Seria cómico se não fosse trágico

19-08-2015
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Não fosse Donald Trump o candidato que mais simpatia pública galvaniza entre os candidatos republicanos à Casa Branca até teria mesmo graça o apelo de Stephen Colbert para que Trump se aguente vitaminado até setembro. Até ao dia 8/9, o humorista não terá oportunidade de fazer graças sobre o candidato presidencial pois não estará ainda no ar no “Late Show” da CBS, onde vai substituir David Letterman. Misógino e racista são os epítetos mais suaves que já se lhe colaram à pele neste início de campanha em que apenas aconteceu o primeiro debate entre os candidatos do GOP. Como conta a CNN, Trump está longe de ser apenas um multimilionário com uma obsessão excessiva em disfarçar a careca. Ele quer mesmo ser o Presidente dos Estados Unidos para “devolver a grandeza ao país”. Impagável, Trump disse ontem ao vivo na Fox News que o problema do país é ser “politicamente correto” e em poucos segundos ofendeu a entrevistadora (Megyn Kelly) e uma série de países - "insignificantes", como a China e o Japão - provando o desastre que seria no futuro a política externa dos EUA. Hillary Clinton, a mais conhecida candidata pelos democratas, chama à campanha de Trump “entretenimento”… mas até ao lavar dos cestos não é vindima? Deste lado do Atlântico, a edição de hoje do diário digital “Espresso” da revista “The Economist” chama a Jeremy Corbyn, o candidato à liderança dos trabalhistas britânicos o Donald Trump do Reino Unido. Corbyn só partilha com Trump a retórica anti sistema e o sucesso. Somado isso à sua discrição e posição bem à esquerda vale-lhe 53% de vantagem numa sondagem da YouGov. A dita margem capitaliza os novos membros que aderiram ao partido trabalhista após as eleições de 7 de maio. Restam poucas horas até ao meio-dia de hoje para se filiarem…

Os mercados foram abalados pelo segundo dia seguido de desvalorização do yuan. A consequência direta é uma queda abrupta dos preços das ações, das moedas e dos produtos na região, com os investidores a temerem a estagnação da economia chinesa e uma possível guerra de divisas, apesar das garantias dadas por Pequim.

Alexis Tsipras vai hoje tratar da argumentação final para conseguir fazer aprovar amanhã no Parlamento grego os termos do terceiro resgate à Grécia acordados com os credores. Ontem houve “fumo branco” ao fim de mais uma maratona negocial e Atenas consegue reduzir em 4% as exigências dos credores nos saldos primários orçamentais até 2018. Se quiser saber o que isso significa para o futuro da Grécia leia aqui o trabalho da Cátia Bruno e do Jorge Nascimento Rodrigues no Expresso Diário.

Hoje será mais um dia de angústia para muitos migrantes que vão ser salvos ou desembarcar em segurança no Mediterrâneo, ou mais precisamente nas ilhas gregas. E de ansiedade para as autoridades gregas que perderam ontem o controlo na ilha de Kos. Ultrapassou-se o limite da capacidade de resposta e a polícia usou de força para controlo a multidão de migrantes que chegou aos milhares àquela pequena ilha grega nas últimas semanas e está há mais de uma semana à espera de obter os documentos que lhes permitirão permanecer nem que seja temporariamente em território europeu.

As buscas continuam hoje no local da Ucrânia onde se despenhou o voo MH17 da Malaysian Airlines e onde foram encontrados ontem “fragmentos de um míssil russo”. Os investigadores holandeses dizem que podem ser do maior interesse para a investigação que continua a tentar esclarecer qual foi o destino do voo MH17 que se despenhou em território tomado pelos rebeldes pró-russos em julho de 2014. Nenhuma das 298 pessoas que seguiam a bordo sobreviveu.

OUTRAS NOTÍCIAS

O DN faz hoje manchete com a subida recorde do crédito às famílias: há 11 anos que a banca não aumentava tanto a concessão de crédito e a compra de casa própria continua a ser a prioridade dos portugueses.

