Gente de Lisboa: Que unidade?

30-06-2011
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Nas eleições intercalares de 2007, em Lisboa, o PS deu sinais evidentes de incapacidade para qualquer processo sério de convergência à esquerda. A ruptura com Helena Roseta e o surgimento de uma bem sucedida candidatura de cidadãos, demonstrou que o PS se tinha tornado repulsivo e criava espaços significativos de oposição à sua política, dentro da sua própria área tradicional de influência.No entanto, era preciso restabelecer a confiança dos cidadãos na autarquia, enfrentar a falta de transparência e o clientelismo que grassou durante o consulado Santana Lopes/Carmona Rodrigues, concentrar esforços na recuperação de uma Câmara falida, virar a política autárquica para os problemas mais sérios e prementes da cidade. Esse foi o contributo que o Bloco não recusou.Porém, o PS na Câmara de Lisboa falhou, novamente, apesar das expectativas que António Costa tinha gerado como alternativa à governação da direita. Falhou, porque não conseguiu respeitar a oposição, preferiu tentar capturá-la, não cumpriu os aspectos mais essenciais do seu programa eleitoral, nem sequer o programa mínimo que livremente estabeleceu com o Bloco, não apostou no regresso das pessoas à cidade, nem no planeamento urbano como princípio democrático e participativo.O caso que já se adivinhava, mas que foi recentemente confirmado pelo próprio presidente da Câmara, de não apresentação de uma mera proposta (já nem se fala em aprovação!) de revisão do Plano Director Municipal (PDM) durante o actual mandato, depois de todos os prazos razoáveis para tal terem expirado, é o exemplo acabado da fuga aos compromissos e de uma política em que o diálogo, a participação e a consertação, que o planeamento e a construção de cidade devem implicar numa perspectiva democrática e de esquerda, são completamente subestimados. Todavia, mesmo sem um PDM conforme a realidade actual da cidade, as operações urbanísticas avançam, casuisticamente.Quem poderá ter interesse neste estado de coisas? Sempre os mesmos, obviamente! E esta prática faz toda a diferença em relação ao período em que a coligação de esquerda liderada por Jorge Sampaio esteve à frente da Câmara. Durante esses anos, a oposição e os aliados foram convidados a participar nos processos de decisão e o planeamento democrático presidia à concepção de cidade, independentemente das posições divergentes que naturalmente surgissem. São diferenças, entre muitas outras, absolutamente fundamentais.De facto, lamentavelmente, o actual presidente da Câmara de Lisboa colocou-se, certamente por opção, já que é um político experiente, numa situação de inteira impotência para gerar uma dinâmica de esquerda e de unidade na cidade, apesar da boa vontade de alguns, certamente genuína, nesse sentido. A sua intervenção no congresso do PS foi esclarecedora sobre em que conta tem a oposição de esquerda. E se é daquela forma que António Costa trata os que diz querer para aliados, seria preferível, em nome da transparência, da lealdade e da higiene política, que se assumisse como adversário.Pedro Soares


Nas eleições intercalares de 2007, em Lisboa, o PS deu sinais evidentes de incapacidade para qualquer processo sério de convergência à esquerda. A ruptura com Helena Roseta e o surgimento de uma bem sucedida candidatura de cidadãos, demonstrou que o PS se tinha tornado repulsivo e criava espaços significativos de oposição à sua política, dentro da sua própria área tradicional de influência.No entanto, era preciso restabelecer a confiança dos cidadãos na autarquia, enfrentar a falta de transparência e o clientelismo que grassou durante o consulado Santana Lopes/Carmona Rodrigues, concentrar esforços na recuperação de uma Câmara falida, virar a política autárquica para os problemas mais sérios e prementes da cidade. Esse foi o contributo que o Bloco não recusou.Porém, o PS na Câmara de Lisboa falhou, novamente, apesar das expectativas que António Costa tinha gerado como alternativa à governação da direita. Falhou, porque não conseguiu respeitar a oposição, preferiu tentar capturá-la, não cumpriu os aspectos mais essenciais do seu programa eleitoral, nem sequer o programa mínimo que livremente estabeleceu com o Bloco, não apostou no regresso das pessoas à cidade, nem no planeamento urbano como princípio democrático e participativo.O caso que já se adivinhava, mas que foi recentemente confirmado pelo próprio presidente da Câmara, de não apresentação de uma mera proposta (já nem se fala em aprovação!) de revisão do Plano Director Municipal (PDM) durante o actual mandato, depois de todos os prazos razoáveis para tal terem expirado, é o exemplo acabado da fuga aos compromissos e de uma política em que o diálogo, a participação e a consertação, que o planeamento e a construção de cidade devem implicar numa perspectiva democrática e de esquerda, são completamente subestimados. Todavia, mesmo sem um PDM conforme a realidade actual da cidade, as operações urbanísticas avançam, casuisticamente.Quem poderá ter interesse neste estado de coisas? Sempre os mesmos, obviamente! E esta prática faz toda a diferença em relação ao período em que a coligação de esquerda liderada por Jorge Sampaio esteve à frente da Câmara. Durante esses anos, a oposição e os aliados foram convidados a participar nos processos de decisão e o planeamento democrático presidia à concepção de cidade, independentemente das posições divergentes que naturalmente surgissem. São diferenças, entre muitas outras, absolutamente fundamentais.De facto, lamentavelmente, o actual presidente da Câmara de Lisboa colocou-se, certamente por opção, já que é um político experiente, numa situação de inteira impotência para gerar uma dinâmica de esquerda e de unidade na cidade, apesar da boa vontade de alguns, certamente genuína, nesse sentido. A sua intervenção no congresso do PS foi esclarecedora sobre em que conta tem a oposição de esquerda. E se é daquela forma que António Costa trata os que diz querer para aliados, seria preferível, em nome da transparência, da lealdade e da higiene política, que se assumisse como adversário.Pedro Soares

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