Fernando Madrinha

09-01-2012
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Pág. 5 de 20 « ... | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | ... » Ver 10, 20, 50 resultados por pág. Toda a verdade, sff! Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sábado, 2 de abril de 2011 Com os maiores bancos considerados quase "lixo", o risco de bancarrota acima dos 40 por cento e os juros da dívida a taxas inacreditáveis, não basta o Governo dizer que Portugal não precisa de recorrer à UE e ao FMI: é preciso que explique porquê. É inaceitável que o país vá outra vez a votos sem conhecer a situação real das contas públicas.

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. Três prima-donas Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sábado, 26 de março de 2011 O pior que podia acontecer, segundo José Sócrates, Passos Coelho e Cavaco Silva, aconteceu. E, por ação ou omissão, todos eles contribuíram para isso.

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. Esticar a corda Fernando Madrinha (expresso,pt) 0:00 Sábado, 19 de março de 2011 Sócrates admite sair, mas só se for empurrado. E esta semana criou todas as condições para que o empurrem.

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. O discurso Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sábado, 12 de março de 2011 O Presidente da República disse, no seu discurso de posse, aquilo que o país sabe e aquilo que o país pensa. Não são necessárias sondagens para se poder afirmar que, mesmo entre os eleitores dos deputados que não aplaudiram Cavaco Silva na quarta-feira, ou que o criticaram abertamente, uma grande percentagem concorda com o diagnóstico e espera há muito dos agentes políticos, no poder e na oposição, que tomem atitudes, iniciativas e decisões como as que Cavaco indicou para tirar Portugal do atoleiro em que se encontra.

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. Uma foto em Berlim Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sábado, 5 de março de 2011 Os credores de Portugal deram à reunião de Berlim a importância que ela teve: a de um mero encontro para a fotografia.

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. Os intocáveis Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:01 Sábado, 26 de fevereiro de 2011 PS e PSD vergam-se aos interesses dos seus valetes nas empresas públicas porque os querem disponíveis para todos os fretes. Escolha uma das opções para ler o artigo inteiro

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. A formiguinha Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 25 de fevereiro de 2011 Passos Coelho faria bem em dar ouvidos ao CDS quanto às vantagens de uma aliança pré-eleitoral. Paulo Portas acaba de ser reeleito com 95% dos votos, aquela percentagem albanesa que os líderes em funções sempre recebem desde que as 'diretas' foram inventadas. Este modelo eleitoral talvez os torne mais fortes nos respetivos aparelhos partidários - que eles, aliás, controlam com mão de ferro - e junto dos fiéis militantes, embora, infelizmente, não os torne mais credíveis aos olhos do povo a que se dirigem, uma vez eleitos. Mas, nisso, o CDS e o seu líder não são mais nem menos do que todos os outros. Portas é um caso notável de sobrevivência política num partido tradicionalmente difícil de administrar até que o atual presidente o moldou à sua imagem e semelhança. O CDS/PP é Paulo Portas mais o grupo parlamentar, ou melhor, mais o grupo de amigos de quem ele fez deputados e eurodeputados. Praticamente sem implantação local, nem sequer presença física na maior parte do território, vive - e não tem vivido mal, visto que é hoje, de novo, o terceiro partido - dos votos que o seu presidente vai conseguindo em cada eleição. E o facto de o CDS/PP ir sobrevivendo sem ter precisado ainda de se radicalizar à direita e bloqueando mesmo o aparecimento de um partido extremista nessa área é obra de Paulo Portas. O ex-jornalista que lidera o CDS há 15 anos, com um intervalo de dois por vontade própria, domina uma arte fundamental nos dias que correm: a arte de produzir notícias. Mas seria injusto reduzir os seus méritos políticos a essa competência. Portas acompanha como poucos certas áreas críticas que tomou há muitos anos por bandeiras - agricultura, segurança, reformados -, estuda e trabalha bem os assuntos, sabe apresentá-los e fazer passar a mensagem. Junta a estes atributos uma versatilidade que não o impede de, sendo de direita, assumir causas dos mais fracos que a própria esquerda não agarra como lhe competiria. A situação calamitosa dos trabalhadores a recibo verde, após a entrada em vigor do Código Contributivo, é apenas um exemplo recente. Mas, acima de tudo, Paulo Portas possui um trunfo que nem sempre se lhe reconhece. É o de ter muitas vezes razão. E tem-na, uma vez mais, no caso que o opõe ao PSD quanto às vantagens de uma aliança pré-eleitoral em vez de uma coligação apressada depois de eleições que eventualmente a propiciem. Se o PSD e o CDS se dispõem a contribuir para uma alternativa e querem potenciar a sua eficácia, Passos Coelho faria bem em dar ouvidos ao partido a que o seu próprio líder chamou, há tempos, a "formiguinha". Jogos florais

Esta deve ter sido a primeira vez em que um partido ameaça censurar o Governo e acaba censurado por todos os outros, antes mesmo de a censura ser debatida no Parlamento. Que a vítima desta originalidade política seja o Bloco de Esquerda, que se quer sempre tão seguro e inteligente, tão certeiro e moralista, é uma ironia cruel. Mais ainda porque o Governo a censurar é um Governo periclitante, dado que minoritário, além de esgotado e incapaz de mobilizar o país. Mas também porque a péssima opinião que o promitente censor tem sobre esse Governo é partilhada pelos outros partidos da oposição. Em princípio, isso devia facilitar a aprovação da censura. A atitude que se esperava do Bloco era a de que desafiasse o PSD e o CDS, que acusa de cumplicidade com as políticas governamentais, a votarem a favor da moção para provarem que a acusação é falsa. Ao afirmar que a iniciativa era também contra a direita, o Bloco sabotou a sua própria moção. Ou melhor, denunciou o propósito oculto de não querer derrubar o Governo, mas apenas fazer um número parlamentar de grande efeito cujo principal beneficiário acaba por ser... o Governo. Excetuando o Bloco, única vítima da moção a apresentar, todos tentaram aproveitar alguma coisa destes jogos florais. O CDS adiantou-se ao PSD para mostrar que não vai a reboque; o PSD retomou o discurso da responsabilidade e renovou a pressão sobre Sócrates; o Governo suspirou de alívio e prepara-se para cantar vitória; o PCP ainda não fez nada, mas, apesar de a moção também ser contra si, visto que Francisco Louçã não fez mais do que tentar passar-lhe a perna, duvida-se que vote contra, pondo em causa a posição do seu secretário-geral. Mas se todos fizeram, ou hão de fazer por ganhar alguma coisa, a verdade é que o ridículo não atinge apenas o Bloco. Está igualmente nos dois partidos da direita parlamentar. Depois de lhes ter sido dito que a moção de censura os visava, deviam, logicamente, votar contra ela. Mas vão abster-se. Não votam com Louçã, apesar de considerarem o Governo lastimável, mas também não votam contra Louçã, apesar de saberem que a moção os vai censurar. Na política portuguesa, coerência e frontalidade são, cada vez mais, simples palavras. Para conversa mole. Durão e a greve na CP

