Manuel Alegre

25-11-2014
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"Manuel Alegre, candidato a líder do PS, garante que só uma situação de emergência no País e no PS o fez entrar na corrida à liderança do partido. Não poupa críticas a José Sócrates, a quem acusa de estar demasiado preocupado com o “politicamente correcto”. Lamenta não ter chegado a acordo com João Soares, mas garante que vai até ao fim. Mostra-se também preocupado com o risco de as eleições internas não serem inteiramente justas e promete manter-se atento.

Jorge Godinho

Correio da Manhã – O que o levou a avançar para este desafio nesta altura da sua vida?

Manuel Alegre – Nunca foi um projecto de vida meu. Foi uma emergência, pela situação do País, da própria democracia e do PS e também, não vou ser hipócrita, pela candidatura do meu camarada José Sócrates, que, em meu entender, deslocou muito o partido e criou um vazio em que muita gente não se sente representada. A candidatura de João Soares já estava anunciada, mas era alternativa a Ferro Rodrigues. As pessoas que estiveram com Ferro, ainda que se situem na área política de João Soares, acham que ele não é suficientemente congregador. Creio que o meu camarada Sócrates, com quem não tenho nenhuma questão pessoal, não tem consistência nem experiência políticas para poder travar um combate destes numa altura destas. Foi até a minha filha mais nova que me disse: ‘pai não podes negar o sentido da tua vida’.

– Afirmou que nesta eleição está em causa a própria ideia do PS, o que quer dizer?

– Está em causa o papel do PS não apenas como partido de alternância, mas como um partido alternativo. Uma das coisas que degrada a democracia é as pessoas votarem pela mudança e depois afinal ficar tudo na mesma. Quem vota do PS espera algo de diferente, não apenas no estilo mas no conteúdo das políticas. Sobretudo no conteúdo das políticas sociais, que é o que faz a diferença.

– E que alternativa é essa que José Sócrates não pode protagonizar?

– Essa alternativa tem de ser um novo conceito de Estado estratega. Nós aceitamos a economia de mercado, mas o Estado deve ser promotor de serviços públicos que permitem a consolidação das políticas sociais. E deve fazer mudar aquilo que realmente faz mudar: a cultura, a educação, a qualificação das pessoas. Nós somos pela economia de mercado, mas não somos neoliberais. O PS não pode confundir-se com um partido conservador.

– E acha que José Sócrates vai levar o partido por esse caminho?

– Não o levaria inteiramente. Não vou dizer que Santana Lopes é igual a José Sócrates. São personalidades distintas, mas nas entrevistas que vi até agora, acho que ele tem a preocupação do politicamente correcto, da imagem, uma preocupação de não chocar.

– O chamado socialismo moderado?

– Eu sou um socialista moderado. Eu sou daqueles que em 1975, com o meu camarada Mário Soares, me opus à deriva totalitária da nossa Revolução. Fomos nós que garantimos a liberdade e a democracia. Isso é ser moderado. Ele diz que é um socialista moderno, mas o que é que isso quer dizer? Depois da queda do muro de Berlim e do colapso da União Soviética houve uma grande oportunidade histórica para os partidos socialistas, mas eles não criaram políticas alternativas e em muitos países europeus abriu-se o caminho a correntes populistas de direita. A globalização avançou muito depressa e os socialistas deixaram-se colonizar pelo neoliberalismo. É preciso fazer a diferença.

– É a sua longa carreira política que vai utilizar como principal argumento junto dos militantes?

– Os militantes sabem que eu não me candidato por mim. Sabem que estou a fazê-lo por uma certa ideia do PS, pelo País e pela democracia. Sabem que estou a fazer neste momento um sacrifício a todos os pontos de vista e eu, quando travo um combate travo-o com gosto, não vou a feijões. Eles conhecem a minha experiência política que vem da resistência e dos combates pela liberdade já depois do 25 de Abril.

– Se vencer as eleições será candidato a primeiro-ministro?

