Senadores socialistas arrasam Seguro e Alberto Martins

06-10-2015
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O primeiro foi Ferro Rodrigues, seguiram-se-lhe Jorge Lacão, Vieira da Silva, Alberto Costa, numa lista que foi crescendo com intervenções de deputados socialistas contra a proposta apresentada por António José Seguro para reduzir para 181 o número de deputados na Assembleia da República. A reunião do grupo parlamentar do PS, durante a manhã, ficou marcada por uma "esmagadora maioria" (nas palavras de Lacão) de vozes contra, todas de deputados apoiantes de António Costa, que destruíram tanto a forma como o conteúdo da iniciativa assinada por Seguro e pelo líder parlamentar Alberto Martins - uma proposta de deliberação (não uma proposta de lei) para que o Parlamento abra uma discussão sobre a reforma da lei eleitoral, avançando como ponto de partida a tal redução para 181 cadeiras.

Ferro Rodrigues, numa intervenção classificada por quem assistiu como "duríssima", que "arrasou por completo" a proposta de Seguro, disse mesmo que esta é uma "vergonha". Também Alberto Costa usou essa expressão: disse que a iniciativa de Seguro "envergonha" o PS e os socialistas, e é "um exercício não sério", pois não visa mudar, de facto, o sistema eleitoral, mas ser usada como trunfo na disputa interna do PS. "Os passos dados agora têm de voltar atrás", vaticinou Alberto Costa, considerando que a proposta de Seguro é "fictícia".

Ferro Rodrigues, por seu lado, lembrou a responsabilidade do PS como partido fundador da democracia e considerou "de democraticidade duvidosa" que sejam feitas propostas sobre um tema tão importante sem antes serem ouvidos os deputados ou a direção do PS. Mais: Ferro questionou que Alberto Martins tenha agendado na quarta-feira, na conferência de líderes, um debate potestativo para dia 1 de outubro, precisamente sobre esta proposta. O ex-líder socialista colocou a questão que muitos têm colocado: se a iniciativa começou por ser assinada como sendo apenas de dois deputados (ainda que sejam o secretário-geral e o líder parlamentar do PS), como é que pode ser marcado um agendamento potestativo em nome do partido? Ferro, que é vice-presidente da AR, assumiu o incómodo que sentiu ao assistir a essa iniciativa do líder parlamentar na conferência de líderes e confessou que só não a questionou logo ali para não dar "trunfos ao adversário".

Jorge Lacão, outro dos que pediram a palavra para arrasar de alto a baixo esta iniciativa, foi duríssimo com Martins, afirmando que este não tinha legitimidade para assumir esse agendamento potestativo. Chamou mesmo a Alberto Martins "núncio do secretário-geral", considerando que agiu sem legitimidade, "a mando" de Seguro, violando a obrigação de discutir previamente o assunto com os deputados.

A esta crítica, Martins respondeu - e reafirmou à saída, aos jornalistas - que agiu com a "legitimidade do líder parlamentar". Segundo explicou, a proposta, que era de dois deputados, passou a ser do PS "no momento em que o presidente do grupo parlamentar a apresentou em conferência de líderes".

O deputado no lixo e Marinho Pinto

Ferro, Lacão, Alberto Costa, José Vieira da Silva, mas também Isabel Moreira, José Lello, Pedro Delgado Alves, Fernando Serrasqueiro, Miranda Calha e Vitalino Canas, além de criticarem o processo, demarcaram-se do (pouco) conteúdo da proposta. A ideia de reduzir o Parlamento a 181 deputados foi classificada como "populista", "oportunista" e "demagógica", apenas para procurar popularidade fácil em véspera de diretas.

Ferro Rodrigues fez mesmo um paralelo com o que se passou na Ucrânia, onde um deputado foi deitado no caixote do lixo por manifestantes, para avisar que não entrará num processo de degradação da imagem dos políticos.

Vieira da Silva, noutra intervenção muito dura, avisou que a proposta de Seguro tinha um único objetivo, ligado com a disputa interna: "receio que", disse Vieira da Silva, a intenção seja provocar a reação contra dos apoiantes de António Costa, para depois o secretário-geral poder queixar-se de que tem de viver com a oposição constante de uma parte do seu grupo parlamentar, apresentando-se ainda como o homem que quer mudar o sistema, mesmo contra uma parte da sua bancada parlamentar.

A dar razão a Vieira da Silva, ainda a reunião decorria e já um apoiante de Seguro, Nuno Sá, dizia aos jornalistas que tinha ficado claro, no debate, a atitude "ácida" da oposição interna. E, no interior da sala, José Magalhães, um dos dois apoiantes de Seguro que pediram a palavra (o outro foi Pita Ameixa), frisou que "este é um debate que a direita não quer, que esquerda também não, e uma parte significativa dos deputados do PS também não". E daí retirou uma conclusão: "Fica claro quem quer dar espaço a Marinhos Pinto", por não querer mexer no sistema político.

Reunião da Comissão Política

A reunião ficou ainda marcada por uma proposta de Jorge Lacão para que a iniciativa de Seguro fosse ali votada. Uma proposta recusada por Alberto Martins, que adotou, em alternativa, uma sugestão que tinha sido deixada por Pita Ameixa: uma reunião da Comissão Política para "aprofundar a discussão" sobre este assunto. Segundo disse aos deputados, o líder parlamentar irá propor a Seguro que essa reunião aconteça antes de 1 de outubro, o dia do debate parlamentar - mas não antes de 28 de setembro, o dia das diretas.