Na semana em que o presidente da Comissão Europeia fez uma viagem mistério a Lisboa para encontros com o Presidente da República e o primeiro-ministro - talvez para dar conta das pressões para que Portugal recorra rapidamente ao apoio externo - milhares de portugueses sofriam os efeitos de uma sucessão de greves naquela que é uma das empresas mais endividadas do Estado: a CP. A greve está consagrada na Constituição. Nas atuais circunstâncias do país, o bom senso dos trabalhadores e dos sindicatos também o devia estar. Fernando Madrinha Texto publicado na edição do Expresso de 19 de fevereiro de 2011 O que quer o PSD? Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 18 de fevereiro de 2011 Com este ou com outro Governo as políticas serão as mesmas porque, de soberano, Portugal já só tem a dívida. Vai a direita derrubar o Governo com uma moção de censura do Bloco de Esquerda? Parece uma charada política, mas tudo é possível. Ainda bem que temos agora um assunto sério para nos entretermos, já que, visto de certas bancadas de São Bento, o país parece não ter mais nenhum problema com que se preocupar além dos cálculos de cada partido, o do Governo inclusive, sobre os seus ganhos e perdas com uma crise política em cima da outra crise. Enquanto os juros sobem para valores nunca antes atingidos, tornando-se cada vez mais claro que não vamos lá sem ajuda externa - seja do FMI que Sócrates abomina, ou do 'governo económico' Merkel/Sarkozy que Sócrates adora -, o Bloco ganha o seu despique com o PCP para ver quem é mais de esquerda. E uma vez que a moção do BE só é apresentada em março, o PSD acha boa ideia deixar no ar a incerteza quanto à possibilidade de o país ficar sem Governo dentro de um mês. Tudo contributos valiosos para dar confiança aos mercados e aos parceiros europeus... O mais provável é que o PSD vote contra ou se abstenha na moção do Bloco. De um partido que é alternativa de Governo espera-se que escolha os aliados e não que vá a reboque. Só um descalabro evidente na execução orçamental poderia justificar que Passos se aliasse a Louçã para derrubar Sócrates em março. Esperemos que a ausência de dados sobre o andamento da despesa pública, por contraponto com as 'ótimas notícias' sobre o aumento da receita, não seja um primeiro sinal desse descontrolo. De qualquer modo, o clima político já estava envenenado antes de Louçã ter tirado a moção da cartola. E muito por culpa do PSD que ora apoia o Governo, ora acena com a crise, não se percebendo muito bem o que quer. A 'esquizofrenia' da crise, como lhe chama Passos Coelho e para a qual tem contribuído, é tão nefasta que uma crise real poderia até ser preferível, desde que clarificasse a situação. Mas nada garante que novas eleições produzam maior estabilidade política. Não é certo que o PSD sozinho ou com o CDS alcance uma maioria absoluta. Não é certo sequer que o PS perca essas eleições. O Bloco e o PCP, ainda que ganhem votos com a crise, o máximo que poderiam ambicionar era forçar um PS sem Sócrates a um acordo de Governo - hipótese improvável, dado que Sócrates é e vai continuar a ser o líder, além de absurda: mal andaria o PS se viesse a entender-se para a formação de um governo com o partido que lhe derrubou o governo anterior. O que Louçã teria de mais certo se a sua moção viesse a ser aprovada era, pois, um governo de direita, ou do bloco central, ou PS-CDS. E para executar as mesmas políticas de Sócrates, porventura agravadas, o que não deixaria de pôr a ridículo um partido que fala em nome da esquerda. Seja como for, já se sabe quem mandará em Lisboa, com ou sem eleições, com este ou com outro Governo, quando Portugal, de soberano, só tiver a dívida. É Paris e Berlim, tendo em conta as propostas franco-alemãs e o entusiasmo que elas despertaram no primeiro-ministro, obviamente decidido a fazer o que for preciso. Para preservar o poder e porque, infelizmente, não se vislumbra alternativa, coisa que Passos Coelho também sabe perfeitamente. Milhões sem impostos

Os quatro maiores bancos portugueses (BCP, BES, BPI e Santander/Totta) repetiram em 2010 o bom desempenho de 2009, com lucros de 1,4 mil milhões de euros. Devemos regozijar-nos com isso. Pior seria se a banca claudicasse, ou apresentasse sinais de fragilidade. Perante esta boa notícia, que, aliás, se tem repetido todos os anos, custa a perceber o que lhe acrescentam os jornais: que, apesar dos lucros fabulosos e praticamente iguais, em 2010 os bancos pagam menos 54,9% de impostos do que pagaram em 2009. Isto significa que o Governo aliviou a carga fiscal sobre a banca num ano em que sobrecarregou o país inteiro com mais impostos e outros castigos constantes dos PEC I e II. E que apesar de nova vaga de austeridade radical em 2011, que até inclui a redução de salários, continua envolto em mistério o novo imposto para a banca que José Sócrates prometeu para calar o Bloco de Esquerda. Isto acontece quando em Londres acaba de ser estabelecido um acordo entre o Governo e os maiores bancos britânicos para que paguem mais impostos, moralizem os prémios dos gestores, concedam mais crédito e em melhores condições às empresas, especialmente às pequenas e médias. Estará um gémeo político de Francisco Louçã na chefia do Governo inglês? Não. David Cameron é o líder do Partido Conservador e não consta que seja anticapitalista. Um número fiscal