– Eu assumo todas as responsabilidades de acordo com a vontade do partido, embora eu ache que se deva fazer uma reflexão sobre isso. Se ganhar as eleições, conduzirei a batalha contra Pedro Santana Lopes. Nós não podemos entrar num excesso de personalização da política. Os primeiros-ministros não são eleitos nos congressos, nem sequer nas eleições para deputados. Por isso é que Santana Lopes é primeiro-ministro. Um primeiro-ministro que não é líder partidário evita, por exemplo, a governamentalização do partido pelo Governo e permite que o partido mantenha uma certa independência crítica em relação ao Governo.

– Já tinha dito que não era candidato a secretário-geral, que não era candidato a primeiro-ministro... que outras surpresas podemos esperar? Uma candidatura à presidência da República?

– Nós nem sempre escolhemos a nossa vida. Se há um ano atrás me tivesse perguntado eu jurava-lhe sobre a Bíblia que não era candidato a secretário-geral. Eu já não digo mais nada, porque fui colocado em circunstância de tal ordem que não ficaria bem comigo mesmo se dissesse que não aos meus camaradas. Eu recebi telefonemas de pessoas a chorar. Tenho pessoas que oferecem as férias para a minha candidatura. Já não digo que não a mais nada. O que digo é que não é obrigatório que o líder do partido seja candidato a primeiro-ministro. O engenheiro José Sócrates não gosta que se diga, mas na candidatura dele também há pessoas com muito melhor perfil para candidato a primeiro-ministro, como António Vitorino ou Jaime Gama.

– Mas não estaria a minimizar o papel dos militantes?

– Bem, estas eleições vão servir também como um teste ao PS para percebermos que partido é que temos. Há as estruturas dirigentes, mas depois há 75 mil militantes e essa é a minha preocupação. Quantos é que vão votar? Oiço dizer neste momento que só oito mil é que pagaram as quotas, mesmo que sejam 20 mil não pode ser. Temos de encontrar maneira para que vão votar em massa, senão não haverá uma genuína expressão da vontade democrática do partido.

E também acho muito estranho outra coisa. Como é que, de repente, todas as estruturas partidárias aparecem a apoiar um candidato? Ele diz que não preparou nada, mas toda a gente sabe que, pelo menos alguém por ele andou a preparar a candidatura.

– Está com medo de que as eleições não sejam justas?

– Ainda há pouco falei com João Soares porque nós temos preocupações quanto à forma como é feito ou não o pagamento das quotas dos militantes. Em congressos distritais anteriores, sobretudo numa determinada região, houve pessoas que andaram a pagar as quotas dos militantes por eles e isso não pode ser. Vamos estar atentos. Não estou a responsabilizar pessoalmente José Sócrates. Acho que ele tem todo o interesse em disputar isto com transparência e clareza, mas também há muita gente que não alinha com ele por convicção, alinha porque pensa que ele vai ganhar.

– Já disse que com José Sócrates o partido dará uma guinada de 180º à direita, aconteceu o mesmo com António Guterres?

– Não. O engenheiro José Sócrates veio da JSD, o que não é pecado nenhum, muitos de nós viemos de outros caminhos, eu e Mário Soares também andámos pelos comunistas... Mas António Guterres é um homem que tinha escola do partido, fez toda a sua formação política no PS desde 74/75. Veio dos meios sociais católicos, tinha uma sensibilidade social muito autêntica. Era um homem mais dialogante, mais aberto, muito mais formado. Era muito jovem mas participou na batalha pela democracia, lembro-me de andar comigo a colar cartazes.

– Por que é tão crítico em relação a José Sócrates e não a João Soares?

– João Soares é da minha família política. É filho de um dos meus melhores amigos. Já o meu avô andou nas lutas pela república com o avô dele.

– Então o que os distingue nesta candidatura?

– Primeiro, ele apresentou a candidatura contra Ferro Rodrigues e eu estava com ele. Depois constatei que muitas das pessoas que me apoiam não se reviam na candidatura dele, não era suficientemente apelativa e abrangente e isso a culpa não é minha. Agora, a ideia de partido e algumas concepções fundamentais do socialismo democrático as diferenças não são abissais.

– Desistir está fora de questão?

– Está fora de questão.

– Mas indo os dois a votos, não estão a dar vantagem a José Sócrates?

– De certa maneira sim, mas, como diria António Guterres, é a vida. Houve uma tentativa de chegarmos a acordo. Falámos diversas vezes, mas ele mantém o propósito de levar a candidatura até ao fim e tem mérito nisso. Temos afinidades quanto à ideia de partido, vamos ver depois no Congresso. Agora a votos vamos separados com certeza.

