Scriptorium: novembro 2005 Archives

11-01-2012
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Notas Perdidas XI Quando há algumas semanas escrevi neste espaço que havia em Portugal novos ‘marqueses de Pombal’, um novo republicanismo exacerbado e desejoso de repetir as atrocidades de 1910 contra a Igreja e as Instituições Religiosas não estava muito longe da Verdade. Quando disse que a Igreja, também em Portugal, caminhava para as ‘catacumbas’ não estava longe da verdade. Quando disse que a Igreja em Portugal estava a ser silenciada, não estava longe da verdade, ao contrário do que outros afirmavam.

A notícia que esta semana vem a público sobre a retirada dos crucifixos das escolas públicas é disso sinal. Não tanto pelo facto em si, mas pela lógica da decisão.

A Igreja Católica tem na História Mundial e na História de Portugal um lugar que não lhe pode ser negado, nem remetido ao esquecimento. Para além de todos os erros, por mais atrozes que possam ter sido e que possa ter cometido, Portugal e a Europa são o que são também pela influência da Igreja. Em Portugal não esqueçamos que foi a Igreja a grande impulsionadora da Educação, da Cultura e da Assistência Social. Ainda o é hoje.

A Europa e Portugal, no entanto, há muito que deixaram de ser um espaço exclusivo da Igreja Católica. O nascimento de ‘novas’ Igrejas, novas Comunidades, a globalização e a aproximação dos Povos e Culturas trouxe à Europa e a Portugal a multi-religiosidade. Cristãos Católicos vivem lado a lado com Cristãos provenientes de outras Igrejas, com Judeus, Islâmicos, Budistas, Hinduístas, e tantas outras comunidades crentes. A própria Igreja, no Concílio Vaticano II, há 40 anos atrás, reconheceu isso mesmo e pediu ao Mundo e à Europa a Liberdade Religiosa para todo o Homem, como resposta coerente e necessária ao reconhecimento da Dignidade de todo Ser Humano.

Em Portugal a Igreja Católica gozou, por acordos mútuos entre o Estado Português e o Estado do Vaticano (a Santa Sé), de inúmeros privilégios legitimados pela preponderância e pela importância da Igreja Católica no passado e no presente da nação portuguesa. Este facto foi renovado em 2004, com a Nova Concordata que, no entanto, recolocou alguma justiça já exigida pelas novas realidades no contexto social e religioso do país, sobretudo depois da aprovação da lei da Liberdade Religiosa pelo Parlamento português, com o apoio e a colaboração da própria Igreja Católica.

É em nome desta Liberdade Religiosa que agora se tomam medidas como a que foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação social. O fundamento pode ser legítimo, mas apenas segundo uma determinada interpretação da designação ‘liberdade religiosa’. Por Liberdade religiosa quer entender-se Igualdade de Direitos. Todas as Religiões têm perante o Estado Português a mesma Igualdade e o reconhecimento da mesma Liberdade. Óptimo. Mal é quando essa Igualdade se quer reduzir essa Igualdade a nada, ou seja, à indiferença do Estado perante as Religiões. E essa indiferença do estado remete a Igreja Católica e todas as outras Comunidades Crentes ao silêncio, ao privado, para dentro ‘de portas’, não lhe permitindo habitar os espaços públicos. Não falta muito tempo até que sejam proibidas as assistências religiosas nos Hospitais públicos ou nas prisões, ou nas Forças Armadas. Não tardará até que sejam mudados os nomes de Instituições públicas que hoje têm títulos cristãos (ex. Hospital de Santo André), ou a retirada das Imagens Religiosas dos Jardins ou Praças das nossas Cidades. Porque tudo isso pode ‘incomodar’ um utente, ou um transeunte não cristão. Daí à proibição de qualquer símbolo ou traje religioso nas escolas (os terços ao pescoço, os crucifixos nos fios ou nos brincos, os padres e o seu cabeção, as freiras e os seus hábitos, etc), nas ruas, nos espaços públicos será um pequeno passo. Tudo em nome de uma suposta Liberdade Religiosa de uma Igualdade.

Liberdade e Igualdade, não seria permitir que nos espaços públicos, como as Escolas ou os Hospitais, que nas Instituições do Estado, como as prisões ou as Forças Armadas, toda e qualquer Religião ou Comunidade Crente que o solicitasse pudesse ter uma Presença? Qual o mal de as escolas não terem apenas o crucifixo, mas terem também uma Estrela de David (Judaísmo) ou uma Meia-lua (Islamismo) ou outro símbolo Religioso? Não seria muito mais educativo e gerador de bom relacionamento entre as diversas Religiões e os seus fiéis? Porque não permitir na mesma medida a Assistência Religiosa nos Hospitais, Prisões e Forças Armadas as todas as Religiões? Porquê haver aí apenas uma pequena Capela Católica e não haver um espaço religioso ecuménico ou inter-religioso? Porquê haver apenas, nos hospitais, nas cadeias ou nas Forças Armadas um Capelão Católico e não haver um Assistente Religioso de Cada Comunidade Religiosa implantada na Região? Será o ‘nada’ que se quer impor às Instituições públicas a melhor garantia da Liberdade Religiosa?

A medida tomada, e outras que no mesmo sentido venham a ser tomadas não prejudicam em nada a Igreja Católica ou a sua missão, mas a verdade é que também em nada beneficiam qualquer outra Religião ou Comunidade Crente em Portugal. Pelo contrário. Começa por instalar, precisamente na raiz da formação e da educação das novas gerações uma ‘nova Religião: o Laicismo! Sim, porque o Laicismo é uma certa forma de religiosidade que tem também os seus deuses, os seus ídolos, os seus cultos.

Haverá ainda que medir as consequências de uma nova mentalidade assim, contrária a qualquer manifestação religiosa, olhando para os efeitos da mesma medida em outros países, de que França se tornou nos últimos tempos paradigma. As proibições nunca foram a melhor forma de educação social, e quando em nome de uma suposta Liberdade ou Igualdade se impõem uma uniformidade tal ‘feitiço’ pode virar-se contra o ‘feiticeiro’, aliadas as difíceis condições económicas e sociais, e gerar novas ondas de perturbação, de xenofobia, de violência e perseguição religiosa.

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Notas Perdidas X Tenho-me reservado a muitos silêncios para deste modo não alimentar o vício persecutório de alguns, mas nem assim.

