Os museus nacionais e os paradigmas dos séc. XXI

06-07-2011
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Não será talvez dos assuntos que mais relevo teve nos últimos tempos, dada a grave situação económica que vivemos e o circo mediático que nos oprime, mas hoje damos aqui nota da estratégia para os museus que o actual governo pretende incutir.

Este tema foi desenvolvido numa edição do Jornal de Letras do mês passado, podendo ser consultada aqui. O Jornal de Letras é detido pela Impresa da família Balsemão e dirigido por José Carlos Vasconcelos, numa linha editorial que me atrevo a resumir como de esquerda ma non troppo. A modos que me lembro do antigo presidente da minha freguesia, que procurava relativizar as insuficiências em equipamentos e serviços sociais sentidas pela população (a câmara era da sua cor amarela – o PS) e que se despediu parafraseando uns versos do Joaquim Pessoa!

Os artigos digitalizados são na minha opinião muito interessantes e aconselho a sua leitura. Numa primeira parte parece propaganda governamental em vez de informação; o contraditório é realizado pelos especialista e estudiosos logo a seguir, ajudando a compreender as mudanças que o governo prepara para o sector e o seu contexto.

A coisa propriamente dita

Resumidamente, com o objectivo de estimular o “desenvolvimento cultural” do nosso povo e a “atractividade turística do país”, o governo preconiza a reorganização da rede de museus e a definição de novos modelos de gestão e financiamento. Consequências práticas deste (pomposo) paradigma de “Museus para o séc. XXI”: alienação para as autarquias todos aqueles que estejam “geograficamente longe do poder central”, imposição de gestores como directores de museus, diversas acções de marketing para captar mais públicos, investimento nos museus da área de Belém.

Ora, este programa é questionado pelas intervenções dos especialistas entrevistados, em particular pela desadequação dos recursos financeiros e humanos que os museus sentem há muito e que as novas orientações não pretendem redimir. A estratégia é também colocada em causa por privilegiar o balanço financeiro dos museus, isto é, tem um carácter circunstancial e não uma visão política para o sector.

Um toque pessoal

Não pretendo arvorar os conhecimentos dos especialistas, nem afirmar que todas as intenções emanadas daquela nova estratégia são prejudiciais para o país (intenções, porque acções o mais que houve foram umas mudanças de cadeiras). Mas atrevo a emitir a opinião que das boas intenções da tutela decorrem objectivos economicistas: “adaptar os museus ao seu contexto” não pode deixar de passar, presentemente, por mercantilizar mais uma área da vida social. Definitivamente, está em causa a natureza dos museus, enquanto pólos de dinamização cultural, consciencialização popular e fruição estética.

É mais o que fica por dizer: a museologia e a governação republicana; o Estado Novo como período de obscuratismo, deturpação e espectáculo; as parcerias com privados (como Serralves ou o Berardo), de que se tecem loas mas é o Estado que paga a valer… Convirá estarmos atentos às movimentações futuras, para continuarmos a exercer a nossa crítica e, também aqui, a nossa acção.

# por Luiz e Bruno (Colectivo Leitura Capital)

Não será talvez dos assuntos que mais relevo teve nos últimos tempos, dada a grave situação económica que vivemos e o circo mediático que nos oprime, mas hoje damos aqui nota da estratégia para os museus que o actual governo pretende incutir.

Este tema foi desenvolvido numa edição do Jornal de Letras do mês passado, podendo ser consultada aqui. O Jornal de Letras é detido pela Impresa da família Balsemão e dirigido por José Carlos Vasconcelos, numa linha editorial que me atrevo a resumir como de esquerda ma non troppo. A modos que me lembro do antigo presidente da minha freguesia, que procurava relativizar as insuficiências em equipamentos e serviços sociais sentidas pela população (a câmara era da sua cor amarela – o PS) e que se despediu parafraseando uns versos do Joaquim Pessoa!

Os artigos digitalizados são na minha opinião muito interessantes e aconselho a sua leitura. Numa primeira parte parece propaganda governamental em vez de informação; o contraditório é realizado pelos especialista e estudiosos logo a seguir, ajudando a compreender as mudanças que o governo prepara para o sector e o seu contexto.

A coisa propriamente dita

Resumidamente, com o objectivo de estimular o “desenvolvimento cultural” do nosso povo e a “atractividade turística do país”, o governo preconiza a reorganização da rede de museus e a definição de novos modelos de gestão e financiamento. Consequências práticas deste (pomposo) paradigma de “Museus para o séc. XXI”: alienação para as autarquias todos aqueles que estejam “geograficamente longe do poder central”, imposição de gestores como directores de museus, diversas acções de marketing para captar mais públicos, investimento nos museus da área de Belém.

Ora, este programa é questionado pelas intervenções dos especialistas entrevistados, em particular pela desadequação dos recursos financeiros e humanos que os museus sentem há muito e que as novas orientações não pretendem redimir. A estratégia é também colocada em causa por privilegiar o balanço financeiro dos museus, isto é, tem um carácter circunstancial e não uma visão política para o sector.

Um toque pessoal

Não pretendo arvorar os conhecimentos dos especialistas, nem afirmar que todas as intenções emanadas daquela nova estratégia são prejudiciais para o país (intenções, porque acções o mais que houve foram umas mudanças de cadeiras). Mas atrevo a emitir a opinião que das boas intenções da tutela decorrem objectivos economicistas: “adaptar os museus ao seu contexto” não pode deixar de passar, presentemente, por mercantilizar mais uma área da vida social. Definitivamente, está em causa a natureza dos museus, enquanto pólos de dinamização cultural, consciencialização popular e fruição estética.

É mais o que fica por dizer: a museologia e a governação republicana; o Estado Novo como período de obscuratismo, deturpação e espectáculo; as parcerias com privados (como Serralves ou o Berardo), de que se tecem loas mas é o Estado que paga a valer… Convirá estarmos atentos às movimentações futuras, para continuarmos a exercer a nossa crítica e, também aqui, a nossa acção.

# por Luiz e Bruno (Colectivo Leitura Capital)

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