Alto Hama: CPLP sacode a água do capote e dizdos outros o que deveria dizer de si

01-07-2011
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Como se apenas tivesse agora chegado à Guiné-Bissau, Portugal – enquanto país e enquanto responsável a nível da CPLP – sacode a água do capote, endossando para outros muita da responsabilidade que (também) é sua.O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal afirmou ter chegado a hora de os políticos e militares guineenses “deixarem de ser mesquinhos”, pois este é momento de “olharem” para a Guiné-Bissau.E que tal readaptar a tese agora apresentada por João Gomes Cravinho, e dizer que chegou a hora dos políticos dessa coisa que dá pelo nome de Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com Portugal à cabeça, “deixarem de ser mesquinhos”?“É um momento de todos os guineenses, em particular dos responsáveis políticos e militares, de olharem para o país. Isto significa deixar de pensar em termos mais mesquinhos, em interesses ou vinganças em relação a outros momentos do passado. Os políticos têm agora de estar à altura das suas responsabilidades”, sublinhou o governante português, mostrando que, afinal, é preciso mudar as moscas para que tudo fique na mesma.Para Gomes Cravinho, a Guiné-Bissau viveu os últimos 10 anos num clima de “profunda instabilidade” e, nos últimos meses, “viveram-se momentos de tensão”, situação agravada pela “dificuldade” de políticos e militares em acompanhar o desejo da população, expressa no voto de mudança das eleições de Novembro último.Nos últimos dez anos? É bem mais do que isso. Mas mesmo que seja há uma década, o que andou a fazer a CPLP nestes anos todos? A fazer para além dos faustosos almoços e das reuniões de alto nível para discutir o sexo dos anjos?“O narcotráfico tem também sido um factor profundamente perturbador da vida política da Guiné-Bissau. É claro que a instabilidade está também relacionada com o narcotráfico. Esse é um dos males da Guiné-Bissau e de outros países da região e o que se passou é mais uma manifestação da grande precariedade política”, sustentou Cravinho como se, só agora, se tivesse conhecimento de um diagnóstico que é crónico.Sobre a eventualidade de a Guiné-Bissau poder realizar eleições dentro de 60 dias, o chefe da delegação da CPLP afirmou acreditar “ser possível” concretizá-las, sublinhando, porém, ser “fundamental o pleno respeito pela normalidade institucional”. E, assim, mais uma vez se confunde eleições com democracia. O que os guineenses precisam é de comida, de saúde, de trabalho. Eleições de barriga vazia não passam de uma mistificação que agrada apenas aos que, nomeadamente longe do país, têm pelo menos três refeições por dia.Mais consciente foi o secretário-executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, ao admitir que “não surpreende ninguém” os perigos da instabilidade política e militar a Guiné-Bissau.Não surpreende, de facto. Todos sabiam que o barril de pólvora estava lá, todos sabiam que era uma questão de tempo para alguém chegar fogo ao rastilho. Mesmo assim, todos continuaram a cantar e a rir. Tanta hipocrisia até dá vómitos.Questionado sobre o que está por detrás do duplo assassínio (“Nino Vieira” e Tagmé Na Waié), Simões Pereira, que é guineense, respondeu que “tudo o que se puder imaginar fará sentido”.“Neste momento, tudo o que se puder imaginar fará sentido. Sempre dissemos que a Guiné-Bissau vive uma situação em que o aparelho de Estado está por terra. Falar-se de estabilidade era até um benefício. Confirma-se, assim, que há muito pouco respeito pelas instituições e pela ordem interna constitucional. Não vou desmentir isso”, admitiu Simões Pereira.“Vamos também ver como apoiar a Guiné-Bissau junto da comunidade internacional. É um momento crucial da vida do país e a CPLP não pode ficar ausente”, acrescentou Gomes Cravinho.Pois. A CPLP não pode ficar ausente porque nunca esteve presente.Entristece ver a forma hipócrita e criminosa como a CPLP, com Portugal à cabeça, em vez de lutar para que os guineenses aprendam a pescar se limita a pedir peixe para lhes enviar.Entristece ver a forma hipócrita e criminosa como a CPLP, com Portugal à cabeça, não cuida de ver – apesar de tudo - que o peixe não chega ao povo, ficando antes nas arcas congeladoras dos grandes senhores.Entristece ver a forma hipócrita e criminosa como a CPLP, com Portugal à cabeça, não vê o que todos sabem que acontece: esse peixe acaba por ser vendido pelos grandes senhores ao povo que dele devia beneficiar gratuitamente.