Todos os dias morrem pessoas na solidão em prédios com dezenas de inquilinos que vêm a saber pela televisão a notícia da morte da vizinha da frente. O caso da senhora encontrada em sua casa nove anos depois de ter morrido não ilustra apenas, da forma mais chocante, a desumanização das nossas sociedades urbanas; demonstra a falência de todos os sistemas de ligação de uma pessoa à comunidade, começando pela mais importante e decisiva que é a família. Todos falharam? Não. O fisco cumpriu a sua missão. Penhorou a casa e vendeu-a sem cuidar de saber por que não pagava a falecida uma dívida de 1500 euros. É nisto que estamos transformados: num número de identificação fiscal. Texto publicado na edição do Expresso de 12 de fevereiro de 2011 Bastam 180 Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 11 de fevereiro de 2011 Se Lacão tivesse dado um passo maior do que a perna não se perceberia que ainda continuasse ministro. Quando o ministro Jorge Lacão veio defender a redução do número de deputados de 230 para 180, pensou-se que talvez agora o Governo e o PS se decidissem a viabilizar algumas das reformas do sistema político cuja necessidade é sentida há muito. A redução do número de deputados é apenas uma delas. Mas de pouco valerá se não for acompanhada de uma mudança profunda no sistema eleitoral que permita melhorar a qualidade média do Parlamento. Ele não fica mais credível só por ter menos 50 deputados, caso os restantes continuem a ser eleitos em listas fechadas e elaboradas pelos estados-maiores dos partidos, segundo critérios em que sempre prevalecerão os da fidelidade à liderança de serviço. Ao excluir Passos Coelho e Miguel Relvas da 'sua' lista para as últimas eleições, Manuela Ferreira Leite deu o exemplo acabado dessa atitude de que todos os líderes se arrogam, mais ou menos disfarçadamente. O PSD defende há muito a redução do número de deputados e correu a disponibilizar-se para o debate alvitrado, mas, aparentemente, deu um passo em falso: a ideia de Lacão conta pouco. É pessoal, diz o líder parlamentar, Francisco Assis. Ora, é tão estranho Lacão ter tomado a iniciativa de falar publicamente num assunto tão delicado sem conhecimento prévio do primeiro-ministro, como é estranha a reação algo destemperada de Assis, em geral sereno e cordato perante situações deste tipo. Aliás, se Lacão tivesse dado um passo maior do que a perna, não se perceberia que continuasse ministro depois de reafirmar a sua posição e de responder positivamente à proposta de conversações com o PSD já depois de Assis se ter pronunciado contra a sua proposta. Alguém mais no Governo deve pensar como Lacão, embora o PS seja fértil neste tipo de encenações com a ideia peregrina, mas muito frequente, de que defender uma coisa e o seu contrário é uma boa forma de fazer política. Este tempo de revisão constitucional e de crise económica e financeira devia ser aproveitado para se fazerem reformas capazes de refundar o regime, criando condições para a sua credibilização. E neste ponto é Lacão quem tem razão e não Assis. Há mais de uma década, António Costa elaborou uma proposta de trabalho para um novo sistema eleitoral que previa a introdução de círculos uninominais e a preservação de um círculo nacional para assegurar uma representatividade equilibrada. Além de todas as vantagens em termos de custos para o país e de recuperação da confiança dos eleitores, mudanças deste tipo obrigariam à tão necessária reforma dos partidos, que é, talvez, a mais necessária de todas. Como dizia na quarta-feira o historiador Rui Ramos, no lançamento de um livro de António Carrapatoso com o sugestivo título "Desatar o Nó", os partidos, hoje, são mais representantes do Estado junto dos cidadãos do que representantes dos cidadãos junto do Estado. Obrigarem-se a regressar às origens e a reassumirem o seu papel, que tanto têm desvirtuado, era um serviço que deviam prestar a si próprios e à democracia. Ministério Público prefere os bufos

O advogado Ricardo Sá Fernandes é arguido em cinco-processos-cinco por ter denunciado uma tentativa de corrupção efetuada por um empresário de Braga. A Justiça nunca negou a existência dessa tentativa de corrupção. Se decidiu absolver o réu depois de o ter condenado em primeira instância foi porque o vereador de Lisboa que ele terá querido corromper não tinha as competências necessárias para fazer o que lhe era pedido a troco de 200 mil euros. O mais recente processo a Sá Fernandes resulta do seguinte: o advogado gravou, sem autorização, uma primeira conversa com o suposto corruptor; mostrou-a ao Ministério Público; depois de a ouvir, o dito Ministério Público autorizou-o a fazer uma segunda gravação; servindo-se desta, o mesmo Ministério Público levou o empresário ao tribunal e pediu a sua condenação. Agora procede contra o advogado que fez a denúncia por ter sido ilegal a gravação que deu origem a tudo isto. Parece anedota. Mas acontece e, por sinal, no mesmo país onde o procurador-geral da República, suposto chefe do tal Ministério Público, põe na sua página eletrónica um apelo aos cidadãos para que denunciem a corrupção sob anonimato. Em vez de quem seja capaz de dar a cara, preferem-se os bufos. Pelo menos, oferecem-lhes a vantagem de nunca serem processados. Medo e esperança