[artigo atualizado às 14h07]

O primeiro foi Ferro Rodrigues, seguiram-se-lhe Jorge Lacão, Vieira da Silva, Alberto Costa, numa lista que foi crescendo com intervenções de deputados socialistas contra a proposta apresentada por António José Seguro para reduzir para 181 o número de deputados na Assembleia da República. A reunião do grupo parlamentar do PS, durante a manhã, ficou marcada por uma "esmagadora maioria" (nas palavras de Lacão) de vozes contra, todas de deputados apoiantes de António Costa, que destruíram tanto a forma como o conteúdo da iniciativa assinada por Seguro e pelo líder parlamentar Alberto Martins - uma proposta de deliberação (não uma proposta de lei) para que o Parlamento abra uma discussão sobre a reforma da lei eleitoral, avançando como ponto de partida a tal redução para 181 cadeiras.

Ferro Rodrigues, numa intervenção classificada por quem assistiu como "duríssima", que "arrasou por completo" a proposta de Seguro, disse mesmo que esta é uma "vergonha". Também Alberto Costa usou essa expressão: disse que a iniciativa de Seguro "envergonha" o PS e os socialistas, e é "um exercício não sério", pois não visa mudar, de facto, o sistema eleitoral, mas ser usada como trunfo na disputa interna do PS. "Os passos dados agora têm de voltar atrás", vaticinou Alberto Costa, considerando que a proposta de Seguro é "fictícia".

Ferro Rodrigues, por seu lado, lembrou a responsabilidade do PS como partido fundador da democracia e considerou "de democraticidade duvidosa" que sejam feitas propostas sobre um tema tão importante sem antes serem ouvidos os deputados ou a direção do PS. Mais: Ferro questionou que Alberto Martins tenha agendado na quarta-feira, na conferência de líderes, um debate potestativo para dia 1 de outubro, precisamente sobre esta proposta. O ex-líder socialista colocou a questão que muitos têm colocado: se a iniciativa começou por ser assinada como sendo apenas de dois deputados (ainda que sejam o secretário-geral e o líder parlamentar do PS), como é que pode ser marcado um agendamento potestativo em nome do partido? Ferro, que é vice-presidente da AR, assumiu o incómodo que sentiu ao assistir a essa iniciativa do líder parlamentar na conferência de líderes e confessou que só não a questionou logo ali para não dar "trunfos ao adversário".

Jorge Lacão, outro dos que pediram a palavra para arrasar de alto a baixo esta iniciativa, foi duríssimo com Martins, afirmando que este não tinha legitimidade para assumir esse agendamento potestativo. Chamou mesmo a Alberto Martins "núncio do secretário-geral", considerando que agiu sem legitimidade, "a mando" de Seguro, violando a obrigação de discutir previamente o assunto com os deputados.

A esta crítica, Martins respondeu - e reafirmou à saída, aos jornalistas - que agiu com a "legitimidade do líder parlamentar". Segundo explicou, a proposta, que era de dois deputados, passou a ser do PS "no momento em que o presidente do grupo parlamentar a apresentou em conferência de líderes".

O deputado no lixo e Marinho Pinto

Ferro, Lacão, Alberto Costa, José Vieira da Silva, mas também Isabel Moreira, José Lello, Pedro Delgado Alves, Fernando Serrasqueiro, Miranda Calha e Vitalino Canas, além de criticarem o processo, demarcaram-se do (pouco) conteúdo da proposta. A ideia de reduzir o Parlamento a 181 deputados foi classificada como "populista", "oportunista" e "demagógica", apenas para procurar popularidade fácil em véspera de diretas.

Ferro Rodrigues fez mesmo um paralelo com o que se passou na Ucrânia, onde um deputado foi deitado no caixote do lixo por manifestantes, para avisar que não entrará num processo de degradação da imagem dos políticos.

Vieira da Silva, noutra intervenção muito dura, avisou que a proposta de Seguro tinha um único objetivo, ligado com a disputa interna: "receio que", disse Vieira da Silva, a intenção seja provocar a reação contra dos apoiantes de António Costa, para depois o secretário-geral poder queixar-se de que tem de viver com a oposição constante de uma parte do seu grupo parlamentar, apresentando-se ainda como o homem que quer mudar o sistema, mesmo contra uma parte da sua bancada parlamentar.

A dar razão a Vieira da Silva, ainda a reunião decorria e já um apoiante de Seguro, Nuno Sá, dizia aos jornalistas que tinha ficado claro, no debate, a atitude "ácida" da oposição interna. E, no interior da sala, José Magalhães, um dos dois apoiantes de Seguro que pediram a palavra (o outro foi Pita Ameixa), frisou que "este é um debate que a direita não quer, que esquerda também não, e uma parte significativa dos deputados do PS também não". E daí retirou uma conclusão: "Fica claro quem quer dar espaço a Marinhos Pinto", por não querer mexer no sistema político.

Reunião da Comissão Política

A reunião ficou ainda marcada por uma proposta de Jorge Lacão para que a iniciativa de Seguro fosse ali votada. Uma proposta recusada por Alberto Martins, que adotou, em alternativa, uma sugestão que tinha sido deixada por Pita Ameixa: uma reunião da Comissão Política para "aprofundar a discussão" sobre este assunto. Segundo disse aos deputados, o líder parlamentar irá propor a Seguro que essa reunião aconteça antes de 1 de outubro, o dia do debate parlamentar - mas não antes de 28 de setembro, o dia das diretas.

[artigo atualizado às 14h07]

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