O meu grande silêncio foi sem dúvida em relação ao que, neste mesmo Jornal, muito foi escrito, após as Notas Perdidas de 13 de Outubro último. Em 20 de Outubro e nas semanas seguintes este Jornal tornou-se a barra de um tribunal onde fui julgado, sentenciado e condenado. As provas eram apenas circunstanciais, algumas linhas apenas. Fui rotulado de medíocre pelo insigne Presidente desta Edilidade Municipal. O mesmo Senhor que por aí apregoava que iria implementar uma relação de proximidade e de respeito pelos cidadãos marinhenses, depressa esqueceu a sua promessa e vai de num texto publicado neste mesmo Jornal afirmar, sobre o texto por mim publicado, que «a mediocridade do texto define o seu autor», o que para os mais ingénuos quer dizer que quem ousa criticar o seu partido ou o seu governo camarário é nada mais nada menos que medíocre. Num outro Jornal da região, justificou toda a panóplia de ataques dos seus camaradas à minha pessoa por eu ter dito coisas anti-democráticas. Quais? Ele não disse, e eu também as desconheço.

Se alguém reler o meu artigo de 13/10/05 verá que começo esse mesmo texto por saudar o acto eleitoral como manifestação da Liberdade Democrática de todo um Povo. Ninguém leu essa parte? Continuando, só uma leitura infantil pôde confundir ‘alhos com bugalhos’. Confundiu-se a ingenuidade do povo e o maquievelismo político a que me referi quando falei sobre os actos eleitorais de Municípios como Felgueiras, Amarante, Gondomar ou Oeiras, pelas razões mais que óbvias, com os resultados eleitorais da Marinha Grande.

Depois, não se entendeu que eu tivesse afirmado que este resultado, nesta cidade, não traduzia o verdadeiro pensar e sentir verdadeiro do Povo da Marinha Grande. Bem, aceito que a expressão não tenha sido feliz, mas compreender-se-á melhor se olharmos para estas eleições no contexto político nacional. E foi isso que quis dizer: que muitos marinhenses votaram contra o Governo e não contra o PS na Marinha Grande; que votaram contra o Engº Sócrates e não contra o Dr. João Paulo Pedrosa. A responsabilidade, essa atribuía ao PCP e ao seu líder, Senhor Jerónimo de Sousa. Nada me moveu ou move contra a Pessoa, que nem conheço e que merece todo o meu respeito humano, apenas critiquei a sua forma de fazer política e de fazer campanha eleitoral, de confundir e de quer que os portugueses, e com algum sucesso está visto, confundissem eleições legislativas com eleições autárquicas. Isso para mim, goste-se ou não se goste, concorde-se ou não, é uma desonestidade política para com os cidadãos.

Fiz uma leitura pessoal dos resultados nacionais e locais. Mas tão legítima como qualquer outra, e nada anti-democrática. Nunca disse que não respeitava a escolha feita ou contestava a eleição. Não fui no dia seguinte a correr retirar o meu nome dos cadernos eleitorais da Freguesia da Marinha Grande, nem deixei de ser Marinhense. Apenas questionei as razões. Não é esse um Direito de qualquer Cidadão num estado Livre e Democrático?

Todas as Cartas que me foram dirigidas mereceram a minha atenção. A minha leitura. Algumas a minha respeitosa indiferença, e outras a minha revolta interior. Não pelo contraditório às minhas palavras, que é um Direito de todos, mas pela forma, pela expressão, pela violência verbal, pela calúnia pessoal, pela injúria, e pelas mentiras a meu respeito. Mais revoltado me deixaram as extrapolações feitas por pseudo-ilustres pensadores desta praça pública. De um texto pessoal retiraram ilações sobre uma Instituição, que quanto mais não seja pelos 2000 anos que tem de História e pelo seu papel no panorama Mundial merece maior respeito por todos. Os erros do seu passado não justificam que seja hoje sistematicamente condenada, e re-condenada pelos mesmos erros. Recorde-se que no ano 2000 o bom e saudoso Papa João Paulo II pediu perdão por todos esses erros (Cruzadas, Inquisição, Anti-Semitismo, Violências e Abusos dos seus Ministros, etc), o que não me recordo de alguma vez na História ter sido feito por algum regime ou alguma Instituição violentadora dos mesmos Direitos do Homem. Já alguém pediu perdão pela perseguição, pela violência e pela morte infligida pelas ditaduras do Leste da Europa, na Ásia ou na América Latina? Apenas a Alemanha teve essa coragem este ano, 60 anos após o Holocausto, ao pedir perdão aos Judeus. Além do mais a Igreja não se avalia pelos pecados individuais dos seus filhos. Nem mesmo que esse filho seja o Papa. Mas não vale a pena tentar explicar mais, é perder precioso tempo, com quem tem uma mente (pré)formatada e incapaz de se abrir a novos horizontes.

Compreendo a inquietação de muitos pelo meu escrito. Mas se se inquietaram tanto é porque toquei em alguma verdade. Não sendo pretensioso, não tenho disso a menor dúvida. A prova é tudo o que se tem escrito por aqui. A ponto de já se verem cabalas editoriais entre aquilo que escrevo e aquilo que escrevem outras pessoas, nomeadamente o Dr. João Paulo Pedrosa. Devo dizer que a última vez que troquei alguma palavra directa com o Senhor Vereador foi no dia 9 de Outubro de 2005. Desde então não mais nos cruzámos. Mas há que encontrar ‘bodes expiatórios’ ou ‘palhaços’ que distraiam a multidão do que realmente se vai passando neste ‘circo’. Aproveito para esclarecer que não sou militante de qualquer partido, nem estou ao serviço de nenhum e muito menos coloco nas minhas orações estas questões. Só quem não me conhece pode fazer tais afirmações ou insinuações. Não confundo Deus ou a Igreja com a Política nem a Palavra de Deus ou Homilias com Comícios. Os meus paroquianos atestam esta Verdade. O único apelo que faço sempre, em tempo de eleições, é ao Voto, ao exercício cívico e moral de ir votar em consciência.