As revoltas contra os regimes ditatoriais do Norte de África e do Médio Oriente, com os quais os Estados Unidos e a Europa tão bem têm convivido - por isso se percebem as perplexidades e hesitações das últimas semanas - vieram acelerar a História desta região do mundo. Não sabemos ao certo em que sentido, mas é verdade que não se veem bandeiras dos EUA e de Israel a serem queimadas nas ruas e nas praças. Pela primeira vez, parece que a revolta não é contra 'nós'. Entre o medo dos fanáticos islâmicos e a esperança em democracias à sua maneira, o Ocidente - Obama, Merkel, Sarkozy, Barroso - vai formulando votos e debitando uns lugares-comuns ou uns milhões de dólares, expectante. Mas convém ter presente que o facto de os povos mediterrânicos do Sul estarem a conjugar miséria com ditadura não significa que a miséria não possa ser conjugada com outros regimes. Por isso o aviso é tão válido para Mubarak e demais tiranetes como para as democracias que não souberem travar a pobreza e cuidar da periclitante coesão social. Um dia, na Europa, também podem encher-se as praças. Fernando Madrinha Texto publicado na edição do Expresso de 5 de fevereiro de 2011 Ganhou ou perdeu? Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 4 de fevereiro de 2011 Cavaco ganhou, mas parece que perdeu. Ele próprio contribuiu para dar essa ideia no domingo à noite. Cavaco Silva obteve no domingo uma vitória eleitoral insofismável, mas tem sido apresentado nas televisões, nos jornais e na blogosfera como um quase derrotado. Os dois milhões e 230 mil votos que recebeu (53,4 por cento) são mais de duas vezes e meia a soma obtida pelo seu principal concorrente, Manuel Alegre: 832 mil votos (19,75 por cento). Além disso, ganhou em todos os distritos do continente e das regiões autónomas, o que corresponde a uma distribuição quase perfeita em termos de representatividade nacional. A perceção de que, apesar disto, o Presidente sai mais fraco da reeleição nada tem a ver com os resultados, até porque não faz sentido comparar os votos de domingo passado com os de quaisquer eleições anteriores. Cada uma teve, além de candidatos diferentes, as suas circunstâncias e condicionalismos específicos, pelo que os resultados não são comparáveis. Eanes, por exemplo, foi reeleito em 1980 com 56 por cento mas recebeu 3262 mil votos, pouco menos do que os 3459 com que Soares obteve 70,3 por cento em 1991 e muito mais do que os 2401 mil que corresponderam a 55,5 por cento no caso de Sampaio em 2001. Nada disto se pode comparar com o resultado de Cavaco em 2011, nem este com o do mesmo Cavaco em 2006 porque foram diferentes o quadro em que decorreram e as variáveis que condicionaram cada uma das eleições. E também nada disto determina se um Presidente fica mais forte ou mais fraco para desempenhar as suas funções no segundo mandato, como se viu com os anteriores titulares do cargo. Cavaco ganhou e ganhou bem. Mas se quase parece que perdeu não foi só por força da avalancha de análises e comentários a apoucar o seu resultado, muitos deles politicamente interessados, começando pelos da área do Governo. Ele próprio contribuiu para essa ideia com o discurso da noite eleitoral, deselegante, azedo e ressentido. Foi o discurso de alguém que sentiu a necessidade de, com ele, valorizar o seu resultado. Não precisava de o fazer e, certamente, não o teria feito se, apesar da vitória alcançada, não sofresse algum sentimento de derrota. E esse sentimento, embora nada tenha a ver com a sua legitimidade política e institucional, nem determine se será, no segundo mandato, melhor ou pior Presidente do que no primeiro, tem como razão de ser o facto de a campanha o ter diminuído aos olhos do país, incluindo, provavelmente, muitos dos eleitores que votaram nele. Essa ferida na sua imagem pessoal está aberta e não são os votos obtidos que a farão sarar, como era sabido e se escreveu aqui antes da eleição. Quanto à presidência em si, nada está ganho nem perdido. O segundo mandato é aquele em que os presidentes trabalham para a História. Será o êxito ou o fracasso que o político experiente que é Cavaco Silva souber fazer dele. Alegrias e tristezas

Numa eleição com tantos candidatos, nunca há só um vencedor. Tivemos, aliás, mais vencedores do que vencidos: três, além de Cavaco, contra dois. Os 14 por cento de Fernando Nobre foram um prémio justo para alguém que, tendo obra meritória na sociedade, entendeu oferecer os seus préstimos à política. A tarefa era difícil e fácil ao mesmo tempo. Difícil porque sem o apoio logístico de um partido, um candidato relativamente desconhecido custa a afirmar-se no curto prazo de uma campanha; fácil porque o discurso 'antissistema' paga bem nos tempos que correm, mesmo sem ideias sólidas que o sustentem. Dentro de cinco anos, talvez Nobre tenha condições para voltar, mas começando de novo. Daqui até lá, é melhor não pensar nos 'seus' 600 mil votos para não ter a mesma desdita de Alegre. O segundo vencedor é o candidato fora de ordem, ou 'o sexto candidato', aquele que, embora concorrendo para Belém, só tinha o Funchal no pensamento. Até que ponto serão estes votos de José Manuel Coelho convertíveis no seu combate contra Jardim é a dúvida que se coloca. No continente foram meros votos de protesto, embora com o seu quê de pitoresco, o que até nem fica mal numa eleição unipessoal. Francisco Lopes não ganhou mas também não perdeu, já porque o PCP nunca perde - pelo menos encontra sempre uma explicação de vitória -, já porque, na verdade, o score obtido não envergonha. Perdeu votos e percentagem em relação a Jerónimo de Sousa, mas este tinha a vantagem de ser já secretário-geral quando se candidatou. Lopes ainda não o é. E ganhou a notoriedade que lhe faltava para poder vir a sê-lo. Já Defensor Moura foi o mais completo fiasco. Esgotou o seu papel no debate com Cavaco mas foi humilhado no próprio concelho a que presidiu durante vários mandatos, ficando-se por bastante menos de metade dos votos do adversário que tanto atacou. Por fim, Manuel Alegre. Foi, obviamente, o grande vencido da noite, tanto à luz dos objetivos traçados, como dos apoios que recebeu. Na hora da derrota, assumiu-a com galhardia, enquanto outros, como José Sócrates, lhe gabavam a coragem de ter avançado, ao mesmo tempo que valorizavam a continuidade e a estabilidade trazida pela vitória de Cavaco. A relação do PS de Sócrates com Alegre e de Alegre com o PS de Sócrates está, desde há vários anos, assente na maior das hipocrisias. Detestam-se, profunda e reciprocamente, mas fazem o que for preciso - ou fizeram-no até agora - para fingir o contrário, julgando talvez que os eleitores não percebem. Enganaram-se redondamente e também por isso os resultados foram o que foram. Podíamos agora lamentar-nos da abstenção, dos votos bancos e nulos, do desencanto geral que as eleições evidenciaram. Mas isso o que adianta? Esperemos pelas próximas. Se nada de substancial mudar nas políticas e nos comportamentos é bem possível que ainda tenhamos saudades destas. Fernando Madrinha Texto publicado na edição do Expresso de 29 de janeiro de 2011 Pág. 5 de 20 « ... | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | ... » Ver 10, 20, 50 resultados por pág.