Por cá, os incêndios continuam a grassar apesar de os bombeiros já agradecerem a ajuda dada pela diminuição de intensidade do vento e pela descida das temperaturas que se verifica desde ontem. Em Manteigas continuavam as dificuldades provocadas pelas constantes mudanças de direção dos ventos. Em Vila Nova de Cerveira, o incêndio consumiu mais de três mil hectares de floresta. Há boas notícias, Arouca e Mangualde já estão em fase de rescaldo e a população apanhou o alegado incendiário em Penacova, entregando-o de seguida às autoridades, como se conta aqui. Desde janeiro, já foram detidos 34 suspeitos de fogo posto.

Fique ciente de que a greve dos enfermeiros vai continuar hoje no Alentejo, estendendo-se ao Algarve a partir de amanhã. Quem tenha de recorrer aos seus serviços pode contar com um período de espera ampliado tal como aconteceu ontem em Lisboa. No final do dia, o sindicato fez um balanço de adesão à paralisação superior a 70%.

Hoje é dia de “chuva de estrelas”. A sério, não é na televisão. Hoje à noite, a Terra irá cruzar a órbita do cometa Swift-Tuttle dando origem à dita “chuvada”. Veja aqui quais são os melhores locais para a observação e o que deve levar consigo.

FRASES

“Nenhum candidato a Belém faz o pleno na primeira volta”, Manuel Alegre, no i

“Maria de Belém foi uma ministra medíocre”, Alfredo Barroso, fundador do PS, no i

“Eu acho o [Sampaio da] Nóvoa um candidato apenas apoiado pelos comunistas, bloquistas e gajos do PS que vão aos comícios do Bloco”, João Paulo Pedrosa, deputado do PS, no i

“As previsões de crescimento são cenários de pura ficção”, Paul de Grauwe, economista, no Diário Económico

O QUE ANDO A LER

Tenho andado a prolongar o mais possível a leitura de "Living, Thinking, Looking", um livro de ensaios da norte-americana Siri Hustvedt que é uma obra-prima das ideias, para usar o termo mais abrangente possível. Mais conhecida pelas suas ficções como "Elegia para um Americano" ou "Mundo Ardente", [pior é dizer que é mais conhecida por ser mulher de Paul Auster! grr], Siri Hustvedt reúne neste livro textos resultantes de ensaios ou conferências escritos/dadas entre 2009 e 2012. Dividido em três capítulos, como o título indica, os textos adquirem a respiração dos três diferentes gestos: vivendo, pensando, olhando. Aliando um vastíssimo conhecimento literário à formação em psicanálise e ao seu à vontade com o mundo (não há maneira menos pretenciosa de o exprimir), Hustvedt tem um poder de argumentação inabalável. Mais interessante ainda do que a forma como defende os seus pontos de vista é a formulação que lhes dá. Ou o que lhes está na origem: o olhar que a escritora lança sobre o mundo. Hustvedt reflete a partir de teses sugeridas quer por uma enxaqueca quer por uma intuição de infância relembrada ocasionalmente. Se quiser ter uma ideia de, não como escreve, mas como fala Siri Hustvedt, veja a entrevista que deu à série "O Valor da Liberdade"

Agora para ver, sugiro-lhe um documentário indispensável sobre e com o realizador de cinema e televisão britânico Ken Loach. Ainda não pude começar a ler porque ainda não foi distribuído, mas já fiz a reserva de um exemplar do último livro escrito por Loach que está aí a rebentar "Art and Resistance". O título não poderia ser mais apropriado ao autor de "The Spirit of 45", um documentário que passou entre nós em circuito comercial em março passado, bem a propósito das eleições no Reino Unido cujo resultado, em maio, garantia aos conservadores britânicos mais quatro anos de governo. Not in the spirit of 45...

Para terminar, e como ainda terá tempo para dar um salto aos encontros de fotografia de Arles até 20 de setembro, veja aqui o espampanante trabalho de Omar Victor Diop, uma recriação fotográfica de personagens africanos do passado que foram influentes fora de África. Diop recria as suas imagens originais cruzando-as com a linguagem atual de poder do... futebol.

Por hoje é tudo. Siga as atualizações do online até às 18h, quando a edição desta quarta-feira do Expresso Diário fizer o resumo e análise do dia. Amanhã o seu café da manhã será tirado pelo Ricardo Costa.

