Quartzo, Feldspato & Mica: Época de exames

03-07-2011
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Desculpem esta intromissão pessoal e sentimental. A minha filha saiu para fazer um exame importante do 12º ano; se o falhar, não entra na universidade, para o curso esquisito que escolheu. A rapariga, nestes últimos dias, nem namora e quase não dorme, desleixou a verve satírica e rebelde, não exige suplementos de mesada, ficou outra, coitadinha. A mãe dela, de tantos nervos, tornou-se insuportável. Eu também. Nesta espera de duas horas que dura o exame, o que é que eu fiz? Acendi uma velinha à Nossa Senhora. Sem ironia. Sou ateu activo e luto sobretudo contra as memórias salazaristas, das quais coloco à cabeça todas as Nossas Senhoras que nos têm drogado. No entanto, acendi uma velinha, e cuspo na cara de quem me acusar de incoerência. Explico: lembro-me dos meus jovens exames e das velinhas que as minhas velhas tias galegas acendiam para que Nossa Senhora me abrisse a «memória» enquanto durava o exame; elas até rezavam, e os meus tios, de cabeça baixa, pisavam o sobrado com mais respeito. Então, como se pode ironizar contra pessoas que, de tanto nos quererem bem, utilizavam todas as armas ao seu alcance, incluindo a velinha, para nos ajudar nos exames? Somos animais? E mais: se a greve dos professores prejudicar o exame da minha filha ou, de qualquer outro modo, lhe aumentar o sofrimento, sou contra a greve dos professores. Em tempo de exames, tornamo-nos sentimentais. Filipe Guerra

Desculpem esta intromissão pessoal e sentimental. A minha filha saiu para fazer um exame importante do 12º ano; se o falhar, não entra na universidade, para o curso esquisito que escolheu. A rapariga, nestes últimos dias, nem namora e quase não dorme, desleixou a verve satírica e rebelde, não exige suplementos de mesada, ficou outra, coitadinha. A mãe dela, de tantos nervos, tornou-se insuportável. Eu também. Nesta espera de duas horas que dura o exame, o que é que eu fiz? Acendi uma velinha à Nossa Senhora. Sem ironia. Sou ateu activo e luto sobretudo contra as memórias salazaristas, das quais coloco à cabeça todas as Nossas Senhoras que nos têm drogado. No entanto, acendi uma velinha, e cuspo na cara de quem me acusar de incoerência. Explico: lembro-me dos meus jovens exames e das velinhas que as minhas velhas tias galegas acendiam para que Nossa Senhora me abrisse a «memória» enquanto durava o exame; elas até rezavam, e os meus tios, de cabeça baixa, pisavam o sobrado com mais respeito. Então, como se pode ironizar contra pessoas que, de tanto nos quererem bem, utilizavam todas as armas ao seu alcance, incluindo a velinha, para nos ajudar nos exames? Somos animais? E mais: se a greve dos professores prejudicar o exame da minha filha ou, de qualquer outro modo, lhe aumentar o sofrimento, sou contra a greve dos professores. Em tempo de exames, tornamo-nos sentimentais. Filipe Guerra

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