Teologia da libertação

28-10-2013
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Depois dos modelos (falhados) de Vítor Gaspar, as convicções de Maria Luís Albuquerque. Na sua carta de demissão de julho passado, Vítor Gaspar reconheceu que os sucessivos desvios e o falhanço de todas as metas orçamentais tinham minado a sua credibilidade.

Maria Luís Albuquerque, a sua sucessora na pasta das Finanças, não se deixa abalar por coisas tão pequenas como ‘factos' e ‘realidade', decide apresentar um Orçamento de Estado que aparenta estar fundamentado apenas na certeza das suas próprias convicções e chama-lhe orçamento da libertação.

Os estudos falham, os modelos também, e os multiplicadores, aqueles que ajudam a perceber porque falha a austeridade, não interessam nada porque, afirma a Ministra das Finanças, "99% dos portugueses não sabe o que é o multiplicador e não quer saber". Resta a Maria Luís Albuquerque abandonar o mundo da razão e transformar este orçamento numa espécie de Evangelho.

Apesar do quadro macroeconómico que consta deste orçamento pressupor que a experiência dos últimos dois anos misteriosamente não se repetirá, Maria Luís Albuquerque acredita em milagres e garante que ele é credível. Os novos cortes nos salários e nas pensões, e os novos cortes na saúde e na educação, apesar de violentos, não vão causar nenhum rombo na procura interna, porque tudo isto foi anunciado em maio e os agentes, que são racionais, já interiorizaram a nova quebra de rendimentos. Num certo sentido, é como se a austeridade, desde que previamente anunciada, não existisse verdadeiramente.

Mas Maria Luís Albuquerque acredita noutras coisas. Acredita, por exemplo, que, no contexto atual, baixar a taxa de IRC aumenta o investimento. Maria Luís Albuquerque acredita porque está convicta, e vice versa. Não interessa que os empresários, em sucessivos inquéritos publicados pelo INE, a contrariem e digam que é a falta de clientes e das perspetivas de vendas que levam à queda do investimento. Não interessa que países que já têm a competitividade fiscal que Maria Luís Albuquerque deseja para Portugal também não tenham investimento. Não interessa que a maioria dos empresários europeus aponte a falta de procura como principal razão para a queda do investimento. Nada disto interessa, porque contra convicções não há argumentos.

Depois de dois anos de destruição causada por uma estratégia que falhou, que continuará a falhar e que não pode resultar, esta ministra das Finanças recusa aprender o que quer que seja e propõe-se repetir a experiência, garantindo, convicta, que, desta vez, os resultados serão diferentes. Dos portugueses, cobaias desta experiência alucinada, espera-se calma e temperança, porque este é o orçamento da libertação.

João Galamba, deputado pelo PS

Depois dos modelos (falhados) de Vítor Gaspar, as convicções de Maria Luís Albuquerque. Na sua carta de demissão de julho passado, Vítor Gaspar reconheceu que os sucessivos desvios e o falhanço de todas as metas orçamentais tinham minado a sua credibilidade.

Maria Luís Albuquerque, a sua sucessora na pasta das Finanças, não se deixa abalar por coisas tão pequenas como ‘factos' e ‘realidade', decide apresentar um Orçamento de Estado que aparenta estar fundamentado apenas na certeza das suas próprias convicções e chama-lhe orçamento da libertação.

Os estudos falham, os modelos também, e os multiplicadores, aqueles que ajudam a perceber porque falha a austeridade, não interessam nada porque, afirma a Ministra das Finanças, "99% dos portugueses não sabe o que é o multiplicador e não quer saber". Resta a Maria Luís Albuquerque abandonar o mundo da razão e transformar este orçamento numa espécie de Evangelho.

Apesar do quadro macroeconómico que consta deste orçamento pressupor que a experiência dos últimos dois anos misteriosamente não se repetirá, Maria Luís Albuquerque acredita em milagres e garante que ele é credível. Os novos cortes nos salários e nas pensões, e os novos cortes na saúde e na educação, apesar de violentos, não vão causar nenhum rombo na procura interna, porque tudo isto foi anunciado em maio e os agentes, que são racionais, já interiorizaram a nova quebra de rendimentos. Num certo sentido, é como se a austeridade, desde que previamente anunciada, não existisse verdadeiramente.

Mas Maria Luís Albuquerque acredita noutras coisas. Acredita, por exemplo, que, no contexto atual, baixar a taxa de IRC aumenta o investimento. Maria Luís Albuquerque acredita porque está convicta, e vice versa. Não interessa que os empresários, em sucessivos inquéritos publicados pelo INE, a contrariem e digam que é a falta de clientes e das perspetivas de vendas que levam à queda do investimento. Não interessa que países que já têm a competitividade fiscal que Maria Luís Albuquerque deseja para Portugal também não tenham investimento. Não interessa que a maioria dos empresários europeus aponte a falta de procura como principal razão para a queda do investimento. Nada disto interessa, porque contra convicções não há argumentos.

Depois de dois anos de destruição causada por uma estratégia que falhou, que continuará a falhar e que não pode resultar, esta ministra das Finanças recusa aprender o que quer que seja e propõe-se repetir a experiência, garantindo, convicta, que, desta vez, os resultados serão diferentes. Dos portugueses, cobaias desta experiência alucinada, espera-se calma e temperança, porque este é o orçamento da libertação.

João Galamba, deputado pelo PS

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