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Clique para aceder ao Expresso na App Store. A formiguinha Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 25 de fevereiro de 2011 Passos Coelho faria bem em dar ouvidos ao CDS quanto às vantagens de uma aliança pré-eleitoral. Paulo Portas acaba de ser reeleito com 95% dos votos, aquela percentagem albanesa que os líderes em funções sempre recebem desde que as 'diretas' foram inventadas. Este modelo eleitoral talvez os torne mais fortes nos respetivos aparelhos partidários - que eles, aliás, controlam com mão de ferro - e junto dos fiéis militantes, embora, infelizmente, não os torne mais credíveis aos olhos do povo a que se dirigem, uma vez eleitos. Mas, nisso, o CDS e o seu líder não são mais nem menos do que todos os outros. Portas é um caso notável de sobrevivência política num partido tradicionalmente difícil de administrar até que o atual presidente o moldou à sua imagem e semelhança. O CDS/PP é Paulo Portas mais o grupo parlamentar, ou melhor, mais o grupo de amigos de quem ele fez deputados e eurodeputados. Praticamente sem implantação local, nem sequer presença física na maior parte do território, vive - e não tem vivido mal, visto que é hoje, de novo, o terceiro partido - dos votos que o seu presidente vai conseguindo em cada eleição. E o facto de o CDS/PP ir sobrevivendo sem ter precisado ainda de se radicalizar à direita e bloqueando mesmo o aparecimento de um partido extremista nessa área é obra de Paulo Portas. O ex-jornalista que lidera o CDS há 15 anos, com um intervalo de dois por vontade própria, domina uma arte fundamental nos dias que correm: a arte de produzir notícias. Mas seria injusto reduzir os seus méritos políticos a essa competência. Portas acompanha como poucos certas áreas críticas que tomou há muitos anos por bandeiras - agricultura, segurança, reformados -, estuda e trabalha bem os assuntos, sabe apresentá-los e fazer passar a mensagem. Junta a estes atributos uma versatilidade que não o impede de, sendo de direita, assumir causas dos mais fracos que a própria esquerda não agarra como lhe competiria. A situação calamitosa dos trabalhadores a recibo verde, após a entrada em vigor do Código Contributivo, é apenas um exemplo recente. Mas, acima de tudo, Paulo Portas possui um trunfo que nem sempre se lhe reconhece. É o de ter muitas vezes razão. E tem-na, uma vez mais, no caso que o opõe ao PSD quanto às vantagens de uma aliança pré-eleitoral em vez de uma coligação apressada depois de eleições que eventualmente a propiciem. Se o PSD e o CDS se dispõem a contribuir para uma alternativa e querem potenciar a sua eficácia, Passos Coelho faria bem em dar ouvidos ao partido a que o seu próprio líder chamou, há tempos, a "formiguinha". Jogos florais

Esta deve ter sido a primeira vez em que um partido ameaça censurar o Governo e acaba censurado por todos os outros, antes mesmo de a censura ser debatida no Parlamento. Que a vítima desta originalidade política seja o Bloco de Esquerda, que se quer sempre tão seguro e inteligente, tão certeiro e moralista, é uma ironia cruel. Mais ainda porque o Governo a censurar é um Governo periclitante, dado que minoritário, além de esgotado e incapaz de mobilizar o país. Mas também porque a péssima opinião que o promitente censor tem sobre esse Governo é partilhada pelos outros partidos da oposição. Em princípio, isso devia facilitar a aprovação da censura. A atitude que se esperava do Bloco era a de que desafiasse o PSD e o CDS, que acusa de cumplicidade com as políticas governamentais, a votarem a favor da moção para provarem que a acusação é falsa. Ao afirmar que a iniciativa era também contra a direita, o Bloco sabotou a sua própria moção. Ou melhor, denunciou o propósito oculto de não querer derrubar o Governo, mas apenas fazer um número parlamentar de grande efeito cujo principal beneficiário acaba por ser... o Governo. Excetuando o Bloco, única vítima da moção a apresentar, todos tentaram aproveitar alguma coisa destes jogos florais. O CDS adiantou-se ao PSD para mostrar que não vai a reboque; o PSD retomou o discurso da responsabilidade e renovou a pressão sobre Sócrates; o Governo suspirou de alívio e prepara-se para cantar vitória; o PCP ainda não fez nada, mas, apesar de a moção também ser contra si, visto que Francisco Louçã não fez mais do que tentar passar-lhe a perna, duvida-se que vote contra, pondo em causa a posição do seu secretário-geral. Mas se todos fizeram, ou hão de fazer por ganhar alguma coisa, a verdade é que o ridículo não atinge apenas o Bloco. Está igualmente nos dois partidos da direita parlamentar. Depois de lhes ter sido dito que a moção de censura os visava, deviam, logicamente, votar contra ela. Mas vão abster-se. Não votam com Louçã, apesar de considerarem o Governo lastimável, mas também não votam contra Louçã, apesar de saberem que a moção os vai censurar. Na política portuguesa, coerência e frontalidade são, cada vez mais, simples palavras. Para conversa mole. Durão e a greve na CP

