O Cachimbo de Magritte: Bestiário lusitano

08-07-2011
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Já sabia que estavam por aí, espalhados por Lisboa, mas hoje vi um. Enorme, incómodo, gritante, a ocupar toda a Rotunda de Entrecampos. Uma ovelhinha branca defende o território nacional com as patinhas dianteiras em cima do Algarve (Algarve? porquê? o meu Pai não é para aqui chamado... nem o meu Avô, que uma vez passou por marroquino em França), enquanto usa os digníssimos posteriores para expulsar seis ovelhinhas negras. O simbolismo é profundo. Estou certo que algum especialista em mitologia indo-europeia, daqueles que abundam na sede do PNR, poderá explicar que, no sistema cromático do Ocidente, o branco é a cor do bem, da pureza, da luz, e tal, e o preto é a cor do mal, da impureza, das trevas, e não menos tal. Mas eu, que cheguei à cidade (vindo do Algarve, vejam lá como o mundo é pequeno) há apenas duas gerações, perco-me em tanto simbolismo. Pois se nem sabia que a proporção de ovelhas negras e brancas no rebanho nacional fosse de um para seis... Sirva-me de desculpa ter deixado o campo há duas gerações e, portanto, já não perceber nada de ovelhas. O que tem uma consequência muito limitativa: o que vejo ali é um branco a expulsar seis pretos. Falta de capacidade para entender simbolismos, bem sei. Vou ver outra vez, muito devagar. Nã, continuo a ver u-m-b-r-a-n-c-o-a-e-x-p-u-l-s-a-r-s-e-i-s-p-r-e-t-o-s. Se eu fosse advogado, como o meu Avô que passou por marroquino, estava capaz de ir ali ao Código Penal ver se não diz nada sobre incitamento ao racismo e outras coisas simbólicas.


Já sabia que estavam por aí, espalhados por Lisboa, mas hoje vi um. Enorme, incómodo, gritante, a ocupar toda a Rotunda de Entrecampos. Uma ovelhinha branca defende o território nacional com as patinhas dianteiras em cima do Algarve (Algarve? porquê? o meu Pai não é para aqui chamado... nem o meu Avô, que uma vez passou por marroquino em França), enquanto usa os digníssimos posteriores para expulsar seis ovelhinhas negras. O simbolismo é profundo. Estou certo que algum especialista em mitologia indo-europeia, daqueles que abundam na sede do PNR, poderá explicar que, no sistema cromático do Ocidente, o branco é a cor do bem, da pureza, da luz, e tal, e o preto é a cor do mal, da impureza, das trevas, e não menos tal. Mas eu, que cheguei à cidade (vindo do Algarve, vejam lá como o mundo é pequeno) há apenas duas gerações, perco-me em tanto simbolismo. Pois se nem sabia que a proporção de ovelhas negras e brancas no rebanho nacional fosse de um para seis... Sirva-me de desculpa ter deixado o campo há duas gerações e, portanto, já não perceber nada de ovelhas. O que tem uma consequência muito limitativa: o que vejo ali é um branco a expulsar seis pretos. Falta de capacidade para entender simbolismos, bem sei. Vou ver outra vez, muito devagar. Nã, continuo a ver u-m-b-r-a-n-c-o-a-e-x-p-u-l-s-a-r-s-e-i-s-p-r-e-t-o-s. Se eu fosse advogado, como o meu Avô que passou por marroquino, estava capaz de ir ali ao Código Penal ver se não diz nada sobre incitamento ao racismo e outras coisas simbólicas.

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