Apenas de uma coisa me arrependo, e que efectivamente me foi sugerida posteriormente por um adversário neste mesmo Jornal: devia ter aproveitado o meu espaço neste Jornal para fazer Campanha. Se o tivesse feito, mais que certo era estar hoje a responder às mesmas acusações de anti-democrata, porque infelizmente para muitos, a mim, Cidadão deste Município, aqui nascido, registado e criado, está-me vedado o Direito de livremente me expressar. E ai de quem ouse falar para me defender. Os dois únicos que o fizeram já tiveram a resposta. São meus «acólitos». Sinto-me honrado por me saber ladeado por tão ilustres Pessoas, o mesmo não podendo já eles dizer já que se vêem ao lado de um pobre rapaz.

Um facto que poucos sabem, e que aqui deixo ao conhecimento público. Não sei quem, mas alguém decerto muito democraticamente indignado, foi fazer «queixinhas» à Hierarquia da Igreja, ou seja, ao Bispo Diocesano, sobre a minha pessoa e o meu escrito. Um voto de protesto. Como se eu não fosse pessoalmente responsável pelos meus actos. Decerto esperavam ver-me ser excomungado da Igreja, ou pelo menos suspenso no meu ministério. Queriam ver-me humilhado, publicamente enxovalhado. Escusado será dizer que foi tempo perdido. A Igreja sempre é mais Livre e Democrática, não sendo uma Democracia, que alguns movimentos partidários, ditos democráticos.

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Notas Perdidas IX Numa leitura simplória das coisas, em 1986 Mário Soares ganhou as eleições as suas primeiras presidenciais graças a uma valente bofetada que levou aqui nesta Cidade, que se não me falha a memória nesse mesmo dia lhe fechou as portas dos Paços, para lhe serem abertas por quem primeiro lhas fechou quando era já Presidente da República. Segundo a mesma leitura simplória em 1996 Cavaco Silva perdeu as suas primeiras presidenciais por afirmar que Portugal era um país Católico, atacando assim o ateu, ou agnóstico, Jorge Sampaio. Assim como em 1986 os portugueses compadecidos da dor alheia deram a vitória ao humilhado, em 1996 os portugueses deram uma lição de indiferença religiosa ao castigarem quem ousou usar tal argumento para fazer campanha eleitoral. Como se isso de ser católico influenciasse quem quer que fosse, em Portugal, na hora de ir votar, ou na hora de fazer o quer que seja.

Numa leitura não tão simplória das coisas a verdade é que há horas em que parece ser de bom-tom puxar dos galardões, todos e mais alguns, para nos fazermos valer nos nossos argumentos e pontos de vista. Agora é moda dizer-se por tudo e por nada «sou católico» ou melhor « eu até sou católico». Sim, porque quem diz isto assim é porque antes já tinha dito, ainda que por outras ideias que era tudo menos católico. Como quem diz: «Eu nem gosto do Papa, nem da Igreja, nem dos Bispos, nem dos Padres, nem vou à missa, nem rezo, e não aceito nada do que eles para aí ensinam e se calhar bem vendo as coisas nem acredito em Deus mas calma aí que eu sou católico!».

Será que isto de ser católico é assim como que uma coisa que usamos quando nos dá mais jeito ou que usamos do jeito que mais nos convém? Serão assim tão subjectivos os critérios que definem a catolicidade de alguém? Talvez o sejam, na mente já de si subjectiva de quem o pensa. Mas essa não é a Verdade.

Quais então os critérios que aferem a catolicidade de alguém?

1º Ser Baptizado na Igreja Católica. É o «passaporte» de identidade, o «visto» de entrada na Comunidade Católica, na Família dos Filhos desta Igreja. Quem não é baptizado, pode até ser simpatizante, mas a simpatia não nos dá os Direitos que só o facto de sermos Baptizados nos garante.

2º Não chega ser Baptizado. Até porque, no caso do baptismo das crianças, ninguém lhes perguntou se elas queriam ou não pertencer a esta Comunidade. É preciso a adesão pessoal. É preciso que o Baptizado livremente aceite ser parte desta Igreja, ser Católico. É preciso a adesão pessoal à Instituição e à Mensagem. Adesão significa aceitação, concordância, «identificação pessoal com»

3º Ainda assim, é insuficiente. A adesão pessoal exige laços de comunhão, de fidelidade e de lealdade. A comunhão com o Papa, com o Bispo Local, com o Pároco, com os Irmãos na mesma Fé. O que não significa obediência cega, indiscutível, submissão ou voto de silêncio. Há liberdade para na Comunhão expressar o pensar próprio, mas sempre respeitando que é ao Pastor Universal (Papa), em comunhão com os Pastores Locais (Bispos) que compete decidir. A nós compete-nos procurar pôr em prática o melhor que sabemos e podemos essas orientações.

4º A Comunhão exprime-se também na vivência quotidiana daqueles valores, princípios e opções acima dos quais nada mais pode estar, e que não se podem subalternizar face a outros, ainda que legitimados pela autoridade social. Há coisas com as quais um Católico só por ser Católico não pode concordar nunca, em circunstância alguma, eg., a violação da Vida ou da Dignidade Humana seja em que circunstância ou etapa for da sua vivência ou do seu desenvolvimento.

Poderíamos ainda aqui colocar todos os outros elementos que nos identificam como Católicos, mas que são de facto decorrentes dos anteriores, como seja a participação na Missa Dominical e a vivência sacramental habitual, a Caridade Fraterna, a participação pelo testemunho e pela palavra na vida da Comunidade Humana, etc.

Pelo que se lê e ouve por aí, parece que isto de se dizer «sou católico» é mais ou menos a mesma coisa que dizer «sou do Benfica» ou «sou do Sporting», quando não se é sócio, não se vai ver os jogos e nem os nomes dos jogadores se sabe e a única coisa que nos identifica enquanto adeptos é porventura o cachecol que religiosamente temos pendurado numa parede lá de casa. Como alguns adeptos, que a única coisa que têm de adeptos é essa ‘relíquia’ que é o cachecol, muitos dos que por aí apregoam que «até sou católico» a única coisa que têm de católicos é isso mesmo: o título!

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Notas Perdidas VIII Não é novidade que a Igreja foi desde sempre uma Instituição que causou muitos incómodos. Desde logo ao mundo Judaico. Jesus é um claro contestatário da ordem estabelecida na Comunidade hebraica, criticando ferozmente os líderes da Religião, ao mesmo tempo líderes sociais e políticos, e chamando a Si o início de uma nova era na História da Humanidade.