Na semana em que o presidente da Comissão Europeia fez uma viagem mistério a Lisboa para encontros com o Presidente da República e o primeiro-ministro - talvez para dar conta das pressões para que Portugal recorra rapidamente ao apoio externo - milhares de portugueses sofriam os efeitos de uma sucessão de greves naquela que é uma das empresas mais endividadas do Estado: a CP. A greve está consagrada na Constituição. Nas atuais circunstâncias do país, o bom senso dos trabalhadores e dos sindicatos também o devia estar. Fernando Madrinha Texto publicado na edição do Expresso de 19 de fevereiro de 2011 O que quer o PSD? Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 18 de fevereiro de 2011 Com este ou com outro Governo as políticas serão as mesmas porque, de soberano, Portugal já só tem a dívida. Vai a direita derrubar o Governo com uma moção de censura do Bloco de Esquerda? Parece uma charada política, mas tudo é possível. Ainda bem que temos agora um assunto sério para nos entretermos, já que, visto de certas bancadas de São Bento, o país parece não ter mais nenhum problema com que se preocupar além dos cálculos de cada partido, o do Governo inclusive, sobre os seus ganhos e perdas com uma crise política em cima da outra crise. Enquanto os juros sobem para valores nunca antes atingidos, tornando-se cada vez mais claro que não vamos lá sem ajuda externa - seja do FMI que Sócrates abomina, ou do 'governo económico' Merkel/Sarkozy que Sócrates adora -, o Bloco ganha o seu despique com o PCP para ver quem é mais de esquerda. E uma vez que a moção do BE só é apresentada em março, o PSD acha boa ideia deixar no ar a incerteza quanto à possibilidade de o país ficar sem Governo dentro de um mês. Tudo contributos valiosos para dar confiança aos mercados e aos parceiros europeus... O mais provável é que o PSD vote contra ou se abstenha na moção do Bloco. De um partido que é alternativa de Governo espera-se que escolha os aliados e não que vá a reboque. Só um descalabro evidente na execução orçamental poderia justificar que Passos se aliasse a Louçã para derrubar Sócrates em março. Esperemos que a ausência de dados sobre o andamento da despesa pública, por contraponto com as 'ótimas notícias' sobre o aumento da receita, não seja um primeiro sinal desse descontrolo. De qualquer modo, o clima político já estava envenenado antes de Louçã ter tirado a moção da cartola. E muito por culpa do PSD que ora apoia o Governo, ora acena com a crise, não se percebendo muito bem o que quer. A 'esquizofrenia' da crise, como lhe chama Passos Coelho e para a qual tem contribuído, é tão nefasta que uma crise real poderia até ser preferível, desde que clarificasse a situação. Mas nada garante que novas eleições produzam maior estabilidade política. Não é certo que o PSD sozinho ou com o CDS alcance uma maioria absoluta. Não é certo sequer que o PS perca essas eleições. O Bloco e o PCP, ainda que ganhem votos com a crise, o máximo que poderiam ambicionar era forçar um PS sem Sócrates a um acordo de Governo - hipótese improvável, dado que Sócrates é e vai continuar a ser o líder, além de absurda: mal andaria o PS se viesse a entender-se para a formação de um governo com o partido que lhe derrubou o governo anterior. O que Louçã teria de mais certo se a sua moção viesse a ser aprovada era, pois, um governo de direita, ou do bloco central, ou PS-CDS. E para executar as mesmas políticas de Sócrates, porventura agravadas, o que não deixaria de pôr a ridículo um partido que fala em nome da esquerda. Seja como for, já se sabe quem mandará em Lisboa, com ou sem eleições, com este ou com outro Governo, quando Portugal, de soberano, só tiver a dívida. É Paris e Berlim, tendo em conta as propostas franco-alemãs e o entusiasmo que elas despertaram no primeiro-ministro, obviamente decidido a fazer o que for preciso. Para preservar o poder e porque, infelizmente, não se vislumbra alternativa, coisa que Passos Coelho também sabe perfeitamente. Milhões sem impostos

Os quatro maiores bancos portugueses (BCP, BES, BPI e Santander/Totta) repetiram em 2010 o bom desempenho de 2009, com lucros de 1,4 mil milhões de euros. Devemos regozijar-nos com isso. Pior seria se a banca claudicasse, ou apresentasse sinais de fragilidade. Perante esta boa notícia, que, aliás, se tem repetido todos os anos, custa a perceber o que lhe acrescentam os jornais: que, apesar dos lucros fabulosos e praticamente iguais, em 2010 os bancos pagam menos 54,9% de impostos do que pagaram em 2009. Isto significa que o Governo aliviou a carga fiscal sobre a banca num ano em que sobrecarregou o país inteiro com mais impostos e outros castigos constantes dos PEC I e II. E que apesar de nova vaga de austeridade radical em 2011, que até inclui a redução de salários, continua envolto em mistério o novo imposto para a banca que José Sócrates prometeu para calar o Bloco de Esquerda. Isto acontece quando em Londres acaba de ser estabelecido um acordo entre o Governo e os maiores bancos britânicos para que paguem mais impostos, moralizem os prémios dos gestores, concedam mais crédito e em melhores condições às empresas, especialmente às pequenas e médias. Estará um gémeo político de Francisco Louçã na chefia do Governo inglês? Não. David Cameron é o líder do Partido Conservador e não consta que seja anticapitalista. Um número fiscal