– Se não vencer está disponível para trabalhar com João Soares ou José Sócrates?

– Com João Soares com certeza. Com José Sócrates depende. Depende de como correr o congresso. Ele já deve ter percebido que não congregou figuras fundamentais do PS, além de mim. Não vou abdicar das minhas ideias. E vou meditar muito, a minha vida tem de ter um sentido, não vou dar a minha caução a um partido desvirtuado.

'FERRO SERIA MELHOR PRIMEIRO-MINISTRO QUE LÍDER DA OPOSIÇÃO'

Manuel Alegre ainda lamenta a demissão de Ferro Rodrigues da liderança do partido e garante que estaria ao seu lado até hoje. “Estive com ele e estaria até ao fim”, afirma, “estou convencido de que seria melhor primeiro-ministro do que foi líder da oposição”.

Embora reconheça que o ex-secretário-geral do PS “afunilou” o partido e não fez a reforma necessária do sistema, considera que Ferro Rodrigues “foi um bom ministro e como primeiro-ministro marcaria a diferença”. Algo que, em sua opinião, não é inédito na política portuguesa. “Há pessoas que se revelam melhores primeiros-ministros que líderes partidários. Durão Barroso, por exemplo, ou o próprio Cavaco Silva”.

Por isso mesmo mostra-se satisfeito com o apoio dos chamados “ferristas”. Um grupo que se uniu para apresentar apenas uma moção ao congresso, marcado para o início de Outubro, e que acabou por apoiar a sua candidatura. Desse grupo faziam parte Paulo Pedroso e Vieira da Silva, mas nem um nem outro surgiu a seu lado.

Manuel Alegre justifica a ausência de Paulo Pedroso com a necessidade de o deputado passar agora por uma fase mais discreta na sua carreira política devido ao processo da Casa Pia. Já Vieira da Silva, o candidato lembra que é um dos responsáveis pela organização do Congresso, “é natural que queira manter a sua independência”.

CM-3 de Agosto 2004

"Manuel Alegre, candidato a líder do PS, garante que só uma situação de emergência no País e no PS o fez entrar na corrida à liderança do partido. Não poupa críticas a José Sócrates, a quem acusa de estar demasiado preocupado com o “politicamente correcto”. Lamenta não ter chegado a acordo com João Soares, mas garante que vai até ao fim. Mostra-se também preocupado com o risco de as eleições internas não serem inteiramente justas e promete manter-se atento.

Jorge Godinho

Correio da Manhã – O que o levou a avançar para este desafio nesta altura da sua vida?

Manuel Alegre – Nunca foi um projecto de vida meu. Foi uma emergência, pela situação do País, da própria democracia e do PS e também, não vou ser hipócrita, pela candidatura do meu camarada José Sócrates, que, em meu entender, deslocou muito o partido e criou um vazio em que muita gente não se sente representada. A candidatura de João Soares já estava anunciada, mas era alternativa a Ferro Rodrigues. As pessoas que estiveram com Ferro, ainda que se situem na área política de João Soares, acham que ele não é suficientemente congregador. Creio que o meu camarada Sócrates, com quem não tenho nenhuma questão pessoal, não tem consistência nem experiência políticas para poder travar um combate destes numa altura destas. Foi até a minha filha mais nova que me disse: ‘pai não podes negar o sentido da tua vida’.

– Afirmou que nesta eleição está em causa a própria ideia do PS, o que quer dizer?

– Está em causa o papel do PS não apenas como partido de alternância, mas como um partido alternativo. Uma das coisas que degrada a democracia é as pessoas votarem pela mudança e depois afinal ficar tudo na mesma. Quem vota do PS espera algo de diferente, não apenas no estilo mas no conteúdo das políticas. Sobretudo no conteúdo das políticas sociais, que é o que faz a diferença.

– E que alternativa é essa que José Sócrates não pode protagonizar?