A Igreja Cristã nos seus primórdios lutou contra um Império pagão. Roma era o centro do Mundo. A Grécia o centro da Cultura e do Pensamento. Os primeiros cristãos, desde logo os Apóstolos e Discípulos assumindo a Missão do Anúncio da Palavra e do Acontecimento de Jesus de Nazaré, vêm-se confrontados com a perseguição, os maus-tratos e própria morte que lhes é imposta pelos adversários da Fé, que viam na Igreja de Jesus uma ameaça ao poder instalado, à paz social, à ordem política. Mas a Igreja persistiu. Cresceu. Rapidamente se espalhou pelos quatro cantos do mundo conhecido.

O Imperador Constantino, no séc. III depois de Cristo, abre uma nova porta ao Cristianismo. Ao converter-se, Constantino transformou a Roma pagã, idólatra, numa Cidade e num Império Cristão. Novo fôlego foi trazido ao anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Parecia começar o cumprimento da promessa de Jesus que o seu reino haveria de se estender até aos confins da terra. No entanto, a abertura política e social do Império à Fé Cristã trouxe, também alguns malefícios à Igreja de Cristo. O acomodamento da Instituição, a subversão da sua missão em nome da paz social e da paz com o Estado, o Império, a ambição das riquezas, da opulência, fizeram esquecer a verdadeira natureza e missão da Igreja no Mundo. Começam a ganhar força alguns movimentos heréticos, que deturpam as verdades da Fé Cristã. É a época dos grandes teólogos, dos Padres da Igreja que esclarecem e afirmam a verdadeira doutrina.

A História continuará com o crescimento da Igreja, da sua influência no mundo, na sociedade, nos destinos das nações. O poder temporal será amplamente subordinado ao poder espiritual. Mas, em verdade, o poder espiritual da Igreja estava ao mesmo tempo em muito condicionado pelo poder temporal, dos Imperadores e Reis. Os cismas levarão à separação entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente. Lutero, com a Reforma Protestante, dá origem a uma nova desagregação na Igreja Ocidental. As correntes filosóficas, culturais e sociais, nascidas do Iluminismo (séc. XVIII), fortalecidas pelo Racionalismo moderno (séc. XIX) e pelo ateísmo contemporâneo (Séc. XX), foram nova prova de fogo e de purificação na Igreja, depois de uma Idade Média em que a própria Igreja se perdeu e se deixou emaranhar pelas teias do poder temporal, de que a Inquisição é sem duvida o maior flagelo e o espinho do pecado cravado na sua História. Mas, a Igreja persistiu. E continuou a sua Missão., apesar das suas contingências, das suas dificuldades, dos seus próprios erros e pecados. Foi a causa da queda de uma Cortina de Ferro no leste e de um Muro em Berlim. Foi a porta para a verdadeira Liberdade de Povos e nações, até então subjugados a regimes opressores e violentadores da dignidade da Pessoa.

Ainda assim há excepções que nos devem preocupar. Há países onde a Liberdade Religiosa não existe de facto. Outros onde é disfarçada com leis, mas sem aplicação prática. O Relatório de 2005 da Ajuda à Igreja que Sofre denuncia isso mesmo. O caso mais flagrante é o dos Regimes ditadores na Coreia do Norte e na China onde se proíbe outra Igreja que não a Igreja Católica Nacional, criada precisamente para disfarçar a verdade: a perseguição, a não tolerância, a ausência de uma efectiva Liberdade. A China foi o único Estado do mundo a não se manifestar pela morte do Papa João Paulo II e o único a não permitir que na sua Televisão fossem transmitidas quaisquer imagens ou referências ao acontecimento da morte do funeral do Papa. A China, para calar as vozes de Instituições como a ONU, que defendem a Liberdade e a Dignidade de todo o Ser, criou a sua própria Igreja, que imita a Igreja Católica Ocidental. Tem os seus bispos. Os seus padres. As suas igrejas. As suas celebrações. Quem não a conhece, facilmente pensará que está diante da verdadeira Igreja Católica. Mas não. Falta-lhes o elemento essencial: a comunhão com a Igreja Universal, com o Sucessor de Pedro, o Papa. A única, a verdadeira Igreja Católica subsiste, entretanto, no silêncio, nas casas de família ou nas prisões onde bispos, padres, religiosos/as, leigos/as, fiéis a Jesus Cristo e à sua Igreja teimam em continuar a sua Missão, em rezar, em celebrar a Fé, em escutar e transmitir a Palavra de Jesus. A Igreja do Silêncio. A Igreja escondida, por medo da perseguição, da prisão, da tortura, da morte. Ainda assim, há quem vire a cara ao lado para este drama e trate por camarada e companheiro quem ousa cometer o sacrilégio que é profanar a Consciência individual e colectiva de um Homem ou de um Povo.

Em Portugal, nesta pós-modernidade que vivemos há muitos que voltam também a querer silenciar a Igreja. Volta a pairar no ar o fantasma de um Marquês de Pombal ou de alguns republicanos mais acérrimos do início do séc. XX, que a seu tempo deram tudo para lançar a Igreja em Portugal pelas ruas da amargura. Se a Liberdade Religiosa é um dado assegurado em Portugal, é-o apenas na Lei. Mas não no espírito e na mente de muitos que desejariam, nessa matéria, poder imitar esses outros modelos sócio-políticos onde a Fé ou é proibida ou é nacionalizada. Há muitas e novas formas de tentativa de perseguição e de silenciamento. Mas a Igreja persiste. Continua e continuará a sua missão, ainda assim.

Em pleno séc. XXI, quando tanto se apregoa a Liberdade e a Dignidade de todo o Ser Humano ainda há quem se ache no direito de impedir a liberdade de consciência. A Igreja caminha novamente para as Catacumbas, regressa às suas origens, mas isso não a assusta, pelo contrário, fortalece-a, porque foi nas Catacumbas que a Igreja foi mais Igreja e que os Cristãos foram mais Cristãos. Foi nas arenas do Circo romano, devorados pelos leões, que os discípulos de Jesus, como afirmava Santo Inácio de Antioquia, na hora do seu martírio, se fizeram trigo moído pelos dentes das feras para se tornarem, com Cristo, Pão Vivo que alimenta a Fé dos Irmãos.