Todos os dias morrem pessoas na solidão em prédios com dezenas de inquilinos que vêm a saber pela televisão a notícia da morte da vizinha da frente. O caso da senhora encontrada em sua casa nove anos depois de ter morrido não ilustra apenas, da forma mais chocante, a desumanização das nossas sociedades urbanas; demonstra a falência de todos os sistemas de ligação de uma pessoa à comunidade, começando pela mais importante e decisiva que é a família. Todos falharam? Não. O fisco cumpriu a sua missão. Penhorou a casa e vendeu-a sem cuidar de saber por que não pagava a falecida uma dívida de 1500 euros. É nisto que estamos transformados: num número de identificação fiscal. Texto publicado na edição do Expresso de 12 de fevereiro de 2011 Bastam 180 Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 11 de fevereiro de 2011 Se Lacão tivesse dado um passo maior do que a perna não se perceberia que ainda continuasse ministro. Quando o ministro Jorge Lacão veio defender a redução do número de deputados de 230 para 180, pensou-se que talvez agora o Governo e o PS se decidissem a viabilizar algumas das reformas do sistema político cuja necessidade é sentida há muito. A redução do número de deputados é apenas uma delas. Mas de pouco valerá se não for acompanhada de uma mudança profunda no sistema eleitoral que permita melhorar a qualidade média do Parlamento. Ele não fica mais credível só por ter menos 50 deputados, caso os restantes continuem a ser eleitos em listas fechadas e elaboradas pelos estados-maiores dos partidos, segundo critérios em que sempre prevalecerão os da fidelidade à liderança de serviço. Ao excluir Passos Coelho e Miguel Relvas da 'sua' lista para as últimas eleições, Manuela Ferreira Leite deu o exemplo acabado dessa atitude de que todos os líderes se arrogam, mais ou menos disfarçadamente. O PSD defende há muito a redução do número de deputados e correu a disponibilizar-se para o debate alvitrado, mas, aparentemente, deu um passo em falso: a ideia de Lacão conta pouco. É pessoal, diz o líder parlamentar, Francisco Assis. Ora, é tão estranho Lacão ter tomado a iniciativa de falar publicamente num assunto tão delicado sem conhecimento prévio do primeiro-ministro, como é estranha a reação algo destemperada de Assis, em geral sereno e cordato perante situações deste tipo. Aliás, se Lacão tivesse dado um passo maior do que a perna, não se perceberia que continuasse ministro depois de reafirmar a sua posição e de responder positivamente à proposta de conversações com o PSD já depois de Assis se ter pronunciado contra a sua proposta. Alguém mais no Governo deve pensar como Lacão, embora o PS seja fértil neste tipo de encenações com a ideia peregrina, mas muito frequente, de que defender uma coisa e o seu contrário é uma boa forma de fazer política. Este tempo de revisão constitucional e de crise económica e financeira devia ser aproveitado para se fazerem reformas capazes de refundar o regime, criando condições para a sua credibilização. E neste ponto é Lacão quem tem razão e não Assis. Há mais de uma década, António Costa elaborou uma proposta de trabalho para um novo sistema eleitoral que previa a introdução de círculos uninominais e a preservação de um círculo nacional para assegurar uma representatividade equilibrada. Além de todas as vantagens em termos de custos para o país e de recuperação da confiança dos eleitores, mudanças deste tipo obrigariam à tão necessária reforma dos partidos, que é, talvez, a mais necessária de todas. Como dizia na quarta-feira o historiador Rui Ramos, no lançamento de um livro de António Carrapatoso com o sugestivo título "Desatar o Nó", os partidos, hoje, são mais representantes do Estado junto dos cidadãos do que representantes dos cidadãos junto do Estado. Obrigarem-se a regressar às origens e a reassumirem o seu papel, que tanto têm desvirtuado, era um serviço que deviam prestar a si próprios e à democracia. Ministério Público prefere os bufos

O advogado Ricardo Sá Fernandes é arguido em cinco-processos-cinco por ter denunciado uma tentativa de corrupção efetuada por um empresário de Braga. A Justiça nunca negou a existência dessa tentativa de corrupção. Se decidiu absolver o réu depois de o ter condenado em primeira instância foi porque o vereador de Lisboa que ele terá querido corromper não tinha as competências necessárias para fazer o que lhe era pedido a troco de 200 mil euros. O mais recente processo a Sá Fernandes resulta do seguinte: o advogado gravou, sem autorização, uma primeira conversa com o suposto corruptor; mostrou-a ao Ministério Público; depois de a ouvir, o dito Ministério Público autorizou-o a fazer uma segunda gravação; servindo-se desta, o mesmo Ministério Público levou o empresário ao tribunal e pediu a sua condenação. Agora procede contra o advogado que fez a denúncia por ter sido ilegal a gravação que deu origem a tudo isto. Parece anedota. Mas acontece e, por sinal, no mesmo país onde o procurador-geral da República, suposto chefe do tal Ministério Público, põe na sua página eletrónica um apelo aos cidadãos para que denunciem a corrupção sob anonimato. Em vez de quem seja capaz de dar a cara, preferem-se os bufos. Pelo menos, oferecem-lhes a vantagem de nunca serem processados. Medo e esperança

