O ministro da Economia principiou esta segunda-feira a primeira prestação de um membro do Governo na discussão do Orçamento do Estado em sede de especialidade a arriscar o vaticínio de que 2012 vai ser o ano da retoma para o crescimento gradual de 2013 e 2014. Apesar de as últimas previsões de Bruxelas para o PIB português calcularem a recessão do próximo ano em três por cento, contra os 2,8 por cento estimados pelo Executivo, Álvaro Santos Pereira mostra-se convicto de que haverá sinais do fim da crise: Que não exista qualquer dúvida.
A convicção do ministro da Economia foi manifestada na abertura da discussão do Orçamento do Estado em sede de comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, Segurança Social e Trabalho, 48 horas após a aprovação da proposta do Governo na generalidade. O próximo ano, estimou Álvaro Santos Pereira, vai ser “determinante para Portugal e para a economia portuguesa”. “Se, por um lado, será um ano de crescimento negativo, será por outro um ano positivo, porque serão concretizadas muitas das medidas que temos tomado e outras que estamos a ultimar”, quis sustentar o governante.
“Ponto de viragem”
A 13 de outubro de 2006, um dos antecessores de Álvaro Santos Pereira na pasta da Economia ganhava notoriedade ao declarar um “ponto de viragem” e o fim da crise em Portugal.
Numa deslocação a Aveiro, o então ministro da tutela no Executivo socialista de José Sócrates, Manuel Pinho, afirmava: “A crise acabou”.
Pinho reclamava, à data, que o Governo havia herdado “um défice das finanças públicas totalmente descontrolado e cheio de operações extraordinárias, a economia em terreno negativo e o aumento do desemprego”.
Terminada a crise, insistia nessa altura Manuel Pinho, só faltava saber quanto é a economia iria crescer.
Conhecidas na passada quinta-feira, as mais recentes projeções da Comissão Europeia para a economia portuguesa apontam para uma recessão de três por cento em 2012. Já a taxa de desemprego deve disparar, segundo os cálculos de Bruxelas, para os 13,6 por cento.
No cenário macroeconómico desenhado para o Orçamento do Estado, o Governo do PSD e do CDS-PP antecipa um recuo do Produto Interno Bruto de 2,8 por cento no próximo ano, ao passo que o desemprego é cifrado nos 13,4 por cento. Apesar destes números, Santos Pereira insistiu, na Assembleia da República, que “2012, certamente, irá marcar o fim da crise, será o ano da retoma para o crescimento gradual de 2013 e de 2014”.
Outros dos pontos na intervenção inicial do ministro prendeu-se com a reforma das leis do trabalho.
Álvaro Santos Pereira elegeu o verbo “reformar” como “a palavra-chave para um caminho sustentado a longo prazo”.
“Somos menos competitivos na atração do investimento estrangeiro e de nada vale alegar que há especificidades na nossa legislação. Chega de remar contra a maré”, propugnou o governante, para depois proclamar “total abertura” ao “diálogo” com os parceiros sociais.
“Olhe que não”, diz o PCP
O ideário preparado por Álvaro Santos Pereira para a sua intervenção na comissão de Orçamento e Finanças teve no entanto fraca aceitação junto dos parlamentares da ala esquerda da Assembleia, com o deputado comunista Jorge Machado a denunciar a preparação de uma "lei da selva da legislação laboral".
Deixando a acusação ao ministro de total cedência - "em toda a linha" - perante o patronato, numa agenda de alterações à legislação laboral que visa "prejudicar quem trabalha", o PCP avisou Santos Pereira de que a sua linha governativa apenas logrará "colocar o país a um nível subdesenvolvido".
"Com o seu Orçamento do Estado vai agravar o desemprego, é um desastre económico e social, teremos a taxa mais elevada desde o 25 de Abril em Portugal", sustentou Jorge Machado, que "em vez de medidas para resolver" os problemas do país, lê no Orçamento a inevitabilidade de um aumento da recessão.
“Sabemos bem o que aconteceu na União Soviética”
As críticas dos comunistas foram rejeitadas pelo ministro da Economia, que deitou mão da metáfora e da ironia para responder a Jorge Machado. Num recurso à gramática do futebol, Álvaro Santos Pereira procurou garantir em São Bento que as reformas preparadas pela equipa do Governo para a legislação laboral "fomentam a contratação".
"Não há empregos sem empresas, não adianta ter uma boa defesa se não existe um bom ataque", disse Álvaro Santos Pereira.
"As empresas são como o futebol, trabalha-se em equipa. Para as empresas vencerem é preciso ter bons empresários. Não está em questão questões classistas", defendeu o ministro, para rematar com uma ironia: "Sabemos bem o que aconteceu na União Soviética ou em Cuba".
Instando a uma "atitude de responsabilidade" num momento em que o país se encontra "numa situação de emergência nacional", o ministro deixou um derradeiro conselho. "Para termos mais emprego precisamos de empresas e retóricas exacerbadas ou ameaças de rua não nos conduzem a lado nenhum", declarou Santos Pereira, no que pode ser entendido como uma reação às formas de luta preconizadas pelos comunistas para os tempos que aí vêm.
