In Concreto: Voltar à terra

30-06-2011
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Depois das eleições há que voltar à terra, volto a um tema que tem saído caro a sucessivos governos açorianos - a saúde. Hoje, fui mais uma vez até à residencial Açores - não sei se realmente assim se chama - perto da Avenida General Roçadas onde é possível encontrar doentes açorianos em tratamento em Lisboa. Fui até lá à procura de um grande velho amigo que teve a amabilidade de trazer uma mala do doce lar atlântico onde destaca-se um bolo de massa sovada. Saudades à parte, é degradante a forma como os nossos doentes são mandados para Lisboa, chego a pensar que são tratados como mercadoria. Não falo das condições da pensão, que são as melhores segundo alguém que já esteve cá 16 vezes por motivos de doença uma das quais durante meio ano. Refiro-me aos apoios e à falta de acompanhamento de pessoas de idade avançada, que muitas vezes nunca saíram da ilha e vêem-se agora perdidas em Lisboa e carregando consigo o peso de graves doenças. Pode parecer um cenário demasiado longínquo, mas tenho partilhado das tristezas muitas vezes, já há duas semanas outro senhor veio da Terceira até cá, imaginem teve que voltar porque faltava-lhe qualquer coisa que não fizeram na Terceira - não me soube explicar in concreto o quê. Voltará no próximo mês para longos meses de rádioterapia, o drama é o mesmo, uma pessoa de idade sem nunca ter estado em Lisboa abraços com uma doença que lhe pode ser mortal, com escassos recursos financeiros e nenhuns humanos. Nestas circunstâncias o dinheiro não é tudo, a pensão de miséria puxadinha até dá, o problema é não conhecer nada e fechar-se nos quartos das pensões em monólogos que acabam sempre no triste assunto da doença. Com uma mulher doente sem poder sair da Terceira e sem descendentes para o acompanhar, colocou a hipótese de nem vir a Lisboa tratar-se... Há mecanismos que podem ajudar pessoas que além da doença estão debilitadas psicologicamente - e que muitas vezes pode afectar o próprio tratamento - sem custos directos para o contribuinte, apoio psicológico é uma delas além de uma presença assídua ajudando a ultrapassar o impacto que Lisboa provoca em pessoas de idade que nunca por cá estiveram. Nos quatro anos que estou por cá, tenho estado com muitos doentes conterrâneos e aquilo que dizem é semelhante, muitas vezes o mais difícil de ultrapassar não é a doença, mas sim a distancia, a falta de apoios e o sentimento de isolamento. Recordo o amigo Adolfo, com quem partilhei o meu pequeno T-0, que esteve cá com um braço paralisado, semanas e semanas à espera e regressou à Terceira da mesma forma que chegou. É necessário não esquecer estas pessoas, não é manda-las para Lisboa e está feito. Apelo ao resquício de humanismo de quem tem palavra na matéria.


Depois das eleições há que voltar à terra, volto a um tema que tem saído caro a sucessivos governos açorianos - a saúde. Hoje, fui mais uma vez até à residencial Açores - não sei se realmente assim se chama - perto da Avenida General Roçadas onde é possível encontrar doentes açorianos em tratamento em Lisboa. Fui até lá à procura de um grande velho amigo que teve a amabilidade de trazer uma mala do doce lar atlântico onde destaca-se um bolo de massa sovada. Saudades à parte, é degradante a forma como os nossos doentes são mandados para Lisboa, chego a pensar que são tratados como mercadoria. Não falo das condições da pensão, que são as melhores segundo alguém que já esteve cá 16 vezes por motivos de doença uma das quais durante meio ano. Refiro-me aos apoios e à falta de acompanhamento de pessoas de idade avançada, que muitas vezes nunca saíram da ilha e vêem-se agora perdidas em Lisboa e carregando consigo o peso de graves doenças. Pode parecer um cenário demasiado longínquo, mas tenho partilhado das tristezas muitas vezes, já há duas semanas outro senhor veio da Terceira até cá, imaginem teve que voltar porque faltava-lhe qualquer coisa que não fizeram na Terceira - não me soube explicar in concreto o quê. Voltará no próximo mês para longos meses de rádioterapia, o drama é o mesmo, uma pessoa de idade sem nunca ter estado em Lisboa abraços com uma doença que lhe pode ser mortal, com escassos recursos financeiros e nenhuns humanos. Nestas circunstâncias o dinheiro não é tudo, a pensão de miséria puxadinha até dá, o problema é não conhecer nada e fechar-se nos quartos das pensões em monólogos que acabam sempre no triste assunto da doença. Com uma mulher doente sem poder sair da Terceira e sem descendentes para o acompanhar, colocou a hipótese de nem vir a Lisboa tratar-se... Há mecanismos que podem ajudar pessoas que além da doença estão debilitadas psicologicamente - e que muitas vezes pode afectar o próprio tratamento - sem custos directos para o contribuinte, apoio psicológico é uma delas além de uma presença assídua ajudando a ultrapassar o impacto que Lisboa provoca em pessoas de idade que nunca por cá estiveram. Nos quatro anos que estou por cá, tenho estado com muitos doentes conterrâneos e aquilo que dizem é semelhante, muitas vezes o mais difícil de ultrapassar não é a doença, mas sim a distancia, a falta de apoios e o sentimento de isolamento. Recordo o amigo Adolfo, com quem partilhei o meu pequeno T-0, que esteve cá com um braço paralisado, semanas e semanas à espera e regressou à Terceira da mesma forma que chegou. É necessário não esquecer estas pessoas, não é manda-las para Lisboa e está feito. Apelo ao resquício de humanismo de quem tem palavra na matéria.

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