Como se apenas tivesse agora chegado à Guiné-Bissau, Portugal – enquanto país e enquanto responsável a nível da CPLP – sacode a água do capote, endossando para outros muita da responsabilidade que (também) é sua.O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal afirmou ter chegado a hora de os políticos e militares guineenses “deixarem de ser mesquinhos”, pois este é momento de “olharem” para a Guiné-Bissau.E que tal readaptar a tese agora apresentada por João Gomes Cravinho, e dizer que chegou a hora dos políticos dessa coisa que dá pelo nome de Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com Portugal à cabeça, “deixarem de ser mesquinhos”?“É um momento de todos os guineenses, em particular dos responsáveis políticos e militares, de olharem para o país. Isto significa deixar de pensar em termos mais mesquinhos, em interesses ou vinganças em relação a outros momentos do passado. Os políticos têm agora de estar à altura das suas responsabilidades”, sublinhou o governante português, mostrando que, afinal, é preciso mudar as moscas para que tudo fique na mesma.Para Gomes Cravinho, a Guiné-Bissau viveu os últimos 10 anos num clima de “profunda instabilidade” e, nos últimos meses, “viveram-se momentos de tensão”, situação agravada pela “dificuldade” de políticos e militares em acompanhar o desejo da população, expressa no voto de mudança das eleições de Novembro último.Nos últimos dez anos? É bem mais do que isso. Mas mesmo que seja há uma década, o que andou a fazer a CPLP nestes anos todos? A fazer para além dos faustosos almoços e das reuniões de alto nível para discutir o sexo dos anjos?“O narcotráfico tem também sido um factor profundamente perturbador da vida política da Guiné-Bissau. É claro que a instabilidade está também relacionada com o narcotráfico. Esse é um dos males da Guiné-Bissau e de outros países da região e o que se passou é mais uma manifestação da grande precariedade política”, sustentou Cravinho como se, só agora, se tivesse conhecimento de um diagnóstico que é crónico.Sobre a eventualidade de a Guiné-Bissau poder realizar eleições dentro de 60 dias, o chefe da delegação da CPLP afirmou acreditar “ser possível” concretizá-las, sublinhando, porém, ser “fundamental o pleno respeito pela normalidade institucional”. E, assim, mais uma vez se confunde eleições com democracia. O que os guineenses precisam é de comida, de saúde, de trabalho. Eleições de barriga vazia não passam de uma mistificação que agrada apenas aos que, nomeadamente longe do país, têm pelo menos três refeições por dia.Mais consciente foi o secretário-executivo da CPLP, Domingos Simões Pereira, ao admitir que “não surpreende ninguém” os perigos da instabilidade política e militar a Guiné-Bissau.Não surpreende, de facto. Todos sabiam que o barril de pólvora estava lá, todos sabiam que era uma questão de tempo para alguém chegar fogo ao rastilho. Mesmo assim, todos continuaram a cantar e a rir. Tanta hipocrisia até dá vómitos.Questionado sobre o que está por detrás do duplo assassínio (“Nino Vieira” e Tagmé Na Waié), Simões Pereira, que é guineense, respondeu que “tudo o que se puder imaginar fará sentido”.“Neste momento, tudo o que se puder imaginar fará sentido. Sempre dissemos que a Guiné-Bissau vive uma situação em que o aparelho de Estado está por terra. Falar-se de estabilidade era até um benefício. Confirma-se, assim, que há muito pouco respeito pelas instituições e pela ordem interna constitucional. Não vou desmentir isso”, admitiu Simões Pereira.“Vamos também ver como apoiar a Guiné-Bissau junto da comunidade internacional. É um momento crucial da vida do país e a CPLP não pode ficar ausente”, acrescentou Gomes Cravinho.Pois. A CPLP não pode ficar ausente porque nunca esteve presente.Entristece ver a forma hipócrita e criminosa como a CPLP, com Portugal à cabeça, em vez de lutar para que os guineenses aprendam a pescar se limita a pedir peixe para lhes enviar.Entristece ver a forma hipócrita e criminosa como a CPLP, com Portugal à cabeça, não cuida de ver – apesar de tudo - que o peixe não chega ao povo, ficando antes nas arcas congeladoras dos grandes senhores.Entristece ver a forma hipócrita e criminosa como a CPLP, com Portugal à cabeça, não vê o que todos sabem que acontece: esse peixe acaba por ser vendido pelos grandes senhores ao povo que dele devia beneficiar gratuitamente.

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