Ponto primordial: Já cheguei a detestar o Natal.Ponto segundo: sou tão ateu que chego a desconfiar se “ateu” deveria constar do dicionário. Por isso não atribuo significado a esta coisa do “Natal”.Regresso ao ponto primordial: se digo “já cheguei a detestar”, subentende-se que agora não detesto. Não é bem assim. Continuo a não gostar, mas aquele brilhozinho nos olhos que os míudos trazem lá por casa durante estes dias fazem-me tolerá-lo. Ah, claro! depois há a mesa do jantar chamado “de consoada” que, se formos rigorosos, deveria chamar-se “jantar enfarta-brutos”, porque de ligeira (consoada) tem muito pouco.Abreviando a coisa, que isto hoje é mais dia de filhós e azevias que de conversa mole.Se já consigo tolerar o Natal, e peço, desde já, antecipadamente perdão pela dureza das palavras, há uma puta de uma praga com a qual afino e não encontro maneira de conseguir ultrapassar. É aquela coisa que as pessoas inculcaram no léxico e se tornou na mais espatafúrdia forma de desejar bom natal às outras pessoas. Mudo de linha para explicar.Tome-se como cenário uma rua de qualquer cidade, vila ou aldeia. Rua carregada de luzes e luzinhas, árvores iluminadas e o diabo-a-sete, borrifanço total para as eficiências energéticas e conferências de Copenhaga. Nas paredes ou um estúpido Pai Natal de palha ou lã agarrado a uma corda há 15 dias a tentar entrar por uma janela, ou uma inenarrável tarja bordeaux a anunciar que já nasceu Jesus (pelo que sei é a oposição dos católicos ao capitalismo do pai natal da coca-cola). Dois amigos encontram-se. Ainda ontem se viram, amanhã provavelmente vão encontrar-se de novo. Conversam. A páginas tantas lá vem a puta da praga. Um dos amigos há-de puxar para final de conversa a nefanda praga: “Ah e tal, SE NÃO NOS VIRMOS MAIS, BOM NATAL!”.Confesso que este mau feitio do qual sou portador já me levou muitas vezes a deixar debaixo da língua uma expressão feroz de protesto.“Ah e tal, SE NÃO NOS VIRMOS MAIS, BOM NATAL!”. Bolas!, digo eu aqui após esgotar o plafond de palavras feias.É que isto não se usa para mais nada. Só mesmo nesta altura. Porque ninguém diz: “se não nos virmos mais, bom fim de semana”; “se não nos virmos mais bom resultado para o Benfica”; “se não nos virmos mais boa sorte para o Euromilhões”…É que eu ainda admitia um “se não nos virmos ANTES”. Agora assim…Epá! Não digam isto. Se estão mesmo interessados (e essa é outra questão) em desejar tal coisa à pessoa a quem chamam amigo, porque não só um “BOM NATAL”, podendo acrescentar um “pá” no final: “BOM NATAL PÁ!”. Hum??? Que tal?Vá! vão lá às vossas vidas e se não nos virmos mais, Bom Natal!
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Ponto primordial: Já cheguei a detestar o Natal.Ponto segundo: sou tão ateu que chego a desconfiar se “ateu” deveria constar do dicionário. Por isso não atribuo significado a esta coisa do “Natal”.Regresso ao ponto primordial: se digo “já cheguei a detestar”, subentende-se que agora não detesto. Não é bem assim. Continuo a não gostar, mas aquele brilhozinho nos olhos que os míudos trazem lá por casa durante estes dias fazem-me tolerá-lo. Ah, claro! depois há a mesa do jantar chamado “de consoada” que, se formos rigorosos, deveria chamar-se “jantar enfarta-brutos”, porque de ligeira (consoada) tem muito pouco.Abreviando a coisa, que isto hoje é mais dia de filhós e azevias que de conversa mole.Se já consigo tolerar o Natal, e peço, desde já, antecipadamente perdão pela dureza das palavras, há uma puta de uma praga com a qual afino e não encontro maneira de conseguir ultrapassar. É aquela coisa que as pessoas inculcaram no léxico e se tornou na mais espatafúrdia forma de desejar bom natal às outras pessoas. Mudo de linha para explicar.Tome-se como cenário uma rua de qualquer cidade, vila ou aldeia. Rua carregada de luzes e luzinhas, árvores iluminadas e o diabo-a-sete, borrifanço total para as eficiências energéticas e conferências de Copenhaga. Nas paredes ou um estúpido Pai Natal de palha ou lã agarrado a uma corda há 15 dias a tentar entrar por uma janela, ou uma inenarrável tarja bordeaux a anunciar que já nasceu Jesus (pelo que sei é a oposição dos católicos ao capitalismo do pai natal da coca-cola). Dois amigos encontram-se. Ainda ontem se viram, amanhã provavelmente vão encontrar-se de novo. Conversam. A páginas tantas lá vem a puta da praga. Um dos amigos há-de puxar para final de conversa a nefanda praga: “Ah e tal, SE NÃO NOS VIRMOS MAIS, BOM NATAL!”.Confesso que este mau feitio do qual sou portador já me levou muitas vezes a deixar debaixo da língua uma expressão feroz de protesto.“Ah e tal, SE NÃO NOS VIRMOS MAIS, BOM NATAL!”. Bolas!, digo eu aqui após esgotar o plafond de palavras feias.É que isto não se usa para mais nada. Só mesmo nesta altura. Porque ninguém diz: “se não nos virmos mais, bom fim de semana”; “se não nos virmos mais bom resultado para o Benfica”; “se não nos virmos mais boa sorte para o Euromilhões”…É que eu ainda admitia um “se não nos virmos ANTES”. Agora assim…Epá! Não digam isto. Se estão mesmo interessados (e essa é outra questão) em desejar tal coisa à pessoa a quem chamam amigo, porque não só um “BOM NATAL”, podendo acrescentar um “pá” no final: “BOM NATAL PÁ!”. Hum??? Que tal?Vá! vão lá às vossas vidas e se não nos virmos mais, Bom Natal!