Contos Proibidos: O apoio de Kadhafi ao PS e as relações com Israel

24-11-2014
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Uma outra questão essencial da política externa do PS foi o empenho com que «forçámos» o Governo Português a normalizar as relações diplomáticas com Israel, encontrando eu em Salgado Zenha o principal protagonista desta normalização. A quase totalidade da direcção socialista saída do II Congresso tinha laços antigos com os argelinos.

O apoio financeiro do coronel Kadhafi, em 1974, era uma outra importante condicionante ao reconhecimento de Israel. O que, a meu ver, era um autêntico disparate. Não só porque o país existe e era (e continua a ser) a única democracia do Médio Oriente, mas porque esse não reconhecimento tinha repercussões político-económicas em todo o mundo ocidental. Havia também que contar com o facto de existir em Israel um partido que fazia parte da IS.

A resistência do Governo, à semelhança do que se passara com os Governos Provisórios, dava lugar a rumores de que Portugal cedia às pressões do mundo Árabe, ao passo que era do conhecimento geral de que seríamos mais respeitados pelos árabes reconhecendo Israel, do que o não fazendo. Um outro fundador do PS e da chamada ala moderada do partido, Bernardino Gomes, que Soares tinha designado para certos contactos com a CIA, desenvolvia então em Lisboa uma espécie de lobby pró-israelita. Era seu assessor em S. Bento e muito diligente para com a família Soares.

O Partido Trabalhista insistira para que Mário Soares viesse a Israel participar no seu Congresso, em Fevereiro de 1977. Apesar de o convidado ser o secretário-geral e de Bernardino Gomes e eu termos envidado todos os esforços para o convencer a aceitar, ele recusar-se-ia. Concordaria contudo em deixar Bernardino representar o PS no Congresso do Partido Trabalhista de Ytzhak Rabin. O que para a estratégia desejada seria insuficiente, uma vez que ele não detinha nenhum cargo ou função dentro do Partido Socialista. Eu levantaria então a questão no Secretariado Nacional, sugerindo que na impossibilidade de Mário Soares, deveria ser Salgado Zenha a representar o PS.

A reacção generalizada seria em princípio negativa, mas Salgado Zenha, muito receptivo a criticar os feitos da política governamental e cada vez mais pré-disposto a contradizer as opiniões do seu velho amigo, disse estar interessado em ser ele a ir a Israel. Ninguém, como é óbvio, se atreveria a dizer-lhe não. O então presidente do Grupo Parlamentar do PS, acompanhado de Bernardino Gomes, uma vez em Israel, afirmaria ir desencadear” os mecanismos no seio do Grupo Parlamentar do PS com vista a recomendar ao Governo (do PS) a normalização de relações entre os dois países. Mais um acto de «diplomacia paralela» que, uma vez mais, obrigaria o Governo e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Medeiros Ferreira, a dar os passos necessários para o reconhecimento de Israel.

Mas a má-vontade era tão evidente, que só anos depois o nosso país enviaria um embaixador para Israel. Foi um acto «empurrado» pelo Departamento Internacional do PS, que não teria então grande popularidade nem no PS nem no País. Mas, seis anos depois, teria a maior relevância e permitiria ao secretário-geral do PS conduzir a mais importante missão internacional da sua carreira.

O Aventar disponibiliza a obra completa aqui

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Uma outra questão essencial da política externa do PS foi o empenho com que «forçámos» o Governo Português a normalizar as relações diplomáticas com Israel, encontrando eu em Salgado Zenha o principal protagonista desta normalização. A quase totalidade da direcção socialista saída do II Congresso tinha laços antigos com os argelinos.

O apoio financeiro do coronel Kadhafi, em 1974, era uma outra importante condicionante ao reconhecimento de Israel. O que, a meu ver, era um autêntico disparate. Não só porque o país existe e era (e continua a ser) a única democracia do Médio Oriente, mas porque esse não reconhecimento tinha repercussões político-económicas em todo o mundo ocidental. Havia também que contar com o facto de existir em Israel um partido que fazia parte da IS.

A resistência do Governo, à semelhança do que se passara com os Governos Provisórios, dava lugar a rumores de que Portugal cedia às pressões do mundo Árabe, ao passo que era do conhecimento geral de que seríamos mais respeitados pelos árabes reconhecendo Israel, do que o não fazendo. Um outro fundador do PS e da chamada ala moderada do partido, Bernardino Gomes, que Soares tinha designado para certos contactos com a CIA, desenvolvia então em Lisboa uma espécie de lobby pró-israelita. Era seu assessor em S. Bento e muito diligente para com a família Soares.

O Partido Trabalhista insistira para que Mário Soares viesse a Israel participar no seu Congresso, em Fevereiro de 1977. Apesar de o convidado ser o secretário-geral e de Bernardino Gomes e eu termos envidado todos os esforços para o convencer a aceitar, ele recusar-se-ia. Concordaria contudo em deixar Bernardino representar o PS no Congresso do Partido Trabalhista de Ytzhak Rabin. O que para a estratégia desejada seria insuficiente, uma vez que ele não detinha nenhum cargo ou função dentro do Partido Socialista. Eu levantaria então a questão no Secretariado Nacional, sugerindo que na impossibilidade de Mário Soares, deveria ser Salgado Zenha a representar o PS.

A reacção generalizada seria em princípio negativa, mas Salgado Zenha, muito receptivo a criticar os feitos da política governamental e cada vez mais pré-disposto a contradizer as opiniões do seu velho amigo, disse estar interessado em ser ele a ir a Israel. Ninguém, como é óbvio, se atreveria a dizer-lhe não. O então presidente do Grupo Parlamentar do PS, acompanhado de Bernardino Gomes, uma vez em Israel, afirmaria ir desencadear” os mecanismos no seio do Grupo Parlamentar do PS com vista a recomendar ao Governo (do PS) a normalização de relações entre os dois países. Mais um acto de «diplomacia paralela» que, uma vez mais, obrigaria o Governo e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Medeiros Ferreira, a dar os passos necessários para o reconhecimento de Israel.

Mas a má-vontade era tão evidente, que só anos depois o nosso país enviaria um embaixador para Israel. Foi um acto «empurrado» pelo Departamento Internacional do PS, que não teria então grande popularidade nem no PS nem no País. Mas, seis anos depois, teria a maior relevância e permitiria ao secretário-geral do PS conduzir a mais importante missão internacional da sua carreira.

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