– Essa alternativa tem de ser um novo conceito de Estado estratega. Nós aceitamos a economia de mercado, mas o Estado deve ser promotor de serviços públicos que permitem a consolidação das políticas sociais. E deve fazer mudar aquilo que realmente faz mudar: a cultura, a educação, a qualificação das pessoas. Nós somos pela economia de mercado, mas não somos neoliberais. O PS não pode confundir-se com um partido conservador.

– E acha que José Sócrates vai levar o partido por esse caminho?

– Não o levaria inteiramente. Não vou dizer que Santana Lopes é igual a José Sócrates. São personalidades distintas, mas nas entrevistas que vi até agora, acho que ele tem a preocupação do politicamente correcto, da imagem, uma preocupação de não chocar.

– O chamado socialismo moderado?

– Eu sou um socialista moderado. Eu sou daqueles que em 1975, com o meu camarada Mário Soares, me opus à deriva totalitária da nossa Revolução. Fomos nós que garantimos a liberdade e a democracia. Isso é ser moderado. Ele diz que é um socialista moderno, mas o que é que isso quer dizer? Depois da queda do muro de Berlim e do colapso da União Soviética houve uma grande oportunidade histórica para os partidos socialistas, mas eles não criaram políticas alternativas e em muitos países europeus abriu-se o caminho a correntes populistas de direita. A globalização avançou muito depressa e os socialistas deixaram-se colonizar pelo neoliberalismo. É preciso fazer a diferença.

– É a sua longa carreira política que vai utilizar como principal argumento junto dos militantes?

– Os militantes sabem que eu não me candidato por mim. Sabem que estou a fazê-lo por uma certa ideia do PS, pelo País e pela democracia. Sabem que estou a fazer neste momento um sacrifício a todos os pontos de vista e eu, quando travo um combate travo-o com gosto, não vou a feijões. Eles conhecem a minha experiência política que vem da resistência e dos combates pela liberdade já depois do 25 de Abril.

– Se vencer as eleições será candidato a primeiro-ministro?

– Eu assumo todas as responsabilidades de acordo com a vontade do partido, embora eu ache que se deva fazer uma reflexão sobre isso. Se ganhar as eleições, conduzirei a batalha contra Pedro Santana Lopes. Nós não podemos entrar num excesso de personalização da política. Os primeiros-ministros não são eleitos nos congressos, nem sequer nas eleições para deputados. Por isso é que Santana Lopes é primeiro-ministro. Um primeiro-ministro que não é líder partidário evita, por exemplo, a governamentalização do partido pelo Governo e permite que o partido mantenha uma certa independência crítica em relação ao Governo.

– Já tinha dito que não era candidato a secretário-geral, que não era candidato a primeiro-ministro... que outras surpresas podemos esperar? Uma candidatura à presidência da República?

– Nós nem sempre escolhemos a nossa vida. Se há um ano atrás me tivesse perguntado eu jurava-lhe sobre a Bíblia que não era candidato a secretário-geral. Eu já não digo mais nada, porque fui colocado em circunstância de tal ordem que não ficaria bem comigo mesmo se dissesse que não aos meus camaradas. Eu recebi telefonemas de pessoas a chorar. Tenho pessoas que oferecem as férias para a minha candidatura. Já não digo que não a mais nada. O que digo é que não é obrigatório que o líder do partido seja candidato a primeiro-ministro. O engenheiro José Sócrates não gosta que se diga, mas na candidatura dele também há pessoas com muito melhor perfil para candidato a primeiro-ministro, como António Vitorino ou Jaime Gama.

– Mas não estaria a minimizar o papel dos militantes?

– Bem, estas eleições vão servir também como um teste ao PS para percebermos que partido é que temos. Há as estruturas dirigentes, mas depois há 75 mil militantes e essa é a minha preocupação. Quantos é que vão votar? Oiço dizer neste momento que só oito mil é que pagaram as quotas, mesmo que sejam 20 mil não pode ser. Temos de encontrar maneira para que vão votar em massa, senão não haverá uma genuína expressão da vontade democrática do partido.

E também acho muito estranho outra coisa. Como é que, de repente, todas as estruturas partidárias aparecem a apoiar um candidato? Ele diz que não preparou nada, mas toda a gente sabe que, pelo menos alguém por ele andou a preparar a candidatura.

– Está com medo de que as eleições não sejam justas?