Não fosse Donald Trump o candidato que mais simpatia pública galvaniza entre os candidatos republicanos à Casa Branca até teria mesmo graça o apelo de Stephen Colbert para que Trump se aguente vitaminado até setembro. Até ao dia 8/9, o humorista não terá oportunidade de fazer graças sobre o candidato presidencial pois não estará ainda no ar no “Late Show” da CBS, onde vai substituir David Letterman. Misógino e racista são os epítetos mais suaves que já se lhe colaram à pele neste início de campanha em que apenas aconteceu o primeiro debate entre os candidatos do GOP. Como conta a CNN, Trump está longe de ser apenas um multimilionário com uma obsessão excessiva em disfarçar a careca. Ele quer mesmo ser o Presidente dos Estados Unidos para “devolver a grandeza ao país”. Impagável, Trump disse ontem ao vivo na Fox News que o problema do país é ser “politicamente correto” e em poucos segundos ofendeu a entrevistadora (Megyn Kelly) e uma série de países - "insignificantes", como a China e o Japão - provando o desastre que seria no futuro a política externa dos EUA. Hillary Clinton, a mais conhecida candidata pelos democratas, chama à campanha de Trump “entretenimento”… mas até ao lavar dos cestos não é vindima? Deste lado do Atlântico, a edição de hoje do diário digital “Espresso” da revista “The Economist” chama a Jeremy Corbyn, o candidato à liderança dos trabalhistas britânicos o Donald Trump do Reino Unido. Corbyn só partilha com Trump a retórica anti sistema e o sucesso. Somado isso à sua discrição e posição bem à esquerda vale-lhe 53% de vantagem numa sondagem da YouGov. A dita margem capitaliza os novos membros que aderiram ao partido trabalhista após as eleições de 7 de maio. Restam poucas horas até ao meio-dia de hoje para se filiarem…

Os mercados foram abalados pelo segundo dia seguido de desvalorização do yuan. A consequência direta é uma queda abrupta dos preços das ações, das moedas e dos produtos na região, com os investidores a temerem a estagnação da economia chinesa e uma possível guerra de divisas, apesar das garantias dadas por Pequim.

Alexis Tsipras vai hoje tratar da argumentação final para conseguir fazer aprovar amanhã no Parlamento grego os termos do terceiro resgate à Grécia acordados com os credores. Ontem houve “fumo branco” ao fim de mais uma maratona negocial e Atenas consegue reduzir em 4% as exigências dos credores nos saldos primários orçamentais até 2018. Se quiser saber o que isso significa para o futuro da Grécia leia aqui o trabalho da Cátia Bruno e do Jorge Nascimento Rodrigues no Expresso Diário.

Hoje será mais um dia de angústia para muitos migrantes que vão ser salvos ou desembarcar em segurança no Mediterrâneo, ou mais precisamente nas ilhas gregas. E de ansiedade para as autoridades gregas que perderam ontem o controlo na ilha de Kos. Ultrapassou-se o limite da capacidade de resposta e a polícia usou de força para controlo a multidão de migrantes que chegou aos milhares àquela pequena ilha grega nas últimas semanas e está há mais de uma semana à espera de obter os documentos que lhes permitirão permanecer nem que seja temporariamente em território europeu.

As buscas continuam hoje no local da Ucrânia onde se despenhou o voo MH17 da Malaysian Airlines e onde foram encontrados ontem “fragmentos de um míssil russo”. Os investigadores holandeses dizem que podem ser do maior interesse para a investigação que continua a tentar esclarecer qual foi o destino do voo MH17 que se despenhou em território tomado pelos rebeldes pró-russos em julho de 2014. Nenhuma das 298 pessoas que seguiam a bordo sobreviveu.

OUTRAS NOTÍCIAS

O DN faz hoje manchete com a subida recorde do crédito às famílias: há 11 anos que a banca não aumentava tanto a concessão de crédito e a compra de casa própria continua a ser a prioridade dos portugueses.

