Gaspar admite mais 100 mil desempregados até final deste ano

09-11-2013
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20.MAR.2013 00:00

Gaspar admite mais 100 mil desempregados até final deste ano

Demissão de Vítor Gaspar vista de fora (Foto: José Carlos Pratas)

Gaspar não abriu o jogo na reforma do Estado. Mas corte na função pública atingiu mais 3300 pessoas que o previsto em 2012

Portugal deverá acumular mais 100 mil desempregados até ao final deste ano e a redução de funcionários públicos foi maior que o inicialmente previsto em 2012, indicou a equipa do Ministério das Finanças, no Parlamento.

Vítor Gaspar, o ministro, e três dos seus secretários de Estado foram ontem apresentar as conclusões da sétima avaliação da troika à comissão parlamentar que acompanha o programa de ajustamento. O ministro repetiu que “o indicador mais gravoso” é o desemprego e que o perfil intranual da taxa aponta para uma evolução que a elevará até “quase 19% da população ativa no final deste ano e início do próximo”. Só depois começará a descer.

Tendo em conta que a população ativa continua a baixar, como tem sucedido nos últimos anos, e que se fixará perto dos 5,4 milhões de pessoas, significa que uma taxa próxima dos 19% atira o número total de desempregados para 1.028.000 no final de 2013, cerca de cem mil acima dos 923 mil contabilizados no quarto trimestre pelo INE. O Governo prevê um desemprego na ordem dos 18,2% este ano e de 18,5% no próximo.

Gaspar, que continuou sem dar detalhes ou linhas genéricas da reforma do Estado social e sem avançar medidas concretas novas para relançar o crescimento, destacou os pontos mais positivos do ajustamento até à data: “Os bancos portugueses estão entre os mais bem capitalizados no contexto europeu” e, portanto, o país chegou à fase do “início da transmissão de condições de financiamento mais favoráveis à economia”. E diz que “já se terá verificado uma viragem em termos de quantidades de crédito disponível e em termos de taxas de juro” no segmento das pequenas e médias empresas. Não quantificou. Os representantes deste sector não acompanham esta leitura.

Hélder Rosalino, o secretário de Estado da Administração Pública, distinguiu rescisões por mútuo acordo de despedimentos e afirmou que a reforma “é um processo contínuo” e que até já dura há dois anos, pelo menos. Neste período (2011 e 2012), “a redução líquida de empregos foi na ordem dos 50 mil”, o que eleva a fasquia em cerca de 3300 funcionários a menos no ativo face às estimativas preliminares (meados de fevereiro), que apontavam para uma redução na ordem dos 46,6 mil.

A reunião decorreu com os habituais embates entre as Finanças e a oposição (BE, PCP e PS), havendo ainda lugar a uma certa fricção com Cecília Meireles, do CDS.

A ex-secretária de Estado confrontou o ministro com a ideia de que existe “um divórcio” entre a missão da troika e as cúpulas do BCE, Comissão Europeia e FMI e com o facto de “ser preocupante que esta adaptação do ritmo e das metas e também por haver uma escalada de degradação do produto”. Gaspar não gostou. Disse que as avaliações são feitas sempre com “transparência”, que esse “divórcio” é “putativo”. E considerou “chocante” e “fantasioso” dizer-se que a crise orçamental é só nacional.

Antes disso, Fernando Medina, do PS, acusou o Governo de seguir “uma estratégia de radicalismos”.

Luís Fazenda, do BE, insurgiu-se contra o facto de o ministro ter dito que, mesmo sem perspetivas de crescimento a prazo, “a dívida se mantém num limiar de sustentabilidade”.

Pelo PCP, Bernardino Soares, afirmou que “a política do seu Governo serve para criar desemprego pois assim provocam redução salarial”. Luís Reis Ribeiro

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20.MAR.2013 00:00

Gaspar admite mais 100 mil desempregados até final deste ano

Demissão de Vítor Gaspar vista de fora (Foto: José Carlos Pratas)

Gaspar não abriu o jogo na reforma do Estado. Mas corte na função pública atingiu mais 3300 pessoas que o previsto em 2012

Portugal deverá acumular mais 100 mil desempregados até ao final deste ano e a redução de funcionários públicos foi maior que o inicialmente previsto em 2012, indicou a equipa do Ministério das Finanças, no Parlamento.

Vítor Gaspar, o ministro, e três dos seus secretários de Estado foram ontem apresentar as conclusões da sétima avaliação da troika à comissão parlamentar que acompanha o programa de ajustamento. O ministro repetiu que “o indicador mais gravoso” é o desemprego e que o perfil intranual da taxa aponta para uma evolução que a elevará até “quase 19% da população ativa no final deste ano e início do próximo”. Só depois começará a descer.

Tendo em conta que a população ativa continua a baixar, como tem sucedido nos últimos anos, e que se fixará perto dos 5,4 milhões de pessoas, significa que uma taxa próxima dos 19% atira o número total de desempregados para 1.028.000 no final de 2013, cerca de cem mil acima dos 923 mil contabilizados no quarto trimestre pelo INE. O Governo prevê um desemprego na ordem dos 18,2% este ano e de 18,5% no próximo.

Gaspar, que continuou sem dar detalhes ou linhas genéricas da reforma do Estado social e sem avançar medidas concretas novas para relançar o crescimento, destacou os pontos mais positivos do ajustamento até à data: “Os bancos portugueses estão entre os mais bem capitalizados no contexto europeu” e, portanto, o país chegou à fase do “início da transmissão de condições de financiamento mais favoráveis à economia”. E diz que “já se terá verificado uma viragem em termos de quantidades de crédito disponível e em termos de taxas de juro” no segmento das pequenas e médias empresas. Não quantificou. Os representantes deste sector não acompanham esta leitura.

Hélder Rosalino, o secretário de Estado da Administração Pública, distinguiu rescisões por mútuo acordo de despedimentos e afirmou que a reforma “é um processo contínuo” e que até já dura há dois anos, pelo menos. Neste período (2011 e 2012), “a redução líquida de empregos foi na ordem dos 50 mil”, o que eleva a fasquia em cerca de 3300 funcionários a menos no ativo face às estimativas preliminares (meados de fevereiro), que apontavam para uma redução na ordem dos 46,6 mil.

A reunião decorreu com os habituais embates entre as Finanças e a oposição (BE, PCP e PS), havendo ainda lugar a uma certa fricção com Cecília Meireles, do CDS.

A ex-secretária de Estado confrontou o ministro com a ideia de que existe “um divórcio” entre a missão da troika e as cúpulas do BCE, Comissão Europeia e FMI e com o facto de “ser preocupante que esta adaptação do ritmo e das metas e também por haver uma escalada de degradação do produto”. Gaspar não gostou. Disse que as avaliações são feitas sempre com “transparência”, que esse “divórcio” é “putativo”. E considerou “chocante” e “fantasioso” dizer-se que a crise orçamental é só nacional.

Antes disso, Fernando Medina, do PS, acusou o Governo de seguir “uma estratégia de radicalismos”.

Luís Fazenda, do BE, insurgiu-se contra o facto de o ministro ter dito que, mesmo sem perspetivas de crescimento a prazo, “a dívida se mantém num limiar de sustentabilidade”.

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