A Ágora

01-07-2011
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Schwarzenbach em UkhaidirEntre os autores dos obras de viagens de que falei há dias destaca-se Annemarie Schwarzenbach, a viajante suíça que passou pelo Europa Central, em tempos de ascensão do nazismo, pelo Médio Oriente anterior aos nacionalismos, e pelos Estados Unidos da Grande Depressão. Pelo meio também esteve em Portugal nos primórdios do Estado Novo.O CCB organizou há não muito tempo uma exposição do seu legado fotográfico, onde constam as paragens atrás descritas. Dela constavam tanto fotografias da autora como com a própria. Annemarie surge quase sempre com ar melancólico, como se as suas inúmeras viagens lhe atribuíssem um eterno estatuto de exilada da Suíça, que tão pequena e pacata era para si. O seu ar andrógino mas belo (não tinha reparado devidamente no seu rosto, que recorda, por exemplo, Cate Blanchett) distinguiam-na como um ser único, sem contar com a sua queda pela exploração de terras exóticas, prática tão pouco comum às mulheres da altura e de agora...No Médio Oriente circulou entre a Mesopotâmia e a Pérsia, descobrindo e dando a descobrir aos europeus imagens que eles só conheciam dos relatos dos seus antepassados. Através das suas fotografias e dos seus artigos, recordou de novo paragens esquecidas ou desconhecidas. Entre elas contava-se a fortaleza-palácio de Ukhaidir, ou Ukhaidar, no coração do Iraque, uma enorme construção do século VII, isto é, dos tempos de maior expansão do Islão e do surgimento do Califado dos Abássidas, de Bagdad. Tinha como objectivo não só a de protecção de eventuais perigos como também de caravançarai, ou paragem para viajantes.A imagem da fortaleza, num território inóspito e deserto, impressiona pela sua grandiosidade e dimensão. Dir-se-ia que aterrou ali de repente, atirado por Alá qual Kaaba iraquiana. A UNESCO classificou-a como património da Humanidade aqui há uns anos, ainda em tempos de Saddam, mas inexplicavelmente, ou talvez por o Iraque ser um destino tão recomendável pela sua segurança como a África do Sul, os registos que se encontram, mesmo na net (e na Wikipedia) são mais que escassos. Será um local obscuro para a grande maioria das pessoas, e seria também para mim caso não tivesse visto a sua imagem a ocre e branco, tirada nos anos trinta, surgido do nada.A importância dos exploradores é também essa: registar para a posteridade locais e situações que no futuro, mesmo como novas tecnologias, dificilmente se poderiam descortinar. No caso do Iraque, por causa da sua situação política e social. As fotos e os artigos, chegando até aos nossos dias, encarregaram-se de os testemunharSchwarzembach assistiu aos grande fenómenos sociais do seu tempo, ainda se casou (e separou), ainda passou por África, antes de regressar à Suíça, já com a 2ª Guerra em marcha. Morreu aos 34 anos, nos anos da Guerra, ela, que tinha percorrido paragens tão inóspitas e perigosas, na neutral Suíça, de ferimentos resultantes de uma queda de bicicleta.


Schwarzenbach em UkhaidirEntre os autores dos obras de viagens de que falei há dias destaca-se Annemarie Schwarzenbach, a viajante suíça que passou pelo Europa Central, em tempos de ascensão do nazismo, pelo Médio Oriente anterior aos nacionalismos, e pelos Estados Unidos da Grande Depressão. Pelo meio também esteve em Portugal nos primórdios do Estado Novo.O CCB organizou há não muito tempo uma exposição do seu legado fotográfico, onde constam as paragens atrás descritas. Dela constavam tanto fotografias da autora como com a própria. Annemarie surge quase sempre com ar melancólico, como se as suas inúmeras viagens lhe atribuíssem um eterno estatuto de exilada da Suíça, que tão pequena e pacata era para si. O seu ar andrógino mas belo (não tinha reparado devidamente no seu rosto, que recorda, por exemplo, Cate Blanchett) distinguiam-na como um ser único, sem contar com a sua queda pela exploração de terras exóticas, prática tão pouco comum às mulheres da altura e de agora...No Médio Oriente circulou entre a Mesopotâmia e a Pérsia, descobrindo e dando a descobrir aos europeus imagens que eles só conheciam dos relatos dos seus antepassados. Através das suas fotografias e dos seus artigos, recordou de novo paragens esquecidas ou desconhecidas. Entre elas contava-se a fortaleza-palácio de Ukhaidir, ou Ukhaidar, no coração do Iraque, uma enorme construção do século VII, isto é, dos tempos de maior expansão do Islão e do surgimento do Califado dos Abássidas, de Bagdad. Tinha como objectivo não só a de protecção de eventuais perigos como também de caravançarai, ou paragem para viajantes.A imagem da fortaleza, num território inóspito e deserto, impressiona pela sua grandiosidade e dimensão. Dir-se-ia que aterrou ali de repente, atirado por Alá qual Kaaba iraquiana. A UNESCO classificou-a como património da Humanidade aqui há uns anos, ainda em tempos de Saddam, mas inexplicavelmente, ou talvez por o Iraque ser um destino tão recomendável pela sua segurança como a África do Sul, os registos que se encontram, mesmo na net (e na Wikipedia) são mais que escassos. Será um local obscuro para a grande maioria das pessoas, e seria também para mim caso não tivesse visto a sua imagem a ocre e branco, tirada nos anos trinta, surgido do nada.A importância dos exploradores é também essa: registar para a posteridade locais e situações que no futuro, mesmo como novas tecnologias, dificilmente se poderiam descortinar. No caso do Iraque, por causa da sua situação política e social. As fotos e os artigos, chegando até aos nossos dias, encarregaram-se de os testemunharSchwarzembach assistiu aos grande fenómenos sociais do seu tempo, ainda se casou (e separou), ainda passou por África, antes de regressar à Suíça, já com a 2ª Guerra em marcha. Morreu aos 34 anos, nos anos da Guerra, ela, que tinha percorrido paragens tão inóspitas e perigosas, na neutral Suíça, de ferimentos resultantes de uma queda de bicicleta.

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