Nicolau Saião, Sonhos de um homem de bemNão há caricaturas… … E muito menos ditadores ridículos. Numa pequena tasca de Vila Boim, rente a Elvas, despacho com limpeza um pratito de bucho assado com rodelinhas de cebola e troco meia dúzia de palavras com o dono do estanco. Bons lugares para filosofar, as tasquinhas fora do tempo deste Alentejo criador. E corro o olhar em volta: calendários com cachopas e futebolistas pelas paredes, prospectos de apreciadas marcas e de festarolas nos arredores. Uma folha muito madura de jornal com o Sadam. Umas coisinhas do Benfica. E do Sporting. Para contentar toda a gente, decerto, que os clientes nestes tempos de crise requisitam carinhos adicionais. E um pequeno cartaz de propaganda, requentado, com um Portas sorridente. Sorrindo para mim directamente – que não havia ali mais ninguém - do passado próximo. Ainda não tinha os dentes novos mas exprimia-se bem. Gestualmente. Com o seu ar de jovem milhafre ou gavião pronto, como dizia Ungaretti, para todas as viagens. Políticas, neste caso. Enfio o resto do tintol. Degluto a última lasca de bucho. Rapo da carteira. Ao pagar, Sadam contempla-me com o seu bigode de comerciante beirão. O Portas dirige-me um último sorriso pepsodent. Não. Não há ditadores ridículos. Nem democratas musculados ridículos. Como dizia Jean-Marie Domenach, a sua simples aparição serve muito bem para gerar a inquietação. Mesmo que um fulano de tal não se dê muita conta. Quer usem bigode de marçano, sorriso matreiro ou dentes novos.Nota - Este texto bem como a entrevista a Nicolau Saião sobre o tema Comportamentos, haviam sido já publicadas pelo blog Fundação Velocipédica.
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Nicolau Saião, Sonhos de um homem de bemNão há caricaturas… … E muito menos ditadores ridículos. Numa pequena tasca de Vila Boim, rente a Elvas, despacho com limpeza um pratito de bucho assado com rodelinhas de cebola e troco meia dúzia de palavras com o dono do estanco. Bons lugares para filosofar, as tasquinhas fora do tempo deste Alentejo criador. E corro o olhar em volta: calendários com cachopas e futebolistas pelas paredes, prospectos de apreciadas marcas e de festarolas nos arredores. Uma folha muito madura de jornal com o Sadam. Umas coisinhas do Benfica. E do Sporting. Para contentar toda a gente, decerto, que os clientes nestes tempos de crise requisitam carinhos adicionais. E um pequeno cartaz de propaganda, requentado, com um Portas sorridente. Sorrindo para mim directamente – que não havia ali mais ninguém - do passado próximo. Ainda não tinha os dentes novos mas exprimia-se bem. Gestualmente. Com o seu ar de jovem milhafre ou gavião pronto, como dizia Ungaretti, para todas as viagens. Políticas, neste caso. Enfio o resto do tintol. Degluto a última lasca de bucho. Rapo da carteira. Ao pagar, Sadam contempla-me com o seu bigode de comerciante beirão. O Portas dirige-me um último sorriso pepsodent. Não. Não há ditadores ridículos. Nem democratas musculados ridículos. Como dizia Jean-Marie Domenach, a sua simples aparição serve muito bem para gerar a inquietação. Mesmo que um fulano de tal não se dê muita conta. Quer usem bigode de marçano, sorriso matreiro ou dentes novos.Nota - Este texto bem como a entrevista a Nicolau Saião sobre o tema Comportamentos, haviam sido já publicadas pelo blog Fundação Velocipédica.