As revoltas contra os regimes ditatoriais do Norte de África e do Médio Oriente, com os quais os Estados Unidos e a Europa tão bem têm convivido - por isso se percebem as perplexidades e hesitações das últimas semanas - vieram acelerar a História desta região do mundo. Não sabemos ao certo em que sentido, mas é verdade que não se veem bandeiras dos EUA e de Israel a serem queimadas nas ruas e nas praças. Pela primeira vez, parece que a revolta não é contra 'nós'. Entre o medo dos fanáticos islâmicos e a esperança em democracias à sua maneira, o Ocidente - Obama, Merkel, Sarkozy, Barroso - vai formulando votos e debitando uns lugares-comuns ou uns milhões de dólares, expectante. Mas convém ter presente que o facto de os povos mediterrânicos do Sul estarem a conjugar miséria com ditadura não significa que a miséria não possa ser conjugada com outros regimes. Por isso o aviso é tão válido para Mubarak e demais tiranetes como para as democracias que não souberem travar a pobreza e cuidar da periclitante coesão social. Um dia, na Europa, também podem encher-se as praças. Fernando Madrinha Texto publicado na edição do Expresso de 5 de fevereiro de 2011 Ganhou ou perdeu? Fernando Madrinha (www.expresso.pt) 0:00 Sexta feira, 4 de fevereiro de 2011 Cavaco ganhou, mas parece que perdeu. Ele próprio contribuiu para dar essa ideia no domingo à noite. Cavaco Silva obteve no domingo uma vitória eleitoral insofismável, mas tem sido apresentado nas televisões, nos jornais e na blogosfera como um quase derrotado. Os dois milhões e 230 mil votos que recebeu (53,4 por cento) são mais de duas vezes e meia a soma obtida pelo seu principal concorrente, Manuel Alegre: 832 mil votos (19,75 por cento). Além disso, ganhou em todos os distritos do continente e das regiões autónomas, o que corresponde a uma distribuição quase perfeita em termos de representatividade nacional. A perceção de que, apesar disto, o Presidente sai mais fraco da reeleição nada tem a ver com os resultados, até porque não faz sentido comparar os votos de domingo passado com os de quaisquer eleições anteriores. Cada uma teve, além de candidatos diferentes, as suas circunstâncias e condicionalismos específicos, pelo que os resultados não são comparáveis. Eanes, por exemplo, foi reeleito em 1980 com 56 por cento mas recebeu 3262 mil votos, pouco menos do que os 3459 com que Soares obteve 70,3 por cento em 1991 e muito mais do que os 2401 mil que corresponderam a 55,5 por cento no caso de Sampaio em 2001. Nada disto se pode comparar com o resultado de Cavaco em 2011, nem este com o do mesmo Cavaco em 2006 porque foram diferentes o quadro em que decorreram e as variáveis que condicionaram cada uma das eleições. E também nada disto determina se um Presidente fica mais forte ou mais fraco para desempenhar as suas funções no segundo mandato, como se viu com os anteriores titulares do cargo. Cavaco ganhou e ganhou bem. Mas se quase parece que perdeu não foi só por força da avalancha de análises e comentários a apoucar o seu resultado, muitos deles politicamente interessados, começando pelos da área do Governo. Ele próprio contribuiu para essa ideia com o discurso da noite eleitoral, deselegante, azedo e ressentido. Foi o discurso de alguém que sentiu a necessidade de, com ele, valorizar o seu resultado. Não precisava de o fazer e, certamente, não o teria feito se, apesar da vitória alcançada, não sofresse algum sentimento de derrota. E esse sentimento, embora nada tenha a ver com a sua legitimidade política e institucional, nem determine se será, no segundo mandato, melhor ou pior Presidente do que no primeiro, tem como razão de ser o facto de a campanha o ter diminuído aos olhos do país, incluindo, provavelmente, muitos dos eleitores que votaram nele. Essa ferida na sua imagem pessoal está aberta e não são os votos obtidos que a farão sarar, como era sabido e se escreveu aqui antes da eleição. Quanto à presidência em si, nada está ganho nem perdido. O segundo mandato é aquele em que os presidentes trabalham para a História. Será o êxito ou o fracasso que o político experiente que é Cavaco Silva souber fazer dele. Alegrias e tristezas

Numa eleição com tantos candidatos, nunca há só um vencedor. Tivemos, aliás, mais vencedores do que vencidos: três, além de Cavaco, contra dois. Os 14 por cento de Fernando Nobre foram um prémio justo para alguém que, tendo obra meritória na sociedade, entendeu oferecer os seus préstimos à política. A tarefa era difícil e fácil ao mesmo tempo. Difícil porque sem o apoio logístico de um partido, um candidato relativamente desconhecido custa a afirmar-se no curto prazo de uma campanha; fácil porque o discurso 'antissistema' paga bem nos tempos que correm, mesmo sem ideias sólidas que o sustentem. Dentro de cinco anos, talvez Nobre tenha condições para voltar, mas começando de novo. Daqui até lá, é melhor não pensar nos 'seus' 600 mil votos para não ter a mesma desdita de Alegre. O segundo vencedor é o candidato fora de ordem, ou 'o sexto candidato', aquele que, embora concorrendo para Belém, só tinha o Funchal no pensamento. Até que ponto serão estes votos de José Manuel Coelho convertíveis no seu combate contra Jardim é a dúvida que se coloca. No continente foram meros votos de protesto, embora com o seu quê de pitoresco, o que até nem fica mal numa eleição unipessoal. Francisco Lopes não ganhou mas também não perdeu, já porque o PCP nunca perde - pelo menos encontra sempre uma explicação de vitória -, já porque, na verdade, o score obtido não envergonha. Perdeu votos e percentagem em relação a Jerónimo de Sousa, mas este tinha a vantagem de ser já secretário-geral quando se candidatou. Lopes ainda não o é. E ganhou a notoriedade que lhe faltava para poder vir a sê-lo. Já Defensor Moura foi o mais completo fiasco. Esgotou o seu papel no debate com Cavaco mas foi humilhado no próprio concelho a que presidiu durante vários mandatos, ficando-se por bastante menos de metade dos votos do adversário que tanto atacou. Por fim, Manuel Alegre. Foi, obviamente, o grande vencido da noite, tanto à luz dos objetivos traçados, como dos apoios que recebeu. Na hora da derrota, assumiu-a com galhardia, enquanto outros, como José Sócrates, lhe gabavam a coragem de ter avançado, ao mesmo tempo que valorizavam a continuidade e a estabilidade trazida pela vitória de Cavaco. A relação do PS de Sócrates com Alegre e de Alegre com o PS de Sócrates está, desde há vários anos, assente na maior das hipocrisias. Detestam-se, profunda e reciprocamente, mas fazem o que for preciso - ou fizeram-no até agora - para fingir o contrário, julgando talvez que os eleitores não percebem. Enganaram-se redondamente e também por isso os resultados foram o que foram. Podíamos agora lamentar-nos da abstenção, dos votos bancos e nulos, do desencanto geral que as eleições evidenciaram. Mas isso o que adianta? Esperemos pelas próximas. Se nada de substancial mudar nas políticas e nos comportamentos é bem possível que ainda tenhamos saudades destas. Fernando Madrinha Texto publicado na edição do Expresso de 29 de janeiro de 2011 Pág. 5 de 20 « ... | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | ... » Ver 10, 20, 50 resultados por pág.

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