Gado Bravo: Professores do quadro de honra

30-06-2011
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“Quando há dias me perguntaram quais as pessoas que mais influenciaram a minha vida, não pude deixar de pensar em duas professoras que, sem saber, me marcaram para sempre: Maria Vasconcelos e Natália Lemos.Foram ambas professoras na Escola Primária Coronel Silva Leal, que nos anos 80 era um exemplo de bom ensino e referência obrigatória para qualquer candidato a professor na Escola do Magistério Primário da Horta. Mas os seus métodos de ensino eram tão diferentes quanto as suas personalidades, o que só engrandeceu os alunos que passaram pelas suas mãos.A primeira, Maria Vasconcelos, foi quem me ensinou a escrever e me despertou para a leitura. Mas a verdade é que nos dois primeiros anos da escola primária me deu muito mais do que as bases do portugês e da matemática. O seu coração generoso deixou-me para a vida ensinamentos sem preço, que dificilmente poderiam caber nas linhas de um parágrafo, ou sequer de uma crónica.Quando, no final do meu segundo ano, Mariazinha Vasconcelos (como carinhosamente ainda é conhecida no Faial) se reformou, a turma separou-se. Metade da classe trocou a Escola Primária Coronel Silva Leal pela nova primária da cidade e a outra metade, em que eu me incluía, passou para as mãos da professora Natália Lemos. Parecia o fim do paraíso, mas a nova professora depressa nos mostrou a outra dimensão da escola, onde o saber ultrapassava o programa escolar.Em conjunto com o marido, Alberto Lemos – também ele professor naquela escola – provou-nos que a educação não se limita ao manual escolar. Aquele casal gastou o seu tempo e vida pessoal a preparar espectáculos, a escolher músicas e peças para ensinar aos seus alunos. Poucos terão passado pelas suas mãos sem aprender que estudar também é dançar o nosso folclore tradicional, recitar um poema ou representar uma cena de teatro. Tal como poucos terão saído das mãos de Mariazinha Vasconcelos sem saber que o esforço e a dedicação podem suplantar o talento mal aproveitado.Professores como estes são raros hoje. Não porque não existam, mas porque lhes falta “tempo” e “espaço” para ensinarem as lições que não vêm no manual escolar. E que os alunos só aprenderão se quem os ensina se puder dedicar ao ensino de corpo e alma, em vez de andar preocupado com a ausência da família ou as duas rendas de casa para pagar no fim do mês.”Lídia Bulcão, in Jornal dos Açores de 18-10-2005


“Quando há dias me perguntaram quais as pessoas que mais influenciaram a minha vida, não pude deixar de pensar em duas professoras que, sem saber, me marcaram para sempre: Maria Vasconcelos e Natália Lemos.Foram ambas professoras na Escola Primária Coronel Silva Leal, que nos anos 80 era um exemplo de bom ensino e referência obrigatória para qualquer candidato a professor na Escola do Magistério Primário da Horta. Mas os seus métodos de ensino eram tão diferentes quanto as suas personalidades, o que só engrandeceu os alunos que passaram pelas suas mãos.A primeira, Maria Vasconcelos, foi quem me ensinou a escrever e me despertou para a leitura. Mas a verdade é que nos dois primeiros anos da escola primária me deu muito mais do que as bases do portugês e da matemática. O seu coração generoso deixou-me para a vida ensinamentos sem preço, que dificilmente poderiam caber nas linhas de um parágrafo, ou sequer de uma crónica.Quando, no final do meu segundo ano, Mariazinha Vasconcelos (como carinhosamente ainda é conhecida no Faial) se reformou, a turma separou-se. Metade da classe trocou a Escola Primária Coronel Silva Leal pela nova primária da cidade e a outra metade, em que eu me incluía, passou para as mãos da professora Natália Lemos. Parecia o fim do paraíso, mas a nova professora depressa nos mostrou a outra dimensão da escola, onde o saber ultrapassava o programa escolar.Em conjunto com o marido, Alberto Lemos – também ele professor naquela escola – provou-nos que a educação não se limita ao manual escolar. Aquele casal gastou o seu tempo e vida pessoal a preparar espectáculos, a escolher músicas e peças para ensinar aos seus alunos. Poucos terão passado pelas suas mãos sem aprender que estudar também é dançar o nosso folclore tradicional, recitar um poema ou representar uma cena de teatro. Tal como poucos terão saído das mãos de Mariazinha Vasconcelos sem saber que o esforço e a dedicação podem suplantar o talento mal aproveitado.Professores como estes são raros hoje. Não porque não existam, mas porque lhes falta “tempo” e “espaço” para ensinarem as lições que não vêm no manual escolar. E que os alunos só aprenderão se quem os ensina se puder dedicar ao ensino de corpo e alma, em vez de andar preocupado com a ausência da família ou as duas rendas de casa para pagar no fim do mês.”Lídia Bulcão, in Jornal dos Açores de 18-10-2005

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