução humana: são apenas um comportamento previsto pela cultura em que as pessoas se inserem. As crianças veem os adultos a beijar-se na boca, percebem que é algo normal e hão de repeti-lo em circunstâncias semelhantes. E não têm sequer relação com a qualidade na reprodução: o antropólogo Donald Marshall falou de uma povoação do Pacífico onde os homens têm em média 21 orgasmos por semana e não dão um único beijo.

De resto, os beijos na boca não são usados em mais metade das culturas mundiais. Mas se expandirmos a definição de “beijo”, a história é diferente. Ao Guardian, a antropóloga Helen Fischer afirma que “em todo o lado se podem ver pessoas que beliscam, mordem, sugam, sopram e esfregam a pessoa amada para demonstrar sentimentos”. Lábios, isso é que não.

A origem do beijo na boca como o ocidente o conhece ainda não foi descoberta, mas os primeiros relatos são da Índia: no Sânscrito – alguns dos documentos mais antigos do hinduísmo – podem ler-se casos de pessoas que “bebiam a mistura dos lábios”.

De qualquer modo, o ato de beijar – mesmo que sem tensão sexual – não é algo estranho na natureza, realça o site Anthropology: os pássaros beijam-se para transferir comida de um bico para o outro, os chimpanzés beijam-se para acabar com uma discussão e muitos animais beijam as crias para demonstrar carinho. Apesar de ser uma forma de expressar sentimentos que parece acompanhar a evolução animal, nem todos os seres humanos beijam: 10% da população mundial não beija de forma nenhuma.

A química do beijo é o segredo para a tendência que temos para repetir a experiência. O io9 explica que os lábios estão repletos de terminações nervosas muito sensíveis, por isso a resposta que o cérebro dá perante um beijo é tão prazerosa: os neurónios enviam respostas químicas para todo o corpo, provocando a aceleração do coração, rubor na pele e aumento da temperatura corporal. Mas os beijos encerram pormenores algo perturbadores: num beijo são transferidas 250 bactérias através da saliva alheia, que permanece na sua boca durante três dias. Nada romântico!

Texto editado por David Dinis

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