Porque é que ninguém se ri nas fotografias antigas?

18-08-2015
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“Olha o passarinho!”, toda a gente sorri e a imagem de uma felicidade contagiante fica eternizada em papel fotográfico. Ou num ficheiro de imagem no computador. Não é o formato que importa neste caso, mas antes o reflexo: sorrir perante a máquina fotográfica, mesmo sem uma palavra de ordem.

Na semana em que se celebra o Dia da Fotografia (19 de agosto), fomos tentar compreender porque é que nas fotografias do século XIX toda a gente parece atingida pela pior notícia da época. Nenhum sorriso para amostra. Nem sequer Charles Darwin – conhecido não só pelas investigações na área da Biologia, mas também pelo companheirismo com os filhos – deixa escapar um sorriso de soslaio.

A Vox realça quatro motivos principais. O primeiro: os sorrisos eram difíceis de captar. Há três séculos, a tecnologia no ramo da fotografia ainda era muito primitiva. Tirar uma fotografia exigia que a pessoa retratada ficasse imóvel por grandes períodos de tempo, para evitar sombras na imagem. E seria muito desconfortável que alguém ficasse de sorriso aberto por minutos – em alguns casos horas – para cair em graça alheia.

Segunda razão: a técnica fotográfica nasceu influenciada pelas práticas na pintura. Numa grande reportagem escrita pela The Public Domain Review, o autor explica que a falta de um sorriso no rosto pintado permite ao artista criar um ambiente misterioso em redor do sentimento estampado na face. E um bom exemplo dessa ambiguidade está nos lábios de Mona Lisa: está ou não sorrir? E o que significa aquela expressão? São duas dúvidas que causam desconforto, mas que não deixam de ser cativantes. Na fotografia acontece o mesmo.

Terceiro motivo: era também uma questão cultural, conta o Knowledge Nuts. Se agora um sorriso deixa adivinhar uma personalidade extrovertida e sedutora, naquela época apenas os boémios ou os ingénuos se atreviam a lançar um sorriso rasgado para outra pessoa, quanto mais para uma máquina que ia guardar um pouco da sua personalidade para sempre. Tirar uma fotografia era como criar um busto de si próprio. Devia parecer o mais sério, sábio e honrado possível. E nada disto era compatível com um sorriso. A ilustrar esse pensamento está o livro “As Regras do Decoro Cristão e da Civil”, onde se lia:

Algumas pessoas levantam tanto o lábio superior que os seus dentes ficam quase inteiramente visíveis. Isto é inteiramente contraditório com o decoro, que proíbe os dentes de estarem descobertos, já que a natureza nos deu lábios para os esconder.

A quarta razão vem na sequência deste último aspeto. A fotografia era vista como “um passaporte para a morte”. O objetivo não era levar um bocado de um bom momento no bolso – ou no telemóvel, como agora -, mas sim representar uma existência. Nunca uma vivência. Daí que existisse o hábito das imagens post mortem. Se alguém morresse subitamente, vestia-se e posicionava-se essa pessoa para que parecesse ainda estar viva. Assim as gerações vindouras podiam recordar um antepassado. Mesmo que o recordassem já morto.

O que se faz hoje em dia quando não gosta de um sorriso? Apaga-se. Basta carregar no símbolo do caixote de lixo num canto do ecrã e a imagem desaparece sem que ninguém possa recuperar aquele sorriso mal captado. Ora, antigamente não era assim. E já que se ia investir uma boa quantia de dinheiro num objeto imutável e virtualmente eterno, então que não se arriscasse tanto em nome de um simples sorriso. Foi isto que Mark Twain – um desses homens divertidos com fotografias muito carrancudas – explicou, recorda o Atlantic:

“Olha o passarinho!”, toda a gente sorri e a imagem de uma felicidade contagiante fica eternizada em papel fotográfico. Ou num ficheiro de imagem no computador. Não é o formato que importa neste caso, mas antes o reflexo: sorrir perante a máquina fotográfica, mesmo sem uma palavra de ordem.

Na semana em que se celebra o Dia da Fotografia (19 de agosto), fomos tentar compreender porque é que nas fotografias do século XIX toda a gente parece atingida pela pior notícia da época. Nenhum sorriso para amostra. Nem sequer Charles Darwin – conhecido não só pelas investigações na área da Biologia, mas também pelo companheirismo com os filhos – deixa escapar um sorriso de soslaio.

A Vox realça quatro motivos principais. O primeiro: os sorrisos eram difíceis de captar. Há três séculos, a tecnologia no ramo da fotografia ainda era muito primitiva. Tirar uma fotografia exigia que a pessoa retratada ficasse imóvel por grandes períodos de tempo, para evitar sombras na imagem. E seria muito desconfortável que alguém ficasse de sorriso aberto por minutos – em alguns casos horas – para cair em graça alheia.

Segunda razão: a técnica fotográfica nasceu influenciada pelas práticas na pintura. Numa grande reportagem escrita pela The Public Domain Review, o autor explica que a falta de um sorriso no rosto pintado permite ao artista criar um ambiente misterioso em redor do sentimento estampado na face. E um bom exemplo dessa ambiguidade está nos lábios de Mona Lisa: está ou não sorrir? E o que significa aquela expressão? São duas dúvidas que causam desconforto, mas que não deixam de ser cativantes. Na fotografia acontece o mesmo.

Terceiro motivo: era também uma questão cultural, conta o Knowledge Nuts. Se agora um sorriso deixa adivinhar uma personalidade extrovertida e sedutora, naquela época apenas os boémios ou os ingénuos se atreviam a lançar um sorriso rasgado para outra pessoa, quanto mais para uma máquina que ia guardar um pouco da sua personalidade para sempre. Tirar uma fotografia era como criar um busto de si próprio. Devia parecer o mais sério, sábio e honrado possível. E nada disto era compatível com um sorriso. A ilustrar esse pensamento está o livro “As Regras do Decoro Cristão e da Civil”, onde se lia:

Algumas pessoas levantam tanto o lábio superior que os seus dentes ficam quase inteiramente visíveis. Isto é inteiramente contraditório com o decoro, que proíbe os dentes de estarem descobertos, já que a natureza nos deu lábios para os esconder.

A quarta razão vem na sequência deste último aspeto. A fotografia era vista como “um passaporte para a morte”. O objetivo não era levar um bocado de um bom momento no bolso – ou no telemóvel, como agora -, mas sim representar uma existência. Nunca uma vivência. Daí que existisse o hábito das imagens post mortem. Se alguém morresse subitamente, vestia-se e posicionava-se essa pessoa para que parecesse ainda estar viva. Assim as gerações vindouras podiam recordar um antepassado. Mesmo que o recordassem já morto.

O que se faz hoje em dia quando não gosta de um sorriso? Apaga-se. Basta carregar no símbolo do caixote de lixo num canto do ecrã e a imagem desaparece sem que ninguém possa recuperar aquele sorriso mal captado. Ora, antigamente não era assim. E já que se ia investir uma boa quantia de dinheiro num objeto imutável e virtualmente eterno, então que não se arriscasse tanto em nome de um simples sorriso. Foi isto que Mark Twain – um desses homens divertidos com fotografias muito carrancudas – explicou, recorda o Atlantic:

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