Dois discursos para uma solução: o que une e o que separa os dois líderes europeus

03-12-2011
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O Presidente francês tem vindo a aproximar as suas posições das da líder germânica. Com a cimeira de 8 e 9 de Dezembro já no horizonte, ainda há diferenças a limar entre ambos

Nicolas Sarkozy teve de fazer um exercício difícil no seu discurso de Toulon, na quinta-feira: dizer o que a chanceler queria ouvir sem soar de forma intolerável aos ouvidos dos franceses. Rendeu-se à "Europa da estabilidade" e ao "ciclo do desendividamento". Disfarçou uma alteração dos tratados que visa a perda de soberania orçamental numa "refundação" da Europa. Substituiu a "união orçamental" pelo "governo económico". Salvou a autonomia da França, defendendo todo o poder para os governos e mais nenhum para as instituições europeias. Embrulhou o conjunto com as roupagens do velho e histórico eixo franco-alemão. A chanceler foi mais directa: não há soluções imediatas. A médio prazo, o essencial chama-se "união orçamental". Colocou as suas condições. As frases do Presidente (quinta-feira, em Toulon) e da chanceler (sexta-feira no Bundestag) a propósito das questões essenciais.

Crise europeia

Angela Merkel

"Não há uma solução imediata, não há respostas rápidas e fáceis. (...) A resolução da crise da dívida soberana é um processo que levará anos."

"Os maratonistas dizem muitas vezes que a corrida torna-se verdadeiramente difícil a partir dos 35 quilómetros, mas dizem também que é possível chegar à meta, se se estiver consciente das dificuldades desde o início."

Nicolas Sarkozy

"O ciclo que se anuncia é um ciclo de desendividamento que incluirá o equilíbrio da economia para o trabalho e a produção."

"Reduzindo o défice, reduzimos o controlo que os mercados exercem sobre nós, preservamos o controlo do nosso destino."

"A Europa deve ser repensada. Deve ser refundada."

União orçamental

Angela Merkel

"Não estamos apenas a falar de uma união orçamental, estamos à beira de realizá-la." (...) "As regras devem ser respeitadas. O seu respeito deve ser controlado, não respeitá-las deve ter consequências."

"As regras orçamentais devem ser legalmente impostas através do Tribunal de Justiça Europeu e as sanções para os países que falharem o cumprimento da disciplina orçamental devem ser automáticas."

"O elemento central desta união de estabilidade é um novo limite de endividamento europeu."

Nicolas Sarkozy

"A Europa precisa de mais solidariedade. Mas mais solidariedade exige mais disciplina. É o primeiro princípio da refundação da Europa."

"Examinaremos os orçamentos em comum. Instauraremos sanções mais rápidas, mais automáticas e mais severas. Reforçaremos os dispositivos de prevenção. Cada país da zona euro deve adoptar a regra de ouro (...) do equilíbrio orçamental."

Banco Central Europeu

Angela Merkel

"O Banco Central Europeu tem uma missão diferente da Reserva Federal ou do Banco de Inglaterra." "(...) Está gravado nos tratados: o dever [do BCE] é garantir a estabilidade da moeda."

"O bem supremo das nossas democracias é a independência desta instituição."

Nicolas Sarkozy

"Naturalmente, o BCE tem um papel determinante. Há debates sobre o que lhe permitem os seus estatutos. Não quero entrar neste debate. O BCE é independente. Manter-se-á. Estou convencido que, face ao risco deflacionista que ameaça a Europa, o BCE agirá. Compete-lhe só a ele decidir quando e com que meios."

Mudanças nos tratados

Angela Merkel

"Precisamos de disciplina orçamental e um mecanismo efectivo de gestão de crises. Por isso precisamos de mudar os tratados ou criar novos tratados." (...) "Começamos uma nova fase na integração europeia."

"Não há alternativa a uma mudança dos tratados." (...) [Tentaremos] evitar uma divisão entre os países do euro e os que não são do euro."

Nicolas Sarkozy

"A refundação da Europa não é a marcha para a supranacionalidade. (...) A integração europeia passará pelo intergovernamental."

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"A França milita com a Alemanha por um novo tratado (...). Um verdadeiro governo económico."

"Cada um tem as suas instituições, a sua cultura política, a sua concepção da nação. Uma é federal, a outra unitária. É preciso compreender e respeitar esta diferença."