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Notas Perdidas XI Quando há algumas semanas escrevi neste espaço que havia em Portugal novos ‘marqueses de Pombal’, um novo republicanismo exacerbado e desejoso de repetir as atrocidades de 1910 contra a Igreja e as Instituições Religiosas não estava muito longe da Verdade. Quando disse que a Igreja, também em Portugal, caminhava para as ‘catacumbas’ não estava longe da verdade. Quando disse que a Igreja em Portugal estava a ser silenciada, não estava longe da verdade, ao contrário do que outros afirmavam.

A notícia que esta semana vem a público sobre a retirada dos crucifixos das escolas públicas é disso sinal. Não tanto pelo facto em si, mas pela lógica da decisão.

A Igreja Católica tem na História Mundial e na História de Portugal um lugar que não lhe pode ser negado, nem remetido ao esquecimento. Para além de todos os erros, por mais atrozes que possam ter sido e que possa ter cometido, Portugal e a Europa são o que são também pela influência da Igreja. Em Portugal não esqueçamos que foi a Igreja a grande impulsionadora da Educação, da Cultura e da Assistência Social. Ainda o é hoje.

A Europa e Portugal, no entanto, há muito que deixaram de ser um espaço exclusivo da Igreja Católica. O nascimento de ‘novas’ Igrejas, novas Comunidades, a globalização e a aproximação dos Povos e Culturas trouxe à Europa e a Portugal a multi-religiosidade. Cristãos Católicos vivem lado a lado com Cristãos provenientes de outras Igrejas, com Judeus, Islâmicos, Budistas, Hinduístas, e tantas outras comunidades crentes. A própria Igreja, no Concílio Vaticano II, há 40 anos atrás, reconheceu isso mesmo e pediu ao Mundo e à Europa a Liberdade Religiosa para todo o Homem, como resposta coerente e necessária ao reconhecimento da Dignidade de todo Ser Humano.

Em Portugal a Igreja Católica gozou, por acordos mútuos entre o Estado Português e o Estado do Vaticano (a Santa Sé), de inúmeros privilégios legitimados pela preponderância e pela importância da Igreja Católica no passado e no presente da nação portuguesa. Este facto foi renovado em 2004, com a Nova Concordata que, no entanto, recolocou alguma justiça já exigida pelas novas realidades no contexto social e religioso do país, sobretudo depois da aprovação da lei da Liberdade Religiosa pelo Parlamento português, com o apoio e a colaboração da própria Igreja Católica.

É em nome desta Liberdade Religiosa que agora se tomam medidas como a que foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação social. O fundamento pode ser legítimo, mas apenas segundo uma determinada interpretação da designação ‘liberdade religiosa’. Por Liberdade religiosa quer entender-se Igualdade de Direitos. Todas as Religiões têm perante o Estado Português a mesma Igualdade e o reconhecimento da mesma Liberdade. Óptimo. Mal é quando essa Igualdade se quer reduzir essa Igualdade a nada, ou seja, à indiferença do Estado perante as Religiões. E essa indiferença do estado remete a Igreja Católica e todas as outras Comunidades Crentes ao silêncio, ao privado, para dentro ‘de portas’, não lhe permitindo habitar os espaços públicos. Não falta muito tempo até que sejam proibidas as assistências religiosas nos Hospitais públicos ou nas prisões, ou nas Forças Armadas. Não tardará até que sejam mudados os nomes de Instituições públicas que hoje têm títulos cristãos (ex. Hospital de Santo André), ou a retirada das Imagens Religiosas dos Jardins ou Praças das nossas Cidades. Porque tudo isso pode ‘incomodar’ um utente, ou um transeunte não cristão. Daí à proibição de qualquer símbolo ou traje religioso nas escolas (os terços ao pescoço, os crucifixos nos fios ou nos brincos, os padres e o seu cabeção, as freiras e os seus hábitos, etc), nas ruas, nos espaços públicos será um pequeno passo. Tudo em nome de uma suposta Liberdade Religiosa de uma Igualdade.

Liberdade e Igualdade, não seria permitir que nos espaços públicos, como as Escolas ou os Hospitais, que nas Instituições do Estado, como as prisões ou as Forças Armadas, toda e qualquer Religião ou Comunidade Crente que o solicitasse pudesse ter uma Presença? Qual o mal de as escolas não terem apenas o crucifixo, mas terem também uma Estrela de David (Judaísmo) ou uma Meia-lua (Islamismo) ou outro símbolo Religioso? Não seria muito mais educativo e gerador de bom relacionamento entre as diversas Religiões e os seus fiéis? Porque não permitir na mesma medida a Assistência Religiosa nos Hospitais, Prisões e Forças Armadas as todas as Religiões? Porquê haver aí apenas uma pequena Capela Católica e não haver um espaço religioso ecuménico ou inter-religioso? Porquê haver apenas, nos hospitais, nas cadeias ou nas Forças Armadas um Capelão Católico e não haver um Assistente Religioso de Cada Comunidade Religiosa implantada na Região? Será o ‘nada’ que se quer impor às Instituições públicas a melhor garantia da Liberdade Religiosa?

A medida tomada, e outras que no mesmo sentido venham a ser tomadas não prejudicam em nada a Igreja Católica ou a sua missão, mas a verdade é que também em nada beneficiam qualquer outra Religião ou Comunidade Crente em Portugal. Pelo contrário. Começa por instalar, precisamente na raiz da formação e da educação das novas gerações uma ‘nova Religião: o Laicismo! Sim, porque o Laicismo é uma certa forma de religiosidade que tem também os seus deuses, os seus ídolos, os seus cultos.

Haverá ainda que medir as consequências de uma nova mentalidade assim, contrária a qualquer manifestação religiosa, olhando para os efeitos da mesma medida em outros países, de que França se tornou nos últimos tempos paradigma. As proibições nunca foram a melhor forma de educação social, e quando em nome de uma suposta Liberdade ou Igualdade se impõem uma uniformidade tal ‘feitiço’ pode virar-se contra o ‘feiticeiro’, aliadas as difíceis condições económicas e sociais, e gerar novas ondas de perturbação, de xenofobia, de violência e perseguição religiosa.

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Notas Perdidas X Tenho-me reservado a muitos silêncios para deste modo não alimentar o vício persecutório de alguns, mas nem assim.