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O ministro da Economia principiou esta segunda-feira a primeira prestação de um membro do Governo na discussão do Orçamento do Estado em sede de especialidade a arriscar o vaticínio de que 2012 vai ser o ano da retoma para o crescimento gradual de 2013 e 2014. Apesar de as últimas previsões de Bruxelas para o PIB português calcularem a recessão do próximo ano em três por cento, contra os 2,8 por cento estimados pelo Executivo, Álvaro Santos Pereira mostra-se convicto de que haverá sinais do fim da crise: Que não exista qualquer dúvida.
A convicção do ministro da Economia foi manifestada na abertura da discussão do Orçamento do Estado em sede de comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, Segurança Social e Trabalho, 48 horas após a aprovação da proposta do Governo na generalidade. O próximo ano, estimou Álvaro Santos Pereira, vai ser “determinante para Portugal e para a economia portuguesa”. “Se, por um lado, será um ano de crescimento negativo, será por outro um ano positivo, porque serão concretizadas muitas das medidas que temos tomado e outras que estamos a ultimar”, quis sustentar o governante.
“Ponto de viragem”
A 13 de outubro de 2006, um dos antecessores de Álvaro Santos Pereira na pasta da Economia ganhava notoriedade ao declarar um “ponto de viragem” e o fim da crise em Portugal.
Numa deslocação a Aveiro, o então ministro da tutela no Executivo socialista de José Sócrates, Manuel Pinho, afirmava: “A crise acabou”.
Pinho reclamava, à data, que o Governo havia herdado “um défice das finanças públicas totalmente descontrolado e cheio de operações extraordinárias, a economia em terreno negativo e o aumento do desemprego”.
Terminada a crise, insistia nessa altura Manuel Pinho, só faltava saber quanto é a economia iria crescer.
Conhecidas na passada quinta-feira, as mais recentes projeções da Comissão Europeia para a economia portuguesa apontam para uma recessão de três por cento em 2012. Já a taxa de desemprego deve disparar, segundo os cálculos de Bruxelas, para os 13,6 por cento.
No cenário macroeconómico desenhado para o Orçamento do Estado, o Governo do PSD e do CDS-PP antecipa um recuo do Produto Interno Bruto de 2,8 por cento no próximo ano, ao passo que o desemprego é cifrado nos 13,4 por cento. Apesar destes números, Santos Pereira insistiu, na Assembleia da República, que “2012, certamente, irá marcar o fim da crise, será o ano da retoma para o crescimento gradual de 2013 e de 2014”.
Outros dos pontos na intervenção inicial do ministro prendeu-se com a reforma das leis do trabalho.
Álvaro Santos Pereira elegeu o verbo “reformar” como “a palavra-chave para um caminho sustentado a longo prazo”.
“Somos menos competitivos na atração do investimento estrangeiro e de nada vale alegar que há especificidades na nossa legislação. Chega de remar contra a maré”, propugnou o governante, para depois proclamar “total abertura” ao “diálogo” com os parceiros sociais.
“Olhe que não”, diz o PCP
O ideário preparado por Álvaro Santos Pereira para a sua intervenção na comissão de Orçamento e Finanças teve no entanto fraca aceitação junto dos parlamentares da ala esquerda da Assembleia, com o deputado comunista Jorge Machado a denunciar a preparação de uma "lei da selva da legislação laboral".
Deixando a acusação ao ministro de total cedência - "em toda a linha" - perante o patronato, numa agenda de alterações à legislação laboral que visa "prejudicar quem trabalha", o PCP avisou Santos Pereira de que a sua linha governativa apenas logrará "colocar o país a um nível subdesenvolvido".
"Com o seu Orçamento do Estado vai agravar o desemprego, é um desastre económico e social, teremos a taxa mais elevada desde o 25 de Abril em Portugal", sustentou Jorge Machado, que "em vez de medidas para resolver" os problemas do país, lê no Orçamento a inevitabilidade de um aumento da recessão.
“Sabemos bem o que aconteceu na União Soviética”
As críticas dos comunistas foram rejeitadas pelo ministro da Economia, que deitou mão da metáfora e da ironia para responder a Jorge Machado. Num recurso à gramática do futebol, Álvaro Santos Pereira procurou garantir em São Bento que as reformas preparadas pela equipa do Governo para a legislação laboral "fomentam a contratação".
"Não há empregos sem empresas, não adianta ter uma boa defesa se não existe um bom ataque", disse Álvaro Santos Pereira.
"As empresas são como o futebol, trabalha-se em equipa. Para as empresas vencerem é preciso ter bons empresários. Não está em questão questões classistas", defendeu o ministro, para rematar com uma ironia: "Sabemos bem o que aconteceu na União Soviética ou em Cuba".
Instando a uma "atitude de responsabilidade" num momento em que o país se encontra "numa situação de emergência nacional", o ministro deixou um derradeiro conselho. "Para termos mais emprego precisamos de empresas e retóricas exacerbadas ou ameaças de rua não nos conduzem a lado nenhum", declarou Santos Pereira, no que pode ser entendido como uma reação às formas de luta preconizadas pelos comunistas para os tempos que aí vêm.