O Presidente francês tem vindo a aproximar as suas posições das da líder germânica. Com a cimeira de 8 e 9 de Dezembro já no horizonte, ainda há diferenças a limar entre ambos

Nicolas Sarkozy teve de fazer um exercício difícil no seu discurso de Toulon, na quinta-feira: dizer o que a chanceler queria ouvir sem soar de forma intolerável aos ouvidos dos franceses. Rendeu-se à "Europa da estabilidade" e ao "ciclo do desendividamento". Disfarçou uma alteração dos tratados que visa a perda de soberania orçamental numa "refundação" da Europa. Substituiu a "união orçamental" pelo "governo económico". Salvou a autonomia da França, defendendo todo o poder para os governos e mais nenhum para as instituições europeias. Embrulhou o conjunto com as roupagens do velho e histórico eixo franco-alemão. A chanceler foi mais directa: não há soluções imediatas. A médio prazo, o essencial chama-se "união orçamental". Colocou as suas condições. As frases do Presidente (quinta-feira, em Toulon) e da chanceler (sexta-feira no Bundestag) a propósito das questões essenciais.

Crise europeia

Angela Merkel

"Não há uma solução imediata, não há respostas rápidas e fáceis. (...) A resolução da crise da dívida soberana é um processo que levará anos."

"Os maratonistas dizem muitas vezes que a corrida torna-se verdadeiramente difícil a partir dos 35 quilómetros, mas dizem também que é possível chegar à meta, se se estiver consciente das dificuldades desde o início."

Nicolas Sarkozy

"O ciclo que se anuncia é um ciclo de desendividamento que incluirá o equilíbrio da economia para o trabalho e a produção."

"Reduzindo o défice, reduzimos o controlo que os mercados exercem sobre nós, preservamos o controlo do nosso destino."

"A Europa deve ser repensada. Deve ser refundada."

União orçamental

Angela Merkel

"Não estamos apenas a falar de uma união orçamental, estamos à beira de realizá-la." (...) "As regras devem ser respeitadas. O seu respeito deve ser controlado, não respeitá-las deve ter consequências."

"As regras orçamentais devem ser legalmente impostas através do Tribunal de Justiça Europeu e as sanções para os países que falharem o cumprimento da disciplina orçamental devem ser automáticas."

"O elemento central desta união de estabilidade é um novo limite de endividamento europeu."

Nicolas Sarkozy

"A Europa precisa de mais solidariedade. Mas mais solidariedade exige mais disciplina. É o primeiro princípio da refundação da Europa."

"Examinaremos os orçamentos em comum. Instauraremos sanções mais rápidas, mais automáticas e mais severas. Reforçaremos os dispositivos de prevenção. Cada país da zona euro deve adoptar a regra de ouro (...) do equilíbrio orçamental."

Banco Central Europeu

Angela Merkel

"O Banco Central Europeu tem uma missão diferente da Reserva Federal ou do Banco de Inglaterra." "(...) Está gravado nos tratados: o dever [do BCE] é garantir a estabilidade da moeda."

"O bem supremo das nossas democracias é a independência desta instituição."

Nicolas Sarkozy

"Naturalmente, o BCE tem um papel determinante. Há debates sobre o que lhe permitem os seus estatutos. Não quero entrar neste debate. O BCE é independente. Manter-se-á. Estou convencido que, face ao risco deflacionista que ameaça a Europa, o BCE agirá. Compete-lhe só a ele decidir quando e com que meios."

Mudanças nos tratados

Angela Merkel

"Precisamos de disciplina orçamental e um mecanismo efectivo de gestão de crises. Por isso precisamos de mudar os tratados ou criar novos tratados." (...) "Começamos uma nova fase na integração europeia."

"Não há alternativa a uma mudança dos tratados." (...) [Tentaremos] evitar uma divisão entre os países do euro e os que não são do euro."

Nicolas Sarkozy

"A refundação da Europa não é a marcha para a supranacionalidade. (...) A integração europeia passará pelo intergovernamental."

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"A França milita com a Alemanha por um novo tratado (...). Um verdadeiro governo económico."

"Cada um tem as suas instituições, a sua cultura política, a sua concepção da nação. Uma é federal, a outra unitária. É preciso compreender e respeitar esta diferença."

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