O meu grande silêncio foi sem dúvida em relação ao que, neste mesmo Jornal, muito foi escrito, após as Notas Perdidas de 13 de Outubro último. Em 20 de Outubro e nas semanas seguintes este Jornal tornou-se a barra de um tribunal onde fui julgado, sentenciado e condenado. As provas eram apenas circunstanciais, algumas linhas apenas. Fui rotulado de medíocre pelo insigne Presidente desta Edilidade Municipal. O mesmo Senhor que por aí apregoava que iria implementar uma relação de proximidade e de respeito pelos cidadãos marinhenses, depressa esqueceu a sua promessa e vai de num texto publicado neste mesmo Jornal afirmar, sobre o texto por mim publicado, que «a mediocridade do texto define o seu autor», o que para os mais ingénuos quer dizer que quem ousa criticar o seu partido ou o seu governo camarário é nada mais nada menos que medíocre. Num outro Jornal da região, justificou toda a panóplia de ataques dos seus camaradas à minha pessoa por eu ter dito coisas anti-democráticas. Quais? Ele não disse, e eu também as desconheço.

Se alguém reler o meu artigo de 13/10/05 verá que começo esse mesmo texto por saudar o acto eleitoral como manifestação da Liberdade Democrática de todo um Povo. Ninguém leu essa parte? Continuando, só uma leitura infantil pôde confundir ‘alhos com bugalhos’. Confundiu-se a ingenuidade do povo e o maquievelismo político a que me referi quando falei sobre os actos eleitorais de Municípios como Felgueiras, Amarante, Gondomar ou Oeiras, pelas razões mais que óbvias, com os resultados eleitorais da Marinha Grande.

Depois, não se entendeu que eu tivesse afirmado que este resultado, nesta cidade, não traduzia o verdadeiro pensar e sentir verdadeiro do Povo da Marinha Grande. Bem, aceito que a expressão não tenha sido feliz, mas compreender-se-á melhor se olharmos para estas eleições no contexto político nacional. E foi isso que quis dizer: que muitos marinhenses votaram contra o Governo e não contra o PS na Marinha Grande; que votaram contra o Engº Sócrates e não contra o Dr. João Paulo Pedrosa. A responsabilidade, essa atribuía ao PCP e ao seu líder, Senhor Jerónimo de Sousa. Nada me moveu ou move contra a Pessoa, que nem conheço e que merece todo o meu respeito humano, apenas critiquei a sua forma de fazer política e de fazer campanha eleitoral, de confundir e de quer que os portugueses, e com algum sucesso está visto, confundissem eleições legislativas com eleições autárquicas. Isso para mim, goste-se ou não se goste, concorde-se ou não, é uma desonestidade política para com os cidadãos.

Fiz uma leitura pessoal dos resultados nacionais e locais. Mas tão legítima como qualquer outra, e nada anti-democrática. Nunca disse que não respeitava a escolha feita ou contestava a eleição. Não fui no dia seguinte a correr retirar o meu nome dos cadernos eleitorais da Freguesia da Marinha Grande, nem deixei de ser Marinhense. Apenas questionei as razões. Não é esse um Direito de qualquer Cidadão num estado Livre e Democrático?

Todas as Cartas que me foram dirigidas mereceram a minha atenção. A minha leitura. Algumas a minha respeitosa indiferença, e outras a minha revolta interior. Não pelo contraditório às minhas palavras, que é um Direito de todos, mas pela forma, pela expressão, pela violência verbal, pela calúnia pessoal, pela injúria, e pelas mentiras a meu respeito. Mais revoltado me deixaram as extrapolações feitas por pseudo-ilustres pensadores desta praça pública. De um texto pessoal retiraram ilações sobre uma Instituição, que quanto mais não seja pelos 2000 anos que tem de História e pelo seu papel no panorama Mundial merece maior respeito por todos. Os erros do seu passado não justificam que seja hoje sistematicamente condenada, e re-condenada pelos mesmos erros. Recorde-se que no ano 2000 o bom e saudoso Papa João Paulo II pediu perdão por todos esses erros (Cruzadas, Inquisição, Anti-Semitismo, Violências e Abusos dos seus Ministros, etc), o que não me recordo de alguma vez na História ter sido feito por algum regime ou alguma Instituição violentadora dos mesmos Direitos do Homem. Já alguém pediu perdão pela perseguição, pela violência e pela morte infligida pelas ditaduras do Leste da Europa, na Ásia ou na América Latina? Apenas a Alemanha teve essa coragem este ano, 60 anos após o Holocausto, ao pedir perdão aos Judeus. Além do mais a Igreja não se avalia pelos pecados individuais dos seus filhos. Nem mesmo que esse filho seja o Papa. Mas não vale a pena tentar explicar mais, é perder precioso tempo, com quem tem uma mente (pré)formatada e incapaz de se abrir a novos horizontes.

Compreendo a inquietação de muitos pelo meu escrito. Mas se se inquietaram tanto é porque toquei em alguma verdade. Não sendo pretensioso, não tenho disso a menor dúvida. A prova é tudo o que se tem escrito por aqui. A ponto de já se verem cabalas editoriais entre aquilo que escrevo e aquilo que escrevem outras pessoas, nomeadamente o Dr. João Paulo Pedrosa. Devo dizer que a última vez que troquei alguma palavra directa com o Senhor Vereador foi no dia 9 de Outubro de 2005. Desde então não mais nos cruzámos. Mas há que encontrar ‘bodes expiatórios’ ou ‘palhaços’ que distraiam a multidão do que realmente se vai passando neste ‘circo’. Aproveito para esclarecer que não sou militante de qualquer partido, nem estou ao serviço de nenhum e muito menos coloco nas minhas orações estas questões. Só quem não me conhece pode fazer tais afirmações ou insinuações. Não confundo Deus ou a Igreja com a Política nem a Palavra de Deus ou Homilias com Comícios. Os meus paroquianos atestam esta Verdade. O único apelo que faço sempre, em tempo de eleições, é ao Voto, ao exercício cívico e moral de ir votar em consciência.