Por cá, os incêndios continuam a grassar apesar de os bombeiros já agradecerem a ajuda dada pela diminuição de intensidade do vento e pela descida das temperaturas que se verifica desde ontem. Em Manteigas continuavam as dificuldades provocadas pelas constantes mudanças de direção dos ventos. Em Vila Nova de Cerveira, o incêndio consumiu mais de três mil hectares de floresta. Há boas notícias, Arouca e Mangualde já estão em fase de rescaldo e a população apanhou o alegado incendiário em Penacova, entregando-o de seguida às autoridades, como se conta aqui. Desde janeiro, já foram detidos 34 suspeitos de fogo posto.

Fique ciente de que a greve dos enfermeiros vai continuar hoje no Alentejo, estendendo-se ao Algarve a partir de amanhã. Quem tenha de recorrer aos seus serviços pode contar com um período de espera ampliado tal como aconteceu ontem em Lisboa. No final do dia, o sindicato fez um balanço de adesão à paralisação superior a 70%.

Hoje é dia de “chuva de estrelas”. A sério, não é na televisão. Hoje à noite, a Terra irá cruzar a órbita do cometa Swift-Tuttle dando origem à dita “chuvada”. Veja aqui quais são os melhores locais para a observação e o que deve levar consigo.

FRASES

“Nenhum candidato a Belém faz o pleno na primeira volta”, Manuel Alegre, no i

“Maria de Belém foi uma ministra medíocre”, Alfredo Barroso, fundador do PS, no i

“Eu acho o [Sampaio da] Nóvoa um candidato apenas apoiado pelos comunistas, bloquistas e gajos do PS que vão aos comícios do Bloco”, João Paulo Pedrosa, deputado do PS, no i

“As previsões de crescimento são cenários de pura ficção”, Paul de Grauwe, economista, no Diário Económico

O QUE ANDO A LER

Tenho andado a prolongar o mais possível a leitura de "Living, Thinking, Looking", um livro de ensaios da norte-americana Siri Hustvedt que é uma obra-prima das ideias, para usar o termo mais abrangente possível. Mais conhecida pelas suas ficções como "Elegia para um Americano" ou "Mundo Ardente", [pior é dizer que é mais conhecida por ser mulher de Paul Auster! grr], Siri Hustvedt reúne neste livro textos resultantes de ensaios ou conferências escritos/dadas entre 2009 e 2012. Dividido em três capítulos, como o título indica, os textos adquirem a respiração dos três diferentes gestos: vivendo, pensando, olhando. Aliando um vastíssimo conhecimento literário à formação em psicanálise e ao seu à vontade com o mundo (não há maneira menos pretenciosa de o exprimir), Hustvedt tem um poder de argumentação inabalável. Mais interessante ainda do que a forma como defende os seus pontos de vista é a formulação que lhes dá. Ou o que lhes está na origem: o olhar que a escritora lança sobre o mundo. Hustvedt reflete a partir de teses sugeridas quer por uma enxaqueca quer por uma intuição de infância relembrada ocasionalmente. Se quiser ter uma ideia de, não como escreve, mas como fala Siri Hustvedt, veja a entrevista que deu à série "O Valor da Liberdade"

Agora para ver, sugiro-lhe um documentário indispensável sobre e com o realizador de cinema e televisão britânico Ken Loach. Ainda não pude começar a ler porque ainda não foi distribuído, mas já fiz a reserva de um exemplar do último livro escrito por Loach que está aí a rebentar "Art and Resistance". O título não poderia ser mais apropriado ao autor de "The Spirit of 45", um documentário que passou entre nós em circuito comercial em março passado, bem a propósito das eleições no Reino Unido cujo resultado, em maio, garantia aos conservadores britânicos mais quatro anos de governo. Not in the spirit of 45...

Para terminar, e como ainda terá tempo para dar um salto aos encontros de fotografia de Arles até 20 de setembro, veja aqui o espampanante trabalho de Omar Victor Diop, uma recriação fotográfica de personagens africanos do passado que foram influentes fora de África. Diop recria as suas imagens originais cruzando-as com a linguagem atual de poder do... futebol.

Por hoje é tudo. Siga as atualizações do online até às 18h, quando a edição desta quarta-feira do Expresso Diário fizer o resumo e análise do dia. Amanhã o seu café da manhã será tirado pelo Ricardo Costa.

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