– Ainda há pouco falei com João Soares porque nós temos preocupações quanto à forma como é feito ou não o pagamento das quotas dos militantes. Em congressos distritais anteriores, sobretudo numa determinada região, houve pessoas que andaram a pagar as quotas dos militantes por eles e isso não pode ser. Vamos estar atentos. Não estou a responsabilizar pessoalmente José Sócrates. Acho que ele tem todo o interesse em disputar isto com transparência e clareza, mas também há muita gente que não alinha com ele por convicção, alinha porque pensa que ele vai ganhar.

– Já disse que com José Sócrates o partido dará uma guinada de 180º à direita, aconteceu o mesmo com António Guterres?

– Não. O engenheiro José Sócrates veio da JSD, o que não é pecado nenhum, muitos de nós viemos de outros caminhos, eu e Mário Soares também andámos pelos comunistas... Mas António Guterres é um homem que tinha escola do partido, fez toda a sua formação política no PS desde 74/75. Veio dos meios sociais católicos, tinha uma sensibilidade social muito autêntica. Era um homem mais dialogante, mais aberto, muito mais formado. Era muito jovem mas participou na batalha pela democracia, lembro-me de andar comigo a colar cartazes.

– Por que é tão crítico em relação a José Sócrates e não a João Soares?

– João Soares é da minha família política. É filho de um dos meus melhores amigos. Já o meu avô andou nas lutas pela república com o avô dele.

– Então o que os distingue nesta candidatura?

– Primeiro, ele apresentou a candidatura contra Ferro Rodrigues e eu estava com ele. Depois constatei que muitas das pessoas que me apoiam não se reviam na candidatura dele, não era suficientemente apelativa e abrangente e isso a culpa não é minha. Agora, a ideia de partido e algumas concepções fundamentais do socialismo democrático as diferenças não são abissais.

– Desistir está fora de questão?

– Está fora de questão.

– Mas indo os dois a votos, não estão a dar vantagem a José Sócrates?

– De certa maneira sim, mas, como diria António Guterres, é a vida. Houve uma tentativa de chegarmos a acordo. Falámos diversas vezes, mas ele mantém o propósito de levar a candidatura até ao fim e tem mérito nisso. Temos afinidades quanto à ideia de partido, vamos ver depois no Congresso. Agora a votos vamos separados com certeza.

– Se não vencer está disponível para trabalhar com João Soares ou José Sócrates?

– Com João Soares com certeza. Com José Sócrates depende. Depende de como correr o congresso. Ele já deve ter percebido que não congregou figuras fundamentais do PS, além de mim. Não vou abdicar das minhas ideias. E vou meditar muito, a minha vida tem de ter um sentido, não vou dar a minha caução a um partido desvirtuado.

'FERRO SERIA MELHOR PRIMEIRO-MINISTRO QUE LÍDER DA OPOSIÇÃO'

Manuel Alegre ainda lamenta a demissão de Ferro Rodrigues da liderança do partido e garante que estaria ao seu lado até hoje. “Estive com ele e estaria até ao fim”, afirma, “estou convencido de que seria melhor primeiro-ministro do que foi líder da oposição”.

Embora reconheça que o ex-secretário-geral do PS “afunilou” o partido e não fez a reforma necessária do sistema, considera que Ferro Rodrigues “foi um bom ministro e como primeiro-ministro marcaria a diferença”. Algo que, em sua opinião, não é inédito na política portuguesa. “Há pessoas que se revelam melhores primeiros-ministros que líderes partidários. Durão Barroso, por exemplo, ou o próprio Cavaco Silva”.

Por isso mesmo mostra-se satisfeito com o apoio dos chamados “ferristas”. Um grupo que se uniu para apresentar apenas uma moção ao congresso, marcado para o início de Outubro, e que acabou por apoiar a sua candidatura. Desse grupo faziam parte Paulo Pedroso e Vieira da Silva, mas nem um nem outro surgiu a seu lado.

Manuel Alegre justifica a ausência de Paulo Pedroso com a necessidade de o deputado passar agora por uma fase mais discreta na sua carreira política devido ao processo da Casa Pia. Já Vieira da Silva, o candidato lembra que é um dos responsáveis pela organização do Congresso, “é natural que queira manter a sua independência”.

CM-3 de Agosto 2004

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