Apenas de uma coisa me arrependo, e que efectivamente me foi sugerida posteriormente por um adversário neste mesmo Jornal: devia ter aproveitado o meu espaço neste Jornal para fazer Campanha. Se o tivesse feito, mais que certo era estar hoje a responder às mesmas acusações de anti-democrata, porque infelizmente para muitos, a mim, Cidadão deste Município, aqui nascido, registado e criado, está-me vedado o Direito de livremente me expressar. E ai de quem ouse falar para me defender. Os dois únicos que o fizeram já tiveram a resposta. São meus «acólitos». Sinto-me honrado por me saber ladeado por tão ilustres Pessoas, o mesmo não podendo já eles dizer já que se vêem ao lado de um pobre rapaz.

Um facto que poucos sabem, e que aqui deixo ao conhecimento público. Não sei quem, mas alguém decerto muito democraticamente indignado, foi fazer «queixinhas» à Hierarquia da Igreja, ou seja, ao Bispo Diocesano, sobre a minha pessoa e o meu escrito. Um voto de protesto. Como se eu não fosse pessoalmente responsável pelos meus actos. Decerto esperavam ver-me ser excomungado da Igreja, ou pelo menos suspenso no meu ministério. Queriam ver-me humilhado, publicamente enxovalhado. Escusado será dizer que foi tempo perdido. A Igreja sempre é mais Livre e Democrática, não sendo uma Democracia, que alguns movimentos partidários, ditos democráticos.

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Notas Perdidas IX Numa leitura simplória das coisas, em 1986 Mário Soares ganhou as eleições as suas primeiras presidenciais graças a uma valente bofetada que levou aqui nesta Cidade, que se não me falha a memória nesse mesmo dia lhe fechou as portas dos Paços, para lhe serem abertas por quem primeiro lhas fechou quando era já Presidente da República. Segundo a mesma leitura simplória em 1996 Cavaco Silva perdeu as suas primeiras presidenciais por afirmar que Portugal era um país Católico, atacando assim o ateu, ou agnóstico, Jorge Sampaio. Assim como em 1986 os portugueses compadecidos da dor alheia deram a vitória ao humilhado, em 1996 os portugueses deram uma lição de indiferença religiosa ao castigarem quem ousou usar tal argumento para fazer campanha eleitoral. Como se isso de ser católico influenciasse quem quer que fosse, em Portugal, na hora de ir votar, ou na hora de fazer o quer que seja.

Numa leitura não tão simplória das coisas a verdade é que há horas em que parece ser de bom-tom puxar dos galardões, todos e mais alguns, para nos fazermos valer nos nossos argumentos e pontos de vista. Agora é moda dizer-se por tudo e por nada «sou católico» ou melhor « eu até sou católico». Sim, porque quem diz isto assim é porque antes já tinha dito, ainda que por outras ideias que era tudo menos católico. Como quem diz: «Eu nem gosto do Papa, nem da Igreja, nem dos Bispos, nem dos Padres, nem vou à missa, nem rezo, e não aceito nada do que eles para aí ensinam e se calhar bem vendo as coisas nem acredito em Deus mas calma aí que eu sou católico!».

Será que isto de ser católico é assim como que uma coisa que usamos quando nos dá mais jeito ou que usamos do jeito que mais nos convém? Serão assim tão subjectivos os critérios que definem a catolicidade de alguém? Talvez o sejam, na mente já de si subjectiva de quem o pensa. Mas essa não é a Verdade.

Quais então os critérios que aferem a catolicidade de alguém?

1º Ser Baptizado na Igreja Católica. É o «passaporte» de identidade, o «visto» de entrada na Comunidade Católica, na Família dos Filhos desta Igreja. Quem não é baptizado, pode até ser simpatizante, mas a simpatia não nos dá os Direitos que só o facto de sermos Baptizados nos garante.

2º Não chega ser Baptizado. Até porque, no caso do baptismo das crianças, ninguém lhes perguntou se elas queriam ou não pertencer a esta Comunidade. É preciso a adesão pessoal. É preciso que o Baptizado livremente aceite ser parte desta Igreja, ser Católico. É preciso a adesão pessoal à Instituição e à Mensagem. Adesão significa aceitação, concordância, «identificação pessoal com»

3º Ainda assim, é insuficiente. A adesão pessoal exige laços de comunhão, de fidelidade e de lealdade. A comunhão com o Papa, com o Bispo Local, com o Pároco, com os Irmãos na mesma Fé. O que não significa obediência cega, indiscutível, submissão ou voto de silêncio. Há liberdade para na Comunhão expressar o pensar próprio, mas sempre respeitando que é ao Pastor Universal (Papa), em comunhão com os Pastores Locais (Bispos) que compete decidir. A nós compete-nos procurar pôr em prática o melhor que sabemos e podemos essas orientações.

4º A Comunhão exprime-se também na vivência quotidiana daqueles valores, princípios e opções acima dos quais nada mais pode estar, e que não se podem subalternizar face a outros, ainda que legitimados pela autoridade social. Há coisas com as quais um Católico só por ser Católico não pode concordar nunca, em circunstância alguma, eg., a violação da Vida ou da Dignidade Humana seja em que circunstância ou etapa for da sua vivência ou do seu desenvolvimento.

Poderíamos ainda aqui colocar todos os outros elementos que nos identificam como Católicos, mas que são de facto decorrentes dos anteriores, como seja a participação na Missa Dominical e a vivência sacramental habitual, a Caridade Fraterna, a participação pelo testemunho e pela palavra na vida da Comunidade Humana, etc.

Pelo que se lê e ouve por aí, parece que isto de se dizer «sou católico» é mais ou menos a mesma coisa que dizer «sou do Benfica» ou «sou do Sporting», quando não se é sócio, não se vai ver os jogos e nem os nomes dos jogadores se sabe e a única coisa que nos identifica enquanto adeptos é porventura o cachecol que religiosamente temos pendurado numa parede lá de casa. Como alguns adeptos, que a única coisa que têm de adeptos é essa ‘relíquia’ que é o cachecol, muitos dos que por aí apregoam que «até sou católico» a única coisa que têm de católicos é isso mesmo: o título!

Comentários: (0) Posted by nelson_araujo at 12:37 AM

Notas Perdidas VIII Não é novidade que a Igreja foi desde sempre uma Instituição que causou muitos incómodos. Desde logo ao mundo Judaico. Jesus é um claro contestatário da ordem estabelecida na Comunidade hebraica, criticando ferozmente os líderes da Religião, ao mesmo tempo líderes sociais e políticos, e chamando a Si o início de uma nova era na História da Humanidade.

