Vitórias, empates e derrotas

14-10-2013
marcar artigo

Desde o dia em que vimos a este mundo, competimos. Pela atenção dos pais, pela popularidade dos amigos, pelo reconhecimento dos pares. Em todas as áreas da nossa existência precisaríamos ou gostaríamos de algo que é escasso e que outros igualmente desejam.

Desde o dia em que vimos a este mundo, competimos. Pela atenção dos pais, pela popularidade dos amigos, pelo reconhecimento dos pares. Em todas as áreas da nossa existência precisaríamos ou gostaríamos de algo que é escasso e que outros igualmente desejam. Competir é uma inevitabilidade e, com ela, vem a possibilidade de perder. É assim com as pessoas, com as organizações e com os países.

Estas reflexões foram-me suscitadas por uma recente entrevista do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Sobre a natureza dos portugueses e a saída da crise, dizia o erudito clérigo já no final da dita entrevista: "A nossa capacidade de sobrevivência é que me dá confiança, não são os nossos picos de êxito". E nestas singelas palavras, cuja veracidade nem sequer discuto, encerra-se o nosso drama coletivo.

Na verdade, a competição em que todos os países estão envolvidos exige muito mais do que capacidade de sobrevivência. A sobrevivência é, naturalmente, uma condição necessária ao sucesso, ao desenvolvimento dos povos, mas está longe de ser uma condição suficiente. Para fazer mais do que sobreviver um país, leia-se os seus cidadãos, tem de fazer mais do que resistir estoicamente às adversidades. Têm de ter a coragem de tomar a iniciativa, a coragem de mudar e de, por vezes, suspender o seu interesse particular em favor do bem comum. Os cidadãos têm de ter mais medo de não ganhar do que medo de perder.

Vem isto a propósito do que significará o Orçamento do Estado para 2014 que se conhecerá amanhã. Será um Orçamento que, pela primeira vez, pretende reduzir o défice público essencialmente através da redução de despesa. As despesas com o pessoal e as prestações socias representaram 84% da despesa primária em 2012, pelo que não há alternativa a cortar nestas duas rubricas, se se quiser realmente atingir as metas de défice que possam criar as condições para recuperar parte da soberania que perdemos, por culpa própria.

Será, como se compreende, um Orçamento que fará apelo, uma vez mais, à nossa capacidade de sofrimento e de sobrevivência. Mas isso só se o Orçamento chegar a ver a luz do dia e se as medidas nele contidas vierem a ser implementadas. Antes disso, o Tribunal Constitucional terá de se pronunciar (será que o Governo já arranjou maneira de explicar aos juízes a gravidade da situação? Será que um ‘default' nos EUA na quarta-feira os ajuda a compreender?). Depois o PS terá de decidir se aceita os pactos trans-legislatura na área fiscal e orçamental, talvez começando por dizer, com clareza, aos portugueses quais as medidas de redução de défice que, efetivamente, defende.

Todos os agentes públicos são convocados à responsabilidade de se posicionarem sobre este Orçamento. Todos saberão que em qualquer competição, são as equipas mais coesas e mais solidárias que vencem. As vitórias coletivas implicam muitas vezes a secundarização do interesse individual. Caso contrário, condenarão o país a fazer uso da sua inegável capacidade de sobrevivência.

Jogar para sobreviver é como jogar para o empate. E isso, como sabemos, é a maneira mais certa de chegar à derrota.

Desde o dia em que vimos a este mundo, competimos. Pela atenção dos pais, pela popularidade dos amigos, pelo reconhecimento dos pares. Em todas as áreas da nossa existência precisaríamos ou gostaríamos de algo que é escasso e que outros igualmente desejam.

Desde o dia em que vimos a este mundo, competimos. Pela atenção dos pais, pela popularidade dos amigos, pelo reconhecimento dos pares. Em todas as áreas da nossa existência precisaríamos ou gostaríamos de algo que é escasso e que outros igualmente desejam. Competir é uma inevitabilidade e, com ela, vem a possibilidade de perder. É assim com as pessoas, com as organizações e com os países.

Estas reflexões foram-me suscitadas por uma recente entrevista do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Sobre a natureza dos portugueses e a saída da crise, dizia o erudito clérigo já no final da dita entrevista: "A nossa capacidade de sobrevivência é que me dá confiança, não são os nossos picos de êxito". E nestas singelas palavras, cuja veracidade nem sequer discuto, encerra-se o nosso drama coletivo.

Na verdade, a competição em que todos os países estão envolvidos exige muito mais do que capacidade de sobrevivência. A sobrevivência é, naturalmente, uma condição necessária ao sucesso, ao desenvolvimento dos povos, mas está longe de ser uma condição suficiente. Para fazer mais do que sobreviver um país, leia-se os seus cidadãos, tem de fazer mais do que resistir estoicamente às adversidades. Têm de ter a coragem de tomar a iniciativa, a coragem de mudar e de, por vezes, suspender o seu interesse particular em favor do bem comum. Os cidadãos têm de ter mais medo de não ganhar do que medo de perder.

Vem isto a propósito do que significará o Orçamento do Estado para 2014 que se conhecerá amanhã. Será um Orçamento que, pela primeira vez, pretende reduzir o défice público essencialmente através da redução de despesa. As despesas com o pessoal e as prestações socias representaram 84% da despesa primária em 2012, pelo que não há alternativa a cortar nestas duas rubricas, se se quiser realmente atingir as metas de défice que possam criar as condições para recuperar parte da soberania que perdemos, por culpa própria.

Será, como se compreende, um Orçamento que fará apelo, uma vez mais, à nossa capacidade de sofrimento e de sobrevivência. Mas isso só se o Orçamento chegar a ver a luz do dia e se as medidas nele contidas vierem a ser implementadas. Antes disso, o Tribunal Constitucional terá de se pronunciar (será que o Governo já arranjou maneira de explicar aos juízes a gravidade da situação? Será que um ‘default' nos EUA na quarta-feira os ajuda a compreender?). Depois o PS terá de decidir se aceita os pactos trans-legislatura na área fiscal e orçamental, talvez começando por dizer, com clareza, aos portugueses quais as medidas de redução de défice que, efetivamente, defende.

Todos os agentes públicos são convocados à responsabilidade de se posicionarem sobre este Orçamento. Todos saberão que em qualquer competição, são as equipas mais coesas e mais solidárias que vencem. As vitórias coletivas implicam muitas vezes a secundarização do interesse individual. Caso contrário, condenarão o país a fazer uso da sua inegável capacidade de sobrevivência.

Jogar para sobreviver é como jogar para o empate. E isso, como sabemos, é a maneira mais certa de chegar à derrota.

marcar artigo