A Igreja Cristã nos seus primórdios lutou contra um Império pagão. Roma era o centro do Mundo. A Grécia o centro da Cultura e do Pensamento. Os primeiros cristãos, desde logo os Apóstolos e Discípulos assumindo a Missão do Anúncio da Palavra e do Acontecimento de Jesus de Nazaré, vêm-se confrontados com a perseguição, os maus-tratos e própria morte que lhes é imposta pelos adversários da Fé, que viam na Igreja de Jesus uma ameaça ao poder instalado, à paz social, à ordem política. Mas a Igreja persistiu. Cresceu. Rapidamente se espalhou pelos quatro cantos do mundo conhecido.

O Imperador Constantino, no séc. III depois de Cristo, abre uma nova porta ao Cristianismo. Ao converter-se, Constantino transformou a Roma pagã, idólatra, numa Cidade e num Império Cristão. Novo fôlego foi trazido ao anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Parecia começar o cumprimento da promessa de Jesus que o seu reino haveria de se estender até aos confins da terra. No entanto, a abertura política e social do Império à Fé Cristã trouxe, também alguns malefícios à Igreja de Cristo. O acomodamento da Instituição, a subversão da sua missão em nome da paz social e da paz com o Estado, o Império, a ambição das riquezas, da opulência, fizeram esquecer a verdadeira natureza e missão da Igreja no Mundo. Começam a ganhar força alguns movimentos heréticos, que deturpam as verdades da Fé Cristã. É a época dos grandes teólogos, dos Padres da Igreja que esclarecem e afirmam a verdadeira doutrina.

A História continuará com o crescimento da Igreja, da sua influência no mundo, na sociedade, nos destinos das nações. O poder temporal será amplamente subordinado ao poder espiritual. Mas, em verdade, o poder espiritual da Igreja estava ao mesmo tempo em muito condicionado pelo poder temporal, dos Imperadores e Reis. Os cismas levarão à separação entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente. Lutero, com a Reforma Protestante, dá origem a uma nova desagregação na Igreja Ocidental. As correntes filosóficas, culturais e sociais, nascidas do Iluminismo (séc. XVIII), fortalecidas pelo Racionalismo moderno (séc. XIX) e pelo ateísmo contemporâneo (Séc. XX), foram nova prova de fogo e de purificação na Igreja, depois de uma Idade Média em que a própria Igreja se perdeu e se deixou emaranhar pelas teias do poder temporal, de que a Inquisição é sem duvida o maior flagelo e o espinho do pecado cravado na sua História. Mas, a Igreja persistiu. E continuou a sua Missão., apesar das suas contingências, das suas dificuldades, dos seus próprios erros e pecados. Foi a causa da queda de uma Cortina de Ferro no leste e de um Muro em Berlim. Foi a porta para a verdadeira Liberdade de Povos e nações, até então subjugados a regimes opressores e violentadores da dignidade da Pessoa.

Ainda assim há excepções que nos devem preocupar. Há países onde a Liberdade Religiosa não existe de facto. Outros onde é disfarçada com leis, mas sem aplicação prática. O Relatório de 2005 da Ajuda à Igreja que Sofre denuncia isso mesmo. O caso mais flagrante é o dos Regimes ditadores na Coreia do Norte e na China onde se proíbe outra Igreja que não a Igreja Católica Nacional, criada precisamente para disfarçar a verdade: a perseguição, a não tolerância, a ausência de uma efectiva Liberdade. A China foi o único Estado do mundo a não se manifestar pela morte do Papa João Paulo II e o único a não permitir que na sua Televisão fossem transmitidas quaisquer imagens ou referências ao acontecimento da morte do funeral do Papa. A China, para calar as vozes de Instituições como a ONU, que defendem a Liberdade e a Dignidade de todo o Ser, criou a sua própria Igreja, que imita a Igreja Católica Ocidental. Tem os seus bispos. Os seus padres. As suas igrejas. As suas celebrações. Quem não a conhece, facilmente pensará que está diante da verdadeira Igreja Católica. Mas não. Falta-lhes o elemento essencial: a comunhão com a Igreja Universal, com o Sucessor de Pedro, o Papa. A única, a verdadeira Igreja Católica subsiste, entretanto, no silêncio, nas casas de família ou nas prisões onde bispos, padres, religiosos/as, leigos/as, fiéis a Jesus Cristo e à sua Igreja teimam em continuar a sua Missão, em rezar, em celebrar a Fé, em escutar e transmitir a Palavra de Jesus. A Igreja do Silêncio. A Igreja escondida, por medo da perseguição, da prisão, da tortura, da morte. Ainda assim, há quem vire a cara ao lado para este drama e trate por camarada e companheiro quem ousa cometer o sacrilégio que é profanar a Consciência individual e colectiva de um Homem ou de um Povo.

Em Portugal, nesta pós-modernidade que vivemos há muitos que voltam também a querer silenciar a Igreja. Volta a pairar no ar o fantasma de um Marquês de Pombal ou de alguns republicanos mais acérrimos do início do séc. XX, que a seu tempo deram tudo para lançar a Igreja em Portugal pelas ruas da amargura. Se a Liberdade Religiosa é um dado assegurado em Portugal, é-o apenas na Lei. Mas não no espírito e na mente de muitos que desejariam, nessa matéria, poder imitar esses outros modelos sócio-políticos onde a Fé ou é proibida ou é nacionalizada. Há muitas e novas formas de tentativa de perseguição e de silenciamento. Mas a Igreja persiste. Continua e continuará a sua missão, ainda assim.

Em pleno séc. XXI, quando tanto se apregoa a Liberdade e a Dignidade de todo o Ser Humano ainda há quem se ache no direito de impedir a liberdade de consciência. A Igreja caminha novamente para as Catacumbas, regressa às suas origens, mas isso não a assusta, pelo contrário, fortalece-a, porque foi nas Catacumbas que a Igreja foi mais Igreja e que os Cristãos foram mais Cristãos. Foi nas arenas do Circo romano, devorados pelos leões, que os discípulos de Jesus, como afirmava Santo Inácio de Antioquia, na hora do seu martírio, se fizeram trigo moído pelos dentes das feras para se tornarem, com Cristo, Pão Vivo que alimenta a Fé dos Irmãos.

Comentários: (0) Posted by nelson_araujo at 06:39 PM

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